quinta-feira, 16 de junho de 2011

Mais uma do Padeiro

Essa o Padeiro me contou em pleno verão. Ele chegou lá em casa visivelmente aborrecido, indignado mesmo. E com a intimidade que me permitia lhe perguntei o que houve.
     -Ah, dona, estou chateado mesmo. Sempre que chega o verão, na alta temporada eu  me lembro da minha casa de praia e me dá vontade de chorar. Tanto trabalho, tanta luta para realizar o sonho da casa de praia e durou pouco.
    -Como assim?- Perguntei.
    -Não é que há dois anos atrás tive que vender a minha casa de praia que eu construí com todo o carinho e muito sacrifício só por conta de uns parentes abusados? Pois é. Eu tinha uma casinha lá na Praia do Sonho, bem ajeitadinha, com tudo dentro para nós, eu a minha mulher e meus dois filhos, para a gente passar lá o verão todo. Bem feitinha, porque eu nas horas vagas também trabalho de pedreiro. Feita no capricho mesmo. Pois não é que cada ano que passava mais gente da família aparecia para dar "uma chegadinha rápida", fazer uma visita e iam ficando. Ficando, comendo e bebendo as minhas custas? Porque parente é assim, eles vão chegando cada vez mais cedo e vão acampando no quintal na varanda, onde der. Nas primeiras vezes trazem a carne as bebidas, as frutas a bolacha das crianças, o pão, depois vão trazendo cada vez menos. Vem na sexta e deixam os filhos para dormir que irão voltar no dia seguinte, mesmo que aperte a gente, só falta se pendurar e dormir na goiabeira. Quando acordei num domingo, tinha uns dez espalhados pela varanda, meu cunhado já acendia a churrasqueira e ainda reclamou que eu durmo demais (?). Fiquei chateado mas nem falei nada para não estragar mais o meu dia que ja começou mal. Minha mulher também não estava gostando mais daquele vai e vem de parentes, até por que ninguém queria ajudar a limpar nada, nem a louça suja, aquele monte de toalha de banho para todo lado, areia em cima de tudo. No final do dia, já de noitinha, iam para casa porque quarto só tem os nossos, o meu com a mulher e o dos filhos, por que senão ficavam por lá mesmo. No dia seguinte voltavam novamente e cada vez mais cedo. Tinha um cunhado que montou uma barraca e trouxe até a sogra, e eu lá engolindo sapo. Continuando a conversa, o meu domingo já estava perdido mesmo então saí e fui caminhar na praia para refrescar a cabeça,  pois quando cheguei para almoçar a minha mulher ja estava quase chorando. Meu filho veio falar no meu ovido que os três banheiros estavam sempre ocupados,  ai eu fui olhar pela casa e quintal, tinha chegado mais gente, parentes meus e dela. Não dava para correr com ninguém. Fui até a sala imaginando ver a corrida, estava lotada. Se cobrasse ingresso não precisava entregar pão. Desesperado voltei para praia para andar mais um pouco, quando ia chegando de volta em casa, uma família de Argentinos me abordou perguntando se eu sabia de uma casa para vender. Eu falei na hora: "si,si, é claro que sí". Levei aquela família até lá, que se encantou com a minha casa que ficava à cinquenta metros da praia e fechamos o preço na hora. Chamei toda a "parentada" ali mesmo no quintal, mandei que todos colocassem imediatamente todos os pertences no carro e fossem embora, pois eu havia vendido a casa para aquela família de Argentinos e iria entregar naquele dia mesmo. Espantados e resmungando a perda da mordomia foram todos para casa ofendidos ainda, pode? Desde aquele dia ninguém mais me visitou e ainda ficaram com raiva, tem gente que até hoje não fala comigo, é mole? Agora quando chega o verão alugo uma casinha, não me incomodo, não pago imposto e nem faço manutenção o ano todo e não aparece ninguém para chatear, até porque cada ano vamos eu a mulher e os filhos para uma praia diferente. 

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