terça-feira, 27 de junho de 2017

Uma Relação Febril.

                                                     Uma Relação Febril
Lá pelos primeiros dias da primeira quinzena de maio deste ano de 2017, estava eu viajando em casa de parentes, quando o conheci.
De cara quase me derrubou, acelerou meu coração, tirou o meu apetite e em alguns momentos bambeou minhas pernas, fiquei com as mãos frias e suores pelo corpo, por uns momentos entonteci.
Sim bem forte, acho que mais dos que eu já conheci.
Nos primeiros dias até que dominei a situação, tomamos chá juntos, resolvemos os problemas que geram dores de cabeça e por que não dizer do corpo todo?!
Pois é desde esse dia, ou melhor essa noite morna em que tomávamos vinho enquanto degustávamos um churrasco conversando, rindo e ouvindo músicas maravilhosas, que senti um gelo percorrer minhas costas anunciando o frio do outono que se apresentava às primeiras horas do anoitecer. Foi ai, neste momento preciso que tudo começou, me lembro bem, e desde então ele não me largou mais, sempre me causando emoções intensas e muitas vezes até desconforto pela sua persistência e intensidade.
Agora mesmo querendo e precisando resolver coisas e sair,  não posso, pois conseguiu me tirar o meio de comunicação que mais uso que é a voz. Estou sem voz, o que fazer oh céus!!!!
Por incrível que pareça ele ainda me causa arrepios e alguma fraqueza em alguns momentos. Sim, ele até já se afastou e quase chegamos a terminar há duas semanas atrás, mais em menos de 24horas estava de volta firme e forte revelando todo seu amor pela minha pessoa.
Agora me digam, mesmo não podendo e sendo contra a lei de Deus e dos homens se não preciso matá-lo para extinguir qualquer possibilidade de procriação, multiplicação e regeneração?
Alguém sabe como exterminar o vírus maldito dessa gripe que não me larga?
Aceito sugestões e não venham me dizer que ele é "filhodedeus"...
Também não adianta justificar me dizendo que ele se apaixonou por mim e pelo meu corpinho macio, eu não quero essa relação!!!!
Me erra, cara!


domingo, 18 de junho de 2017

Santo Bolo.

                                                       Santo Bolo
No dia 13 de junho ia eu pela rua distraída em meus pensamentos insanos quando reparei num entra e sai animado da Igreja de Santo Antônio.
Curiosa e por não ter nada mais interessante a fazer por aquelas horas frescas de outono, resolvi entrar para ver o que acontecia, foi ai que me dei conta de que era o dia dele, do Santo padroeiro dos solitários, aqueles que não suportam a solidão ansiosos por alguém que troque e divida afetos íntimos, ou não, mas que tome o café juntos pela manhã discorra narrativas de filmes e livros durante a tarde, comentem as notícias do dia e lhe dê um beijo de boa noite, alem dos que anseiam simplesmente por um "cobertor de orelha" para os dias frios, o que não querem é ficar sozinhos, eles ou elas.
Como dizia, levada pela curiosidade entrei junto de duas senhoras que trocavam cochichos e risadinhas discretas à minha frente quando fui parada logo à poucos passos da entrada por um gentil cavalheiro com um prato plástico à minha frente onde uma fatia de bolo com cobertura branca que mais parecia de casamento, repousava ao lado de um também garfo plástico transparente. Insistiu em me estender o pratinho me dizendo que se eu encontrasse o Santinho no meu pedaço de bolo nos casaríamos antes do Natal naquele ano ainda. Detalhe: eu já tinha ouvido falar que o tal santinho de metal que colocavam dentro do bolo (mais de mil em algumas Igrejas) já havia causado pelos mais afoitos que o mastigavam sem nenhum cuidado e o engoliram, muitas contrariedades e até boletins de ocorrência querendo processar o Santo, por dentes quebrados e cirurgias de desobstrução das vias digestivas ou respiratórias. Assim, temerosa de algum contratempo, pois já havia me arrependido de ter me deixado levar pela curiosidade e entrado, tentava desviar do insistente homem que com determinação me estendia o pedaço de bolo.  Fui desviando das pessoas e tentando fugir da criatura e até que fui me encaminhando para um canto num vão de uma coluna com ele persistente ao meu lado.
O burburinho continuava ao nosso redor com a distribuição do bolo, dos pãezinhos bentos, além de santinhos de papel com orações escritas atrás.
Quando voltei a olhar para o meu interlocutor que permanecia carregando nas mãos o pedaço de bolo e repetiu a frase que casaríamos até o final do ano caso eu encontrasse no bolo o santinho e ainda acrescentou: se você encontrar a aliança caso em menos tempo ainda. Assustada tentei recuar para trás esquecida de que a Igreja estava cada vez mais lotada de gente.
Olhei para o enorme Santo Antônio que ficava no Centro da nave e eu juro que ele piscou para mim.
Continuei tirando meu rosto da direção do bolo até que me ocorreu perguntar se aquela era uma nova modalidade de arrumar namoro e ele me respondeu que "não tínhamos tempo mais para rapapés de antigamente como namorar, noivar de aliança e casar".                                      Me chamou de velha, o desgraçado, e o pior é que nem liguei porque era verdade, mas ele era do mesmo século que eu com certeza!
Porém olhando um pouco melhor até que ele era muito charmoso e apessoado, mas por que eu?
E o garfo com um pedaço de bolo maior que ele se equilibrava na direção da minha boca novamente. Olhei de novo para o Santo lá em cima e ele piscou de novo, cheguei a acreditar que era um mecanismo consolador de esperançosas pessoas solteiras a fim de alguém, o que não era o meu caso, não naquele momento e nem naquelas circunstâncias.
Finalmente quando abri a boca para dizer um taxativo "não, não quero bolo!" Já era tarde, ele me enfiou goela a baixo sem mesmo fazer "aviãozinho" o maldito pedaço do bolo.
Mastiguei com o maior cuidado pensando nos meus poucos e bem cuidados dentes verdadeiros e felizmente nada tinha naquele pedaço. Oh, gloria!
Realmente decepcionado ele queria que eu comesse o outro pedaço que sobrou no pratinho, mas rapidamente confiando no Santo que piscava eu lhe disse que ele mesmo comesse e que se tivesse um santinho ou aliança eu casaria com ele até o final do ano.
Me dei conta que a louca do bolo era eu!!!
Na hora ele ficou todo animado e enfiou tudo na boca de uma só vez e mastigou com fé e louvor a doçura como se fosse um pedaço de picanha "ao ponto". Quando ele parou estremeci por um momento e olhei para o Santo que piscou de novo e jurei que iria investigar aquilo no dia seguinte, mas olhando a decepção do homem vi que não havia nada no pedaço de bolo, ou ele engoliu na agonia e ansiedade... Pois e agora, como saber?
Sai dali me esquivando dos que entravam animados imaginando que o cara tenha ido pegar outro bolo para tentar de novo com uma próxima desavisada. 
Enquanto saia olhei de novo o Santo que continuava piscando(?)
Pisquei pra ele, é claro!

Cada uma...

domingo, 4 de junho de 2017

São João

                                                        São João 
Hoje, quando acordei logo cedo dei de cara com Otávio sentado no sofá da sala tendo ao lado uma mala de viagem.
- O que houve?
Foi o que lhe perguntei sem conter o meu espanto, pois quando fui dormir nada me foi falado de viagem nenhuma.
Ele só apontou a mesa posta, e muito bem posta de café da manhã e só ai me dei conta do cheiro delicioso de café que saia da cafeteira ligada.
É claro que estranhei também tanta gentileza logo cedo e comentei com as minhas pantufas; "lá vem coisa."
Com total domínio da situação ele fez sinal para que eu sentasse e tomasse o meu café enquanto murmurava entre dentes; "depois explico."
Nessa hora as fatias de pão da torradeira pularam me causando um leve susto e me trazendo de volta à realidade.
A cada momento eu ficava mais intrigada, pois agora por exemplo ele me perguntava se eu queria ovos mexidos com queijo ou sem queijo.
Realmente cada dia é um susto dividir o mesmo teto com Otávio.                                                     Por mais que eu lhe fizesse perguntas, ele como uma esfinge, apenas me olhava do outro lado da mesa com seus enigmáticos olhos amarelos que mudavam conforme o seu estado de humor. Às vezes autoritário, outras muito doce como agora, o que me deixava mais intrigada ainda, mas boa parte do tempo olhava tudo com desdém ou desprezo pela ignorância humana. Mas quando ele entrava nessa de hoje;  cheio de autoridade, e também cheio de doçura eu nem cogitava de lhe desobedecer, pois tenho juízo.
Após o café enquanto eu arrumava a cozinha ele me disse que eu fosse mais rápido com as coisas porque eu precisava arrumar uma mala para viagem com roupas de verão para ficar um mês todo fora.
Ai é que estremeci da cabeça aos pés, mas quando ia lhe perguntar ele me cortou e disse que eu acelerasse, pois já estávamos muito atrasados.
Deitei a mala aberta sobre a cama e coloquei lá dentro sei lá o quê, pois não conseguia saber para onde iríamos. Logo que acabei, corri tomar banho enquanto ele só acompanhava com o olhar fuzilante e olhando para o relógio o apontava me mostrando a urgência.
 Eu só tremia diante de tanto poder. Debaixo do chuveiro consegui balbuciar uma prece ao universo, pedindo para que a criatura não tivesse enlouquecido de vez.
Quarenta e cinco minutos depois um Taxi nos desembarcava em frente o saguão do Aeroporto. Sem nada mais me dizer correu na frente para despachar as malas e eu correndo atrás como a louca da viagem. Só por um breve momento olhou para trás onde eu me encontrava e me avisou que já haviam chamado para o embarque e realmente fomos os últimos a embarcar.
Minutos depois quando o avião ainda taxiava na pista para levantar vôo perguntei se pelo menos agora eu poderia ser informada do nosso destino.
Ele apenas e tranquilamente retirou dos olhos a máscara de dormir e me disse que estávamos voando para a Paraíba para as festas de São João que duram o mês todo e ele pretendia só voltar no dia 29. Queria se arrebentar de dançar forró.
E sem mais nada a dizer voltou a colocar a máscara de dormir ignorando as manobras de decolagem da aeronave e a minha pessoa que ainda está de boca aberta...

Bons festejos juninos para todos!!!