quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O sonho acabou de acabar


                               O Sonho acabou de acabar
Acordei cedo, como sempre, olhei para fora e assisti com admiração o nascer do dia, da aurora, do alvorecer e até fotografei, como faço sempre que a imagem pede a eternidade do momento.
Depois do banho tomei tranquila meu café, depois tomei outro e mais outro com a sensação de que faltava mais alguma coisa. Queria comer algo mais eu não sabia o que era.
Passeei pela casa em vão, tentando preencher o vazio que me tomava a alma, que sentia falta de algo que eu não definia.
Foi quando o locutor da rádio falou algo que me chamou a atenção; ele dizia que devemos correr atrás do nosso sonho. Sim, era isso! Correr atrás do nosso sonho, do meu sonho. Eu estava com uma vontade indecente de comer um sonho fofo recheado de goiabada coberto de açúcar de confeiteiro.
Não perdi tempo e fui pedir ao Otávio para ir até a padaria buscar um sonho fofo recheado de goiabada e coberto com açúcar de confeiteiro.
Levantando os olhos amarelos e entediados do jornal que ele lia no Tablet, redarguiu intrépido:
- Por que eu faria isso, se é você que está com vontade de comer um sonho fofo recheado de goiabada e coberto de açúcar de confeiteiro?
- Simplesmente porque estou com vontade de comer um sonho bem fofo, recheado de goiabada e coberto de açúcar de confeiteiro, mas não estou com vontade nenhuma de ir buscar na padaria, só por isso.
- E porque você acha que eu estou com vontade de ir até a padaria buscar um sonho fofo, recheado de goiabada, para você; se eu nem como sonho e nem faz parte da minha cadeia alimentar?! E vontade de sair daqui, tenho nenhuma.
- Tudo bem; já até perdi a vontade de comer um sonho fofo, recheado de goiabada e coberto de açúcar de confeiteiro ou qualquer coisa melada ou cheia de açúcar, e até acho bom, porque a "tiabete" não ia gostar nada desse meu desejoso deslize palatal adocicado que me assaltou no dia de hoje; mas não custava nada me fazer um favor, um agrado de vez em quando, faz parte da política da boa vizinhança servir para agradar, não esperar só ser servido.
- Ah é?  A preguiça agora argumenta bem, para se defender em? Sim senhora, admirei agora a sua auto defesa...
- Olha quem fala em preguiça alheia?! Fica ai de molho o dia todo, semanas inteiras hibernando como um urso, e eu que sou preguiçosa só porque pedi um favorzinho...
- Então se quer muito comer um sonho fofo, recheado de goiabada e coberto de açúcar de confeiteiro telefona para a padaria e pede para entregarem, se atualize; ninguém vai mais à padaria, mandam buscar os brioches.

- É da Padoca? Dá para entregar um sonho fofo recheado de goiabada e coberto com açúcar de confeiteiro?
- Senhora, só temos sonhos recheados de Açaí e coberto com açúcar mascavo...

Realmente o sonho acabou... sniff... sniff...
Já não se fazem mais sonhos como antigamente, recheados de goiabada, creme de gemas, doce de leite...

Açaí ninguém merece...

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Ônibus Fantasma


                                 Ônibus Fantasma
Ontem,domingo, amanheceu um lindo dia de sol, céu sem nuvens, temperatura por volta de 15º sem ventinho e nem ventão.
Acordei cedo, para um domingo, e cada vez que olhava pela janela e ouvia os passarinhos piando lá fora ficava tentada a sair e dar uma volta para usufruir da oportunidade que o Criador me proporcionava ao me dar vida e saúde, de desfrutar da Natureza.
Pois bem, tomei Café e banho e saí na direção do ponto de ônibus que fica logo depois da esquina da minha casa respirando profundamente o ar fresco da manhã de inverno, enquanto o sol me acariciava levemente a pele. Por ser domingo já tem menos ônibus circulando e ontem parecia que estavam em greve, pois lá fiquei por "horas" aguardando um veiculo qualquer que me levasse à passeio, poderia ser uma carruagem, uma carroça ou o carro do Batman, o que eu queria era sair um pouco de casa.
Estava quase desistindo quando apareceram dois só para me afrontar, mas tudo bem, eu estava em paz e nem xinguei os deuses do transporte por isso...
Levada ao Terminal Central, onde a maioria das empresas de ônibus oferecem linhas com roteiros diversos, procurei uma das plataformas e optei, sem pensar muito, por tomar o ônibus Circular "Volta ao Morro", mais precisamente a que sai pelo lado Norte. Tem outra linha que sai pelo lado Sul e se encontram em determinado ponto.
Para quem não mora aqui é bom explicar que esta linha contorna todo o morro que se destaca e é visível em grande parte da entrada da Ilha pelas pontes.
Pois bem, este percurso leva uns 45 minutos em transito livre, um pouco mais nos dias de semana, passando pela casa do Governador, pela UFSC e segue de volta ao terminal Central.
Dito isto, volto ao ônibus:
Ao entrar percebi que só haviam mais dois passageiros sentados em lados opostos, bem no final do corredor.
Deu no relógio 10.10h saímos da plataforma.
Eu sentada na frente da catraca, com total visão à minha frente, entre o motorista e o cobrador que iam conversando animados.
Depois de uma dez paradas de ônibus sem subir no ônibus nenhum passageiro, o cobrador se deu conta do inusitado e comentou com o motorista se ele conferiu a placa do itinerário, no que o motorista confirmou que sim, havia conferido; e continuaram percebendo que mesmo passando em paradas com pessoas aguardando ninguém dava sinal para pararem. Certa hora, já encafifado com a coisa, o motorista parou e foi conferir se estava tudo certo com o ônibus e nessas alturas achei que eu é que estava sonhando e me achando num ônibus esquisitamente fantasma.
Até que transcorrido bem mais da metade do percurso, uma daquelas pessoas lá de traz, deu sinal de parada e desceu, dois pontos depois a outra pessoa também desceu. Só ficamos o motorista, o cobrador e eu naquele ônibus estranhamente vazio, continuando a estranha viagem o que já causava riso nervoso em nós três. E o pior é que eu não pretendia descer em lugar nenhum, já que apenas queria passear. Costumo fazer isso quando estou chateada ou querendo sair, passear e ver gente.
 O motorista olhava para o cobrador e para mim pelo espelho e provavelmente os dois me olhavam intrigados. 
Quando já estávamos retornando, uns dois pontos de parada antes do Terminal Central, entraram dois jovens no ônibus "fantasma" que fez  misteriosamente todo o itinerário com apenas três passageiros de ida e três de retorno sendo que uma não paga e não desce em ponto nenhum, apenas passeia...


É isso, cada um se diverte como pode, eu faço dessas coisas... :)


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Gratidão, gratidão, gratidão...

                                  Gratidão, gratidão, gratidão.
Foi numa quarta feira, num longínquo 14 de agosto, com a lua em quarto minguante, dia de Santo Eusébio, bem no pôr do sol, mais precisamente as 17.35h, que cheguei neste mundo de Deus, provavelmente portando lápis, borracha e papel para anotar as minhas impressões sobre o evento. Infelizmente ainda não haviam inventado o celular senão eu teria registrado tudo com uma "Self" com a parteira, a mina mãe e meu pai, que sempre esteve presente em todos os partos dos filhos dando seu apoio.
Também não pude colocar as fotos do sol se pondo, fechando aquele dia inesquecível e marcante na minha vida.
Minha mãe como sempre deve ter falado o que sempre exclamou em alto e bom som: "ela é muito moderna", nunca entendi o que ela queria dizer com isso, pobre de mim, criatura que corre todo dia atrás do trem da vida. Já meu pai, tenho certeza, me fez um cafuné nas penugens de minha cabeça com os olhos rasos de lágrima de emoção. Sempre fazia isso.
Após as primeiras efusões de surpresa e alegria, pois naqueles idos tempos só se sabia o sexo do bebê na hora do parto, já que ainda não tinham inventado o Ultrassom, a ansiedade durava os 9 meses com a família toda sugerindo nomes diversos de menino e menina.
Imagino que tenha sido bem difícil essa parte, acho até que colocaram todas as sugestões escritas em pequenos papéis num vaso, e na hora sacudiram e retiraram um. E apesar de nome de Santa e seu histórico ser apreciável, não foi uma boa escolha. Ele carrega um peso estranho que me incomoda, mas fazer o quê?! Têm bem piores, e as redes sociais estão ai para comprovar verdadeiros palavrões.
Daí em diante foi só "correr para o abraço", tirando alguns momentos difíceis, dolorosos, insuportáveis e inexplicáveis vou seguindo em frente com a convicção de que não vim ao mundo à passeio e tenho algo a fazer pela minha evolução.
Faz parte da vida, rir chorar, trabalhar, progredir e procurar fazer a diferença na nossa vida e daquelas que convivem conosco.
E fazendo um balanço geral desses 72 anos, de tantos fins de tarde vendo ou não o sol se pôr, vendo ou não o sol nascer, acho que valeu muito a pena. 
Tive avós bons, Pais presentes e maravilhosos a quem honro minha existência. Tenho filhos amados que só me dão alegrias e netos que trilham os mesmos caminhos dos pais e me enchem de orgulho. Tenho irmãos que amo e por quem sou amada e seus filhos também me demonstram o mesmo amor. Tenho cunhados, cunhada, genros, nora e demais familiares que só me tratam com carinho e respeito. 
Também sou agraciada com amigos queridos e carinhosos que muitas vezes preenchem a ausência dos meus amores; Dá para reclamar?
Claro que não!!!!
Assim eu digo várias vezes ao dia, -"Obrigada Senhor, por tudo, porque tudo sempre concorre para o meu bem".-




domingo, 12 de agosto de 2018

Ser Pai não é Fácil

                                    Ser Pai não é Fácil

Acordei meio tarde nesse domingo ensolarado e já estranhei o silêncio reinante da casa. 
Fui até o aposento ao lado e verifiquei que eu estava sozinha.
Um certo e conhecido pânico tomou conta da minha pessoa, já imaginando o que deveria estar "aprontando" meu companheiro de domicílio, mas logo senti o cheiro de café fresco no ar, o que paradoxalmente me deu um certo alento.
Fui até a cozinha e uma mesa bem posta me aguardava, porém ele não estava; Pensei: - ai tem coisa.- 
Quer me fazer feliz me faça café, e ele sabe disso.
Apreensiva e me sentindo impotente, sem saber o que fazer, constatei que só me restava aguardar o retorno da criatura peluda ao lar para saber qual era a do dia.
Sentei no sofá perto da janela e peguei o jornal na mesinha lateral para ler as notícias mornas, que geralmente só repetiam o noticiário da TV da noite anterior.
Passando os olhos pelas manchetes, um tanto entediada, uma nota me chamou a atenção;
Haveria naquela manhã de domingo uma maratona "sui generis" para homenagear os pais, que contava com tarefas diversas, relativas ao convívio de pais e filhos; como trocar fraldas, vestir todas as roupinhas em três bebês de seis meses ao mesmo tempo, sobre uma cama, dar papinha para um bebê de 5 meses com ele sentado em cadeira alta em até 18 minutos, pentear e prender com prendedores e lacinhos os cabelos longos de duas meninas de menos de 5 anos...
Quando estava acabando de ler o restante do regulamento do evento, Otávio entra pela sala, totalmente descabelado, esbaforido e até lacrimejante, carregando no pescoço uma flamejante medalha dourada, enorme, presa à uma fita azul e se joga no sofá totalmente desvalido. Após alguns segundos, ainda visivelmente exausto, juntou o restante das forças e se arrastou na direção de seus aposentos avisando quase sem voz, que  pelo restante da semana não estaria para ninguém, e muito menos para o Dr. De Lamare, o autor do Livro A Vida do Bebê.
Ainda consegui perguntar antes da porta se fechar se ele havia ganho a medalha na Maratona do dia dos Pais, ele apenas fez que sim com a cabeça e me disse quase sem voz, que ser pai não é para qualquer um...

Só me intrigou uma coisa; Até onde eu sei o Otávio nunca foi Pai, acho até que ainda é virgem apesar de estar ultrapassando a terceira idade... :(