terça-feira, 30 de setembro de 2014

O Admirador

                                                     O admirador.
Águeda ouviu o carteiro chamar e correu para o portão cheia de curiosidade.
Há quanto tempo não recebia nem uma carta, nem propaganda de loja? Até os políticos esqueceram o seu endereço.
Tomou a carta de envelope grande diretamente das mãos do carteiro, solícito e também admirado, pois há anos fazia aquela região e nunca tinha entregado qualquer correspondência naquele endereço.
Entrou para a sala fechando a porta atrás de si e foi até a cozinha onde de posse de uma tesoura, começou a cortar o envelope onde se lia o seu nome em letras bem desenhadas, não sem antes olhar contra a luz para ver o limite do conteúdo. Temia cortá-lo assim de qualquer maneira, arriscando-se a cortar também alguma palavra importante.
Ela era uma mulher solitária há muito tempo e quando aposentou-se foi morar naquela vila de poucas atividades sociais. Missa aos sábados e domingos, dias santos eventos na igreja e alguns bingos beneficentes, nada demais. Poucas amigas e poucos passeios.

 "Querida Águeda,
Permita-me falar assim com tanta intimidade, você não me conhece, porém sentamos com a frequência que o acaso nos permite lado a lado na igreja aos domingos e aos sábados à noite também.
Quero lhe dizer que o vestido esmeralda é o que lhe cai melhor, apesar de apreciar muito aquele azul com gola de cetim. Também já lhe admirei durante um batizado quando vestiu um de cor creme de saia plissada e gola de renda francesa. Aquele “tailleur” marrom escuro de linho também lhe cai muito bem, principalmente em contraste com aquela camélia de organza amarela que lhe decora o ombro esquerdo. Isso só para falar de alguns modelos, pois escreveria muitas laudas relembrando aqui o seu magnífico guarda roupa.
Também já observei que usa adereços muito delicados, próprios de uma mulher discreta e de classe. E os sapatos então, o que é isso? Com certeza são sapatos assinados.
Águeda, já percebeu que sou seu admirador. Um admirador discreto da sua elegância e do seu carisma. Imagino que tenha uma agenda cheia, mas não posso me furtar de convidá-la a um encontro. Admiro muito o seu bom gosto e teria um prazer imenso em convidá-la para um sorvete, ou um refresco natural para que me diga quem desenha as suas roupas e quem confecciona os seus vestidos. O que acha?

                                                       Assinado Lawdisley"

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Vestido de Noiva



                                                     O Vestido de Noiva.
Nos áureos tempos daquela família os vestidos de festas e casamentos eram encomendados em Paris, na França, e não foi diferente quando a vovó Zitinha aos 15 anos foi pedida em casamento.
Por ser um vestido de Griffe assinado por um costureiro famoso da época, o vestido foi guardado como uma das relíquias que mantinham o status quando a família sofreu a decadência financeira. E era quem mais podia solicitar o vestido para a própria cerimônia de casamento até que as mulheres começaram a não desejar mais casar nem vestidas de noiva e nem casar propriamente dito, preferiam juntar as escovas de dente e mais nada. Mas em todo lugar existem as românticas infalíveis, aquelas que só casam se for com toda a pompa e circunstância e foi pensando nessas que dona Ismênia, única herdeira do vestido de Vovó Zitinha e solteirona convicta, resolveu oferecer o Mimo no Antiquário para vender, quem sabe dava algum dinheiro para ela ir a Jerusalém, seu sonho de consumo? Não custava tentar.
E assim naquela tarde quente de sol, Dona Ismênia carregando a pesada caixa que trazia um emblema impresso da Casa de Costura de Paris contendo o vestido, o véu e a grinalda, entrou resfolegando porta adentro do Antiquário de Maria Amélia que veio recebê-la toda solícita e curiosa ajudando-a a colocar a preciosidade sobre a mesa.
Logo atrás entrou uma cliente vestida de uma forma pessoal e romântica que curiosa parou para ver o que havia dentro da caixa.
Em seguida as três mulheres de diferentes gerações se debruçaram  sobre a caixa que foi aberta com o maior cuidado sendo afastadas as folhas de papel de seda que envolviam o vestido e o véu com a grinalda. Em seguida Maria Amélia, a dona do Antiquário, levantou o vestido pelos ombros para melhor apreciarem os detalhes enquanto a moça romântica admirava os detalhes da grinalda e a maneira que os dois foram presos e ajustados.
Dona Ismênia deslizou as suas enrugadas mãos pela saia alcançando a barra para mostrar uma curiosidade que o vestido trazia. É que na parte interna, logo acima da barra, escondido abaixo de babados havia sido pregado um bolso de tecido finíssimo, tipo organza, que guardava uma nota de Dólar e mais adiante quatro alianças muito bem costuradas para admiração das duas mulheres.
 Foi ai que Dona Ismênia começou a contar a história do Vestido que estava em sua família por volta de cento e vinte anos e várias gerações. Ele havia sido encomendado em Paris três anos antes da data marcada para o casamento. Veio de navio trazido por um funcionário da Maison encarregado da entrega e de algum possível ajuste se necessário. E o mais interessante é essa nota de Um Dólar que veio preso ao vestido com os augúrios de prosperidade da Casa de Costura Parisiense para o casal nubente. Porém quando vovó Zitinha ficou viúva resolveu amarrar suas alianças neste lugar também e depois outra que o usou também repetiu a ação de vovó Zitinha quando ficou viúva muitos anos depois, assim ficando várias alianças marcando um “Felizes para Sempre”.
Então Maria Amélia a dona do Antiquário, ficou encantada com a preciosidade e até comentou que até a nota de um dólar era uma antiguidade rara e devia valer bastante para os colecionadores de moedas e ainda perguntou quanto ela esperava vender aquela beleza com história e encanto e Dona Ismênia disse que estava aberta à sugestões, foi ai que a moça romântica ofereceu um valor bem alto e a dona do Antiquário outro lance e assim depois de várias negociações entre as três, a moça romântica levou para casa o vestido da vovó Zitinha, uma preciosidade sem preço.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Sonho de Consumo





                                                            Sonho de Consumo


Estou escrevendo o meu livro que está em andamento faz tempo e talvez por conta e culpa dele ando sem idéias para o Blog, assim procurando nos escritos antigos me lembrei deste post de 2009, que me comove muito e relembro sempre.

                        A importância de uma porta.

Certa vez, assistindo o Jornal Nacional, me comovi ao me deparar com a triste situação de alguns moradores de rua que foram entrevistados por uma jornalista. 
Tudo bem, de vez em quando vemos esta matéria que a bem da verdade nem nos causa tanta dor quanto deveria, de tão repetida. 
Infelizmente, a gente acostuma, e não devia. 
Mas como dizia, nada de estranho não fosse a batida matéria tratando as pessoas "gente" com perguntas tolas e sem sentido como sempre, mas nesse dia especialmente, fiquei deveras sensibilizada. 
A jovem jornalista foi até um "amontoado de coisas de todo tipo" em baixo de um enorme viaduto e entrevistou uma pobre família composta de marido, mulher e uma menininha de uns 4 anos muito bem cuidada e limpa, diga-se de passagem. A mulher franzina e humilde, sem fazer ideia o que seja decoração ou coisa parecida por motivos óbvios, mas com senso prático admirável conseguiu arrumar seus miseráveis pertences de forma harmônica e prática. Aproveitando os diversos tapetes que arrecadou pela cidade, estendeu-os lado a lado sob a insensível e concreta ponte, fazendo "cômodos" estabelecendo naquele exíguo espaço uma planta baixa onde de acordo com o mobiliário estavam dispostos cada ambiente. No "quarto do casal" uma cama acomodava um colchão antigo de molas e vários restos de mantas e cobertores de todo o tipo esticados uns sobre outros e nas laterais caixotes acomodavam as roupas dobradas, talvez até de marcas famosas que ganhavam pela cidade. 
Mais ao lado, um tapete delimitava o "espaço" da filhinha, onde dormia placidamente num berço cor de rosa entre bonecos de pelúcia, "levemente" descorados e faltando alguns membros. Do outro lado, um velho móvel guardava umas latas de Nescau e leite em pó com comidas secas e bolachas que ela fez questão de mostrar e até oferecer a entrevistadora. 
Sobre dois blocos de concreto, um fogãozinho de duas bocas todo retorcido "acomodava" uma panela enegrecida de tanto ser usada para cozer algum alimento. Dava pena e ao mesmo tempo admiração ver tanta obstinação em viver em tão difíceis circunstâncias e principalmente da melhor forma com o que tinha ou arrecadavam. 
Mas o que mais me surpreendeu mesmo foi o diálogo (sem noção) da jornalista com a mulher; 
- A senhora consegue morar aqui neste lugar com todo esse barulho?
-Fazer o que né? A gente faz o que pode... 
-E qual é o seu maior sonho, o seu maior desejo? (sempre a pergunta idiota, mas isso não importa agora).
-"Eu sonho em ter um barraquinho meu com janela, porta e tudo, eu até imagino no final do dia quando vai anoitecendo eu vou até a janela e fecho, vou até a porta e eu fecho. A minha maior alegria é ter uma porta para fechar e abrir..."
Alguém faz ideia do que é viver sem portas e janelas para se proteger? 
E você? Qual é o seu sonho de consumo?






terça-feira, 2 de setembro de 2014

Bolinhos de Chuva

                                           Bolinho de chuva.
Hoje estou sem nenhuma inspiração para escrever, estou até mesmo um pouquinho apagada, sem luz dai que resolvi postar uma receita de nada mais nada menos que Bolinhos de Chuva!
 Aproveitem que o dia está pedindo com bastante açúcar e canela.
  • 2 ovos
  • 2 colheres de açúcar
  • 1 xícara de chá de leite
  • Trigo para dar ponto
  • 1 colher de sopa de fermento
  • Açúcar e canela
  • Misture tudo, se gostar junte uma maçã ou uma banana bem picadinha na massa pronta.
 Leve uma panelinha funda ao fogo e coloque a metade de óleo. O bolinho precisa ficar mergulhado.
Deixe esquentar bem e coloque a massa às colheradas, poucos de cada vez. Vá deslocando-os de um lado para o outro e espere eles virarem sozinhos para cozinhar por dentro. Retire com escumadeira (? palavra estranha essa) e coloque numa travessa espalhando generosamente açúcar por cima. Coma ainda quente.
Faça um café ou chá e se delicie.