segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Mui Amigo


                                                        Mui Amigo

Realmente o “cara” é temperamental, autoritário por natureza e também dotado de certa rebeldia. Não há o que o contenha quando em atividade.

Mesmo educado e nutrido com os melhores alimentos e finas iguarias se comporta igual como se fosse alimentado com feijoada e buchada de bode todos os dias no café da manhã. Nada a ver com seu comportamento. Têm dias que aceita qualquer “sopa de pedra” e têm dias que nem leite morno vai. Ele é muito instável e indomável por natureza; um imperador autoritário eu diria, ou um reizinho cheio de vontades e manhas infantis.

Conheço histórias de seus pares de arrepiar e sair correndo em total desespero só em pensar nas cenas.

Às vezes anuncia o dia todo que vai trabalhar que acordou querendo resolver todas as pendengas deixadas para trás, mas na hora “H” é só um fiasco. Depois de horas de tentativa envia um recado inferior a uma azeitona e para o resto do dia se recusa a continuar e ainda sai assobiando como uma retreta infame.

Pior é quando ele resolve fazer graça, dar espetáculos em público cantando alto, e apresentando performances constrangedoras e impensáveis.

Ninguém que eu conheça sabe o segredo de dominá-lo. Há quem diga que seu temperamento tem a ver com os hábitos alimentares, até pode ser, mas não justifica a velocidade em resolver as pendências com fúria desvairada, já que foi dele a preguiça.

Sem falar que também é instável nos resultados do seu trabalho apresentado.

Realmente é um “cara” sem personalidade eu até diria que é um tanto mau-caráter. Penso que fica rindo às nossas custas quando nosso orgulho sobe para as alturas e ele faz descer em segundos cruciais mandando reis e rainhas, ministros e ministras e demais orgulhosos, prepotentes e arrogantes saírem correndo direto para o “cantinho do pensamento”; para mostrar que no fundo, bem lá no fundo dos fundilhos somos todos iguais e reféns dos nossos intestinos.

Bom dia, boa semana, e bom mês de Fevereiro com menos resultados físicos desse nosso (mui) amigo.

 

sábado, 16 de janeiro de 2021

O Chip

                                      O Chip

O interfone tocou. Era o porteiro avisando que chegou uma encomenda.

 Nem bem coloquei o fone no suporte e ouvi o som da porta da frente batendo.

Minutos depois volta o Otávio, esbaforido, trazendo uma caixa, não muito grande, em formato de cubo.

Enquanto eu me servia de café na cozinha ouvia o barulho de papel sendo rasgado nervosamente.

Voltei para a sala, cheia de curiosidade bem na hora em que ele depositava com todo cuidado, uma bola de vidro azulado, sobre a mesa.

Perguntei à moda Mineira, o que era aquele “trem”? E ele me respondeu como se eu tivesse só meio cérebro: “Não está vendo que é uma “bola de cristal”“? Respondi na hora, com a delicadeza de um elefante em fuga, “pensei que fosse um balde novo, ou uma toalha de mesa de crochê...”.

- Debochada, depois fica aí reclamando pelos cantos...

- É claro que eu vi que era uma bola, só duvidei da qualidade do cristal... Mas que mal lhe pergunte; o que vai fazer com ela?

- Mas é uma pergunta tola atrás da outra, misericórdia!!! Vou fazer o que se faz com uma “bola de cristal”, vou ver o passado, o presente e o futuro das pessoas pela internet, já que a pandemia nos impede de atender pessoalmente.

- E desde quando apareceu este “dom” para a sua pessoa?

- Desde que sonhei três dias e três noites com um mago que me falou que eu tinha poderes e ainda me transmitiu alguns outros dons. Ele veio de outro planeta, de outra constelação muito mais adiantada que a nossa Via Láctea.

- Hãhã... e???!

- É isso que eu vou fazer, ora bolas. Obvio!

- Então consulte e veja ai para mim, por que de vez em quando a minha mão treme? Assim, do nada e logo passa?

- Isso eu já posso te dizer porque, já havia feito uma consulta aos meus Arcanos.

- Sério? E o que disseram os seus arcanos? Agora fiquei curiosíssima.

- Me disseram que certo dia, você foi abduzida por alienígenas que lhe implantaram um chip de controle, mas de um tempo para cá, quando o tempo muda muito rápido o chip sofre um curto-circuito e causa uma tremura rápida, e ainda lhe digo mais, têm muita gente aparecendo com este problema atualmente, é só observar nas redes sociais. Nem nas outras constelações fazem mais chips como antigamente...

- Uia! Vou tomar outro café... Alguém mais vai querer?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Deu Bode

Deu Bode

Depois do almoço costumo dormir uns “15 minutos”, o chamado sono da beleza, que apesar dos minutos se multiplicarem exponencialmente pelo tédio que o isolamento social nos leva, a beleza até hoje não compareceu. Acho até que fui “enganada” pela bela e elegante vendedora, que fez a demonstração do maravilhoso travesseiro de tecido impermeável, à minha porta.

Sim, já comprei um travesseiro (tenho mania com eles) na minha porta.

Daí que por este momento de incertezas, resolvemos, Otávio e eu, ficarmos em casa e passar o Aniversário de Jesus por aqui mesmo e festejar de modo virtual como a moda pede, e mesmo desanimada decorei a nossa velha árvore, já meio descadeirada e desbotada, que estava guardada no “sótão”.

Distribuí bolas e fitas desfalecidas e arrisquei um pouco de “neve” de algodão hidrófilo, como convém num país tropical abençoado por Deus. Escolhi o canto da sala, perto da janela, para ser vista de fora para dentro como os antigos cartões de Boas Festas ilustravam.

Feito isso, como dizia, fui tirar a soneca da beleza que eu chamo de sono das rugas.

... Então é Natal... ♪♪♫♫

Antes do sono se abater sobre a minha pessoa me dei conta de que eu estava sozinha há horas... Mas o sono foi mais forte que a preocupação, e “Morfeu” ganhou a parada.

Quando acordei uma música cheia de sinos badalando, me fez pensar que já estavam anunciando a Missa do Galo, sem falar no forte cheiro de assados e comida que vinha da cozinha. Mas não podia ser da minha!!!

Pulei do sofá e fui passar um café para acordar para a segunda etapa do dia quando me deparei com algo estranho na sala;

- Otááávioooo!!! O que significa isso?

- Temos um convidado, não está vendo? Fica fria...

- Eu estou gelada e com uma foice na mão!

- Este é o Oswaldo, com “w” ele faz questão.

- Pois ele pode ser Oswaldo com todas as letras do alfabeto, mas ele não é bem vindo aqui nesta casa nem na noite de Natal e nem qualquer outro dia!!!

- Calma mulher; eu o encontrei lá embaixo, triste, sozinho, e o convidei para a ceia.

- Ceia? Que ceia “carapálida”? Vamos comer myojjo com passas e ir para a “manjedoura” cedo, antes que o galo cante à meia noite.

- Mas ele foi abandonado, foi enviado de presente, de muito longe, para fazer parte de alguma ceia, mas desistiram. Durante o isolamento social as pessoas mudaram os hábitos e muitos viraram vegetarianos, veganos etc.

Neste momento ouvimos um barulho vindo da sala e deparamos com o Oswaldo, com “W” comendo a árvore de Natal...

 ♪♪♪♫♫ Então é Natal...♪♪♫♫

Quem quer um bode chamado Oswaldo com “w” aí?

 

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020



                                   Apenas uma Fábula

A floresta acordou assustada com os urros do Leão que há dias não saia da caverna onde morava. Urrava dolorosamente. Ninguém tinha coragem de ir lá dentro ver o que acontecia com medo de ser atacado e até comido.Foi quando o Cachorro do Mato, primo do lobo, resolveu entrar na caverna e ver o que acontecia e deparou-se com o Leão deitado com a pata para cima uivando de dor.

- O que aconteceu para você estar urrando desse jeito?

Perguntou o destemido Cachorro do Mato, sabendo que arriscava a sua vida, enquanto se escondia num vão da pedra de maneira que pudesse escapar se precisasse.

- Estou com um espinho enorme encravado na minha pata e não consigo alcançar para retirar e daí não consigo andar, sair para comer e tomar água, eu vou morrer aqui à míngua...

Falou o Leão entre soluços.

- Bem, talvez eu também não consiga fazer isso sozinho, mas posso chamar alguém para ajudar...

O urro que ele deu como resposta foi tenebroso que o Cachorro do Mato resolveu não arriscar mais e saiu correndo. Se ele não queria ajuda, então que ficasse sozinho; foi o que pensou enquanto corria para longe dali.

E assim mais alguns dias se passaram e os urros continuaram a ressoar pela floresta, até que o Cachorro do Mato resolveu reunir um pessoal para encontrarem uma solução para aquele preocupante problema.

Enquanto falavam e trocavam ideias, perceberam que tudo ficou silencioso. De repente a mata ficou parada. Ninguém se mexia, na expectativa de entender o que aconteceu e o pensamento foi unânime; o Leão deve, finalmente, ter morrido. Agora era saber quem teria a coragem de entrar na caverna para constatar a morte da fera.

Assim, devagar, passo a passo, todos foram entrando, ainda sorrateiros, se escondendo nos vãos da caverna na expectativa de que o Leão estivesse fingindo para poder comer quem resolvesse entrar.

Mas a surpresa foi encontra-lo desacordado, desmaiado de dor, fraqueza e sede parecendo morto. A pata inchada, com o enorme espinho cravado descansava ao lado do corpo.

Todos respiraram aliviados daqueles urros que ressoavam pela floresta dia e noite e foram embora para longe dali, mas o Cachorro do Mato chamou a Garça que também ia saindo e pediu a ela que o ajudasse a retirar o espinho da pata machucada aproveitando que o Leão estava dormindo. 

Então, ela com o seu bico pontiagudo como uma pinça retirou delicadamente o espinho causando alivio imediato, fazendo com que o Leão dormisse ainda mais profundamente aliviado.

Os dois amigos voltaram para a floresta onde encontraram os amigos que os recriminaram por ajudar aquela fera arrogante, no que o Cachorro do Mato respondeu pelos dois que fizeram o que acharam certo fazer, que era aliviar a dor alheia e ajudar no que for preciso.

- Mas ao acordar, o Leão vai urrar mais alto ainda e você será morto por ele na primeira oportunidade.

Falou a Hiena desesperada com a possibilidade de o Leão aparecer...

- Eu fiz o que achei certo fazer, ajudar quem precisava de ajuda, ele vai fazer o que achar que deve. Ele é um leão e agirá como um leão. Assim é a vida. 

Devemos tirar nossas conclusões das situações que a vida nos apresenta e levar para a nossa existência como experiência e aprendizado.

Gratidão, humildade, tolerância, bondade, serenidade, são sentimentos e virtudes que devemos cultivar para nos tornar seres humanos melhores.

 

sábado, 19 de setembro de 2020

A Live

                                                                         A Live

Ao acordar hoje pela manhã, me surpreendi com o café pronto e cheiroso me esperando. Na hora o giroflex foi acionado em cima da minha cabeça me alertando para novidades pela frente, e logo descobri que a criatura peluda de olhos amarelos estava trancada no quarto, tendo pendurado o aviso de “não perturbe”.
Imagine se eu ousaria tal coisa? Provavelmente ao abrir a porta receberia pela frente um tamanco voador tamanho 42.
Não ousaria, nem pensar em tal violação de intimidades; mas a curiosidade é uma característica dos ansiosos e de algumas mulheres, inclusive eu; a dona do Otávio.
Tomei o meu café lentamente, olhando pela janela o dia amanhecer, onde o “encarregado” dos efeitos cenográficos caprichava na paleta de cores e no desenho das nuvens conseguindo dar um espetáculo todos os dias para os madrugadores.
Fui até a cozinha pegar mais café e na volta dei de cara com o meu parceiro de moradia que saia dos seus aposentos e vinha na minha direção. Não pude deixar de perceber a camiseta com os dizeres: “Azar o seu se não gosta de gato preto” e a camada de gel brilhante, que segurava valentemente um topete de fazer inveja ao Elvis, se vivo fosse.
Parei sem saber o que dizer diante do inusitado acontecimento já tão cedo e no meio da semana, quando ele à queima roupa me disse:
- Vou fazer uma Live daqui a pouco e que preciso de privacidade e principalmente de não ser incomodado com qualquer tipo de barulho...
Quase caí das pernas!
- Que mal lhe pergunte, meu antigo jovem, vai falar sobre o que mesmo, e na companhia de quem e para quem?
Respirou fundo visivelmente entediado e respondeu:
- Respondendo ao “questionário” policial, minha antiga jovem, falarei sobre a vida dos gatos, é óbvio! Falarei com o mundo e para o mundo. Terei a companhia de representantes felinos, do Oriente e do Ocidente. Todos nós falaremos das nossas alegrias e de acontecimentos e perrengues por que passamos. Nossas alegrias diante de lascas de Salmão fresco, de Presunto, ou de um pires de Iogurte de leite de Búfala.
- Ah tá... Espero que a internet não caia e fiquem perguntando o tempo todo, “estão me ouvindo?”, “travou novamente?”, “e agora, posso continuar?” “Acho que agora vai”... “foi!”

Só ouvi a porta bater e o prédio estremecer enquanto eu voltava para cozinha para pegar mais café, que por sinal estava delicioso.

Vai um café ai?
 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Dúvidas Cruéis na Pandemia

                            Dúvidas Cruéis na Pandemia
Hoje, para variar, amanheci pensando na vida, nas coisas, e na vida das coisas...
Quanto mais injuriada, mais fico “filosofando”...
Ouvindo um lindo poema na voz do Falabella logo cedo em que falava de veias e de sangue, entre outros assuntos, me “quedei” pensando no meu sangue.
Sim, me dei conta de que ele circula e irá circular até meu último suspiro de vida.
Até ai, nada de novo na casca do ovo.
Então o que “se passa?”. É a pergunta inevitável que se deve fazer logo pela manhã de uma sexta feira qualquer, de um mês de julho qualquer e que não fica em nada a dever à segunda, á terça e as outras feiras;
Então; eu respondo à minha pessoa:
- É que eu queria saber onde está a nascente do meu sangue, onde tudo começa? A gente sabe que o rio Amazonas nasce no sul do Peru, mas o meu sangue me causou curiosidade, não faço a menor ideia, mas estou pensando seriamente neste assunto por demais palpitante.
Durante as 24 horas do dia, todos nós, nos fazemos mil perguntas querendo saber as respostas das nossas indagações; normal! Isso faz parte da evolução humana, senão ficaríamos estagnados na ignorância e não evoluiríamos.
Mas alguém já se perguntou ou quis saber onde é a nascente do nosso sangue? Teve alguma resposta? Tem algum universitário ai?
Pois eu gostaria de saber, neste momento, antes das sete horas da manhã, onde está a nascente deste rio intenso que leva vida literalmente, aos órgãos que nos servem.
Só o que eu sei é que o coração é a bomba que o impulsiona, o faz percorrer para cima e para baixo o tempo todo se contaminando e se descontaminando enquanto vai levando vida...
“Pozagora?” - Responderia o Manesinho aqui da “ilha da magia”, quando não tem resposta. -
Pois aqui pensando com as minhas meias de zebra, eu chutaria que a nascente fica no umbigo; aquele furinho mágico onde trás o nó de finalização da construção do nosso corpo e que centraliza nossa ilustre barriga; esta que em tempo de isolamento e pandemia cresce assustadoramente. Se a coisa permanecer por nove meses nascerá o vírus em pessoa de olho puxado, bigodinho caído no canto da boca e trancinha na nuca chorando em Mandarim. O próprio; que provavelmente terá alguns nomes complicados no RG conforme a região de nascimento.
Quem tiver uma resposta que me diga, pois estou aqui carregando litros de sangue para baixo e para cima sem saber de onde vem e para onde vai este combustível que não tem preço.
Precisamos nos informar de tudo, porque tudo vai dando sentido à vida. Estou aqui me roendo de curiosidade.
Filosofando no isolamento da Pandemia... Aff
É mole?!

Agora falando sério; fui ver onde tudo começa e descobri que é nas partes moles dos ossos; na medula. ;)

sábado, 27 de junho de 2020

Gavetas de Lembranças

                               Gavetas de Lembranças

Quando resolvo abrir as “gavetinhas” do meu ser preciso estar preparada para o que vou me deparar. 
Dependendo do conteúdo fecho correndo e troco de pensamento, dou um tempo e volto a abrir outra gavetinha com outra data.
Ao último badalar do relógio, quando marca as 24 horas do dia do nosso aniversário, a gaveta é fechada e etiquetada à que ano pertence, para ser aberta e iniciada uma nova gaveta no mesmo momento para mais uma volta completa ao redor do sol.
Isso é geral, acontece com todo mundo. Cada um com suas gavetas. E o exemplo "gavetas" nem é ideia nova, desde que inventaram a primeira gaveta já se associou a divisão das nossas memórias em "gavetinhas".
Todo ser humano têm suas “gavetinhas” que são suas lembranças e experiências vividas guardadas na memória.
Eu sei e todos sabem disso, mas hoje, nesse dia de chuva e frio resolvi escrever sobre o assunto, espanar e guardar novamente o meu gaveteiro.
Todas as nossas gavetas mentais têm etiqueta e são subdivididas.
Daí que de vez em quando, quando alguma coisa acontece: uma palavra, um gesto, uma atitude de alguém, um acontecimento, um som, um cheiro aciona a chave de uma das nossas gavetas e imediatamente impulsiona como uma mola as nossas emoções mais bem guardadas e até quase esquecidas.
Algumas lembranças são perigosas para o nosso equilíbrio emocional e até causam medo ao voltarem à lembrança nos causando aflições e reacendem as emoções vividas. São verdadeiras brasas vivas até voltam a nos queimar. Já outras podem ser boas, algumas nem tanto, mesmo inofensivas. São apenas lembranças.
Algumas guardam anjos de asas ou sem elas, dragões em forma de gente, águas-vivas que parecem transparentes e inofensivas, mas nos causam muito mal, muitas dores até hoje quando voltam à lembrança; e até lobos ferozes cobertos de pele de ovelha que povoaram nosso mundo real ou imaginário, porém outras lembranças são doces e trazem perfumes e sabores reais como o de bolo quente, canja de galinha, cheiro de neném, de pão fresco saindo do forno, do mar e de grama molhada de chuva, de alfazemas...
Um afago em especial, um carinho de pai...
Outras guardam sons, sensações e emoções.
É interessante aproveitar para rever as lembranças e reavaliar nossos conceitos, nossas "verdades", perdoar e resignificar nossos valores, Aliviar nossa bagagem para quando sairmos desse "casulo" possamos voar com asas leves e transparentes.

Bom mais um "findi" na Pandemia de 2020

quarta-feira, 24 de junho de 2020

É dia de São João

                             É dia de São João

Eu saia do banho quando o interfone tocou. Era o porteiro avisando que o caminhão de entrega havia chegado e era para eu descer e receber a encomenda.
Antes que eu a encontrasse a “criatura peluda”, ao ouvir a minha conversa com o porteiro desceu na frente, de elevador. Eu corri atrás, de toalha enrolada na cabeça, de roupão de banho e chinelos de unicórnio desci pelas escadas pulando os degraus de dois em dois como uma rã assustada.
Realmente era um caminhão carregado de toras de lenha...
- Otávio!!! O que isso significa?
Gritei a plenos pulmões para ser ouvida na Cochinchina.
É claro que o Condomínio desceu inteiro para ver do que se tratava.
Em poucos minutos um grupo se formou e foi se mobilizando para denunciar a derrubada de árvores para o IBAMA, à Guarda Florestal e umas três ONG’s defensoras da Mata Atlântica e Amazônia.
- Rapaz; antes de devolver essa carga para onde veio, você vai me explicar para que comprou um caminhão de toras de madeira?
- Tudo bem, fica fria que eu explico; primeiro é bom que se diga que essa madeira é de reflorestamento, isso quer dizer que pode ser comercializada sem problema, depois, eu só queria fazer uma festa de São João com tudo o que tem direito; fogueira, quadrilha, milho e batata doce assados na brasa, amendoim, pipoca e tudo mais. Não sei por que tanto estresse!? Afinal estamos no mês de Junho. Eu em?

Pior é que essa criatura peluda e rebelde ainda têm “muita lenha para queimar”.

Vai uma batata doce com melado ai? Ou seria melhor encher a cara de quentão para desestressar?



quarta-feira, 17 de junho de 2020

Uma Boa Ideia; será?


                                 Uma boa ideia; será?
Otávio acordou cedo e veio me chamar para arrumar a sua mochila.
- Onde você pensa que vai agora, logo cedo? – Lhe perguntei sonolenta enquanto fazia um café para acabar de acordar nesse dia molhado e frio depois de uma noite chuvosa e gelada. –
- Preciso resolver um negócio urgente urgentíssimo!
- Só arrumo suas coisas se me disser antes o que pretende fazer...
- Vou fechar a compra de uma plantação de cana de açúcar que está em ponto de colheita.
- Para que alguém vai comprar uma colheita de cana em meio a uma Pandemia com direito a quarentena interminável e isolamento social, vai vender garapa pela internet?
- Que garapa o quê?! Depois que metade da população do mundo virou diabética e a outra metade faz dieta de calóricos, ninguém mais vende garapa, não dá para sobreviver vendendo garapa. Já andei me informando sobre tudo o que se refere à Cana de açúcar e seus derivados.
- Então vai fazer combustível?
- Não mulher, parece que bebe. Não vê que a hora de ganhar dinheiro agora, e é produzindo álcool em gel? O mundo todo está consumindo loucamente álcool em gel, ou “alquingel”, como se fala por ai, e eu não vou perder essa oportunidade...
- Mas você não acha que já tem gente demais produzindo “alquingel”, pararam de fazer até açúcar, acho até que nem tem mais para vender nos mercados, está ganhando do papel higiênico...
- Mas eu não vou fazer um “alquingel” qualquer; já pensei e planejei tudo. Vou fazer em vários perfumes: de Alfazema, Canela, Cravo, Limão, Maçã verde...
Enquanto eu tomava o meu café olhando pela janela e vendo o dia clarear fiquei pensando que até que podia ser uma boa ideia...
- Vou voltar a dormir e daqui a dez minutos eu levanto de novo para começar o meu dia e apagar este momento de delírio, acho que sonhei isso...
Vai alquingel “Cheiros e Sabores” ai?

sábado, 23 de maio de 2020

Sessões Oníricas

                                    Sessões Oníricas
Hoje acordei muito cedo, passava um pouco das cinco e meia da madrugada. Olhei pela janela e vi que nem o galo apareceu para acordar o sol.
Pensei com minhas pantufas de unicórnio, o que eu faria àquela hora tão cedo? O sono se escafedeu entre as nuvens escuras do horizonte e me avisou que não voltaria antes da meia noite.
O jeito foi ir para a cozinha passar um café e pensar na vida, na pandemia e no isolamento social. O bom é que o vírus estava sendo escorraçado com todas as honras e havia mais curados do que finados.
Diante da minha caneca rosa, cheia de café quentinho passado na hora, eu fui me deixando envolver lentamente no acordar do dia e seus sons. Um pássaro madrugador gritava bem-te-vi para outro que respondia o mesmo. Um galo acordou finalmente, mas calou na hora, talvez, tenha levado com uma “havaiana” pela crista para não acordar a vizinhança que dormia.
Ali, sonhando acordada, apreciando a natureza ainda na penumbra do amanhecer, me dei conta que a criatura peluda de olhos amarelos me observava, em silêncio como se uma coruja fosse.
- Bom dia para você também.
Falei para ele que escabelado continuava me observando em silêncio com se estivesse em transe.
- Fale para eu ter certeza que não estou vendo o seu fantasma. O que se passa?
- Tive um sonho horrível, estava mais para pesadelo...
Falava lentamente como se ainda não estivesse totalmente acordado, o que me fez passar a mão e ver se estava com febre.
- Conte o sonho então para que saia desse transe esquisito.
- Então, eu sonhei que um vírus atacou a terra...
- Outro? Mais um ninguém aguenta...
- Calma afobada, foi um sonho, se quiser ouvir fica calada...
Parou pensativo e quando eu ia mandar continuar ele me lançou um raio de olhar quase fulminante que tive de calar na hora e só ficar escutando.
- Pois é, como eu dizia sonhei que um vírus, o Capilar-vírus se abateu na terra e foi um desastre. Todos acordaram carecas, totalmente despelados, até eu me via nu circulando pelas ruas entre muitos iguais. Estabeleceu se então para o bem dos olhos alheios que todos ficassem em casa até que a pandemia se extinguisse e tudo voltasse ao normal...
- E ai?
Ai que após um período o vírus capilar foi extinto com um produto para queda de cabelo, sabe aquela teoria de que veneno de cobra se mata com veneno de cobra? Foi o que os cientistas fizeram e adivinhe? As fabricas não davam conta de fazer o produto, muitos eram falsos e não faziam o efeito esperado e as lojas e farmácias não tinham mais para vender o produto original. A china ofereceu um invento, mas acharam melhor não arriscar, pois poderiam cair mais coisas de ação indesejáveis. Nunca se sabe.
- E como acabou o sonho?
- O desgraçado do galo do vizinho cantou e eu acordei...
Tomamos mais uma caneca de café imaginando todo mundo pelado e de máscara em tempos de pandemia... 

Esse coronavírus faz “côsa”...