domingo, 23 de abril de 2017

O Dia do Cisne

                                                          O Dia do Cisne
Hoje quando acordei as 5 horas da manhã dei de cara com Otávio pronto e paramentado aos pés da minha cama com cara de poucos amigos.
Antes que eu lhe desejasse bom dia ele me lembrou aos gritos que conforme o combinado há vários dias, hoje nesse horário já era para estarmos à caminho da Lagoa.
É que esta semana ele cismou e comprou um cisne-pedalinho para pedalar nas águas mansas da musa da nossa ilha.
Claro que ao som de uma trombeta dessas pulei da cama correndo e fui despindo o meu pijama personalizado de Mulher-Maravilha em direção ao chuveiro para acabar de acordar.
Ao atravessar a sala em direção à cozinha para ligar a cafeteira vi que Otávio esfregava vigorosamente a pomada para dores musculares nas pernas enquanto mastigava uma banana para evitar as câimbras, prevenindo o exercício de hoje que seria pesado.
Da sala, aos gritos, ele parecendo um sargento em quartel continuava a me dar ordens e quem sou eu para não obedecer...

Reclamava a todo momento a minha demora, mas como eu não sou ninguém enquanto não tomo meu café e nem começo o meu dia sem a dose de cafeína continuei na minha.
E ele continuou falando; "que café é esse que não acaba nunca, até parece o café da manhã do Palácio da Alvorada?!"
Foi ai que ele parou arregalou mais ainda os olhos amarelos e se deu conta de que o lugar mais adequado para o café da manhã é justamente o Palácio da Alvorada pelo seu nome, entendeu?
E continuou filosofando enquanto eu tomava o meu café acordando lentamente.
"Com certeza o Palácio da Alvorada serve um café daqueles completos sem faltar os biscoitinhos "velhinha ajoelhada" também conhecido como "joelhinhos", muitos sonhos de todos os tamanhos e muitas frutas como bananas e abacaxis, tudo regado à chá de camomila para acalmar os aflitos", hahahaha riu sozinho e continuou no seu delírio.
Depois de muita falação e filologia, muito trabalho para colocar e transportar o enorme cisne (o bicho é enorme) na carroceria da caminhonete, procurando esquecer do cansaço saímos pela estrada a fora...
As 10 horas da manhã e mais um pouco conseguimos finalmente deitar a ave na água. Nessas alturas a platéia só aumentava no pequeno trapiche.
O Cisne parecia que ia levantar vôo tanto que se sacudia para se nivelar na água ondulada, sem falar nos barulhos estranhos que fazia por baixo com o atrito da água na estrutura de fibra sintética.
O Cisne impávido com olhar de "tô nem aí" sacudia na leve marola.
Otávio, nosso marinheiro  de travessias transatlânticas, de colete salva vidas de cor laranja e quepe de comandante, muito imponente e visivelmente emocionado finalmente adentrou à embarcação aquática com certa desenvoltura para a viagem inaugural.
Após umas quatro pedaladas para as manobras de desatracação ele estancou e gritando para mim acomodada ao seu lado; querendo saber onde eu havia largado a sua mochila, no que respondi que se a mochila não era minha não podia estar comigo.
Ele apenas me olhou de maneira fulminante que nem pisquei e desci tão atrapalhada da ave aquática artificial que quase mergulhei nas águas, isso só não aconteceu porque fui ajudada por algumas pessoas que apreciavam o desenrolar dos acontecimentos e sai correndo até a caminhonete pegando a mochila esquecida e reclamada pelo nosso comandante.
Ao voltar toda esbaforida reclamei do peso e até falei que depois desse dia não precisaria mais fazer exercício e musculação durante toda a semana.
Ele nem ligou para a minha reclamação e por um momento magoei...
Rapidamente abriu a mochila e retirou um Champanhe Dom Perignon 1953 e rapidamente sem dó e nem piedade deu "nos cornos" do belo cisne com cara de "não tô nem aí" e  decapitou a ave para espanto de todos os presentes que estavam extasiados com a novidade. Uma senhora chegou a cogitar de denunciar aos "Direitos e proteção dos animais", sendo lembrada pelo marido que aquilo era uma arremedo de ave, que nem botava ovo.
Não resisti e falei indignada como ele havia comprado um artigo tão inferior que não resistia nem a uma inauguração condizente com o momento?!
Mas ele foi logo explicando a mim e aos presentes que havia comprado a ave de segunda mão pela internet diretamente do proprietário de um Sitio em Atibaia. Ele me garantiu que tinha poucas pedaladas de uso. O dono queria até vender mais um que fazia par com este, mas como eu não quis ele me presenteou com o Champanhe para eu não desistir da compra.
Olhei para o relógio que já passava das 13 horas olhei para Otávio que cabisbaixo carregava nas costas a mochila e caminhava na direção da caminhonete.
Entrou em casa arrasado. Recolheu-se aos seus aposentos se meteu entre os lençóis me avisando que não estaria para ninguém até o próximo feriado. Nem para o dono do Sitio em Atibaia que prometeu ressarcir o prejuízo...

domingo, 16 de abril de 2017

O Vazio

                                                   O Vazio
O que escrever quando um vazio profundo faz eco no peito?
Quando a gente grita para o escuro interior e ele só faz aumentar o silêncio ao redor assegurando que estamos sós na multidão de ausências.
Subimos no mais alto espaço íngreme e gritamos para as estrelas que nos olham lacrimejantes e silenciam o sublime hino que cantam durante toda a noite fria enquanto a lua as ignora se escondendo atrás da montanha.
Guardo minha dor e desço para a beira do mar que suavemente se aproxima em pequenas saias de espuma.
Faço a mesma e pergunta:
-Tem alguém ai?
Por um momento o mar pára, talvez de susto, talvez por ter sido pego de surpresa e me responde:
- Depende...
- Depende?! Como assim, o que quer dizer com isso?
- Em princípio nunca estamos sós, somos uma plêiade de vidas experienciando viveres numa esfera azul que vaga em círculos ao redor de uma pequena estrela amarela que também se desloca pelo universo entre outros astros semelhantes...
-Não; estou falando de pessoas, seres humanos... estou só não dá para ver?
-Sim, pode ser, parece, sei lá...
- Estou indo e vindo, já procurei por todos os lugares e não vejo ninguém... todos foram embora... só ouço o vento e o teu marulhar entre as pedras.
- Sinto muito, como não posso sair daqui não posso te ajudar...
Snff....sniff... :(


domingo, 9 de abril de 2017

Triste Estatística de hoje em dia


                                              Triste Estatística de Hoje em Dia...
Amanheceu chovendo, mas assim que São Pedro deu uma trégua Otávio não quis nem saber, saiu para fazer os 20 km de corrida pela orla marítima como faz todos os dias desde os doze anos. Calçou os dois pares de tênis importado, vestiu a camisa amarela e saiu por ai.
Estava eu ainda esticando os lençóis e ouço a chave na porta, era ele que entrava indignado, injuriado, pois havia sido assaltado bem na esquina e levaram os tênis dele.
Ficou com tanta raiva da situação do País que não dá segurança a ninguém mais, que antes que eu me desse conta da real situação da vítima peluda ele se enfiou de volta entre os lençóis e me avisou com a voz embargada pelas lágrimas que não estaria para ninguém, nem para o delegado de plantão que prometeu pelo telefone encontrar seus tênis e devolver pessoalmente com as "consoladoras" palavras de que ele havia tido sorte de não levar uma bala ou uma facada. 
Tristes tempos modernos.
E foi assim que Otávio teve a triste experiência de passar a fazer parte das estatísticas da delegacia de Polícia.

Pois é; humor negro no domingo de Ramos ninguém merece, mas não podemos perder a fé e a Esperança de dias melhores e para isso precisamos manter Jesus Cristo vivo em nós todos os dias.
Aleluia!!!