sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Bicicletinha (inteira)


Por conta de um acontecido com a minha filha Lígia quando ainda fazia faculdade, escrevi um conto divertido chamado "A Bicicletinha". É que durante muito tempo não tinha ônibus direto de Florianópolis-SC para Campinas-SP. Então era uma mão-de-obra daquelas, chegar no Terminal Rodoviário do Tietê de SP ao raiar do dia cheia de sono carregando malas, sacolas, pacotes etc e fazer a baldeação para outro ônibus que viesse para Campinas-SP e continuar a viajar por quase duas horas ainda. Chegava-se exausta e muitos passageiros irritados e mau-humorados, que felizmente não era o caso da Lígia sempre feliz e saltitante. Mas por conta de fazer a faculdade até sexta feira o dia todo, ela saia direto da aula carregando o material, mala e tudo e embarcava no ônibus as 18 horas, viajava a noite toda, e ainda quando chegava, ia direto ao dentista apertar o aparelho e só ia para casa na hora do almoço, onde descansava e contava as novidades até as 16 horas do domingo quando fazia o sentido inverso para Florianópolis. Todos os meses era assim. Neste período morava em São Paulo- Capital um sobrinho com a mulher e uma filha pequena. Dai é que aconteceu o que me levou a ter a idéia de escrever o conto. Minha irmã telefonou para a Lígia no meio da semana e pediu para ela levar uma encomenda, na verdade um presente para a neta, que ela não se preocupasse que o filho esperaria o ônibus de manhã cedo e pegaria com ela a encomenda sem falta antes que ela fizesse a baldeação. Na realidade, ele a esperou certinho na plataforma de desembarque sem problemas, mas a Lígia levou o maior susto quando estava embarcando ainda, quase na saída do ônibus, quando a minha irmã apareceu com uma bicicletinha daquelas "Toncas", de rodas gordinhas, toda cor-de-rosa, o que fez a minha filha pensar;" e se ele não chega por algum motivo, o que vou fazer com isso?" Daí em diante, sempre que alguém lhe pede um favor ela logo responde sorrindo: "desde que não seja uma bicicletinha"... Então um dia eu tive a idéia de escrever este conto que transcreverei em seguida.♥ A Bicicletinha
-Viva! Viva! Consegui, consegui...Ele gritava e pulava timidamente com os braços para cima percorrendo a pequena casa onde morava com sua madrinha que o acompanhava logo atrás toda contente, festejando a boa notícia com aquele que para ela, era um filho.Deodorinho não teve como se costuma dizer, muita sorte na vida. Filho de mãe solteira que morreu no parto, foi criado pela avó, já idosa e doente que veio a falecer quando o garoto entrava na adolescência. Desde então se mudou com seus poucos pertences para a casa da única parente que lhe sobrou; a tia e madrinha d. Firmina, senhora idosa, muito religiosa, que lhe completou os estudos com o pouco dinheiro guardado na poupança por, sua avó, para o futuro do neto.D. Firmina, senhora de princípios rígidos, beata assumida, se viu de repente com a incumbência de criar aquele menino, ela, que por sua vez também era solteira como foi até morrer sua irmã, a mãe do Deodorinho.-Fazer o que? Vontade de Deus! Ele é que manda no nosso destino e não podemos fugir dele.Dizia ela conformada.Meio perdido em referências familiares, principalmente masculinas, criado por mulheres de idade avançada muito religiosas e costumes antigos, o garoto tornou-se um tanto esquisito. Muito magro e alto, olhar meio cismado, sem vícios, sem namorada, mas a bem da verdade era muito inteligente e educado, isso não se podia negar. Estudioso, introspectivo e muito inseguro diante da vida, sua cabeça era povoada de indagações, sonhos e realizações como todo mundo, mas faltava aquele viço e a firmeza de um homem. Tinha as mãos sempre úmidas de suor nervoso. Vestia-se sempre com camisa de manga comprida e colarinho abotoado. Não tinha amigos de sua idade. Freqüentava a biblioteca Municipal onde lia de tudo, satisfazendo as suas curiosidades. Foi sempre bom aluno e agora era um homem formado. Até fez alguns cursos e alguma especialização numa empresa pequena de uma cidade vizinha, o que não contribuiu muito para sua segurança. Havia uma aparente incoerência entre ser inseguro e sonhar grande. Mas Deodorinho era assim. Sua cabeça sonhava alto, queria morar numa grande cidade, talvez numa capital, ganhar um bom salário e crescer na vida ser igual a todo mundo, seja lá o que isso queira dizer. Podia ser até uma cidade bem longe não tinha importância, ele iria assim mesmo. Para tanto foram encomendadas por sua madrinha e o padre da cidade, inúmeras novenas e visitas da imagem da Santa Edwiges, São Judas e Santo Expedito em sua casa com novenas no local para conseguir o intento. E eles não lhe faltaram, logo no semestre seguinte veio a resposta de uma grande empresa da Capital lhe oferecendo emprego e convocando-lhe o comparecimento na próxima segunda-feira, as nove horas da manhã portando todos os documentos para a entrevista. Seria no começo da semana seguinte.-Viva! Viva! Consegui o emprego! Consegui!Gritava timidamente Deodorinho, com o coração acelerado de emoção empunhado o telegrama para o alto, numa das mãos, acompanhado das palmas da madrinha d. Firmina provocando a curiosidade de suas vizinhas mais próximas que vieram ver o que estava acontecendo e entrando sem cerimônia na casa, para fazer parte daquela alegria da qual se sentiam também um pouco autoras, já que suas orações e comparecimento às novenas também tiveram algum peso na decisão dos santos. Todos batiam palmas e entoavam cantos sacros em louvor a Deus. Até que cansados, pararam ao redor da mesa da cozinha e resolveram tomar um refresco com biscoitinhos caseiros para comemorar.Agora mais descansados todos comentavam os detalhes da viagem, o que ele deveria levar na mala etc...-Não esqueça de um bom agasalho!Isso era primordial para uma delas que repetia com ênfase de vez em quando.-Na capital de São Paulo, faz frio!-Mas estamos em final de novembro...-Nunca se sabe numa capital como São Paulo, acontece coisas que até Deus duvida que dirá, um frio de repente!Uma delas até contou com muitos detalhes, que tinha um afilhado muito querido que se mudou para lá assim que nasceu e ela sabia que ele estava sempre com bronquite. Agora já estava curado e ia até para a escolinha, um amor.-Coitadinho, morando lá naquele fim de mundo! Nunca esqueço dele, “judiação”, sempre faço orações por aquele menino, mas a minha comadre sempre escreve contando como ele vai passando, é, escreve sim. E quando a carta demora, eu telefono; nunca se sabe o que pode acontecer por aquelas bandas.Falava com a maneira peculiar do interior.E assim as velhas senhoras, algumas disfarçando as lágrimas de saudade precoce, no afã de agradar Deodorinho falavam sem parar deixando o rapaz cada vez mais embaraçado e aturdido, com tantos conselhos, palpites e opiniões. No fundo mordia-lhes a curiosidade de conhecer outra cidade e transferiam para ele essa emoção enquanto ele contava os minutos e os segundos para sair dali conhecer o mundo lá fora, ver ao vivo as coisas que via na televisão e nos livros que lhe pareciam bem diferentes desse “mundinho” em que ele vivia no interior de Minas entre padres e beatas. Ele reconhecia todo o carinho da madrinha e de suas amigas que o rodeavam o tempo todo desde menino, mas queria sair logo dali. Por isso mandou currículo para uma grande empresa na capital de SP e deu sorte, agora foi chamado para entrevista. Um frio na barriga se tornou constante daquele momento em diante, mas a vontade de ir era maior. Todos estavam felizes por ele e com ele.Aquele final de semana foi muito agitado, inigualável. Aconteceu de tudo. Era um corre-corre só. Sua madrinha ficou tão nervosa que a pressão subiu, deu uma batedeira no coração e tiveram que leva-la para a Santa Casa o único hospital da cidade. Demoraram por lá umas horas e voltaram para casa com d. Firmina medicada e cheia de recomendações médicas, pouco tempo antes do embarque para São Paulo.As amigas já tinham lavado e passado toda a roupa de Deodorinho que repousavam esticadas e prontas para a viagem sobre a cama ao lado da imensa e entulhada mala. Uma canja quente e saborosa esperava sobre o fogão na cozinha, enquanto o cheiro de café e pão caseiro se espalhava pela casa.Agora passada a euforia, um pouco mais calmos todos conversavam animadamente à mesa naquele final de domingo inesquecível.Ao anoitecer ele já estava pronto, vestido de colarinho e gravata, para uma viagem de aproximadamente onze horas, ouvindo pela milionésima vez as recomendações educativas de cada uma delas, como se ainda tivesse sete anos de idade e fosse o seu primeiro dia de aula; ele que já completara vinte e seis. Sorria automaticamente como se fosse o príncipe encantado das histórias infantis. Concordava com tudo e nem por um momento demonstrava sua aflição interior. Ninguém que o observasse descobriria seus pensamentos.Deodorinho pensativo e calado num sorriso congelado no rosto observava ao redor, aquele mundinho que ele conhecia tão bem, já sentindo um pouco de saudade desse burburinho de vizinhos, do cheiro do café e pão caseiros, desse carinho espontâneo de cidade pequena onde todos se conhecem. Jamais esqueceria disso tudo. Jamais! Pensava ele.Iria para um período longo de viagem, chegaria ao amanhecer de um novo dia para uma nova vida. A chegada estava prevista para antes das sete horas. Tempo suficiente para lavar o rosto no banheiro da rodoviária, fazer a barba e tomar um café antes de pegar outro ônibus com destino à entrevista para o seu novo emprego. Estava anotado tudo num papel com horários cronometrados, até o endereço de uma pensão que lhe deu seu Laureci, do frete, onde se hospedou quando foi a São Paulo há quinze anos atrás. Começaria a partir daí uma nova vida. Não tinha idéia quanto tempo levaria para poder voltar para sua casa, aquele lugar, aquelas pessoas. Talvez não voltasse nunca. Quem sabe? Isso ia depender de muitas coisas. Entre elas o de gostar ou não da nova vida. E do novo emprego.Um pouco depois enquanto todos esperavam o táxi que o levaria à estação de embarque, ele ficou novamente pensativo isolando seu pensamento das infindáveis recomendações sentindo o seu coração bater no pescoço. Fechou os olhos por um momento e pensou; - Preciso relaxar. Preciso me apresentar bem e muito seguro. Afinal em breve estarei dando os primeiros passos na brilhante carreira de executivo. Preciso de muito autocontrole. -A aparente calma constante não deixava transparecer o turbilhão de pensamentos desencontrados que faziam sua cabeça latejar. Deodorinho tinha o temperamento fechado. O seu sofrimento desde seus primeiros anos de vida, fez com que controlasse suas emoções, para não ser rejeitado como uma criança chata, chorona ou teimosa. Assim nunca dizia não para ninguém, principalmente para a sua madrinha e as amigas dela que o mimavam e o achavam “uma moça” de tão educado.Finalmente chegou a hora da despedida. Todos choravam copiosamente, Deodorinho sorria amavelmente para todas aquelas velhas e conhecidas senhoras, amigas e vizinhas de sua madrinha. Beijava uma a uma abraçando-as antes de entrar no táxi do seu Laureci do frete. Este também era seu conhecido, tinha um caminhãozinho de frete e um automóvel antigo como táxi. Os fregueses telefonavam e contratavam ou o caminhão ou táxi. Assim ele estava sempre servindo a comunidade. E era ele que levaria Deodorinho até o ônibus com as bênçãos de todas as velhinhas e do padre, que chegou a tempo de lhe fazer o sinal da cruz de longe abanando um adeus junto com elas. Sentado ao lado do motorista foi olhando para traz e também abanando a mão para o pequeno comitê de despedida em frente a casa, enquanto enxugavam as lágrimas de saudade sincera, até sumirem no final da rua.Quando o táxi virou a curva da esquina da estação de ônibus ele viu uma das amigas da sua madrinha, dona Santinha, correndo com muita dificuldade, esbaforida mesmo. Vinha em sua direção com um enorme embrulho mal arranjado na mão, segurando o que parecia ser um cabo num dos lados.-Ah! Graças ao São Judas, padroeiro das causas impossíveis, eu consegui chegar a tempo, vim rezando para conseguir e finalmente consegui.Falava ofegante e sem parar, vermelha como um pimentão.-Deodorinho, meu querido, nunca lhe pedi nenhum favor, mas esse eu vou pedir porque você é da maior confiança, meu filho; Lembrei-me que tinha guardado no porão a bicicletinha de estimação da família, que primeiro foi do meu filho Vesúvio, depois do meu neto Armandinho que já está quase um homem, e eu quero mandá-la agora para o meu afilhadinho, que mora lá em São Paulo, o Genivaldo. Não vai lhe dar nenhum trabalho, meu filho. Logo, um pouco mais tarde, que o telefonema é mais barato, eu ligo para a minha comadre e ela manda o marido pegar a bicicletinha na rodoviária bem cedo. Assim que o seu ônibus chegar, ele já vai estar na rodoviária esperando.O que ela chamava de bicicletinha era um daqueles tradicionais triciclos, também conhecidos por "tico-tico", com assento de madeira, que quase todo mundo que viveu “antigamente” teve um.Um frio gelado percorreu a espinha de Deodorinho e o sorriso de príncipe encantado congelou na face. Sem saber o que dizer e sem poder se negar ao delicado pedido da veneranda senhora, pegou num dos lados do guidão que aparecia fora do papel mal ajeitado e sem conseguir articular uma sílaba despediu-se da sorridente e suarenta amiga de sua madrinha que vibrava feliz por mandar o “presentinho” para o afilhado. Como se tivessem lhe dado uma paulada na cabeça, o rapaz olhava para o pacote disforme em sua mão, para frente e para os lados ainda sem saber o que fazer. Não sabia se levava a bicicletinha para a parte de cima do ônibus e a colocava ao seu lado no banco, ou se a deixava no bagageiro junto de sua mala. Afinal era uma bicicletinha de estimação, de família, tinha passado por gerações, não podia deixar que nada acontecesse com ela. Não dá para comprar outra, só em antiquário, sei lá. E agora?Deodorinho era daquelas pessoas metódicas, meticulosas, perfeccionistas, que não sabem lidar com imprevistos e esse era de bom tamanho.A conselho do motorista que assistiu tudo deixou a bicicletinha devidamente registrada com etiqueta de bagagem no bagageiro inferior, mesmo porque ele havia comprado só uma passagem e não poderia ocupar o banco do lado que deveria ser ocupado por outro passageiro.Respirou fundo e ainda aturdido entrou no ônibus, conferiu várias vezes o número do lugar com a passagem que levava na mão como se não soubesse mais ler e só então, sentou-se. Olhou pela janela e ainda viu dona Santinha abanando uma mão freneticamente enquanto a outra assoava o nariz. Retribuiu pateticamente o gesto sentindo os ouvidos zumbirem cada vez mais alto. A viagem seria longa, aproximadamente onze horas ou mais. Olhou diversas vezes o relógio sem conseguir ver as horas. Finalmente o motorista deu partida e ruidosamente o ônibus foi se deslocando para a saída da cidade em direção ao seu destino. Deodorinho ainda ficou olhando para fora, observando a noite escura por um tempo até que viu as últimas luzes da cidade ficarem cada vez mais para trás, e só aí então, fechou os olhos e dormiu. Quanto tempo, não saberia dizer, talvez uma hora, talvez uns minutos, o fato é que de repente Deodorinho pulou no banco assustado, como se o ônibus com poucos passageiros a bordo, tivesse dado um grande solavanco num daqueles imensos buracos de estrada. Parecia que seu cérebro tinha se iluminado fantasticamente com uma lucidez assustadora. Um filme começou a passar pelo seu pensamento e com olhos arregalados de pavor, ele se viu descendo do ônibus no Terminal Rodoviário do Tietê em São Paulo, que ele iria conhecer logo depois do raiar do sol daquela segunda-feira de final de novembro. Pouco antes das sete da manhã, ele estaria num lugar desconhecido e até assustador, pelo que ele tinha ouvido falar e visto pela televisão. Imaginou-se andando pelo meio daquela multidão com uma enorme e pesada mala, entulhada de roupas de frio e tudo mais, em pleno verão, suando e com uma bicicletinha na outra mão. Precisava encontrar uma pessoa que nunca viu mais gordo e que também não o conhecia. Como eles iriam se conhecer? Quantas pessoas andam pela rodoviária carregando bicicletinhas? E se a dona Santinha não conseguiu falar com a mãe do menino? E se o marido da mulher tiver um compromisso logo de manhã e não puder ir ao meu encontro? E se o menino ficou doente durante a noite e eles o levaram ao médico? E se a doença for grave e eles o internaram? E se eles se separaram ou morreram ou a dona Santinha morreu depois que eu saí da cidade e nem deu tempo para ela telefonar? Ela é bem velhinha, então a mãe do afilhadinho Genivaldo não vai saber que estou levando a bicicletinha para o menino dela e não vai falar para o marido que não vai se preocupar em me encontrar, mesmo que seja o seu dia de folga. Por que ele iria deixar de dormir um pouco mais ou pescar para ir de manhã cedo à rodoviária buscar uma bicicletinha que mandaram de Minas? É claro que ele iria pescar e não iria por nada desse mundo buscar uma bicicletinha na rodoviária. E se não for o dia da folga dele então? E se ele trabalha numa grande empresa e não pode sair em horário de serviço para ir pegar uma bicicletinha na rodoviária as sete da manhã de uma segunda feira, que a madrinha do menino mandou do interior de Minas? Ou é daqueles bem chatos que não gosta de fazer favor para ninguém nem por uma bicicletinha de estimação que pertenceu aos antepassados da madrinha do filho dele, a d. Santinha? "-A madrinha que se lixe! - Ele vai dizer. Eu é que não vou pegar uma bicicletinha às sete da manhã na rodoviária do Tietê para o filho da minha mulher! -" E como é que eu faço? Tenho que comparecer na empresa e assumir o meu emprego e não posso chegar lá às nove horas da manhã levando pela mão a bicicletinha de estimação da dona Santinha! Ou quem sabe eu pego a bicicletinha e guardo no guarda volumes?! O seu Alfeu me disse que na rodoviária tem uns armários, que a gente paga para guardar coisas. É, mas eu trouxe pouco dinheiro e não vou gastar pagando estadia para a droga da bicicletinha, sem falar que tenho que voltar na rodoviária depois para pegá-la e vou levar para onde depois? O que eu vou fazer com a bicicletinha de estimação da dona Santinha, meu deus, vou ficar com ela na pensão onde vou morar? Mas se eu ainda não encontrei a pensão que vou morar?! O seu Laureci do frete me deu o endereço e eu nem desconfio se fica na direção do meu trabalho, sem falar que já faz mais de quinze anos que ele se hospedou só por uma semana naquele lugar. Pode ser que nem exista mais, nem a pensão e nem o prédio... Depois como é que eu vou para uma pensão de bicicletinha na mão? Vão me perguntar se é do meu filho, e eu vou ter que dizer que não, ora! E que desses assuntos eu nem entendo muito, nem de filhos e nem de fazê-los e se querem saber a verdade; até sou virgem. E depois é uma bicicletinha antiga, eles nem vão acreditar que não é minha mesmo, vão achar que é uma daquelas lembranças que a gente guarda e leva com a gente, para o resto da vida. Como o meu travesseirinho que está na mala, ou um ursinho qualquer. Vão me achar um cara estranho e meio esquisito e aí vão me botar para fora da pensão e eu vou morar aonde? Vou ter que pegar outro táxi e com certeza o motorista vai me levar até outra pensão e vai me perguntar se a bicicletinha é minha e eu vou ter que contar que é da d. Santinha e que o pai do afilhado dela não é pai nem é padrasto talvez vá pescar mas se não for, vai me encontrar as nove horas na rodoviária do Tietê, depois de me deixar na outra pensão, porque na primeira me botaram para fora só porque não quis ter filhos nem bicicletinhas e nem ursinhos na infância. E só porque resolvi arranjar um emprego numa grande empresa de São Paulo, a minha madrinha que me criou, pediu aos santos e santas para ir a Santa Casa buscar o táxi do seu Laureci para me levar no guarda volumes da pensão e pegar o afilhadinho de d. Santinha que morreu de tanto telefonar para São Paulo e que ficou lá desde as nove horas...E assim Deodorinho, ficou remoendo elucubrações enquanto roía o que restava das unhas pelo caminho.De manhã, em plena segunda feira, naquele caos total de transito, quando o ônibus encostou na plataforma de desembarque do Terminal Rodoviário do Tietê, Deodorinho tinha olheiras profundas, o rosto cinza amarelado que denunciava uma noite insone e desesperada, tentando resolver o problema da bicicletinha. Ao ver que o ônibus atrasou e já eram mais de oito horas, Deodorinho caiu num choro convulsivo e se deu conta que perdera a entrevista de emprego, pois seria impossível chegar lá às nove horas. Antes de desmaiar e dos enfermeiros tira-lo de dentro do ônibus e coloca-lo numa ambulância, ainda pode ver pela janela, que para todos os lados que olhasse, pessoas levavam pela mão uma bicicletinha de todos os tipos e cores. Afinal era época de Natal.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Panfletos de Gurús

De tanto chegar às minhas mãos aqueles panfletos "mágicos" que nos oferecem verdadeiros milagres num estalar de dedos, dinheiro, empregos de primeira, encosto, mau olhado, ciumes, inveja, conseguir um amor, seja ele quem for (compromissado ou não (!))separações, todo tipo de pedido com garantia (!!!) como o de Oscar de Xangô, Walter de Xangô ou Regina de Oxum (????) Babalorixás (que de acordo com o panfleto) estão ao nosso inteiro dispor, é só telefonar (tele-búzios) e estão todos "conectados" 24 horas com as entidades que regem suas cabeças como eles mesmos se definem, eu resolvi escrever este conto. "A praga" Andrade era um homem quieto, pacato mesmo, até um pouco apagado, sem expressão. Daqueles que só falava o necessário, quando muito necessário mesmo, principalmente em casa, a bem da verdade lugar que ele pouco parava. Era casado com Deolinda, mulher fogosa, faladeira, agitadada e que "não comia enrolado", rodava a baiana" e "quebrava o barraco" por qualquer "venha cá uma palha". Brigava alto, fazia escândalo por qualquer coisinha à toa , principalmente quando Andrade saía do sério, no parecer de Deolinda, é claro, pois o pobre do Andrade não estava nem aí com coisa nenhuma, muito menos com a Deolinda. Andrade era daqueles homens que cumpria as suas obrigações sem dar muita importancia ao fato. Fazia o que devia e o que tinha que fazer e pronto. Parecia que nada o estimulava, nada o fazia vibrar de emoção ou de alegria. Era um ser apático diante da vida. Vivia por viver, só isso. Só uma coisa fazia Andrade empolgar um pouco, mas só um pouco, era ficar longe de Deolinda, de preferência na beira do rio, pescando quieto, vendo o rio passar sem parar diante dele desviando ora aqui, ora ali de uma coisa qualquer, calado e tranquilo como ele próprio. Mas Deolinda queria morrer de ódio com esse jeito de ser do Andrade, pois em nada se parecia com ele e com isso, cada vez viviam mais distantes um do outro, cada um mergulhado no seu universo. Ela era cheia de vontade de viver, dinâmica, lutadora, inquieta por natureza, acreditando firmemente e sempre em seus sonhos e propósitos. Trabalhava o dia todo num escritório de contabilidade, sem perder o controle das obrigações domésticas. Não tiveram filhos; talvez porque Andrade também não era muito chagado em sexo. De vez em quando e sempre por iniciativa e muita insistência de Deolinda ele "comparecia", mas sempre naquela de fazer por obrigação, e não por prazer ou desejo. Ja passava dos sete anos de casados, quase oito, e para desespero dela a apatia dele só aumentava. Só tinha uma coisa que o motivava a sair daquele marasmo; era ir pescar. Sair de casa e ir para a beira de um rio e lá ficar perdido e esquecido. Realmente era só isso que ele demonstrava interesse em fazer; Pescar. Talvez porque fosse a única coisa que combinasse com a personalidade dele: uma vara de pescar, uma barraca velha de acampar à beira do rio e nada para pensar e se preocupar ou fazer durante horas a fio, observando o rio passar em silêncio, contornando os obstáculos como Andrade fazia com a vida. Não lutava por nada, só contornava os problemas. Nem o peixe lhe interessava, até porque tinha preguiça de limpá-los. Ele só queria ficar ali quieto, sozinho, longe da mulher e já lhe bastava. Naquele dia Deolinda acordou "com a macaca". Se aproximava do feriado e não conseguia programar nenhum passeio com o marido que só lhe respondia que ela fizesse o que quisesse, que para ele estava bom, pois como sempre, ele iria pescar. Mas na verdade o que ele queria mesmo era que ela fosse para bem longe e lhe desse sossego. Talvez nem saísse de casa, ficaria vendo televisão, assistindo um bangbang velho, dormindo, qualquer coisa, ou talvez resolvesse mesmo ir pescar. Mas o que ele mais queria era que ela saísse de vez do seu caminho, isso sim. Um amigo, dos poucos que tinha no seu trabalho, certo dia lhe perguntou, ao vê-lo resmungar alguma coisa da mulher; por que não separavam-se? No que ele respondeu: -E você acha que vou começar tudo de novo, com outra maluca? Eu é que não! No começo até que é bom depois começam os defeitos, não, deixa quieto... E assim, sem ninguém entender esse modo tão peculiar de ser, Andrade levava a vida, ou a vida que o levava, sei lá. Naquela manhã ensolarada e quente, depois de engolir, sem sentir o gosto do café, Deolinda olhava fixamente para o marido esperando pelo menos uma breve e trivial conversa em torno da possibilidade de passarem o feriado juntos, mas foi em vão: ele ignorou-a solenemente. Indignada com a pasmaceira do marido levantou-se da cadeira e falou bem alto: -Eu vou sair, não aguento mais olhar a sua cara! -Vai meu bem, faça como quiser... Falou ele sem deboche, mas no automatismo de sempre, já sonhando com a possibilidade de ir para a beira do rio sozinho. La ele armaria a velha barraca e ficaria sem fazer nada e sem ninguém lhe aborrecer até o feriado acabar. -Ah! Coisa boa, nada para me apoquentar... Murmurou para si mesmo, logo que ouviu a mulher sair batendo com toda a força a porta da frente, fazendo estremecer os bibelôs que enfeitavam a prateleira da sala. E lá se foi ela pisando firme, indignada com aquele palerma do marido que ela tinha arrumado. - Também com a idade que casei, sobrou o quê?- , resmungou. Tive que me contentar com o que apareceu. E assim andava pela rua chateada, com os pensamentos descontrolados, desesperada com a lástima de vida que levava com o homem que escolheu. As vezes dava graças por ter um marido, mesmo que meio esquisito como era o Andrade; pelo menos não envelheceria solitária, como dizia a sua mãe, mas logo depois, via nele só um peso morto, alguém que não a estimulava em nada. Muito confusa, não sabia mais o que pensar. Quando chegou à esquina para tomar o ônibus, um garoto lhe entregou um panfleto que dizia: "Depressão, angústia,desemprego, traição, abandono, amor não correspondido, falta de dinheiro? Tenho a solução: Abro os seus caminhos e descarrego toda a sua aflição. Leio Búzios, Tarô egípcio, cartas ciganas, leio mãos e muito mais." Foi aí que teve a idéia de que ela podia estar sendo traída pelo Andrade com outra mulher. - Quem sabe ela me diz o que há com ele e quem a é a "cachorra" que entrou no nosso meio... Falava sozinha enquanto procurava saber do endereço, que infelizmente, era num outro bairro, mas ela iria até lá, com certeza, falar com a "Mãe Doiá" Era assim que a advinha se chamava de acordo com o panfleto. Um pouco mais tarde chegou no endereço que era um tanto pobre demais para quem apregoava resolver o problema dos outros mas ainda não tinha resolvido os seus próprios, mas estava tão desvairada que nem se deu conta disso, agora só queria saber quem era a "cachorra". Foi entrando pelo úmido e mal iluminado corredor perfumado de forte cheiro de insenso, que levava até um quartinho iluminado por uma variedade de velas coloridas, santos e adornos místicos além de alguns tecidos colocados junto às paredes na condição de decorar e cobrir as paredes descascadas. Perto da pequena janela uma mesa redonda, coberta com uma toalha branca de plástico rendado, onde num dos lados um pequeno duende sorridente, um copo de água com uma pedra de vidro colorido ao fundo, e uma vela acesa sobre um pires lascado juntavam-se a um baralho gasto pelo manuseio. No meio do ambiente, de pé, uma mulher já "entrada em anos", vestida à moda cigana, com longa saia colorida e pulseiras de metal dourado, experiente em ouvir histórias de vida alheias, almas aflitas e afins, lhe recebeu com um sorriso amistoso e benevolente, deixando antever na expressão, bom animo para ajudar quem ali chegasse. Convidou Deolinda a se sentar diante dela do outro lado da mesa perguntando em qual seguimento queria respostas para suas indagações; se através da consulta dos búzios, dos anjos da natureza ou das cartas ciganas, de qual? -De qualquer um que me responda o que acontece com o Andrade? Enquanto fazia o sinal da cruz sobre o rosto e peito, a mulher estendia o baralho com a outra mão num gesto teatral, fazendo uma meia lua com ele entre as duas, e fechou-o em seguida . -O Andrade é seu marido; estou certa? -Certíssima! A mulher concentrou-se por uns momentos e murmurou uma espécie de oração incompreensível fazendo o movimento em cruz repetidamente sobre as cartas alinhadas num semi circulo. -Vamos consultar as cartas ciganas. Elas respondem bem aos assuntos de casamento. -Ótimo! Pode continuar então. Não saio daqui hoje sem uma resposta para o meu caso. Ela tamborilava na mesa nervosamente enquanto falava. Era visível a indignação de Deolinda. Era facílimo "adivinhar seu passado e seu presente e até o seu futuro, quem sabe?" Era uma ótima cliente para a "Mãe Doiá", bastava um pouco de experiência de vida, empatia, psicologia e saberia tudo. -Você anda muito nervosa com o que está acontecendo não é mesmo, minha filha? Estou vendo aqui nas cartas, como você está aflita. Você nem dorme direito, não é filha? Olhe esta carta, esta dama de preto, é a mulher que gosta do seu marido, ela é morena..., quer dizer, tem cabelo escuro. Ela passa pela frente da sua moradia todo santo dia minha filha... oh, estou morrendo de dó de você... e você nem desconfia né? Ou você sabe... (Pobre Andrade...) E assim por mais de quarenta minutos a mulher "decifrou" um bocado de coisas da Deolinda e do Andrade. Depois de chorar muito e tomar a água que continha a pedra no fundo, e que de acordo com a mulher estava energizada pelas pelas forças da natureza, Deolinda (é claro) ficou mais calma e serenamente acabou contando toda a sua vida conjugal, a mulher então "muito compadecida" lhe contou o "segredo" do Andrade e muitas outras coisas mais, como por exemplo: que provavelmente ele em vez de pescar ia para a casa da "outra". Quanto mais a mulher falava, mas Deolinda descobria "vestígios" da traição do marido. Até o gosto por camisas azuis. Agora volta e meia ele só queria vestir as camisas azuis. Assim, segura de ter descoberto "tudo", Deolinda foi embora, não sem antes deixar sobre a mesa da mulher, uma polpuda soma em dinheiro. Mas pagou consciente de que tinha valido a pena cada centavo, a consulta. Deolinda foi embora, calma por fora, mas furiosa por dentro. Agora ela tinha descoberto o "problema" de Andrade, mas como resolver? Ele devia ser discretíssimo pois na verdade nunca notara nada que o desabonasse, até a mania das camisas azuis. Se não fosse aquela mulher a lhe "mostrar" certos hábitos, aparentemente tão corriqueiros como indícios de traição, como nunca atender o telefone quando ela estava, por exemplo; ela sempre achou que era pura preguiça mas não é não, é porque a amante sabia quando ela estava em casa e não irira embaraçá-lo dizendo palavras de amor ao seu ouvido enquanto ele não poderia responder. Outra coisa, ele nunca a levava à pescaria, até porque ela não gostava, preferia ir passear com as amigas pelo shopping. Ele mais parecia um bobão, mas aí é que a gente se engana. As aparências enganam, mas ela saberia ser esperta. Ainda bem que a sortista lhe mostrou tudinho. Agora só precisava provar, mas não ia ser fácil. -E se ela fosse a pescaria ver de perto?- Pensava indecisa sem parar, - Ia ter que vigiar cada passo do Andrade, vigiar bem de perto, mas não ia ser fácil-. E assim os pensamentos fervilhavam na cabeça da Deolinda, criatura ingênua. E a partir daquele dia ela ficou cada vez mais atenta aos movimentos do marido principalmente a história das camizas azuis. Ele tinha quatro, uma, a preferida, era xadrez em tons de azul, é claro. -E eu que sempre achei que o Andrade simplesmente gostasse de camisas azuis, e não é nada disso, é um código para encontrar a mulher morena, a "cachorra"... Safados os dois!!!
Gritava indignada bufando... Mas por mais que seguisse os passos dele, não conseguia saber nada. Ele continuava do mesmo jeito, nem água e nem sal. Até que chegou a véspera do feriado.
Enquanto tomavam o desjejum Deolinda tocou na possibilidade de passarem juntos, talvez uma pequena viagem até a casa da mãe dela, mas a discussão ficou feia. Ele teimou que não iria com ela para lugar nenhum e muito menos iria para a casa da sogra, no interior. Isso nem pensar. Ela que fosse sozinha, ele já tinha resolvido que iria pescar na beira do rio naquele feriado, e pronto e tem mais: com certeza, como sempre sozinho! Não queria ninguém com ele. Ja não aguentava mais aquele tormento que se chamava Deolinda, que aliais piorava mais a cada dia, para não dizer a cada momento. Ele iria para a beira do rio para a sua pescaria, sim! E não tinha mais conversa. Ela que fosse para onde quisesse, mas sem ele.
O bate boca na cozinha foi aumentando cada vez mais e de longe poderia se ouvir a gritaria. Os dois foram ficando cada vez mais exaltados até que Andrade se levantou da cadeira e foi até o quarto onde pegou uma bolsa, colocou algumas peças de roupa passou na sala pegou as chaves do carro e andou na direção da porta da saída. Foi quando ela veio de dentro gritando com algo na mão: -Eu sei que você tem uma amante! Sei que é morena e passa aqui na frente, eu sei de tudo! Eu sei até das camizas azuis, seu safado! Andrade mesmo desinteressado pela mulher não resistiu e falou: -De que você está falando, mulher? Ficou maluca é? Que negócio de camisa azul é esse que você está falando? Acho que você enloqueceu de vez... -Não se faça de mais bobo do que parece que é. Eu vou lhe jogar uma praga para nunca mais você me fazer de boba, viu, seu desgraçado. Você vai ser castigado pela justiça dos céus. Enquanto falava sacudiu no alto o legume que era um pepino bem verde e todo encaroçado e falou: -Está vendo este pepino, seu cretino? Ja que me trocou pela "cachorra" sem vergonha, pois quando você se encontrar com ela novamente vai ficar todinho empipocado como esse pepino aqui e se deus me ouvir direito vai ficar todo verde também, desgraçado, filho da mãe... Gritando feito uma louca desvairada empunhando o fruto no alto da cabeça, ela atirou com toda a fúria o pepino na direção dele que se abaixou rapidamente, antes que se espatifasse na porta que fechou correndo, espalhando pedaços de pepino pela casa toda. Andrade ainda olhou para traz com espanto, pois nunca tinha visto a mulher tão furiosa e muito menos dizer nada parecido com aquilo. Realmente sua mulher estava desiquilibrada. -Enlouqueceu de vez! Saiu falando sozinho, deu alguns passos até o carro relembrando a cena; achou tanta graça que saiu sacudindo a cabeça e dando gargalhadas jamais vistas em seu rosto. -Imagine eu, todo empipocado feito um pepino, e ainda verde, mulher tem cada uma... Enquanto isso, Deolinda se sentindo a mais desgraçada das mulheres, se jogou no chão e chorou até as lágrimas secarem, enquanto Andrade mais leve e solto do que nunca foi embora para a beira do rio assobiando feliz da vida, por se afastar de casa e principalmente hoje, da sua mulher depois daquela baixaria toda. Deolinda finalmente levantou-se do chão e convicta que mulher nenhuma deve chorar por homem, "pois todos são iguais e não prestam", principalmente os que se vestem de azul, foi até o quarto e colocou umas roupas na mala e chamou um taxi, pois iria para a casa da mãe que também partilhava da idéia de que "homem não presta", e que o Andrade tinha uma amante com certeza, igual alguns casos que ela conhecia e costumava enumerá-los sempre que a filha chegava. É claro, que Deolinda ela ficou mais deprimida ainda... -Todos homens são iguais, não valem a comida que comem. Eu nunca confiei no Andrade. Dizia a mãe muito segura de si, quase feliz por te razão, aumentando a irritação de Deolinda. Ao chegar à beira do rio, Andrade já esquecido do episódio doméstico, respirou várias vezes profundamente por estar no seu lugar preferido, no seu paraíso particular, longe da mulher, do trabalho, da sogra, etc. Ele só queria sossego. Queria a paz de não ter nada para fazer, nem horário para nada e nem ninguém para apoquentá-lo. Quando foi armar a barraca já anoitecia, e ele ainda pode apreciar as primeiras estrelas surgindo no céu. Com a prática que tinha, num instante montou a barraca e arrumou os apetrechos ao lado, até acendeu um lampião e fez um café na pequena fogueira, e ainda o colocou numa garrafa térmica. Em seguida foi se deitar para dormir pois pretendia levantar logo cedo para pescar o almoço, era a melhor hora; de manhã cedo. Deitou e se acomodou bem entre as cobertas, e por um momento lembrou novamente da praga da Deolinda, fazendo-o sorrir da inusitada cena. Quase imediatamente caiu no sono de tanto prazer e relaxamento por estar ali longe da megera da mulher e da jararaca da sogra. Na beira do rio ele era um homem livre de verdade. De repente ele deu um grito que ressoou na mata e com certeza, entre as águas que passavam. Pulou de onde estava, desmontando a barraca sobre ele, ficando todo embolado entre aqueles panos e cobertores, custando muito a se desvencilhar de tudo, antes de se jogar aos gritos desesperados dentro das águas do rio. Confuso, no escuro, ja que tinha apagado o lampião e a fogueira, sentiu que o corpo inteiro foi invadido por um exercito de formigas, pois inadivertidamente montou a barraca sobre um formigueiro, já que chegou ao anoitecer e mal enchergava o solo, e nem reparou direito como deveria. Desesperado ficou mergulhado na água fria do rio, nem sabe quanto tempo para aliviar as dores e diminuir o inchaço das milhares de pipocas que cresceram no seu corpo numa fração de segundo, enquanto se lembrava das palavras malditas da mulher. Foi aterrorzante! - Maldita Deolinda! Desgraçada! Me jogou uma praga tamanho do mundo, ela me paga! Falava aos gritos no escuro, morrendo de frio. Quando amanheceu, vestiu uma roupa seca e voltou para casa desconsolado, imaginado a cara de felicidade da mulher, que é claro, que nunca iria acreditar que ele era inocente...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A realidade dói demais

No sábado, véspera do "Oscar", fui assistir o filme "Quem quer ficar milionário?". Quase sai antes do meio da sessão, tal o mal estar que senti ao ver diante de mim "aquilo que eu sei que existe", mas nunca vivi, Graças a Deus e siquer, vi de perto. Mesmo estudando constantemente a doutrina espírita e sua filosofia, é duro a gente constatar que ainda seja nescessário (não obrigatório) "aprender" por estes meios, para evoluirmos. É chocante ver o ser humano vivendo em condições desumanas com a finalidade de ser "sacudido" para a realidade que leva o nome de AMOR SUBLIME, O AMOR VERDADEIRO. Quando aprendermos a amar ao nosso próximo como a AMAMOS A NÓS MESMOS, saberemos viver de verdade e encontraremos dentro de NÓS a felicidade que buscamos por aí em coisas que precisamos segurar de alguma forma, principalmente com as mãos, sem encontrá-la, o que é pior. O filme mereceu o prêmio, mas foi muito difícil encarar esta realidade que se espalha pelo mundo todo: a míséria humana nos suas mais variadas formas, independente de ser considerado um pais "adiantado" ou não. Apenas a miséria humana... Enfim, saí do cinema (e ainda estou) muito chocada com a história de vida dos Indianos, povo bonito e multicolorido, assim como sempre fico, com as imagens da Africa. Dói demais.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Võo de Maricha. a lagartixa.

O Vôo de Maricha, a Lagartixa Maricha entrou em casa fazendo o maior barulho, como sempre. Seus pais mesmo acostumados vieram lá de dentro curiosos para saber qual era a novidade dela agora. -Mamãe, Papai!!!! Eu vou aprender a voar... -A VOARRR??!!??!! Perguntaram os dois ao mesmo tempo assustadíssimos com a novidade. - Sim! Voar como os pássaros, os aviões, os balões e tudo o mais que voa, voando, ora. -Mas minha filha, nós as lagartixas não voamos, é uma questão de aerodinâmica... Falou o pai por trás dos óculos. -Minha querida, voar é muito perigoso... -Ora mamãe, tudo é perigoso, andar é perigoso. Eu vou entrar para uma escola de pára-quedismo, depois vou comprar uma asa-delta ou um ultraleve, ainda não decidi, mas o que eu quero agora é voar, voar como uma gaivota voa... E correu para o telefone para contar a novidade para as amigas. Os pais de Maricha que conheciam bem a teimosia da filha sabiam que iam ter muitas preocupações, mas também sabiam que quando ela cismava com uma coisa, não havia nada que a fizesse mudar de idéia. Uma semana depois ela já estava matriculada na Escola de Pára-quedismo "Voar é Preciso", não sem antes convencer o instrutor que lhe entrevistou para a matrícula, que em todos os lugares do mundo as lagartixas voavam de todas as maneiras; de Asa-delta, ultraleve, avião e é claro: pulavam de pára-quedas. E que se ele não conhecia nenhuma é porque não estava tão bem informado e que deveria se orgulhar por ela estar ali, se inscrevendo para ser sua aluna. E assim, como sempre, ela tanto argumentou que o convenceu. Primeiro ela teria aulas teóricas como meteorologia, correntes de vento, altitude e outras coisas mais, alem de dobrar o pára-quedas, como todo bom aluno de pára-quedismo. Agora era a vez de dar o salto simulado, o salto de cima da torre para aprender a cair. -A gente precisa aprender a cair de cima da torre? Perguntou a mãe de Maricha, com ar preocupado, que ouvia a cada dia atentamente o que a filha toda empolgada contava que tinha aprendido na aula. -Ora meu bem, fala-se aprender a cair, porque ninguém pode se jogar de qualquer jeito, de lugar nenhum, muito menos de pára-quedas, mesmo que seja simplesmente de cima de uma torre sem nenhum conhecimento do assunto. Falou o pai de Maricha, com ar de entendido, voltando em seguida para o jornal que fazia de conta que estivesse lendo, mas na verdade ouvia atentamente as explicações da filha. -Ah, mamãe e tem outra novidade: No dia do primeiro salto do avião, será sorteada durante a festa uma viagem com acompanhante, com tudo pago, não é legal? Torça para eu ganhar. -Vou torcer minha filha, pode deixar que vou torcer muito para você ganhar. E lá foi Maricha para o telefone contar as novidades para as amigas. Finalmente chegou o grande dia do primeiro salto de avião. O salto de verdade. Maricha tinha conseguido as melhores notas na TEORIA. Agora precisava mostrar na prática se conseguia mesmo saltar. -Eu ainda acho um perigo, esse negócio de pular de pára-quedas. Vou rezar para o anjo da guarda dela... Falou a mãe aflita, mais para si mesma do que para alguém que a ouvisse. Mas o pai respondeu: -Para falar a verdade eu também estou preocupado. Continuo achando que nós as lagartixas, por uma questão de aerodinâmica, não podemos voar, mas enfim, quem sou eu para contrariar a nossa filha?! O instrutor da Escola de Pára-quedismo "Voar é Preciso", pegou o microfone e começou a falar: -Pessoal, antes de tudo começar, antes que os aviões que vão decolar com os nossos alunos pára-quedistas, levantem vôo, quero avisar que independente de conseguirem ou não desta vez, pular de pára-quedas, todos concorrerão ao prêmio de uma viagem com acompanhante e tudo pago. Eu faço questão que esta festa seja bem alegre e que todos os alunos e convidados se divirtam muito. Tudo bem pessoal? Então vamos começar a nossa festa. IIIIIUUUPPPIIIII!!!! Falou, gritou e se dirigiu a um dos aviões que aguardava já de motores em pleno funcionamento. Todos os instrutores e alunos se dirigiram aos aviões, Maricha no seu macacão rosa-pink e capacete também, era só alegria. Estava segura que iria dar o salto perfeito, bem no alvo. E tudo teria dado certo, não fosse o rabo de maricha, que primeiro trancou na porta do avião deixando ali um pedaço, e por conta disso causou um desequilíbrio, desviando-a do lugar que deveria cair, o alvo. Foi para tão longe dali que tiveram que ir de carro buscá-la, lá longe numa fazenda. Felizmente não se machucou. O rabo não seria problema, já que rabo de lagartixa quando quebra torna a crescer, mas como não poderia deixar de ser ela chegou de volta arrasada. Se achando uma derrotada e já ia derramando umas lágrimas quando viu que não era bem assim, pois todos a rodearem dando-lhe os parabéns, afinal como principiante e ainda inexperiente, ela tinha conseguido conduzir numa corrente de ar o pára-quedas para um lugar seguro caindo com cuidado e nem se machucou. Todos davam vivas, o que fez Maricha se animar novamente e participar da festa até o fim quando foi sorteada a passagem com acompanhante. -Atenção! Atenção! Vamos agora fazer o sorteio para completar este dia de festa da nossa Escola de Pára-quedismo. Falou o instrutor depois de dar parabéns aos alunos e incentivá-los a continuar este prazer que é voar. Todos aplaudiram com entusiasmo e alegria fazendo a maior algazarra. -Oba!Oba! Ganhei as passagens, ganhei as passagens, nem acredito! Gritava Maricha, enquanto abraçava os pais e os colegas. -Parabéns Maricha, hoje especialmente você merecia este prêmio. Você se esforçou muito e mostrou que sabe sair de situações difíceis. Falou o instrutor ao lhe entregar as passagens. -Obrigada pelo apoio, pelo incentivo e por todo o carinho. Posso perguntar para onde são as passagens? -São para Florianópolis, a bela Ilha de Santa Catarina; você já esteve lá? -Vou ter este prazer agora, graças a vocês e a estas passagens. Eu quero agradecer à Escola de Pára-quedismo "Voar é Preciso" e a todos os instrutores por tudo e prometo que escreverei e mandarei fotos. Todos bateram muitas palmas e em seguida Maricha e seus pais voltaram para casa. A mãe pálida de susto, não parava de rezar. Maricha ao chegar em casa foi correndo para o telefone ligar para a amiga Gina Jane. -Oi amiga, você está a fim de ir comigo para Florianópolis? É que eu ganhei passagens de prêmio na festa, você vai? Não pode? Ah! A sua agenda de shows, sei... que pena! Tudo bem, quando voltar a gente se fala e eu conto como foi. Um beijo, até mais... -Oi Martinha, eu ganhei as passagens na festa, e adivinha para onde? Que nada, são para Florianópolis! Não é incrível? E eu quero lhe convidar para ir comigo, para me acompanhar. -Quer mesmo que eu vá com você? -Claro que eu quero! Eu também convidei a Gina Jane, mas ela tem show para fazer em São Luis do Maranhão. É que o novo CD está "arrebentando" lá para aqueles lados. Legal, não é? Então você vai comigo? Está bem, então arrume as malas e embarcaremos depois de amanhã. É só o tempo de fazer umas comprinhas básicas. Dois dias depois em pleno verão, elas desceram no Aeroporto Hercílio Luz, na capital de Santa Catarina, em Florianópolis, a Maricha vestindo um mini-vestido de linho vermelho e chapéu de palhinha calçando tamancos também vermelhos com a sua amiga Martinha, a baratinha, Esta vestia um vestido estampado em flores tropicais predominando o azul turquesa e também usava um chapéu de palhinha com um lenço da cor predominante amarrado. Chiquíssimas. Um funcionário do Hotel em que ficariam hospedadas veio buscá-las. E lá se foram para a Praia dos Ingleses, num dos muitos hotéis que tem por lá de frente para o mar. Não se cansavam de olhar a belíssima paisagem. Tudo era maravilhoso. De repente Maricha olhou para o céu e gritou: -Olha só, para-pentes! Por favor, moço -falou para o motorista, -onde eu poderia alugar um para-pente para voar um pouquinho por aqui? -Com todo respeito senhorita, as lagartixas voam de para-pente? -Com toda a certeza, é por isso que estou aqui, neste lugar maravilhoso. -Tudo bem então, lá no hotel mesmo vocês poderão alugar para-pentes, ultraleves, escuna com programas de passeios, barcos à vela, caiaques, bicicletas carros, tudo o que pensar o que quiserem e precisar. A nossa Ilha é muito bonita, vão gostar muito do passeio, tenho certeza. Todos que visitam nossa ilha, sempre voltam e muitas vezes para morar. Isso porque a poluição do ar e do mar é zero. É a melhor qualidade de vida, o lugar é saudável e os peixes e frutos do mar são saborosos, colhidos na hora. As duas estavam tão encantadas com o que viam e ouviam que nem sabiam para onde olhar. No fim da tarde fizeram uma viagem panorâmica de helicóptero para conhecer melhor as belezas la de cima. Quando voltaram foram com uma van do hotel conhecer a Lagoa da Conceição. Jantaram por lá mesmo, só voltando a noite para dormir. E assim passaram correndo os dias, até que resolveram ir até a Praia Mole, lugar belíssimo onde se reúnem pessoas que estão por dentro das novidades, do que está acontecendo pelo mundo. Maricha deitou-se na areia, sobre uma "canga" colorida para apanhar sol depois de ter passado um bom protetor solar, colocou o chapéu de palhinha bem sobre os olhos, para se proteger do sol. Foi quando viu entre as palhas do chapéu naquele céu azul maravilhoso, vários para-pentes no ar volitando de um lado para outro. Eles pulavam do morro ao lado, não resistiu e gritou: -Uau!!!! Que maravilha!!!! Olha só Martinha, vamos passear de para-pente? -Eu não, deusmelivre! Não tenho a sua coragem. Gosto de sentir os pés no chão. Depois eu já estou de olho num surfista parafinado e não vou sair daqui agora nem com reza. -Tudo bem, mas eu vou, fique me olhando, que daqui a pouco, passo por cima de sua cabeça e pouso ali adiante nos braços de uma surfista sarado., antes que você agarre o seu. -Está bem, sua maluca. Quem sou eu para lhe contrariar? Só posso lhe desejar boa sorte. Vê se encontra outro maluco igual você, e saiam por ai feito dois passarinhos voando... As duas iram das próprias bobagens. Pouco depois Maricha conversava animadamente, com o dono de um para-pente. -É claro que as lagartixas voam, você não conhece nenhuma? Pois lhe darei este prazer, essa honra. Mas ele nem por nada queria alugar o para-pente para ela. -Sabe o que é também? É que o tempo hoje está mudando toda hora, aqui é uma ilha, exige um pouco mais de técnica. Imagine se isso era argumento para ela desistir?! Para ela era mais um desafio a vencer, só isso. E tanto fez, e insistiu que alugou o para-pente. Dali a poucos minutos Maricha, a lagartixa voava pelos céus de Floripa extasiada com tanta beleza. Foi aproveitando as correntes de ar, tão distraída, que nem percebeu que se afastava cada vez da Praia Mole, onde estava com a sua amiga, e foi indo para longe. O vento mudou de direção e ela seguindo uma corrente conseguia não ir para alto mar, mas não conseguia voltar. Sua amiga Martinha não tirava os olhos do céu, ao lado do dono do Para-pente, que tinha vindo para a areia resgatá-lo quando pousasse. E a Maricha continuou voando e voando por sobre dunas imensas, muito lindas, mas não fazia idéia onde se encontrava, e depois desceu quase de repente, fazendo-a cair na beira da água, diante de um surfista que saia do mar na praia da Joaquina. Toda atrapalhada acabou caindo no colo do surfista, que não sabia o que fazer, com aquela lagartixa em cima dele. Assustados e esparramados com a água batendo forte eles foram se embolando com a prancha, o para-pente, o surfista e Maricha, a lagartixa. Olhavam um para o outro, sem entenderem direito o que acontecia. -Mas o que significa isso! O que está acontecendo hoje aqui na praia? Maricha encantada com aquele "príncipe do mar", dourado, parafinado, nem falava, só ficava olhando... Nesse momento, chegaram de jipe, o dono do para-pente e a Martinha, toda apavorada com o que aconteceu à sua amiga. -Você está bem Maricha, não se machucou? -Não, só torci o tornozelo, mas valeu a pena. Sorriu candidamente para a amiga, que lhe conhecia bem e que lhe respondeu: -Mas você não precisava fazer tanta força para ganhar a aposta, não é amiga? As duas começaram a rir e os dois acompanharam, é claro, sem entender nada. Voltaram para o hotel com a ajuda dos dois novos amigos, e mais tarde saíram juntos para passear. Era a última noite que passavam em Floripa e no dia seguinte se despediram deles prometendo que voltariam no próximo verão. Autora: Clotilde Fascioni

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Maricha no Pantanal

Hoje vai mais uma história de Maricha, a lagartixa, só que desta vez ela é um pouquinho mais jovem...
A Bicicleta Amarela de Maricha, a Lagartixa. Aquele Natal foi inesquecível; Maricha, a lagartixa, pulou da cama bem cedo e correu para ver os seus presentes. Parou no meio da sala e ficou olhando abismada como se seus olhos não acreditassem no que estava vendo. Embaixo da árvore toda enfeitada, estavam muitos pacotes de vários tamanhos e formas embrulhados em papel colorido esperando para serem abertos. Entre eles estava o que Maricha tanto esperava ganhar e veio até com capacete, e era amarela como ela queria. -É linda! Muito linda! Eu nunca vi uma bicicleta amarela. Só eu tenho uma bicicleta amarela agora, que maravilha, ela é linda! E foi apressada tirar a bicicleta de entre os pacotes e já saindo em direção à porta quando a mãe lhe falou: -Epa! Espere ai minha querida. Não vai sair correndo assim, primeiro você vai se arrumar e comer sua refeição direito, depois pode passear a vontade. E não vai querer ver os outros presentes, o que têm naqueles lindos pacotes? Falou a mãe de Maricha cheia de alegria ao ver a felicidade da filha. -Ah, é mesmo. Estou tão feliz que só esse me bastava. -É, mas seus avós e tios também mandaram presentes para você e ficarão tristes se os desprezar e nem abri-los. Falou o pai de Maricha. Ela ainda levou um tempo ainda, ali na sala abrindo os presentes. Depois forma todos para a mesa comer o gostoso café da manhã de Natal que a sua mãe preparou com todo carinho. Tinha até panquecas de inseto africano! Uma iguaria importada e muito ao gosto deles. Os pais de Maricha eram muito sofisticados e elegantes. Todos conversaram animados durante a refeição quando o pai de maricha quis saber quais eram os planos dela para o ano que ia começar. O que ela pretendia fazer? -Ah, este ano vou praticar esportes. Acho que vou fazer triatlon. Falou Maricha com a maior naturalidade. -Mas minha filha, você não acha que deveria pensar melhor? A corrida, a pé e de bicicleta, tudo bem,, mas a natação?! Não sei não...Nós as lagartixas não nadamos. -Ora papai, não nadamos por que? Com certeza porque não procuramos aprender. E o nosso primo jacaré, não nada? Como eles podem e nós não? Como conseguem? É porque forma aprender... -Minha filha querida... os jacarés são maiores, têm os olhos grandes e saltados, para verem dentro e fora da água, dormem muito mais, e eu não sei direito se eles nadam ou só bóiam. Eles ficam ali na beira do rio, com os pés no chão, meio dentro e meio fora da água. Na minha opinião eles só tomam banho, não nadam, e isso nós também fazemos na nossa banheira. Falou o pai de Maricha com seriedade e ar intelectual por detrás dos óculos. -Pois eu acho que se eu não tentar nunca vou saber. E quem sabe eu ainda entro para a história do atletismo como a primeira lagartixa a praticar o triatlon? Falou com aquele ar de quem sempre faz o que quer e como quer e quando dá na vontade, enquanto se levantava da cadeira e pegava a sua bicicleta amarela toda sorridente. Deu um beijo nos pais, que ela amava muito e saiu pedalando pela cidade. No fim do dia, foi até o parque correr um pouco, já se imaginando correndo metros e metros para conseguir uma boa "marca" no esporte. Logo no começo do ano, Maricha se inscreveu numa academia de ginástica. Entre outros exercícios, queria aprender a nadar. Muito curiosa a instrutora de esportes perguntou: -Você conhece alguma lagartixa que sabe nadar? Estufando o peito com orgulho Maricha respondeu: -Não; mas tenho parentes no Pantanal do Mato Grosso, os jacarés, que nadam desde pequenininhos, por isso, quero e vou aprender a nadar. Se não tentar não saberei não é? -Tudo bem,. Mas tenho a impressão que os jacarés não nadam, eles rastejam na beira do rio com os pés no chão. Ficam só tomando banho. Mas se você quer tentar, vamos ver como vai se sair. -Já ouvi essa conversa, mas vou tentar assim mesmo. Falou Maricha teimosamente sorrindo firme. No dia marcado, para a primeira aula, Maricha apareceu na academia vestindo maiô, touca de borracha e óculos de nadar, toda animada. Quando chegou na beira da piscina se jogou com tudo, fazendo esparramar água para todo lado. Cada virada que dava batia com o rabo nos outros alunos. Eram pedidos de desculpas o tempo todo e para todo lado. Quando chegou para a aula seguinte foi informada que não iria dar certo e foi convidada a desistir da aula de natação, pois tumultuava demais a aula e atrapalhava os outros alunos. -Tudo bem... -Falou Maricha engolindo o próprio orgulho, sem demonstrar o quanto estava contrariada, e comentou: -Tudo bem, eu vou fazer uma viagem ao Pantanal do Mato Grosso e vou conversar pessoalmente com os meus primos jacarés, e aprender com eles a nadar. Dois dias depois, todos os três; o pai, a mãe e Maricha, vestindo roupa de Safári embarcaram no avião, rumo ao Pantanal Matogrossense. Assim que desembarcaram no aeroporto, alugaram um jipe que os levaria bem lá no interior do pantanal onde ficam os jacarés. Quando forma chegando e viram a beleza do lugar, nem fechavam os olhos, tão encantados com o que viam. Ainda bem que cada um levou sua máquina fotográfica e filmadora. Assim não perderiam nada do passeio. A Natureza era lindíssima, pássaros e aves de todas as cores e tamanhos passavam em revoada sobre eles de um lado para o outro. Macaquinhos diversos pulavam de galho em galho dando gritinhos, antas, pacas, quatis, sagüis, um lobo guará, além de plantas e flores de todo o tipo. -Mas isso aqui é o paraíso! Que maravilha! Não paravam de falar e se admirar. -Ah, como tudo é lindo aqui. Todos deveriam conhecer o Pantanal do Mato Grosso, é uma beleza! Só então seguiram para onde se encontravam os jacarés, os seus "parentes", Chegando lá levaram um grande susto; É que jacaré de perto, é bem maior. Nossa! Em fotos e na televisão eles não parecem tão grandes! Exclamaram os três ao mesmo tempo. Um pouco mais calmos tentaram de todo jeito chamar a atenção dos jacarés, mas eles nem deram importância. Faziam de conta que nem era com eles e ainda fingiam que cochilavam naquele sol escaldante. Os jacarés são muito orgulhosos. E por causa disso, eles ficaram sem saber qual era a técnica usada que os jacarés usam para nadar. Eles ficam o tempo todo mergulhados até a metade na água, com os pés no chão e com os olhos saltados meio fechados, meio abertos fingindo que dormiam. - Imagine se eles iriam dar bola para esses "parentes menores".- Mas a Maricha, a lagartixa, não gostava de ser contrariada e se sentia muito chateada por não conseguir descobrir o método que os jacarés usam para nadar. Seu pai continuava mais do que nunca, achando que eles não nadam, só tomam banho. - Não nadam coisa nenhuma, só tomam banho... - repetia. -Que pena, não é mamãe e papai, viemos de tão longe e não conseguimos saber como os jacarés nadam. Agora até eu estou começando a achar que os jacarés nem são tão parentes nossos assim. Falou Maricha, desdenhosa. -Minha filha querida; De tudo o que nos acontece devemos tirar algum ensinamento ou experiência, mesmo daquilo que nos parece um fracasso. Veja bem: se você não quisesse aprender a nadar, não teria conhecido tão cedo este paraíso que é o Pantanal do Mato Grosso com suas maravilhas. Falou a mãe procurando animá-la. -Pensando mais além, foi por causa da minha bicicleta amarela que fiz esta viagem maravilhosa, e neste caso sai ganhando satisfação e experiência. Não consigo nadar, mas graças a isso, conheci uma das Maravilhas do Brasil. -É assim que se fala minha querida. Nem todos podem fazer tudo o que querem, por um monte de motivos, mas podem-se ter muitas alegrias se não ficarmos o tempo inteiro chorando. -A vida sempre nos oferece muitos momentos de felicidade, é só estar disposto a apreciá-los. Falou o pai por trás dos óculos, cheio de sabedoria. Então Maricha, a lagartixa, voltou para casa, imaginando que logo que chegasse iria dar um longo passeio na sua bicicleta amarela. ♥ Autora: Clô Fascioni

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Carnaval

Certo dia, quando ainda morava na praia dos Ingleses em Florianópolis-SC, como as viagens de ônibus eram longas e cansativas do centro para a praia( em média 1.40 hrs) eu deixava o pensamento ir para onde quisesse e de vez em quando me surpreendia com as histórias que se apresentavam no final do percurso. Dai que certo dia, pensando no fato das lagartixas perderem pedaços ou seus rabos inteiros eu acabei, não me lembro porque, "misturando as estações" e fui criando uma aventura de uma lagartixa e deu mais esta história que forma com mais duas, uma trilogia de aventuras da Maricha, a lagartixa. Atrevida ela, super moderna e arrojada como podem ler a seguir... "As Aventuras de Maricha, a Lagartixa". Maricha, a Lagartixa, no carnaval da Bahia. Maricha a lagartixa, era muito vaidosa. Naquele dia de verão e muito calor, ela foi ao salão de beleza fazer as unhas e uma limpeza de pele antes de ir para o shopping fazer umas comprinhas básicas. Lá no salão de beleza ela encontrou duas amigas do tempo da escola e ficaram muito felizes de se encontrarem. Juntas saíram dali e se dirigiram para o shopping e por lá ficaram algum tempo escolhendo roupas e acessórios até que resolveram sentar para tomar um sorvete e relembrar os bons tempos em que estudaram juntas. Uma delas era a baratinha Martinha, aqueeeeela que vive na janela e tem dinheiro na caixinha sabe? E que continua querendo casar... A outra era a cigarra Gina Jane, a cantora. As três não paravam de falar e dar risadas o tempo todo em que relembravam as travessuras. Maricha estava cheia de alegria e entusiasmo, pois pretendia passar o carnaval na Bahia seu sonho de muitos anos. -Ah, estou ansiosa que chegue o dia da viajem, fazer as malas, pegar o avião e aterrisar na Bahia. Vou chegar lá e vou correndo comprar a minha fantasia e entrar na folia em seguida. Sabiam que lá chamam a fantasia de abadá? É um nome africano e tem lugares pelo Brasil que chamam a fantasia de "mortalha"; pois é: acho que é para dizer que estão matando e enterrando a tristeza. -Também não vejo a hora de viajar para o Maranhão onde vou passar o carnaval, será que lá eu arranjo um amor para casar? Já estou cansada de ficar na janela esperando marido e já tenho bastante dinheiro na caixinha. Falou toda dengosa e romântica, a baratinha Martinha. -Pois eu como vivo viajando para dar shows o ano todo, neste carnaval vou para a fazenda do meu empresário meditar junto à natureza. Falou a cigarra Gina Jane, que era muito sofisticada e gostava sempre de ser diferente. Um tempo depois as três amigas saíram do shopping carregando muitas sacolas, com sapatos, sandálias, tamancos, bolsas, maquiagem, biquínis, roupas de todo o tipo etc que compraram para viajarem. Maricha não abria mão de um salto bem alto e a roupa bem justa. A Gina Jane usava uma peruca loura e ondulada que caía pelas costas. Já a Martinha usava uma peruca escura curta de franjinha e uma saia bem curtinha. Cada uma mais vaidosa do que a outra.
Finalmente chegou o dia tão esperado da viagem;
Maricha pegou o avião para a Bahia, a baratinha Martinha foi também de avião para o Maranhão e a cigarra Gina Jane foi meditar na fazenda do seu empresário em Minas Gerais, como tinha dito. E lá foram elas se divertirem, cada uma para um lado.
E como o tempo passa correndo ainda mais quando se está de férias e mais ainda passeando, o tempo delas também passou ligeiro e as férias acabaram.
Dai aconteceu o seguinte: A Martinha voltou do Maranhão toda bronzeada, conheceu lá na praia um "baratão" da Marinha que também estava lá passando férias. O namoro foi tão sério que ele prometeu voltar um dia para casar-se com ela... Gina Jane aproveitou para compor belas canções no silêncio das noites da fazenda em Minas Gerais e trouxe um belo repertório para o seu novo CD que prometeu gravar "ao vivo". E a Maricha, a lagartixa? Bem aconteceu o seguinte: Logo que a Maricha desceu do avião, lá no aeroporto da Bahia, ela avistou um iguana bonitão que circulava pelo aeroporto àquela hora. Com o seu olhar penetrante o iguana não deixou de notar a bela passageira que acabava de desembarcar com toda a elegância e desenvoltura em cima de saltos altíssimos, vestindo uma saia vermelha, chapéu de palhinha e óculos escuros. Maricha também percebeu a presença do iguana e principalmente que ele não tirava os olhos de cima dela e tremeu inteira de emoção. Torceu o pé levemente, mas não perdeu a elegância, saindo rapidamente do aeroporto num taxi. A caminho, falou para o motorista seguir para um hotel no Pelourinho, aliais, onde tudo acontece naquela cidade. Chegando lá, largou as malas no quarto e logo saiu para comprar a fantasia, o "abadá" para dançar. Era sábado de carnaval, as ruas ferviam de pessoas dançando e pulando, muitos eram turistas como ela, entre blocos coloridos e cheios de animação. Ela escolheu uma fantasia com bastante cor amarela, preto e vermelho, as cores do Olodum e voltou ao hotel para tomar um banho. Vestiu um shortinho curto e o "abadá" por cima de um bustiê azul. Calçou os tamancos e saiu à rua caindo na folia, no meio da multidão alegre que passava na porta do hotel seguindo um trio elétrico. Dançou a noite toda e no dia seguinte estava lá outra vez toda animada. E assim foram todos os dias daquela semana e cada dia era maior o número de foliões. No último dia, antes de voltar para o hotel aconteceu o inesperado, o impensável para falar a verdade. Bem ali na sua frente, um pouco mais adiante, bem no meio da multidão que pulava sem parar, ela o viu outra vez, quem? Sim, o iguana bonitão. E Maricha novamente estremeceu de emoção dos pés à cabeça e no mesmo momento ele a viu também, e por um instante mágico eles pararam ou pelo menos tentaram parar o tempo no meio daquele mar de gente que dançava alegremente entre eles. Olhando um no olho do outro, apesar da multidão colorida que os separava e não parava de pular, alguma coisa misteriosa os atraía um para o outro e eles queriam se aproximar e tentavam de todo jeito mas estava difícil, quase impossível. E foi aí que a coisa se complicou; Naquele empurra-empurra, Maricha começou a sentir que pisoteavam o seu rabo e cada vez mais, ele foi ficando amassado e ela foi ficando mais desesperada querendo sair dali mas estava presa pelos muitos pés que pulavam sobre o rabo, e ai ela começou a gritar cada vez mais alto: -Ai, ui, ai, uiiiiiiiiii, aiiiiiiiiiiiiiii.... E os que estavam mais perto e conseguiam ouvir os seus gritos pensavam que era uma nova modalidade de dança de carnaval e começavam a imitá-la, deixando-a mais apavorada, até que ela sentiu que o seu rabo partiu de vez e ela pode sair dali. Muito triste, ela voltou para o hotel com os tamancos na mão, toda despenteada e desalentada chorando a perda do rabo. Quando ia chegando perto, foi segura pelo braço com firmeza e com cuidado por alguém que lhe falou com voz grave e envolvente, bem junto a seus cabelos: -Espere meu bem, deixe eu lhe ajudar, por favor... Falou ao seu lado o iguana bonitão, todo simpático parecendo um galã de novela. Envergonhada e chorando muito por ter perdido a ponta do rabo no meio da multidão, ela nem tinha coragem de olhar para ele. -Não fica triste assim, até o final do ano o seu rabo cresce outra vez e no próximo carnaval você estará nova em folha. São coisas que acontecem e não podemos desanimar, temos que seguir em frente, é a vida, deixe me apresentar: eu me chamo Igor, um jovem iguana que se apaixonou por você logo que lhe viu descer daquele avião, muito prazer e você? -O prazer é todo meu... Eu, eu me chamo Maricha... Falou sorrindo timidamente entre lágrimas... E foi assim que Maricha, a lagartixa, perdeu a ponta do rabo no carnaval da Bahia e encontrou o grande amor da sua vida.♥

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Apenas usufrutuários

Uma coisa que observo e me deixa intrigada é a vida dos andarilhos. Eles têm apenas o dia e a noite. E param onde anoitece, quando o dia acaba e o sol se põe.

Tem coisas que acontecem na minha vida que me deixam vários dias pensativa. Outro dia um homem ainda jovem, bateu na minha porta e me pediu café por volta das dez horas da manhã. Eu moro exatamente ao lado de uma padaria daquelas completas que até servem almoço, o que dirá café;Tem o dia todo e para todo o gosto. Ele provavelmente não tinha dinheiro para comprar o café, dai bateu na minha porta. Pois bem, este homem apesar de mal vestido me pareceu uma pessoa "normal", pediu café e apesar de ainda não ser hora de almoço eu lhe ofereci comida, e perguntei se ele não preferia almoçar, eu tinha comida e era só arrumar para servi-lo. Ele me falou que não, que preferia café com bolacha, eu me surpreendi, achei um alimento "fraco" para quem andava pelas ruas talvez sem rumo certo, e de boa vontade fui buscar um copo de café com leite juntamente com um pacote de bolachas e entreguei ao homem que me agradeceu e sentou no meio fio para comer o lanche. Eu entrei e voltei para o meu trabalho mas pouco depois a campanhia da porta tocou novamente; era o homem me entregando o copo vasio (daqueles de requeijão decorado) e eu disse que não precisava devolver o copo, que ele ficasse com ele mas ele me disse que não, que agradecia mas não ia levar o copo, e com um gesto de total desinteresse abanou levemente a mão e foi embora rua abaixo. Então fiquei pensando:

Que coisa interessante; este homem é um ser completamente despojado de bens materiais, ele só carrega a roupa do corpo e mais nada (imagino eu), e nem sequer um copo para beber alguma coisa pelo caminho ele quis. Ele é um homem completamente livre, dono do seu dia e de suas noites, apenas. Não carrega nada nas mãos, nem um saco de pertences como a maioria, nada o preocupa. Não deve perder o sono, pois ninguém o invejará pelo que possui, pois não tem nada e não será assaltado, ou furtado.

Na realidade não possuímos nada, apenas somos usufrutuários dos bens da terra. Mas nos apegamos desesperadamente as coisas da terra, nos apegamos extremamente às nossas coisas, aquilo que pensamos ser nosso. Ainda não aprendemos como ele a usufruir apenas...Talvez com isso ele tenha encontrado a verdadeira felicidade...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Elocubrações da Insanidade

De vez em quando fico pensando umas coisas muito esquisitas até para mim mesma e como sei que ninguém me lê, vou escrevendo as bobagens que me assaltam... por exemplo, ésta minha observação que me assaltou certa madrugada numa noite de insônia:
Como é sabido, todo o ser vivente nasce do ovo. O ser humano nasce do óvulo que é um nome chic para ovo mesmo. O animal irracional, as aves, plantas, peixes etc, todos nascemos de ovos, e nem sempre somos ovíparos no sentido real da palavra; Ou seja, até as plantas têm sementes ovais e/ou redondas como "ovinhos", os grãozinhos etc, são redondinhos ou arredondados. Os óvulos humanos são redondos os das aves são ovalados (de forma de ovo, é claro) assim imagino, pois não conheço o assunto profundamente, todas as formas de vida do planeta tem como início o ovo, a forma ovalar, arredondada, oval e por ai...
Então você deve estar pensando: -O que essa maluca está dizendo? Ou melhor o que esta maluca quer dizer?- O que estou querendo dizer é; observando as formas cheguei a conclusão que se acumularmos de alguma forma uma quantidade de ovos (qualquer ovo, semente etc) e empilharmos um a um, ou os colocarmos acumulados num recipiente, mesmo que seja arredondado na sua forma como uma bacia, por exemplo, as superfícies dos ovos jamais se encostarão umas nas outras totalmente ou na parede do recipiente, só em alguns pontos mínimos. Assim jamais se encostarão ou se encaixarão e por consequência se juntarão de verdade por mais semelhantes sejam. Não dá encaixe como acontece com um quebra- cabeças com os encaixes das peças formando uma figura única.
Conclusão:
Isso me fez observar a INDIVIDUALIDADE DOS SERES; DA CRIAÇÃO DIVINA, que por mais que se "encostem" jamais perderão a sua individualidade. Somos únicos!