quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Carnaval

Certo dia, quando ainda morava na praia dos Ingleses em Florianópolis-SC, como as viagens de ônibus eram longas e cansativas do centro para a praia( em média 1.40 hrs) eu deixava o pensamento ir para onde quisesse e de vez em quando me surpreendia com as histórias que se apresentavam no final do percurso. Dai que certo dia, pensando no fato das lagartixas perderem pedaços ou seus rabos inteiros eu acabei, não me lembro porque, "misturando as estações" e fui criando uma aventura de uma lagartixa e deu mais esta história que forma com mais duas, uma trilogia de aventuras da Maricha, a lagartixa. Atrevida ela, super moderna e arrojada como podem ler a seguir... "As Aventuras de Maricha, a Lagartixa". Maricha, a Lagartixa, no carnaval da Bahia. Maricha a lagartixa, era muito vaidosa. Naquele dia de verão e muito calor, ela foi ao salão de beleza fazer as unhas e uma limpeza de pele antes de ir para o shopping fazer umas comprinhas básicas. Lá no salão de beleza ela encontrou duas amigas do tempo da escola e ficaram muito felizes de se encontrarem. Juntas saíram dali e se dirigiram para o shopping e por lá ficaram algum tempo escolhendo roupas e acessórios até que resolveram sentar para tomar um sorvete e relembrar os bons tempos em que estudaram juntas. Uma delas era a baratinha Martinha, aqueeeeela que vive na janela e tem dinheiro na caixinha sabe? E que continua querendo casar... A outra era a cigarra Gina Jane, a cantora. As três não paravam de falar e dar risadas o tempo todo em que relembravam as travessuras. Maricha estava cheia de alegria e entusiasmo, pois pretendia passar o carnaval na Bahia seu sonho de muitos anos. -Ah, estou ansiosa que chegue o dia da viajem, fazer as malas, pegar o avião e aterrisar na Bahia. Vou chegar lá e vou correndo comprar a minha fantasia e entrar na folia em seguida. Sabiam que lá chamam a fantasia de abadá? É um nome africano e tem lugares pelo Brasil que chamam a fantasia de "mortalha"; pois é: acho que é para dizer que estão matando e enterrando a tristeza. -Também não vejo a hora de viajar para o Maranhão onde vou passar o carnaval, será que lá eu arranjo um amor para casar? Já estou cansada de ficar na janela esperando marido e já tenho bastante dinheiro na caixinha. Falou toda dengosa e romântica, a baratinha Martinha. -Pois eu como vivo viajando para dar shows o ano todo, neste carnaval vou para a fazenda do meu empresário meditar junto à natureza. Falou a cigarra Gina Jane, que era muito sofisticada e gostava sempre de ser diferente. Um tempo depois as três amigas saíram do shopping carregando muitas sacolas, com sapatos, sandálias, tamancos, bolsas, maquiagem, biquínis, roupas de todo o tipo etc que compraram para viajarem. Maricha não abria mão de um salto bem alto e a roupa bem justa. A Gina Jane usava uma peruca loura e ondulada que caía pelas costas. Já a Martinha usava uma peruca escura curta de franjinha e uma saia bem curtinha. Cada uma mais vaidosa do que a outra.
Finalmente chegou o dia tão esperado da viagem;
Maricha pegou o avião para a Bahia, a baratinha Martinha foi também de avião para o Maranhão e a cigarra Gina Jane foi meditar na fazenda do seu empresário em Minas Gerais, como tinha dito. E lá foram elas se divertirem, cada uma para um lado.
E como o tempo passa correndo ainda mais quando se está de férias e mais ainda passeando, o tempo delas também passou ligeiro e as férias acabaram.
Dai aconteceu o seguinte: A Martinha voltou do Maranhão toda bronzeada, conheceu lá na praia um "baratão" da Marinha que também estava lá passando férias. O namoro foi tão sério que ele prometeu voltar um dia para casar-se com ela... Gina Jane aproveitou para compor belas canções no silêncio das noites da fazenda em Minas Gerais e trouxe um belo repertório para o seu novo CD que prometeu gravar "ao vivo". E a Maricha, a lagartixa? Bem aconteceu o seguinte: Logo que a Maricha desceu do avião, lá no aeroporto da Bahia, ela avistou um iguana bonitão que circulava pelo aeroporto àquela hora. Com o seu olhar penetrante o iguana não deixou de notar a bela passageira que acabava de desembarcar com toda a elegância e desenvoltura em cima de saltos altíssimos, vestindo uma saia vermelha, chapéu de palhinha e óculos escuros. Maricha também percebeu a presença do iguana e principalmente que ele não tirava os olhos de cima dela e tremeu inteira de emoção. Torceu o pé levemente, mas não perdeu a elegância, saindo rapidamente do aeroporto num taxi. A caminho, falou para o motorista seguir para um hotel no Pelourinho, aliais, onde tudo acontece naquela cidade. Chegando lá, largou as malas no quarto e logo saiu para comprar a fantasia, o "abadá" para dançar. Era sábado de carnaval, as ruas ferviam de pessoas dançando e pulando, muitos eram turistas como ela, entre blocos coloridos e cheios de animação. Ela escolheu uma fantasia com bastante cor amarela, preto e vermelho, as cores do Olodum e voltou ao hotel para tomar um banho. Vestiu um shortinho curto e o "abadá" por cima de um bustiê azul. Calçou os tamancos e saiu à rua caindo na folia, no meio da multidão alegre que passava na porta do hotel seguindo um trio elétrico. Dançou a noite toda e no dia seguinte estava lá outra vez toda animada. E assim foram todos os dias daquela semana e cada dia era maior o número de foliões. No último dia, antes de voltar para o hotel aconteceu o inesperado, o impensável para falar a verdade. Bem ali na sua frente, um pouco mais adiante, bem no meio da multidão que pulava sem parar, ela o viu outra vez, quem? Sim, o iguana bonitão. E Maricha novamente estremeceu de emoção dos pés à cabeça e no mesmo momento ele a viu também, e por um instante mágico eles pararam ou pelo menos tentaram parar o tempo no meio daquele mar de gente que dançava alegremente entre eles. Olhando um no olho do outro, apesar da multidão colorida que os separava e não parava de pular, alguma coisa misteriosa os atraía um para o outro e eles queriam se aproximar e tentavam de todo jeito mas estava difícil, quase impossível. E foi aí que a coisa se complicou; Naquele empurra-empurra, Maricha começou a sentir que pisoteavam o seu rabo e cada vez mais, ele foi ficando amassado e ela foi ficando mais desesperada querendo sair dali mas estava presa pelos muitos pés que pulavam sobre o rabo, e ai ela começou a gritar cada vez mais alto: -Ai, ui, ai, uiiiiiiiiii, aiiiiiiiiiiiiiii.... E os que estavam mais perto e conseguiam ouvir os seus gritos pensavam que era uma nova modalidade de dança de carnaval e começavam a imitá-la, deixando-a mais apavorada, até que ela sentiu que o seu rabo partiu de vez e ela pode sair dali. Muito triste, ela voltou para o hotel com os tamancos na mão, toda despenteada e desalentada chorando a perda do rabo. Quando ia chegando perto, foi segura pelo braço com firmeza e com cuidado por alguém que lhe falou com voz grave e envolvente, bem junto a seus cabelos: -Espere meu bem, deixe eu lhe ajudar, por favor... Falou ao seu lado o iguana bonitão, todo simpático parecendo um galã de novela. Envergonhada e chorando muito por ter perdido a ponta do rabo no meio da multidão, ela nem tinha coragem de olhar para ele. -Não fica triste assim, até o final do ano o seu rabo cresce outra vez e no próximo carnaval você estará nova em folha. São coisas que acontecem e não podemos desanimar, temos que seguir em frente, é a vida, deixe me apresentar: eu me chamo Igor, um jovem iguana que se apaixonou por você logo que lhe viu descer daquele avião, muito prazer e você? -O prazer é todo meu... Eu, eu me chamo Maricha... Falou sorrindo timidamente entre lágrimas... E foi assim que Maricha, a lagartixa, perdeu a ponta do rabo no carnaval da Bahia e encontrou o grande amor da sua vida.♥

Um comentário:

  1. Manda para um jornal, acho que a história vem bem a calhar nessa época. Sempre fui fã da Maricha!!!

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