sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tempos outros

   
                                                        Tempos outros
Outro dia de manhã andando pela cidade, passei diante de uma casa e deparei-me com uma jovem saindo para andar de bicicleta. Até ai nada de excepcional. Acontece que me chamou a atenção como ela estava vestida para o evento e horário.
Ela vestia um shortinho rasgado e camiseta de lurex com tênis.  Para quem não sabe, lurex é um tecido todo cheio de brilhos. Daí meu cérebro deu um rodopio e me lembrei do tempo em que tinha a idade dela, lá pela década de sessenta, lá pelo meio.
Para começar, uma jovem mocinha bonita não andava de shorts nem novo e muito menos rasgado pela rua e nem de bicicleta. Andava de saia rodada, anágua, para quem não sabe, uma saia branca e com um babado para fazer volume que tanto podia ser de organdi, de algodão ou outro tecido que pudesse ser devidamente engomado (afff) e a bicicleta usava uma rede para não enroscar a saia da mulher que se aventurasse a pedalar. Tênis só para os praticantes de esportes, meus sapatos, sempre de couro, invariavelmente apertavam em algum lugar.
Roupas de brilho à luz do dia, até a Novela Roque Santeiro e a criação da Viúva Porcina, personagem da novela com a inigualável Regina Duarte, era impensável e inadmissível. Brilhos só em festas noturnas. A viúva Porcina era a encarnação de uma mulher extremamente extravagante em todos os sentidos, mas principalmente no vestir e se maquiar. Usava tudo de forma exuberante e que chamasse a atenção de longe. Era de natureza escandalosa e muito divertida. Por agradar a todos quebrou também certas regras e modismos. Quem fazia o tipo quebrou paradigmas e a imitou criando uma moda extravagante e discontraída.
Daí, vieram também os abençoados hippies, jovens rebeldes e contestadores que revolucionaram a forma de se vestir, misturando estampas, materiais e construindo modelos opostos aos usuais da época, como os vestidos bem recortados, acinturados, sais justas, na maioria de tecidos escuros e fendas na parte de trás para facilitar os movimentos,  saias  plissadas, rodadas e com anáguas, os famosos “taiêr” (aportuguesando a palavra francesa tailler) que nomeava o conjunto de saia justa e paletó ajustado, vestido com camisas de laços no pescoço.
Sem falar que quando se falava que era “moda”, todo mundo usava a mesma coisa com pouquíssimas variações. Era um mar de gente vestindo igual.
Logo depois, ou na mesma época, sei lá, uma inglesa chamada Mary Quant acordou um dia injuriada, pegou de uma saia justa que provavelmente não gostava, ou estava de TPM, sei lá, e passou a tesoura na saia 20 cm acima do joelho e foi para a rua vestida assim para escândalo geral.
Na mesma semana a mulherada inglesa (menos a Rainha) e depois o mundo, mesmo sem Face book, aderiu à moda.  E até hoje a maioria das mulheres teve ou ainda tem pelo menos uma minissaia no armário.
Provavelmente hoje em dia, quase ninguém sabe quem foi Mary Quant, mas a idéia dela permanece até hoje nos melhores e piores corpos femininos da face da terra.
Mas voltando à minha juventude, eu usava muito, uns vestidos chamados “tubinhos”; chamados assim por serem inteiros como tubos, levemente acinturados e iam até logo abaixo dos joelhos. Sim, essa era a medida, eu não aderi à minissaia por restrição da minha mãe que não apreciava  "essas modernidades".
Para completar e infernizar a minha vida mais um pouco eu também usava meias de Nylon, ou de seda, como também eram conhecidas aquelas meias que dividiam com um risco de cima a baixo as batatas das pernas e puxavam fio de cima abaixo ao se respirar mais profundamente, ou se falar mais alto, constrangendo as mais vaidosas. E o pior, elas eram usadas nas quatro estações do ano para meu desespero, não esquentavam no frio e superaqueciam no verão.
Para segura-las no alto das coxas se usava umas ligas de elásticos que ou eram frouxas ou apertadas demais, ou ainda, uma mais apertada do que a outra dando a sensação de descer perna abaixo a qualquer momento, o que fazia descompensar o cérebro, enquanto caminhava.
Também tinha a cinta liga que eu também não gostava, pois me sentia com arreios. Não sabia se usava por cima ou por baixo da calcinha, que sensação horrorosa aquelas coisas todas amarradas ao corpo.  
Depois vieram e ainda estão por ai as meias calça, que também não gosto de usar, aliais hoje só uso o que gosto e que se dane o mundo.
E esses usos eram coletivos, todos se vestiam da mesma forma com leves variações do mesmo tema, como os tecidos de renda, linho ou seda. Um babado aqui, uma lapela maior ou menor, um cinto mais largo ou mais fino, laços e fitas de veludo em profusão. Outro adereço eram as luvinhas usadas até com o termômetro marcando 40°.  As luvas também eram usadas em qualquer estação do ano para compor o traje em muitas ocasiões, até para assistir a uma simples peça de teatro ou qualquer festa mais formal, sempre acompanhadas de carteiras como eram chamadas aquelas bolsas retangulares sem alças que não se sabia direito como carregar e que agora voltaram a usar.
Me lembrei também caminhando pela rua debaixo do sol, que sempre gostei de brincos e meu pai nunca permitiu que eu furasse as orelhas,  dai eu usava uns brincos de pressão desgraçados de doloridos, com pressões diferentes, um apertava mais que o outro,  chegava a dar dor de cabeça. Duvido que a maioria que usava aqueles brincos não voltava para casa com eles na bolsa, por que chegava uma hora que ou arrancava os brincos, ou arrancava as orelhas. Também eram coisas de antigamente que Graças aos deuses não existem mais. E viva o agora!
Dai passei a adorar a revolução dos Hippies, pois graças a eles hoje se usa simplesmente TUDO, o que você estiver a fim de usar. Tudo é bonito e “combina com tudo”, não se usa nada que seja desconfortável, tudo é folgado e macio, não aperta e não pinica.
Tudo está na moda e cai bem, desde que você tenha autoconfiança até de sair por ai com chapéu roxo enfeitado com ninho de passarinhos, se der na telha, é claro! ...
Eu sei, eu não era fácil. Era? hahahah


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sexta feira 13

                                                          Sexta Feira 13
O cara era superticioso ao extremo. Daquele tipo que não passa por debaixo de uma escada, que sempre sai pela porta que entra.
Que quando entra em um ambiente, mesmo nos cômodos da própria casa, sempre o fazia com o pé direito na frente.
Jamais se sentava à mesa na companhia de 12 pessoas.
Jamais se hospedava em hotel de 13 andares, nem em quartos de número 13.
O número 39 também era evitado por ele, já que era a a multiplicação por três do fatídico numero 13.
Ao subir ou descer uma escada vinha contando degrau por degrau e quando chegava o degrau de número 13 ele pulava com agilidade e destreza para se ver livre de qualquer influencia negativa, pelo menos era isso que acreditava.
Assim acontecia com tudo o que se relacionasse ao conjunto de unidades que somadas desse o número que ele evitava.
Mas ele não era assim só com o número 13º. Tinha outras manias relacionadas ao medo do azar.
Sempre parava e se benzia por três vezes quando ouvia o sino tocar, e ali ficava até ouvir a ultima badalada com os dedos indicadores cruzados nas costas.
Gato preto passando à sua frente nem pensar. Não que não apreciasse os felinos, até tinha um gato albino, mas achava que o gato preto especificamente poderia atrair malignidade.
Todo dia 13 de qualquer mês era um problema. Não saia de casa de maneira nenhuma nem para trabalhar e nem para o laser. Simplesmente passava o dia fechado em casa.
Usava muitos amuletos. Seu chaveiro carregava vários berloques; uma figa, um trevo de 4 folhas, um pé de coelho, um olho grego e uma cruz de prata.
Toda segunda feira ia trabalhar de gravata roxinha, pois segundo ele era dia das almas.
Gostava de jogar na loteria, porém, jamais jogava o número 13 e nem o 39. Nunca fazia jogo que corresse no dia 13 e nem que caísse numa sexta feira, até que naquele dia tudo mudou na sua vida. Mudou de rumo e de rota.
Ele fez um jogo que deveria correr na quinta feira, porém houve um apagão na maioria das cidades que obrigou aos organizadores a transferir o sorteio para sexta feira o que o deixou para lá de injuriado, possesso. Mas o que ele não imaginava é que ele iria ganhar sozinho no dia 13, numa sexta feira, nada menos que treze milhões e treze centavos.
Assim não dá, né? A partir daquele dia houve um revertério na sua cabeça e na sua vida e tudo passou a ter mais valor se fosse no dia 13 ou levasse o número 13 e tudo mais que se dizia de mau agouro ai é que ele fazia, pois teve a prova de que tudo isso é pura bobagem.

sábado, 7 de setembro de 2013

O Torpedo

 O Torpedo.
Estava acontecendo uma reunião aonde se discutia a sociedade da empresa.
Vários sócios colocavam seus pontos de vista de forma acalorada.
Ao terminarem a reunião os sócios Sampaio e Dasneves se dirigiam para o elevador quando o celular de Dasneves avisou a chegada de um topedo.
Sem muito interesse ele olhou a mensagem e empalideceu para vários tons de bege. Na realidade ficou esmaecido, tanto que desistiu do almoço com o amigo sem mensionar o teor da mensagem que dizia: "Você está sendo enganado".
Ficou tão transtornado que mal se despediu do amigo atônito que ficou na esquina sem saber o que aconteceu para que Dasneves agisse daquela maneira.
A frase foi martelando em sua cabeça e de repente parecia que sua casa havia se deslocado para outro lado do mundo ja que por mais que corresse ele não chegava.
La chegando não encontrou a sua mulher e de acordo com a empregada que limpava a casa ela havia dito que iria ao cabelereiro e depois iria almoçar com uma amiga, ou duas, não lembrava.
Deu meia volta e saiu quase correndo em direção ao shopping mais proximo na esperança de encontrar a mulher almoçando com outro homem.
A cabeça dava voltas e voltas imaginando as orgias em que provavelmente ela participava enquanto o "burro" ganhava dinheiro para as frescuras dela.
Não conseguia pensar direito, imagens diabólicas se revesavam em sua mente deixando-o cada vez mais enlouquecido de ciúme. A sua mulher era o seu maior tesouro, a amava mais que a própria vida, não saberia viver sem ela.
Assim, com os pensamentos conturbados, enlouquecido de ódio e ciúme, percorria entre as mesas da praça de alimentação a procura de sua amada imaginando pegá-la em flagrante traição, foi quando encontrou a sua secretária numa das mesas almoçando.
- Olá doutor Dasneves, recebeu o meu torpedo?
- Então foi você que me enviou, nem vi o remetente...
- Sim, eu não podia deixar de lhe contar, afinal trabalhamos há tanto tempo e o senhor sempre foi tão bom para mim que achei melhor lhe contar...
- Tudo bem, mas quando foi que você a flagrou, onde ela estava e com quem?
- "Ela" Doutor? Ela não! Eles, eles estão lhe traindo...
- De quem você está falando criatura? São vários, como assim?
Falava sem parar de olhar para todo lado esperando ver a sua muher naquele mar de mesinhas ocupadas na praça de alimentação, enquanto a secretária continuava a falar;
- Os seus sócios, Doutor Dasneves. Eles estavam falando antes do senhor chegar para a reunião que iriam tirá-lo de qualquer maneira da sociedade, iriam pressioná-lo a vender sua parte, dai resolvi lhe enviar um torpedo avisando...
Em seguida houve um corre-corre no shopping com a chegada dos paramédicos que vieram socorrer o Doutor Dasneves que acabou tendo um infarto.

domingo, 1 de setembro de 2013

Semeando

                                                    Semeando
Hoje é domingo... e de sol, bem lindo e acordei com vontade de semear, leram bem; semear.
Semear abraços, semear sorrisos, beijos, semear amor.
Sair semeando as coisas boas que darão só frutos bons.
Semear carinhos, semear lágrimas de emoção, semear alegrias de chegada, semear despedidas de viagens de passeio, semear cantos de pássaros, semear cantos de baleias, alegrias de golfinho, alegrias de cachorrinhos ao nosso afago, ronrons de gatinhos, cheiro de flores, de comida boa, de nenem recém-nascido, de mar, de amanhecer entre árvores floridas e dia de sol na primavera.
Semear o cheiro de terra molhada pela chuva de verão, cheiro de feijão fresquinho pronto para ser comigo e de bolo saindo do forno.
Semear asas de borboletas coloridas, de passarinhada no final da tarde, de barulhinho do mar na quietude das manhãs e assim neste lindo domingo de sol sair semeando, semeando, semeando...