domingo, 17 de setembro de 2017

Confabulações

                                                Confabulações
Quando eu vou comprar mamão escolho por afinidade, amor à primeira vista. Só tenho certeza da doçura comprando o Papaia, mas gosto também do Formosa que é o dobro do tamanho, que vou comendo aos poucos e tenho a sensação de que dura mais, mesmo equivalendo em peso, não sei.
Enfim;  no supermercado, diante daquele mar de frutas diversas vou até aos mamões verdes alaranjados da banca e fico por alguns momentos observando-os para ver qual deles quer ir comigo, qual está a fim de fazer parte do meu corpinho por algumas horas, saber dos meus segredos, dos meus amores e dores, ouvir minhas orações e até dar palpites nas minhas conversas e discussões com Otávio.
Fico em silencio, mesmo que esteja cantarolando alguma balada metódica ou alguma coisa meio religiosa eu paro e fico olhando para os mamões, observando suas reações com a minha presença, pois de repente eu sinto vindo das entranhas do fruto não proibido o apelo - eu quero ir contigo, eu vou, sou doce e macio e te darei a satisfação do prazer da gula por alguns momentos-
E lá vou eu carregando a criação Divina produzida em série pela mão do homem do campo, tão esquecido por aqueles que dependem dele todos os dias, enrolado numa manga de crochê macio.
Feliz vou para casa e o acomodo na fruteira entre outras frutas, porém ele é o majestoso, o maior entre todas as espécies do recipiente.
Passa ali adormecido mais alguns dias para amadurecer mais um pouquinho já que as suas cores estavam mais para o verde do que para o alaranjado e assim provavelmente ainda estava mais firme do que macio para ser comido ao ponto.
Finalmente numa manhã de um dia nublado, observando a fruteira me dou conta que ele chegou ao estágio perfeito para ser comido. Pego-o nas mãos e o levo para um banho com detergente e esponja macia, primeiro o lado verde (da esponja) e depois o amarelo, mais macio. Enxugo-o com delicadeza e expresso o meu amor por ele dando-lhe um beijo e lhe agradecendo o prazer que ele estava me proporcionando ao degustá-lo sendo feliz, pois o estava levando para dentro de mim, meu eu mais profundo, e por algumas horas seríamos um só. Puro prazer...
É muito amor envolvido.


Isso se chama solidão.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Ouvido, para que te quero

                               Ouvido, para que te quero?
Nas minhas observações nesses últimos tempos tenho notado o tanto de ansiedade que envolve a maioria das pessoas e isso em todas as faixas etárias..
As pessoas têm necessidade de falar o tempo todo, até fazem perguntas, mas não querem saber as respostas e o que realmente temos a dizer sobre o assunto perguntado na verdade não lhes interessa.
Essas pessoas só querem ter assuntos para falar, falar e falar...
Há uma aceleração mental disseminada ao meu redor, ou estou entrando "em marcha lenta" ou em "vôo cruzeiro"? Não sei teria que me olhar e me ouvir de fora talvez esteja agindo do mesmo jeito...
Eu por minha vez quando me perguntam ou colocam um assunto ouço ameaço entabular uma frase, uma resposta ao colocado ou perguntado, e logo sou cortada com outra pergunta sobre outro assunto ou comentário que nada tem a ver com a pergunta feita, é só a mudança de assunto mesmo...
Com isso hoje em dia falo bem menos por absoluta falta de chance na maioria das vezes. Falo muito menos, o que deve ser muito melhor para todos.
Mas como o meu cérebro continua na mesma velocidade que sempre trabalhou fico me perguntando:
O que está havendo?
Parece que hoje em dia todos sabem de tudo e detêm a verdade como sua propriedade absoluta não se importando com as outras facetas que outros possam apresentar...
Daí depois de conversar com minhas pantufas chego a triste conclusão para que conversar? Ninguém quer trocar idéias, só querem colocar as suas e nem por um momento avaliar outras opiniões... triste isso, quando não há troca não há crescimento.
Então fico ainda pensando, será que a minha opinião sobre as coisas, o mundo e o que anda por aí interessa mesmo a alguém? O mundo está muito polêmico, todo pensamento e toda colocação precisa estar politicamente correto, não se pode mais ser maliciosa no comentário, fazer uma piada boba em cima de um assunto que logo será execrado por uma multidão de pessoas que nem te conhecem e já prejulgam  e condenam só por uma frase inconsequente ou mal colocada ou que tenha apenas a finalidade irreverente de fazer rir.
E assim continuando a confabular com minhas gavetas da alma fiquei pensando que com o tempo a Sábia Natureza vai eliminando aquilo que não fazemos não mais uso e que não precisamos para evoluir, por conta das dietas e dos alimentos processados, leia-se órgãos do corpo físico, tipo dentes, por exemplo. E isso me remeteu à figura típica dos "ET's", cabeça grande e triangular para comportar um cérebro pensante, olhos grandes para melhor observar e a boca... a... a boca é um "botão", eles já não precisam usar tanto a boca e provavelmente usam da telepatia para se comunicarem.
Mas que ninguém nos ouça, eles são feios pra caramba, mas a lição que fica é;
Pensar muito, olhar e observar tudo e falar o mínimo necessário.                                               Mas que são feios são, né não?

sábado, 2 de setembro de 2017

O Parente

                                                              O Parente
Outro dia passeávamos logo cedo pela orla, respirando o ar puro da manhã, pois a natureza nos havia brindado com um lindo e maravilhoso dia de sol, sem uma nuvem no céu brilhante e sem vento o que me tira totalmente a vontade de caminhar ao ar livre.
Lá pelas tantas percebi que o Otávio ficou para traz parando para ler um cartaz colado no poste de iluminação. Voltei cheia de curiosidade para ver o que havia de tão interessante escrito num dos muito restos de papel colados que a bem da verdade só enfeiam o lindo o lindo espaço de lazer à beira mar.
Quando cheguei perto percebi que a criatura peluda de olhos amarelos já havia sido picada pelo bichinho da curiosidade.
Enquanto eu tentava ler alguma coisa ele já me arrastava pela mão para voltarmos ao caminho de volta para casa e antes que ele desse um ataque de birra como fazem as crianças mal educadas voltei ou melhor voltamos correndo.
Ao chegarmos em casa ele correu na frente e entrou no banheiro para tomar banho, enquanto eu fiquei separando a roupa para sair com ele, sabe-se Deus para onde.
Sim, pelo comportamento dele vi que viria "cosa" pela frente.
Quando chegou a minha vez de entrar no chuveiro ele já me avisou aos gritos que eu não demorasse por conta de ele ir sozinho e acabou que foi mesmo. Aonde? Sei lá! Nunca sei o que ele pretende fazer e do jeito que é mandão e machista nem me dá satisfação, apenas vai. E no poste haviam muitos cartazes, não sei qual ele se interessou...
As horas se passaram e eu já estava ficando preocupada com a demora dele, então resolvi fazer o almoço. Quando tudo estava quase pronto ele adentrou pela sala todo esbaforido e descabelado...
- O que foi que houve? Parece um furacão! - Lhe perguntei de um fôlego só.
- Acabei de saber o que eu já desconfiava...
- E o que foi que você desconfiava que acabou de saber, criatura "dedeus"?
- Sabe o que encontrei lá no parque à beira mar? Um anúncio de uma vidente que descobre nossas vidas passadas, peguei o endereço e fui fazer uma consulta e se segure para não cair!
Falava com a voz mais esganiçada do que de costume e eu olhando para ele com a maior abertura de meus olhos para não perder nada.
- Eu sou um descendente direto do gato do Faraó Ramsés III! Pura linhagem como sempre soube, não é o máximo? Eu sempre tive certeza que eu sou de nobre linhagem.
Por um momento fiquei em silêncio olhando aqueles olhos amarelos e respondi;
- Bem... eu penso que sua linhagem degenerou um pouco comparando com as Imagens de Osíris, ou da Deusa Felina Egípcio Bastet, você tem um pouco mais de pêlos, olhos amarelos, nariz achatado... sei não...
Bom, estamos de relações cortadas há três dias depois dessa conversa e ele está recolhido aos seus aposentos e não atende ninguém desde então.
Fazer o que, né?