Confabulações
Quando eu vou comprar mamão escolho por afinidade, amor à
primeira vista. Só tenho certeza da doçura comprando o Papaia, mas gosto também
do Formosa que é o dobro do tamanho, que vou comendo aos poucos e tenho a
sensação de que dura mais, mesmo equivalendo em peso, não sei.
Enfim; no supermercado,
diante daquele mar de frutas diversas vou até aos mamões verdes alaranjados da
banca e fico por alguns momentos observando-os para ver qual deles quer ir
comigo, qual está a fim de fazer parte do meu corpinho por algumas horas, saber
dos meus segredos, dos meus amores e dores, ouvir minhas orações e até dar
palpites nas minhas conversas e discussões com Otávio.
Fico em silencio, mesmo que esteja cantarolando alguma
balada metódica ou alguma coisa meio religiosa eu paro e fico olhando para os
mamões, observando suas reações com a minha presença, pois de repente eu sinto
vindo das entranhas do fruto não proibido o apelo - eu quero ir contigo, eu
vou, sou doce e macio e te darei a satisfação do prazer da gula por alguns
momentos-
E lá vou eu carregando a criação Divina produzida em série
pela mão do homem do campo, tão esquecido por aqueles que dependem dele todos
os dias, enrolado numa manga de crochê macio.
Feliz vou para casa e o acomodo na fruteira entre outras
frutas, porém ele é o majestoso, o maior entre todas as espécies do recipiente.
Passa ali adormecido mais alguns dias para amadurecer mais
um pouquinho já que as suas cores estavam mais para o verde do que para o
alaranjado e assim provavelmente ainda estava mais firme do que macio para ser
comido ao ponto.
Finalmente numa manhã de um dia nublado, observando a
fruteira me dou conta que ele chegou ao estágio perfeito para ser comido.
Pego-o nas mãos e o levo para um banho com detergente e esponja macia, primeiro
o lado verde (da esponja) e depois o amarelo, mais macio. Enxugo-o com
delicadeza e expresso o meu amor por ele dando-lhe um beijo e lhe agradecendo o
prazer que ele estava me proporcionando ao degustá-lo sendo feliz, pois o
estava levando para dentro de mim, meu eu mais profundo, e por algumas horas
seríamos um só. Puro prazer...
É muito amor envolvido. ♥♥
Isso se
chama solidão.
Uma comunhão mamonística. Ou mamônica, talvez. Seu texto tb me colocou aqui a confabular com meus mamões... Grande abraço, amiga Clotilde.
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