domingo, 12 de junho de 2011

Futebol nem pensar

Quando morei aqui em Florianópolis nos anos 80 usufruia de uma mordomia que hoje não se usa mais. A entrega de pães em domicílio. Costume prático e comum, usual por grande parte dos moradores dos bairros durante muito tempo, aliais foi pratica comum durante muito tempo a entrega de pão de manhã e de tarde.Abaixo transcrevo uma delas do outro blog.


Simplesmente Padeiro, como era conhecido o senhor que entregava a domicílio os pães que eram encomendados na padaria e pagos por mês. Ele era uma pessoa muito simpática e bem humorada, tendo sempre uma "graça" na ponta da língua. Ele entregava na minha casa na da minha irmã, na mesma rua, e em quase todo o bairro.
Certa época de copa do mundo, enquanto ele fazia a entrega para mim, fiz um comentário sobre futebol  e ele me saiu com essa:
         Olha dona, nem me fale de futebol que até me dá arrepio, fico até doente essa época. odeio futebol.
Intrigada e ja esperando uma história nova dei lhe corda para que me contasse o porque de tanta ojeriza ao esporte. E ele me contou o seguinte acontecido:
       - Futebol me lembra quando eu era mais moço e fui morar em Santos-SP por uns tempos, com uns parentes, para arrumar um "empreguinho" melhor, estudar, quem sabe juntar um "dinheirinho" para arrumar a minha vida. Quando já estava lá há duas semanas, por ai, nem conhecia a cidade ainda, meu primo me convidou para assistir o Santos jogar lá no estádio, coisa e tal. Naquela época eu ja não era muito apreciador de futebol, mas o meu primo estava tão animado que resolvi ir com ele. Olha dona, nem queira saber; la pelas tantas um jogador cometeu uma falta e o juiz fez que não viu, um torcedor pulou o alambrado para dentro do campo, atirou-se pra cima do juiz, deu lhe um safanão e daí pra frente foi só pancadaria. Eu só via gente correndo, polícia batendo de cacetete, jogador embolado no chão com mais três ou quatro por cima, gente batendo, gente apanhando, coisa feia. Eu olhava de um lado para outro sem entender nada. Não sabia se corria ou se ficava. Não dava para ver por onde se saía, eu nunca tinha ido num campo não sabia como era que se saia dali, não via como, e a coisa foi ficando cada vez mais feia, dona; Daí olhei e não vi mais o meu primo; perdi ele de vista, não sabia se ele pulou para o campo e se embolado com todo aquele povo ou se tinha conseguido sair do estádio e me esquecido la dentro. Apavorei-me mais ainda e comecei a correr atrás duma leva de gente que ia numa direção até que uma hora a turma empurrou com tanta força que eu nem sentia mais tocar os pés no chão; fui carregado, mas de la de cima eu vi que estava indo na direção da saída e até que rapidamente me vi do lado de fora, mais apavorado do que a senhora possa imaginar. Saí dalí correndo para longe daquela confusão até chegar num ponto de ônibus e ficar la encostado com o coração saindo pela boca até um onibus chegar, mas eu não sabia para onde ia continuei lá até que o meu coração acalmou e consegui me lembrar qual era o ônibus que tinha que tomar para a casa, pois até ali eu  não tinha saido sozinho para longe de casa, mas consegui me lembrar e até desci no ponto certo. Quando cheguei na porta de casa ainda não tinha me voltado a cor, meus tios logo me perguntaram assustados pelo meu primo e eu contei ainda trêmulo o que aconteceu, foi quando a minha tia perguntou:
-De quem são esses dois guarda-chuvas no seu braço?
Foi aí que me dei conta que saí sem guarda-chuva e voltei com dois (!).
O meu primo conseguiu chegar só depois de duas horas, pois ficou me procurando apavorado sem saber se eu conseguiria voltar para casa sozinho.
 É por isso dona, que não quero nem ouvir falar de futebol.


E ali se despediu para voltar no dia seguinte com pães e mais histórias como essa.

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