quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Os pensares de mãe

Achei esta coluna no www.acontecendoaqui.com.br e parabenizando por tão bela e delicada homenagem à sua filha Lara, trancrevo-a aqui para que os que me leem possam também usufruir desse prazer. Ana Lavratti A contabilidade da maternidade 05 OUT - Ao reservar minha agenda, filha, pra tua festa de aniversário, me deparei com contas que nunca havia ousado fazer. E com resultados, ainda que delicados, à prova de manipulação. Nesse algoritmo movido à nostalgia, me pus a calcular se valeu a pena trocar a minha liberdade, tão cara, pela submissão às tuas necessidades. Tentei somar os eventos que perdi, os brindes que não ouvi, as risadas que ficaram por ser dadas em alguma mesa de bar. Mas só consegui calcular a festa de arromba que provo a cada manhã, quando o mar que habita teus olhos me inunda de esperança. Quando o lento abrir das tuas pálpebras, como uma onda de paz, renova a certeza de que tenho em casa a amizade mais concreta e a companhia mais completa que alguém pode desejar. Num segundo esforço, tentei somar as vitrines que não vi, as ginásticas que faltei, as corridas que adiei mesmo sabendo que meu corpo clamava por esse impulso. Mas só consegui calcular o saldo de saúde que provo a cada dia, quando a natureza intocada da tua gargalhada quebra meu próprio recorde de amor, e estabelece um novo patamar de força a meus braços, de fôlego ao meu coração. No balanço das emoções, tentei somar quantas vezes meu nome deixou de luzir nas TVs de milhões de lares, desde que troquei a bancada de telejornais por uma poltrona de bebê no banco de trás. Mas só consegui calcular o apogeu da fama que provo a cada entardecer, quando chamas por mim na saída da escola, e me abraças apertado ao soltar manchetes exclusivas: que me amas do tamanho do céu, que estavas com saudade, que queres meu colinho (mesmo tendo ultrapassado a marca de um metro). Tentei então, em vão, somar os filmes que não vi, os amigos que não visitei, os trabalhos que não concluí, as viagens que não passaram da fase preliminar. Mas só consegui calcular o programa impagável que provo a cada noite, quando me transportas pra um mundo mágico, resoluta, convencida de que és princesa, ora sereia, às vezes fada, e quase sempre, o Michael Jackson. Nessa contabilidade sem regras, me convenci que 1 mais 1 pode ser 3, quando uma mulher e um homem somam abnegação pra formar uma família, com personagens reais, com rotinas leais. Nessa contabilidade sem limites, percebi o quanto, ao te ver “voar” com uma varinha de condão, ou dançar Moonwalk com os pés colados no chão, tu dás à minha vida mundana o extrato de uma experiência divina. Nessa contabilidade sem fraudes, preciso confessar, filha, que meu amor por ti tem um milhão de dígitos, e continua aumentando, mesmo sem motivos, na proporção dos teus sorrisos. Nos 4 anos da Lara... ar do meu lar.

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