domingo, 20 de setembro de 2009

Um sábado cultural diferente

Este foi deveras um final de semana totalmente inusitado e empolgante. Na parte da manhã, depois de um exame de esteira no cardiologista (ele faz os exames aos sábados) tive a surpresa de saber que o meu coraçãozinho que batebate ja não é mais o mesmo e precisa de um cateterismo (?!?). Passado o susto, procurando esquecer o assunto, aceitei o convite da Sonia (amiga/vizinha) para assistir duas amigas que se apresentariam num sarau literário, cantando e tocando entre declamações e poemas, no salão da Academia Campinense de Letras.
Confesso que nunca assisti nada semelhante, só no tempo da escola um arremedo de alguma coisa parecida, sei lá. Mas lá fui eu ao evento que começou as 15hs mais ou menos e era para terminar as 18 hs. Imagino que aconteça neste horário por conta da idade dos participantes, que em sua grande maioria ultrapassava em muito os sessenta e cinco anos.
Já começaram a sessão homenageando três companheiros mortos na última semana (!) Fiquei imaginando que mais duas ou três apresentações, se considerássemos as idades, meia plateia homenagearia a outra meia que se foi, e em pouco tempo fechariam para balanço (desculpe a irreverência), até porque achei o evento muito interessante e divertido de verdade.
No centro do salão, sobre uma cadeira, diante da mesa diretora, a foto de uma das pessoas que morreu. Com uma rosa depositada ao pé do quadro, a morta foi reverenciada por, pelo menos, três pessoas além do viúvo (sem chance), em prosa e verso, além do tradicional longo e aflitivo minuto de silêncio. Ela devia ser participante "de carteirinha", pois todos a pranteavam condolentes.
Durante as várias apresentações do evento, o que me fez rir, foram as desculpas públicas quase ingênuas; onde, por exemplo: uma senhora demonstrando impressionante memória e expressão teatral, retirou os óculos teatralmente, sacudindo os cabelos brancos bem tratados, enquanto explicava à platéia que para declamar era necessário deixar os olhos bem visíveis, sem lentes, pois eles transmitiam toda a emoção da interpretação(!?) e ainda pediu desculpas se cambaleasse um pouco, pois os joelhos não estavam muito bons (!). Mas gostei da apresentação (um pouco longa em relação as outras) totalmente teatral, mas muito interessante; o texto era de um poeta português, e falava de um mancebo apaixonado por uma donzela que "fazia doce" o tempo todo, com palavras e gestos de amuo e olhos resguardados, enquanto ele se debatia em paixão sôfrega desesperadamete. Se fosse cantado, seria uma ópera.
É verdade que gostei, nunca vi destas coisas e me divirto mesmo. A presidente da mesa,uma senhora baixinha, muito elegante, aliais, todas estavam muito elegantes, vestindo um terninho vermelho, ficava quase escondida atrás da mesa enorme. Num determinado momento tomou do microfone e contou seus "particulares" também; falou só depois de umas três apresentações ( também homenageando a morta do retrato, que realmente pertencia ao grupo de poetas). La pelas tantas, disse que não ouviu nada do que foi dito até ali (!) pois estava surda, surda; só com cinquenta por cento da audição, mas também falou o que devia falar; da falta de prestigio, apoio, etc. A amiga da Sonia que toca teclado (por sinal, muito bem), é concertista e foi até aluna do filho de Carlos Gomes, conforme também declarou la pelas tantas, e tudo o mais, entre um intervalo musical e outro resolveu botar a "boca no trombone" e meteu o pau na prefeitura, e em quem mais merecesse, que não prestigiavam eventos com os músicos de Campinas, e nem como aquele que estava acontecendo ali, naquele momento; fazendo um discurso quase estilo político. Em seguida recomeçou a tocar e nisso houve um frisson na plateia e uma senhorinha bem senhorinha, enquanto a do teclado tocava e a outra amiga da Sonia cantava um lindo tango (por sinal, também uma linda voz), a senhorinha indignou-se e foi reclamar lá na frente, diretamente na mesa da diretoria, com a senhorinha surda, que "ninguém estava homenagendo ali, naquele evento, o "nosso" Carlos Gomes", ja que estava-se comemorando pelos quatro cantos da cidade, o mês de Carlos Gomes. Nem esperou o sarau continuar ou acabar e já saiu reclamando; ninguém sabia se iria ter homenagem ou não e "ela já rodou a baiana". Nisso, a apresentadora do evento, uma " jovem" de aproximadamente 65 anos, indignou-se publicamente expondo a todos ali presentes, que era uma pessoa que batalhava sem ajuda de ninguém para montar um sarau daquele, que não era fácil mas mas não era nunca reconhecida, que sua mãe de mais de 90 anos estava acamada(!?) e ninguém dava valor ao trabalho e esforço dela, e que ninguém a ajudava em nada; e que aquele trabalho era muito difícil e as pessoas ainda vinham reclamar como agora. Pois que aquela senhora ficasse sabendo, que ela dava o melhor de si, mas que aquilo ia acabar ainda este ano e ela não queria nem saber, por que ela iria se desligar antes do final do ano. E era por conta de pessoas como ela, que não tinham copreensão (a senhorinha em questão) é que ela estava dessistindo da presidência dos eventos (quase chorou e nós juntos, tanta "injustiça"). Enquanto todos nós, mais a cantora e a tecladista ouviamos de boca aberta o desabafo e mais um pouco assistíramos um "arranca rabo" com direito a fundo musical e tudo a Sonia estava quase dando um xilique, pois não tem paciência para frescuras e incompetência (ela ama música clássica e recitais musicais de verdade), mas eu achava tudo divertidíssimo.
Lá pelas tantas uma outra senhora, quase septagenária também, vai até a frente, e no meio do salão, pede a palavra e começa a contar da vida de Carlos Gomes, se apresentando como sobrinha-neta que era, e que ia falar porque sabia "tudo da família" e então iria contar como foi, pedindo confirmação em cada frase para o amigo da Sonia que estava perto de nós, e que fez sinal para a Sonia que não sabia de nada (e nem poderia, pois nem era parente!?).... Pois ela desenrolou passagens e acontecidos da familia interropendo as apresentações e ainda sugeriu que nos uníssemos para pedir a volta dos despojos da esposa de Carlos Gomes, não lembro o nome (vê se pode!?) que ficou na Itália e o lugar dela era aqui, no túmulo da família; sem deixar de dizer, que alguém (deu o nome do ilustre) lhe disse que ela era a reencarnação da mulher do Carlos Gomes(!!!) Talvez se sinta dona dos restos mortais que estão na Itália, vai saber... e falou um monte, até que ela deu uma trégua e entra para se apresentar, um grupo de negros, de samba de batuque e o sarau foi literalmente para a cucúia com honra e graça do divino. Daí a Sonia achou que era demais para ela e quase pediu os sais. E antes que terminasse o evento saimos quase correndo de lá, com a Sonia me levando junto com ela, sem que eu visse como tudo terminou e principalmente sem saber até agora, o que tem aquele sambão de raiz a ver com um sarau literário à moda antiga, e o ilustre compositor Carlos Gomes? Tudo isso no mesmo lugar, numa tarde chuvosa de sábado?
Sei lá.... E assim foi meu sábado diferente e divertido, com todo o respeito aos mortos e aos vivos que lá estavam...
Valeu Sonia, de verdade.

3 comentários:

  1. Minha amiga !
    Depois desta, dê -se por feliz de precisar só de um cateterismozinho. E nesta altura do campeonato, o que vc quer ? Nosso time vai pendurando as chuteiras.
    Angela

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  2. É verdade...♥♥♥ Por isso eu olho com olhar sarcástico, para rir de mim mesma...♥♥♥

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  3. Nossa, mas que barraco da terceira idade, heim, Clô? Só fiquei preocupada com o cateterismo...

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