sábado, 14 de maio de 2011

Relembrando um dia de sábado

Eu tenho em muitas amizades grandes AMIGOS. Guardo no meu coração momentos felizes com pessoas que a vida me distanciou e outras que depois de muitos anos me trouxe de volta.
Assim é a vida, essa gangorra que nos leva e trás o tempo todo.
Pois é, e uma dessas pessoas queridas é a SONIA ALMEIDA, pessoa maravilhosa divertida com quem convivi lado a lado, vizinhas de muro, durante mais ou menos sete anos. Dai me mudei para Tupã, interior de São Paulo, e recentemente no mês de março voltei para Florianópolis-SC. 
Porém agora, graças a internet, nos correspondemos sempre e matamos nossa saudade informando uma à outra o que andamos fazendo e por onde andamos.
Com essa amiga querida dei muitas risadas, dividimos algumas tristezas, emoções e preocupações. Filosofamos juntas e fofocamos também que ninguém é de ferro, mas com certeza acrescentamos uma à outra muito carinho e amizade sincera que ficarão para sempre.
Hoje  lendo uma de suas cartas onde me fazia um relatório do seu fim de semana, por sinal muito divertido, me comovi de saudade relembrando grandes e inesquecíveis momentos que passamos juntas e um especialmente, que ja postei aqui, me faz rir até hoje pelo inusitado dos acontecimentos.
Assim o postarei novamente, lembrando que isso aconteceu em 2009 na cidade de Campinas-SP.  Como sei que muitos que me visitam hoje naquela época não tinham ainda conhecimento de mim acho que irão gostar. Para quem o leu divirtam-se novamente como eu.
Foi muito bom conviver de perto com essa amiga que com certeza faz parte da minha lista de pessoas inesquecíveis.
Um sábado diferente
Este foi deveras um final de semana totalmente inusitado e empolgante. Na parte da manhã, depois de um exame de esteira no cardiologista (ele faz os exames aos sábados) tive a surpresa de saber que o meu coraçãozinho que batebate ja não é mais o mesmo e precisa de um cateterismo (?!?). Algumas horas depois, passado o susto e procurando esquecer o assunto, aceitei o convite da Sonia (amiga/vizinha) para assistir duas amigas que se apresentariam num sarau literário, cantando e tocando entre declamações e poemas, no salão da Academia Campinense de Letras.
Confesso que nunca assisti nada semelhante, só no tempo da escola um arremedo de alguma coisa parecida, sei lá. Mas lá fui eu ao evento que começou as 15hs mais ou menos e era para terminar as 18 hs. Imagino que aconteça neste horário por conta da idade dos participantes, que em sua grande maioria ultrapassava em muito os sessenta e cinco anos e costumam dormir cedo.
Começaram a sessão homenageando três companheiros mortos na última semana (!)
Fiquei imaginando que mais duas ou três apresentações daquela, se considerássemos as idades, meia plateia homenagearia a outra meia que se foi, e em pouco tempo fechariam para balanço (desculpe a irreverência), até porque achei o evento muito interessante e divertido de verdade. Sim, realmente, ultimamente eu não tenho me divertido muito mesmo...hahahah
No centro do salão, sobre uma cadeira e diante da mesa diretora, a foto de uma das pessoas que morreu, uma senhora. Com uma rosa depositada ao pé do quadro, a morta foi reverenciada por pelo menos três pessoas, além do viúvo (sem chance de reciclagem) em prosa e verso, além do tradicional longo e aflitivo minuto de silêncio. Ela devia ser participante "de carteirinha", pois todos a pranteavam condolentes.
Durante as várias apresentações do evento, o que me fez rir, foram as desculpas públicas quase ingênuas dos participantes; onde, por exemplo: uma senhora muito chique após se apresentar,  expressão compungida, demonstrando impressionante memória retirou os óculos teatralmente, sacudiu os cabelos brancos bem tratados, enquanto explicava à platéia que para declamar era necessário deixar os olhos bem visíveis, sem lentes, pois eles transmitiam toda a emoção da interpretação(!?) e ainda pediu desculpas se cambaleasse um pouco, pois os joelhos não estavam muito bons (!). Mas contudo gostei da apresentação dela (um pouco longa em relação as outras) porém totalmente profissional, deveras muito interessante. O texto conforme nos informou, era de um poeta português e falava de um mancebo apaixonado por uma donzela que "fazia doce" o tempo todo (a expressão é minha). Com palavras e gestos de amuo e olhos resguardados (ela interpretava um e outro) enquanto ele se debatia em paixão sôfrega desesperadamete.
Se fosse cantado, seria uma ópera.
É verdade que gostei... Nunca vi destas coisas e me divirto mesmo. me divirto com tudo de verdade. 
A presidente da mesa, uma senhora baixinha muito elegante, aliais é bom que se diga, todas estavam muito elegantes, vestindo um terninho vermelho, ficava quase escondida atrás da mesa enorme, tão pequena era ela e tão grande era a mesa, tomou do microfone e contou seus "particulares" também e falou a que veio só depois de umas três apresentações (também homenageando a morta do retrato,  confirmando que ela realmente pertencia ao grupo de poetas). La pelas tantas,  ela disse para quem quisesse ouvir, que não ouviu nada do que foi dito até ali (!) pois estava surda, surda; só com cinquenta por cento da audição, mas também falou o que devia falar; da falta de prestigio, apoio, etc. Enfim, fez uma salada de informações entremeadas com críticas, reclamações, elogios e apresentações.
A amiga da Sonia que toca teclado (por sinal, muito bem), é concertista e inclusive fui informada pela Sonia, que foi até aluna do filho de Carlos Gomes, aliais conforme também declarou la pelas tantas, e tudo o mais, pois ela também resolveu entre um intervalo musical e outro botar a "boca no trombone" e meteu o pau na prefeitura, e em quem mais merecesse, pois não prestigiavam eventos com os músicos de Campinas, e nem como aquele que estava acontecendo ali, naquele momento; e aproveitou para fazer um discurso estilo político. Em seguida recomeçou a tocar lindamente até que houve um frisson na plateia e uma senhorinha bem senhorinha, enquanto a do teclado tocava e a outra amiga da Sonia cantava um lindo tango (por sinal uma linda voz) a senhorinha indignou-se e foi reclamar lá na frente, diretamente na mesa da diretoria, com a senhorinha  50% surda de terninho vermelho, que "ninguém estava homenagendo ali, naquele evento, o "nosso" Carlos Gomes", que isso não era certo ja que estava-se comemorando pelos quatro cantos da cidade, "o mês de Carlos Gomes". Nem esperou o sarau continuar ou acabar e já saiu reclamando bem alto no meio do salão; ninguém sabia ainda se iria ter homenagem ou não e "ela já rodou a baiana". Nisso, a apresentadora do evento, a responsável, uma " jovem" de aproximadamente 65 anos, indignou-se publicamente expondo a todos ali presentes, que era uma pessoa que batalhava sem ajuda de ninguém para montar um sarau daquele, que não era fácil, mas que não era nunca reconhecida, que sua mãe de mais de 90 anos estava acamada(!?) e ninguém dava valor ao trabalho e esforço dela, e que ninguém a ajudava em nada; e que aquele trabalho era muito difícil e as pessoas ainda vinham reclamar como agora no caso daquela senhora parente do Carlos Gomes entre outros. Pois que aquela senhora ficasse sabendo (!!!), e a quem mais interessasse que ela dava o melhor de si, mas que aquilo ia acabar ainda este ano e ela não queria nem saber, por que ela iria se desligar antes do final do ano. E era por conta de pessoas como ela, que não tinham copreensão (a senhorinha em questão) é que ela estava desistindo da presidência dos eventos (quase chorou e nós juntos com tanta "injustiça").
Enquanto todos nós da platéia ouviamos de boca aberta o desabafo e mais um pouco assistíramos um "arranca rabo" com vias de fato, a cantora e a tecladista executavam um fundo musical ja que foram lá para isso. 
A minha amiga Sonia levantou-se e deu um basta. Estava quase dando um xilique, pois não tem paciência para frescuras e incompetência (ela ama música clássica e recitais musicais de verdade) mas eu achava tudo divertidíssimo e pedi para ficar mais um pouco.
Lá pelas tantas a mesma senhora, septagenária também, inconformada vai até a frente novamente e lá do meio do salão vira-se para a platéia e pede a palavra. Em seguida começa a contar da vida de Carlos Gomes, se apresentando como sobrinha-neta que era, e que ia falar porque sabia "tudo da família" e então iria contar como foi. Enquanto falava pedia a confirmação em cada frase para o amigo da Sonia que estava perto de nós, e que fez sinal para mim e para a Sonia que não sabia de nada (e nem poderia, pois nem era parente!?)...
Pois ela desenrolou passagens e acontecidos da familia, interropendo as apresentações e ainda sugeriu que nos uníssemos para pedir a volta dos despojos da esposa de Carlos Gomes, não lembro o nome (vê se pode!?) que ficou na Itália e o lugar dela era aqui, no túmulo da família; sem deixar de dizer, que alguém (deu o nome do ilustre) lhe disse que ela era a reencarnação da mulher do Carlos Gomes(!!!) Talvez  ela se sinta dona dos restos mortais que estão na Itália, vai saber... e falou um monte, até que ela deu uma trégua e nesse momento entra para se apresentar, um grupo de negros, de samba de batuque vestidos à moda africana e o sarau foi literalmente para a cucúia com honra e graça do divino.
Daí a Sonia achou que era demais para ela e quase pediu os sais.
E antes que terminasse o evento saimos quase correndo de lá, com a Sonia me levando junto com ela, sem que eu visse como tudo terminou e principalmente sem saber até agora, o que tem aquele sambão de raiz a ver com um sarau literário à moda antiga, e o ilustre compositor Carlos Gomes? Tudo isso no mesmo lugar, numa tarde chuvosa de sábado?
Sei lá.... E assim foi meu sábado diferente e divertido, com todo o respeito aos mortos e aos vivos que lá estavam...


Valeu Sonia, de verdade.
 

Um comentário:

  1. Divertidíssimo relato, Clotilde. E pensar que estes tragicômicos episódios aconteceram aqui, bem perto de mim. Muito bom. Abraços.

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