quarta-feira, 3 de junho de 2009

A importância de uma porta e o sonho de consumo.

A importância de uma porta.. Certa vez, assistindo o Jornal Nacional, me comovi ao me deparar com a triste situação de alguns moradores de rua que foram entrevistados por uma jornalista. Tudo bem, de vez em quando vemos esta matéria que a bem da verdade nem nos causa tanta dor quanto deveria, de tão repetida. Infelizmente, a gente acostuma, e não devia. Mas como dizia, nada de estranho não fosse a batida matéria tratando as pessoas "gente", com perguntas tolas e sem sentido como sempre. Mas nesse dia especialmente, fiquei sensibilizada. A jovem jornalista foi até um "amontoado de coisas de todo tipo" em baixo de um enorme viaduto e entrevistou uma pobre família composta de marido, mulher e uma menininha de uns 4 anos muito bem cuidada e limpa, diga-se de passagem. A mulher franzina e humilde, sem fazer idéia o que é decoração ou coisa parecida, por motivos obvios, conseguiu arrumar seus miseráveis pertences de forma harmônica e prática. Aproveitando os diversos tapetes que arrecadou pela cidade, estendeu-os lado a lado sob a insensivel e concreta ponte, fazendo "cômodos" sobre cada um estabelecendo naquele exíguo espaço uma planta baixa onde de acordo com o mobiliário estavam dispostos cada ambiente. No "quarto do casal" uma cama acomodava um colchão antigo de molas e vários restos de mantas e cobertores de todo o tipo esticados uns sobre outros, e nas laterais caixotes acomodavam as roupas dobradas, talvez até de marcas famosas que ganhavam pela cidade. Mais ao lado, um tapete delimitava o "espaço" da filhinha, onde dormia plácidamente num berço cor de rosa entre bonecos de pelúcia, "levemente" descorados e faltando alguns membros . Do outro lado, um velho móvel guardava umas latas de nescau e leite em pó com comidas secas e bolachas que ela fez questão de mostrar e até oferecer a entrevistadora. Sobre dois blocos de concreto, um fogãozinho de duas bocas todo retorcido "acomodava" uma panela enegrecida de tanto ser usada para cozer algum alimento. Dava pena e ao mesmo tempo admiração ver tanta obstinação em viver em tão difíceis circunstâncias e principalmente da melhor forma com o que tinha ou arrecadavam. Mas o que mais me surpreendeu mesmo, foi o diálogo da jornalista com a mulher; - A senhora consegue morar aqui neste lugar com todo esse barulho? -Fazer o que né? A gente faz o que pode... -E qual é o seu maior sonho, o seu maior desejo? -Eu sonho em ter um barraquinho meu. Eu até imagino no final do dia quando vai anoitecendo eu vou até a janela e fecho, vou até a porta e fecho. A minha maior alegria é ter uma porta para fechar e abrir... Alguém faz idéia do que é viver sem portas e janelas para se proteger? E você? Qual é o seu sonho de consumo?

2 comentários:

  1. Meu sonho é ter uma porta que os vizinhos não reclamem...eheheh

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  2. Lígia, enquanto escrevia o texto, bem que me lembrei da tua porta artística e tão rejeitada pelos vizinhos invejosos...hahaha.

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