quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Será Sereia?


                                 
                                       Será Sereia?
Amanheceu chovendo; como se isso, por essas bandas fosse novidade.
Algumas coisas nesta vida deveras me desestabilizam; a falta do sol, dias de chuva e as surpresas do Otávio.
E por falar nele, me dei conta do seu sumiço e imediatamente liguei o meu sensor que ficou piscando insistentemente em amarelo de alerta.
Logo pensei; alguma arte ele está aprontando, muito silêncio ao nosso redor nos avisa que ai vem “côsa”, fora que faz alguns dias que ele anda sumido. Sai ao amanhecer e só volta à noite, exausto, e nem quer conversa, não está para ninguém, se recolhe aos lençóis em silêncio e dorme até o despertador tocar no outro dia. E por falar no maldito despertador, agora ele colocou o som de uma buzina de navio zarpando para acordá-lo.
Daí ele se levanta, come rapidamente o desjejum sabor salmão e sai sem me dizer o que vai fazer.
Só que hoje, ao final da tarde, enquanto eu lia meu livro calmamente, ele me apareceu  todo ofegante, com os olhos maiores e mais amarelos do que nunca, assustadíssimo, correu para o quarto e se meteu debaixo das cobertas como de costume.
Dei um tempo e aguardei em silêncio me preparando psicologicamente para o que viria até que ressabiado ele voltou do quarto, deu umas voltas pela sala e se acomodou ao meu lado, já bem mais calmo.
Aguardei que me contasse o acontecido do dia, e o que segue é o que ouvi de sua própria boca:
Eu fiz um curso de salva mar, ou guarda-vidas, como queira, para trabalhar na praia, na temporada de verão; e a semana toda tivemos treinamento teórico e prático. Chegamos até a fazer salvamentos de verdade porque as pessoas vão para o mar como vão para a piscina ou para as banheiras de casa, sem cuidado nenhum e o pior é que nem sempre voltam para casa. Bem isso não é mais novidade para ninguém, muitos morrem no verão por imprudência. A novidade é que fomos para uma praia deserta, depois de uma trilha bem difícil, para treinamento de resgate em circunstâncias complicadas. Eu já havia participado de duas simulações ali e resolvi explorar um pouco mais o local me afastando na direção de um conjunto de pedras de vários tamanhos. Quando fui chegando comecei a ouvir sons, alguns melodiosos como cantos e risadas, conversas, coisas assim e fui me aproximando cada vez mais e o som se afastando e eu fui ficando curioso e continuei procurando pelas pessoas que não apareciam nunca. Quando me dei conta estava do outro lado da praia e havia me afastado muito dos colegas do treinamento então resolvi voltar, foi quando me deparei com duas sereias de carne, osso e escamas bem ali na minha frente, rindo e cantando para mim. Na verdade rindo do meu espanto. Desmaiei na hora e só me acordei no helicóptero de resgate a caminho do hospital onde fui diagnosticado como insolação. Ninguém acreditou em mim, sniff, sniff, sniff...
- Sereia... Sei... Hãhã...

Insolação é um perigo.

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