sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um dia qualquer...

                                            Um dia qualquer
Estava eu aqui tão só quando a companhia da porta toca e vou atender.
Era um ser vestido de escafandro e ainda respingando água para todo lado. Veio aqui me perguntar se havia água na minha casa, detalhe: moro no vigésimo andar.
Deixei-o entrar um pouco intrigada com a pessoa vestida de mergulhador com escafandro, numa visita inesperada e inusitada no meio de um dia qualquer, mas tudo bem em tempos modernos isso deveria ser “normal”.
Levei-o até a sala e o convidei a sentar enquanto trocávamos ideias se ia chover ou não, sem me preocupar com o rastro de água que deixava pelo caminho. Era maravilhoso lembrar de como era bom ter água em abundância.
Daí ele me falou que havia mergulhado bem longe dali, numa enorme represa de água potável e ao se aprofundar para avaliar melhor a qualidade do líquido precioso foi carregado pelo veio de corrente e em seguida mergulhou mais profundamente e foi carregado novamente pela correnteza do lençol freático por quilômetros, vindo parar na boca de lobo frente ao prédio onde eu moro, e ao perguntar ao porteiro sobre a possibilidade de ter água naquela região ele me disse que só se fosse no seu apartamento, provavelmente por eu morar só e consumir o mínimo de água.
Daí ele subiu ao vigésimo andar e agora queria tirar a dúvida com os próprios olhos que a água haveria de afogar e para isso estava determinado.
Para melhor olhar o convidei a retirar o escafandro, peça que me parecia muito desconfortável e pesada.
Foi daí que me surpreendi mais ainda, ele tinha escamas e barbatanas além de guelras visíveis no pescoço. Levei um susto porem ele me tranquilizou que não era da família dos tubarões e sim dos pacíficos bagres da lama, mas agora ele andava por todo o planeta a procura de algum lugar que houvesse permanecido com suas águas intactas, puras, sem a interferência do homem.
Me disse ainda que havia ouvido por suas andanças que as águas estavam se escondendo nas profundezas da terra por conta do mau uso que o homem estava fazendo do líquido precioso. 
E que  assim, logo após um cataclismo que era muito esperado para um momento próximo, e o homem venha a apanhar uma surra de si mesmo por conta da sua ignorância, as águas voltariam a superfície para dar continuidade a evolução humana. Enquanto isso ele viaja nas profundezas dos lençóis freáticos e dos aquíferos ainda existentes para avaliar a situação real do planeta e fazer alguns contatos e intercâmbio.

Ficamos a conversar por algumas horas, ele aceitou um copo de água com baixo teor de sódio por conta da pressão alta e ainda aceitou um cafezinho antes de sair, me prometendo voltar assim que fosse possível me trazendo notícias atualizadas...

Um comentário:

  1. Pois é, Clotilde, estamos vivenciando o Saara tupiniquim. Tenho medo de pensar nos próximos meses. Gostei da sua ficção, muito a propósito para o momento. E não muito distante de uma realidade próxima, a continuar o atual quadro... Grande abraço pra você.

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