quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Uma vez Flamengo, Sempre!


                           Uma vez Flamengo, sempre! 
Hoje saí de casa por volta das dez horas. 
Tomei o ônibus de sempre e dois pontos adiante entrou uma senhora um pouco acima do peso, toda esbaforida e sentou-se no banco individual logo à minha frente, que estava num banco duplo, sozinha, e em altas vozes, totalmente à vontade, foi conversando com o motorista e o cobrador postado logo atrás de mim.
Do meu ponto de observação pude notar que ela se vestia com a camiseta do time da cidade, aquele que passou para a primeira divisão, e para completar o traje, a calça, o tênis, brincos, as unhas e alguns anéis exibiam a cor azul celeste também; provavelmente para não deixar duvida nenhuma da sua preferência esportiva.
Daí que ela entrou no ônibus resfolegando e foi logo reclamando da fila interminável de todos os dias, do transito parado para entrar na ponte em direção à ilha e da demora em chegar no serviço
Depois falou que trabalhava desde os 12 anos como doméstica, que não pode estudar porque a mãe não deixou, porque se ela aprendesse a escrever ia fazer carta para os namorados em vez de fazer o serviço, e agora com 72 anos ainda precisava trabalhar. 
E continuou falando, pois a fila demora mesmo e assim conversando o tempo passa mais rápido.
Falou que os filhos não a visitam em casa, então eles se encontram num jardim público, no bairro ao lado. Ela falou que quase não vê os netos, que um deles já tem 20 anos e não o vê desde pequeno, nem o conhece, porque a outra avó é rica e não deixa, porque que diz que onde ela mora é muito perigoso, ela diz que é zona vermelha, mas ela mora há cinquenta anos naquele lugar, a casa é dela e nunca aconteceu nada, o que ela vai fazer? Mas a “rica” tem medo do filho, no caso genro dela, ir lá com as crianças e acontecer alguma coisa.
O outro filho mora no interior, esse ela não vê mesmo e nem conhece os netos. 
Daí que ela não estudou nada, mal sabe “algumas letras”, mas a filha da patroa, que já foi professora e agora tem um bom emprego e ganha muito bem, um dia resolveu ensiná-la a ler, porque por várias vezes pegou o ônibus errado e foi parar do outro lado da cidade. Então ela conseguiu aprender alguma coisa que dá para o gasto.
Foi a maior felicidade quando ela conseguiu ler as placas dos ônibus, então o que ela fez? Foi até a rodoviária e comprou uma passagem de ônibus para o Rio de Janeiro para ver o Flamengo jogar! Sim, viajou a noite toda e logo que chegou na rodoviária do Rio pegou o ônibus para o Maracanã e foi assistir o jogo do Flamengo. realizou um sonho.
Na volta comprou a passagem para São Paulo, depois para Curitiba e de Curitiba veio para Florianópolis. Foi e voltou sozinha!

Quando chegamos no terminal central, cada um foi para o seu destino, e a torcedora toda trabalhada no azul, ia toda faceira porque agora sabia pegar o ônibus certinho, afinal já tinha ido até o Rio de Janeiro!...
Que bom, fiquei feliz por ela que tem a minha idade e me pareceu uma pessoa bem resolvida apesar de sofrida.

P. S. A maioria do pessoal de Floripa tem como segundo time o Flamengo, são fanáticos; quem é daqui sabe... ela é Avaí e Flamengo... O que eu achei interessante foi que a primeira decisão que ela tomou ao aprender a ler foi pegar um ônibus e ir para o Rio assistir o Flamengo jogar no Maracanã. O que será que eu faria no lugar dela? Qual seria a minha prioridade, o meu sonho de consumo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário