Enquanto tomava mais uma
xícara de café, na verdade já era a terceira da manhã, eu lia um Romance
estirada no sofá da sala, e ouvia os espirros do Otávio lá no quarto que lia as
manchetes do dia no seu Tablet, refestelado sobre as almofadas. Eram tantos os
espirros que fiquei deveras preocupada.
Fui falar com ele que me
disse que era por conta do cheiro do defumador. Me assustei; como defumador?
Não tenho costume de acender incenso, mirra e congêneres para nada, mesmo que
me garantam a fortuna, o afastamento do mau olhado,a ziquizira e maus fluídos.
Não gosto da fumaça e nem comida defumada.
Foi aí que reparei que
entrava um rolo de fumo, sem dó nem piedade pela janela do quarto do Otávio, e
ele me garantiu que assim estava desde de manhã. Fechei a janela e voltei para
o meu livro que estava cada vez mais interessante.
Pouco mais tarde, quando
saía para ir ao mercado, encontrei a vizinha saindo também, toda trabalhada no
roxo e dourado, de turbante e maquiada para uma festa à fantasia e perguntei
discretamente sobre a defumação daquela manhã e ainda delicadamente insinuei a
alergia do Otávio e me surpreendi com a explicação de que havia acabado de se
mudar e precisava fazer uma limpeza geral no ambiente para dissipar todas as energias
deletérias que nos prejudicam e impedem a circulação do amor e do dinheiro,
sugando os mananciais eletromagnéticos enviados pela Lua em minguante para nos energizar
de bons fluidos, sem falar na quantidade de gatos que moram no condomínio que
atraem aquela palavra que ela não pronuncia nem sob pauladas.
Seja lá o que isso signifique,
pois estou até agora segurando o meu queixo para não cair, já que a criatura me
falou tudo isso de um fôlego só, enquanto me entregava um cartão de visita onde
se identifica como "vidente", daquelas que traz seu amor ou o
dinheiro de volta, mas o que é pior; parece que não gosta de gatos.
Azar o dela!
Mais tarde, voltei ao meu
romance que estava bem na página onde eu iria descobrir quem era o pai da
criança, e o interfone tocou. Contrariada fui atender e soube que era dos
Correios, uma entrega especial.
Lá fui eu de pantufas e
tudo para não perder tempo e voltar ao romance que estava eletrizante.
Joguei a carta sobre a
mesa e nem fui ver de quem era e para quem era. Pois devia mas o romance...
Em seguida chega Otávio
com cara de sono e vê a carta sobre a mesa. Abre o envelope enorme que trazia
um Brasão da Embaixada da Pérsia e idioma desconhecido, mas dava para
reconhecer o nome do Otávio.
Nervosamente ele abriu a
carta e com ajuda de um tradutor do
computador descobriu que ele havia recebido uma herança legítima do Xá da Pérsia,
o Xá Octhavianos Pérsius XIII, um parente afastado, aliás literalmente
afastado.
A carta trazia o convite para
retirá-la no Porto de Itajaí diante de
um comprovante de parentesco oficial.
Urrrú! Estou rico, estamos
ricos!!! Gritava sem parar o celerado correndo de um lado para o outro pela
casa enfumaçada.
De repente parou e
perguntou: como vou arrumar um documento de herdeiro legítimo a essa hora?
Nunca soube desse parente?!
Retruquei com cara de
tédio que era só procurar no Google, imprimir e levar junto com a carteira de
identidade, título de eleitor e carteira do Clube de esportes radicais. Tudo
junto comprovaria a verdadeira identidade dele.
Enquanto ele procurava no
computador os comprovantes eu coloquei duas mudas de roupas numa valise e fomos
em direção ao Porto de Itajaí curiosíssimos para ver o tal objeto que veio de
tão longe...
La chegando procuramos o
Escritórios das Docas para desembaraçar o objeto na alfândega, quando fomos
informados que era um Container inteiro!!!!!
Sim! Foi um choque saber
disso, mas seja lá o que for, já me preocupei seriamente em me dar conta de que
vindo das origens do Otávio eu deveria me por de joelhos e esperar o pior em
preces.
Depois de horas de espera
e manobras de vários guindastes retirando a "coisa" de um lado e colocando
no outro finalmente fomos abrir para descobrir de que se tratava a herança
vinda de tão longe.
Era a coleção completa dos
mais exóticos incensos do mundo, comprados, mandados buscar nos lugares mais longínquos
do mundo, recolhidos e guardados como verdadeiras jóias pelo parente do Otávio,
o legítimo Xá da Pérsia, Octhavianos Pérsius XIII, que os guardou a vida toda
desde que ganhou uma caixinha deles no sexto aniversário...
Vai um aí para afastar os
maus espíritos?
É a chamada herança inútil... Bom proveito, Clotilde. Que o contêiner herdado consiga ser doado em breve!
ResponderExcluirQuerida Clotilde...agora liberta das minhas algemas posso lhe dizer: que saudades....que vontade de revê-la e poder dar-lhe um abraço bem apertado...feliz por poder abrir sua pagina e admirar as palavras tão bem escritas....permita-me dizer: te amo...pois me sinto em paz quando olho para você, pena estar distante...guardo na caixa de minha memória todos os bons momentos que me concedeu ao seu lado....o café no Shopping Unimart ...o café em sua casa...o dia perfeito...muito obrigada...bjs minha querida amiga...
ResponderExcluirOlá que bom saber de vc. Durante um tempo andei à sua procura...
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