quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O Homem de Pijama Listrado

                                             O Homem de Pijama Listrado
Eu havia acabado de plantar a última muda de petúnia roxa e abrir a torneira do jardim onde estava instalada a mangueira para molhar o jardim, quando me deparei passando tranquilo ao meu lado um senhor de pijama listrado indo na direção da minha varanda.
Sem desligar a água fiquei olhando aquela figura inusitada se aboletando na cadeira de descanso. Olhei para todos os lados e não conseguia entender de onde ele havia vindo e como ele tinha chegado até ali. Finalmente, já com os pés encharcados por ter me distraído, desliguei a torneira e me dirigi para a varanda para saber o que estava acontecendo.
-Senhor, o que esta fazendo aqui?
-Ora, estou esperando a Marilda.
-Sim, mas quando a Marilda vai chegar?
-Ela já está vindo, foi só na padaria.
-E o senhor quem é?
-Eu sou o Amarildo.
-Seu Amarildo onde é que o senhor mora?
-Moro aqui, ora essa! E você quem é, a nova empregada?
-Não senhor Amarildo, eu sou a proprietária dessa casa...
- Isso é que não, eu moro aqui há mais de cinquenta anos, paguei cada centavo dessa casa na Caixa Econômica e posso provar com documentos.
-Fique calmo seu Amarildo, o senhor deve ter se enganado de endereço, me fale onde mora algum conhecido e eu lhe levarei até lá.
-Eu estou lhe dizendo que moro aqui há mais de cinquenta anos e posso provar, espere a Marilda chegar e ela vai pegar os documentos.
-Eu acredito no senhor, mas eu comprei essa casa já está fazendo quatro meses e também posso lhe provar com documentos. Mas eu gostaria muito de lhe ajudar, mas vou precisar do nome de alguém...
- Marilda, minha esposa se chama Marilda.
-Vamos fazer assim; vou entrar e telefonar e já volto. O senhor gostaria de um pouco de leite?
- Leite? E eu sou lá homem de tomar leite? Você não tem um vinho do Porto, um Conhaque?
- Não, infelizmente estou em falta, outra coisa quem sabe?
-Não quero nada, vou esperar a Marilda trazer o pão e ela vai fazer café...
-Está bem, então me aguarde que já volto.
Entrei e liguei para a Polícia para saber se havia alguma reclamação da fuga de algum velhinho de pijama listrado.
- “Não senhora, aqui não há nenhuma reclamação desse tipo, nem de hoje e nem desses últimos dias”.
-Sim, e o que eu vou fazer com este velhinho de pijama na minha varanda esperando a D. Marilda?
-“Me desculpe senhora, mas este já não é um problema nosso, mas a senhora deixe o seu telefone que se houver algum Boletim a respeito de um senhor de pijama listrado perdido no meu plantão, eu retorno para a senhora”.
-Obrigada então.
Voltei para a varanda e o velhinho havia sumido. Fiquei muito intrigada com aquilo, pois perguntei na vizinhança se alguém tinha visto o velhinho e ninguém viu.
Voltei para dentro de casa com a preocupação de como estaria o velhinho, que poderia ser atropelado, se machucar e assim pensando resolvi ir comprar pão na Padaria da esquina e aproveitei para comentar o ocorrido e perguntar se alguém o teria visto andando por ai.
- Não senhora, por aqui não vi nenhum senhor de pijama listrado.
Me falou o dono da padaria enquanto dava o troco para uma senhora idosa.
Ela interrompeu a nossa conversa e falou:
- Senhora, este senhor disse o nome dele, por acaso não é Amarildo?
- Sim isso mesmo, seu Amarildo e a esposa segundo ele se chama d. Marilda que de acordo com ele havia vindo até aqui comprar pão.

- Ixi minha filha, manda benzer sua casa e rezar uma missa, seu Amarildo que realmente vivia de pijama sentado na varanda, já morreu há algum tempo e a Marilda também já morreu. Eles eram sim, os donos da casa que você está morando e viveram por mais de cinquenta anos ali, eu os conhecia sim, mas cruz, credo, avemaria! Me arrepiei inteira...

Um comentário:

  1. Oi, amiga . Foi muito boa esta do Senhor Amarildo. Vejo claramente a cena,você molhando os pés, Senhor ,Amarildo,no diálogo, contigo,enfim, eu viajo. De saber que fatos semelhantes ,ocorrem,não só nos seus "contos "como no dia a dia,de muitos . Obrigada . Minha eterna amizade.Agora vou ler os que não li,desde de que fui pro Rio de Janeiro.

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