Areia para ampulheta.
O homem de terno preto, sóbrio nos movimentos, como que
calculasse cada um deles para melhor administrar o tempo colocou no centro da
mesa redonda uma das quatro ampulhetas que permaneciam ao seu lado, cada uma
correspondendo ao quarto de hora, meia hora, quarenta e cinco minutos e hora
inteira.
Na mesa onde circundavam 12 membros também vestidos de terno preto, tinham diante de si os doze números correspondentes da hora e aguardavam em silêncio, sentados em cada cadeira o início da contagem do tempo para começarem a reunião.
Na mesa onde circundavam 12 membros também vestidos de terno preto, tinham diante de si os doze números correspondentes da hora e aguardavam em silêncio, sentados em cada cadeira o início da contagem do tempo para começarem a reunião.
Falando de forma pausada e quase metódica o que representava o número 12 deu
inícios aos trabalhos falando:
- Iniciemos como de hábito a reunião com a passagem da folha de assinaturas
de presença o mais rápido possível para iniciarmos a sessão.
Quinze minutos para essa função é suficiente e em seguida partiremos sem perda de tempo para o assunto pertinente à pauta do dia, a areia e a escassez dela. Está faltando areia no mercado!
Quinze minutos para essa função é suficiente e em seguida partiremos sem perda de tempo para o assunto pertinente à pauta do dia, a areia e a escassez dela. Está faltando areia no mercado!
Assim que todos assinaram a folha de presença ele virou a
ampulheta, agora a de 60 minutos, ou seja; uma hora inteira para discutirem o assunto do
dia.
- Rápido que o tempo
urge! Todos prontos? Sem perda de tempo cada um dê o seu parecer sobre o preço
da areia das ampulhetas, a falta dela no mercado e o custo da confecção etc.
- A areia está em falta no mercado e o custo pela última hora! O preço no mercado negro já
parelhou ao oficial por conta dos conflitos na Grécia.
Falou prontamente o de número um.
Falou prontamente o de número um.
- Mas a Grécia nem tem areia...
- Cale-se! Não seja ignorante número três. Todos os problemas da Grécia ou de qualquer
outro lugar, mesmo onde só exista gelo, neve e que tais, reflete nas areias das
ampulhetas.
Falou com rispidez o numero onze por se achar quase a altura
do maior deles, na esperança de um dia substituí-lo.
- Não concordo!
replicou o número 3 timidamente.
replicou o número 3 timidamente.
- Você não tem de concordar, isso é do mercado mundial, daqui a pouco teremos que fechar as portas por falta de areia!
- Cavalheiros o tempo está passando e vocês discutindo o
gotejar das horas e com isso estão perdendo segundos preciosos.
-Me permitam interromper e já interrompendo, podemos pensar
numa nova ampulheta com outro material que não fosse areia, o que acham?
Falou o pratico numero 6.
Falou o pratico numero 6.
-Oh!!!!!!
Exclamaram todos ao mesmo tempo como se ouvissem um
sacrilégio, o espanto foi geral das vinte e quatro horas, quer dizer dos doze membros
da reunião.
- Como assim?
Falou o que correspondia ao número 12 que presidia a
sessão.
- Bem, eu pensei que poderíamos estudar outra possibilidade e
desatrelar a nossa produção do mercado de areia e saíssemos desse pensamento antigo de se fazer ampulhetas apenas com areia...
- Continue!
- Não sei mais... apenas tive a idéia.
falou timidamente.
- Continue!
- Não sei mais... apenas tive a idéia.
falou timidamente.
-Você só raciocina um quarto do pensamento mesmo, né? Poderia
pelo menos ter uma ideia completa ?
O que correspondia o numero 3 se encolheu um pouco mais
na cadeira e nada mais comentou até o final da reunião, mas o numero 9, o
seu oposto, gostou da ideia e ficou matutando em silêncio e depois sugeriu:
- Poderíamos tentar a farinha de mandioca já que a nossa líder maior, aquela que se acha nossa representante, saiu por ai outro dia mesmo saudando a mandioca e proclamando que a mandioca é uma maravilha, é isso, é aquilo...
- Poderíamos tentar a farinha de mandioca já que a nossa líder maior, aquela que se acha nossa representante, saiu por ai outro dia mesmo saudando a mandioca e proclamando que a mandioca é uma maravilha, é isso, é aquilo...
E colocou seu parecer
na reunião sem tirar os olhos da ampulheta que estava no centro da mesa
observando que faltava pouco para encerrar os trabalhos da hora.
Em seguida e de maneira veemente o numero 12 falou:
Em seguida e de maneira veemente o numero 12 falou:
-Fechou! Achei a ideia viável e chego a admitir que é
genial. Podemos experimentar. Senhores, para a próxima reunião eu quero todos
os detalhes, desde o plantio da dita cuja até a farinha propriamente dita. Vamos
levantar o preço da farinha de mandioca no Mercado Europeu e tudo mais.
Falou o número 12 com o peito cheio de orgulho por presidir tão n(p)obre sessão.
- Acabou a areia de cima, vamos virar a ampulheta; um, dois
três, virei!!!
23 de agosto de 2015.
Este seu texto é o que se pode chamar de uma verdadeira viagem no tempo... gostei muito, Clotilde. Surreal esta sua assembleia, coroada pela justa consagração da mandioca! Abraços.
ResponderExcluirHaha! Acho que na próxima reunião esses engravatados vão decidir plantar mandioca nas arenosas dunas do deserto do Saara... haha
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