segunda-feira, 22 de junho de 2015

Bife , Arroz e Batata frita...


                                                     Bife com Arroz e Batata frita.
Dona Elumina é empregada do Sr. Ildefonso há muitos anos.
Seu Ilde, como ela o chama, só come bife mal passado, arroz, batata frita e rodelas de tomate temperadas de sal. Muito raramente um ovo acompanha o prato, mas tem que ser com a gema mole e a clara não pode dourar, tem de permanecer macia e branca. Pouco sal em tudo, pois Seu Ilde é hipertenso e hiper tenso também de temperamento. Parece que vive em praça de guerra e vai ser atacado a qualquer momento. Não se pode contrariar que já fica apoplético e tem que ser levado ao hospital correndo que a pressão sobe “nas tampas”, só mesmo a Elumina que lhe atura há quase quarenta anos sabe bem lidar com ele.
Seu Ilde é cheio de manias, só veste camisa branca de colarinho, reveza duas gravatas parecidas uma com a outra. Os sapatos são engraxados todos os dias e é muito metódico.É corretor de imóveis e bom vendedor. Vende bem, mas vive frugalmente para realizar um sonho de muito tempo. O sonho de viajar de navio, daqueles enormes, um transatlântico. Havia até um pôster colado na parede do quarto onde ele deitado na cama ficava apreciando aquele monumento da tecnologia moderna em alto mar
Dona Elumina, já não partilhava nem um pouco daquelas ideias do sonho do Seu Ilde. Tinha um medo louco do mar e não queria nem olhar de perto, nascida e criada no sítio entre pastos e criação não queria saber de nada disso, de ficar dentro daquela casa gigante boiando na água, como dizia. Tinha até falta de ar só de pensar.
Pois naquele dia, diante do prato de arroz, batata frita e Bife mal passado ladeado de um lindo ovo frito, tudo decorado com as rodelas de tomate temperadas de sal, ele a convidou para almoçar ali com ele, diante dele, coisa que ela não gostava. Preferia fazer o prato e ir comer diante da televisão ouvindo o Jornal.
Mas naquele dia, ela já achou esquisita a insistência dele, pensou: - La vem coisa!
E obediente serviu seu prato e sentou-se diante dele, do outro lado da mesa e aguardou em silêncio.
- Ó Elumina minha amiga de tantos anos, de tantos carnavais hoje eu vou lhe oferecer uma oportunidade única, talvez isso jamais acontecerá novamente na sua vida e não há como não aceitar, é uma oferta imperdível... Estou neste momento lhe oferecendo (e estendeu-lhe um papel retangular) uma passagem de navio em minha companhia para a Argentina, com tudo pago e com direito a jantar com o Comandante do Navio. Vamos juntos realizar nosso sonho.
- O senhor quer dizer o Seu sonho seu Ilde, porque esse sonho não é meu, eu tenho medo de mar e não vou. Lhe agradeço muito mas nunca irei colocar meus pés numa casa gigante daquela que fica boiando no mar e pode afundar a qualquer momento, até com vento forte. Não vou não senhor, muito obrigada, eu não quero ir.
- Mas é claro que vai! Já comprei as Passagens, dois camarotes, e você vai nem que seja arrastada.
- Não vou não senhor! E porque me oferece um presente caro desses?
- Ora, porque não quero ir sozinho, assim você me faz companhia.
- Mas eu já disse; eu tenho medo de viajar de navio, nunca que vou entrar num negocio desses!!!
- Medo de que mulher?!
- De que o navio afunde...
- Afundar como?
- Afundando, como afundam todos.
Pois prepare as suas malas que iremos semana que vem e você vai comigo, não tem mais conversa, você trabalha para mim!
- Mas a troco de que está me oferecendo um presente tão caro/
- A troco de todo o arroz, das milhares de batata frita, dos bifes mal passado e daqueles ovos que só você sabe fazer sem esquecer das rodelas suculentas de tomate com sal durante estes quase quarenta anos, não chega?
Se o senhor diz...
Quando ia continuar argumentando ele já foi ficando roxo e sem ar e foi caindo, quase morrendo estatelado no chão da sala.

Elumina já acostumada com essas crises, chamou a ambulância que chegou rápido e o levou pra o hospital. Em seguida entrou em casa, colocou os pratos na pia pensando qual a desculpa que daria para não ir nessa viagem de navio sem matar seu Ilde do coração.

Um comentário:

  1. O ser humano com seus métodos e suas excentricidades. Divertido retrato da vida cotidiana, Clotilde! Um grande abraço.

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