sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sombras da noite


                                                             Sombras da noite.
Robertina resolveu fazer a corrida habitual depois das dezessete horas, ao por do sol.
Escolheu para variar, o bosque da cidade. Penetrou por uma picada estreita e embrenhou-se mato adentro, querendo sumir no mundo.
Já estava cheia da rotina da sua vida; trabalhar, trabalhar e trabalhar, sempre servindo a todos o tempo inteiro. Resolveu sair para correr. Só se distraia vendo televisão, aproveitava até enquanto passava a roupa.
Enquanto corria as lágrimas desciam pelo seu rosto marcado pelo tempo. Estava muito triste naquele dia. 
Sua bermuda e suas meias já estavam cobertas de carrapichos, as canelas já estavam marcadas por arranhões e ela não pensava em parar mesmo sentindo o manto da noite cair sobre si. Uma fúria desesperada tomava conta do seu ser. 
Por um momento pensou que se não cruzasse nenhum caminho e nem se desviasse do que ia indo não se perderia e continuou até chegar numa clareira.
Parou resfolegando e abaixou-se com as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego, foi ai que sentiu alguma coisa estranha, um zumbido fino dentro do ouvido, parecia que só ela poderia ouvir aquele som estranho, um segundo depois foi coberta por uma luz intensa e caiu de joelhos de susto e medo.
Não queria abrir os olhos, mas teve que admitir que cedo ou tarde era preciso, então que fosse logo. -Ui, quequéisso? – gritou em desespero. – A luz havia diminuido permanecendo uma claridade lunar, azulada, e uma figura estranha havia parado na sua frente. Vestia-se todo de preto e trazia alguma coisa na mão, não sabia se era uma arma, mas era um aparelho pequeno. Ela então caiu de joelhos e chorou por algum tempo sem que a criatura ao seu lado fizesse alguma coisa, apenas a ouviu chorar abaixada sobre si mesma. Não parou de chorar e soluçar até que num determinado momento ela sentiu o seu braço ser tocado e com delicadeza foi levantada vagarosamente, quase interminavelmente. Ela estava tão aflita que se deixou levar mansamente. -Seja o que deusquiser- resmungou entredentes.
Foi andando em direção ao helicóptero que a havia visto na clareira do meio do bosque e resolveu resgatá-la naquela hora da noite.
O que faz ver filme de ficção demais em?

2 comentários:

  1. Gostei, Clotilde. Achei a princípio tratar-se da morte, ou de algum ente espiritual, vindo buscar a corredora. Às vezes desembesto a fazer algo parecido, porém não correndo - apenas caminhando em ritmo bem acelerado. Me identifiquei com esta situação apresentada pelo texto. Um grande abraço!

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  2. Ficção demais, Clotilde! Surpreendente, quando o texto vai levando o leitor para um lado e dá-lhe uma 'rasteira' no final, evidenciando o apelo irresistível da imaginação. Valeu!
    Abraço grande.

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