quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sem cor e sem perfume

Continho n 6


                                              Sem cor e sem perfume
Construído a partir de três palavras escolhidas aleatoriamente no dicionário.
                                  MACAMBÚZIO - MIXÓRDIA - VALETUDINÁRIO

O homem envelhecido era de compleição miúda e em nada dava idéia do que lhe passava na cabeça de cabelos ralos e avermelhados pela tintura de má qualidade. Talvez ou provavelmente, não passasse nada, apenas vivia. De terno escuro e surrado configurava bem a imagem do papa-defunto. Durante o dia todo passava na pequena sala de cortinas abaixadas onde o cheiro contínuo de flores frescas pairava no ar, porém seu enorme nariz cheio de comedões, mais conhecidos como cravos, não identificava mais qualquer tipo de cheiro, bom ou ruim. Ele próprio exalava um cheiro estranho de flores mortas, como mortas eram as pessoas que ele arrumava e colocava no caixão. Fazia isso desde jovem, porém sem nenhuma emoção. Aliais seu primeiro e único emprego até os dias de hoje, porém tinha muito respeito pelo seu trabalho; Para ele todas as pessoas eram filhos de Deus e mereciam descansar em paz limpos e vestidos com cuidado, apenas isso, nada mais. No final de cada dia saía a passos lentos em direção a banca da esquina para comprar o jornal e em seguida ia caminhando até a casa humilde que retratava bem a pessoa que se tornara. Geralmente MACAMBÚZIO, parava antes no boteco da esquina para comer um sanduíche de mortadela e um copo de café com leite, muito mais leite do que café, como era de gosto. Abriu a porta dos fundos da casa enfiou a mão rastejante pela parede até encontrar o interruptor e acionou a pequena lâmpada que não iluminou mais que o equivalente a uma vela acesa, em seguida entrou no pequeno cômodo mal cheiroso e tão escuro que nem dava para avaliar a MIXÓRDIA que ia lá dentro. Um corredor apertado entre pilhas enormes de jornais permitia que ele atravessasse o ambiente para o próximo cômodo onde uma cama cheia de restos de cobertas sujas o aguardava para o merecido descanso daquele corpo VALETUDINÁRIO, que nada mais fazia do que sobreviver um dia após o outro, sem cor e ser perfume.

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