segunda-feira, 31 de outubro de 2011

31 de outubro

                                                       31 de outubro

Era 31 de outubro e o dia amanheceu chovendo muito. Passei na frente do casarão e um barulho como se fosse de porta batendo, me fez pular e pisar na poça d’água. Meu coração começou a pular enlouquecido querendo sair do peito enquanto uma friagem percorria todas as vértebras da espinha, fazendo-me estremecer. Encolhi-me ainda mais dentro da minha capa de chuva e me abaixei embaixo da sombrinha de flores vermelhas.
Antes de dobrar a esquina ouvi outra vez o barulho da porta batendo ou talvez fosse uma banda da janela... Acelerei o passo até a padaria onde comprei quatro pãezinhos e voltei correndo para casa. Assim que cheguei corri para o telefone e liguei para a Maria Alzira.
-Menina, você nem vai acreditar! O casarão está desmoronando, está caindo, as portas e janelas estão batendo
-E daí.
-E daí que não está ventando!
-A é , mais está chovendo...
-Mas chuva não bate porta, acorda! Malzi, hoje é halloween, todas as almas estão soltas.
- Isso é só uma brincadeira...
- Brincadeira nada! A dona do casarão mora lá com os seus gatos. Não sei como ela não tem medo, ninguém fala com ela.
- Também ela é feia que dói e murcha como uma bruxa. Já ouvi falar que ela tem mais de 300 anos e que um dos gatos foi um grande amor da vida dela que ela transformou em gato.
-Qual deles
-Aquele cinza escuro bem peludo que fica na janela do sótão.
Nesta hora alguém da cozinha chama:
-Violeta, venha comer.
-Já vou mamãe! Malzi eu preciso desligar...
Neste momento, a velha senhora saia do casarão calçando galochas de cano longo, encolhida numa capa escura com capuz que lhe cobria quase todo o rosto sob um grande guarda chuva preto e se dirigiu ao mercado. Comprou uma variedade de doces e duas imensas abóboras redondas. Trazia tantas coisas nos braços que precisou de um taxi para voltar para a casa.
A noite chegou e a chuva não parava, o que incomodava as crianças que queriam ir para a rua brincar de halloween, indo de porta em porta pedir doçuras em troca de travessuras.
Liguei novamente para minha amiga Maria Alzira
-Malzi, como vamos brincar com essa chuva.
-Não sei, já vesti minha fantasia e estou esperando, você já vestiu sua fantasia, ficou legal,
-Já. Ficou bem legal, minha mãe já tirou uma porção de fotos.
-A minha também. Vou esperar só mais um pouco, depois vou até ai e a gente vai de guarda chuva mesmo.
Depois de uns 15 minutos, a chuva deu uma aliviada e as meninas se encontraram perto da esquina com outras crianças do bairro.
Depois de baterem em quase todas as casas da redondeza, ficou faltando o casarão, todos estavam em dúvida se bateriam lá.
-Vamos bater lá, sim.
Todos ficaram em silencio até que Malzi me pegou pela mão e me puxou em direção a misteriosa casa, sendo acompanhadas por todos os outros amigos. La chegando diante da grande porta todos gritaram o mais que podiam “travessuras ou gostosuras”!
Era uma algazarra só.
Para surpresa deles, não demorou muito a porta se abriu e apareceu a velha senhora, que a bem da verdade era muito feia, carregando um gato no colo.
Todos gritaram ao mesmo tempo e ameaçaram sair correndo em disparada quando ela com uma voz meia rouca nos convidou:
-Entrem, não fiquem ai parados na chuva. Eu e o Heitor (assim se chamava o gato) os convidamos para entrar...
-Não, nós só queremos as gostosuras, não queremos entrar.
-Podem entrar, por favor, não faço mal a ninguém, tenho doces e guloseimas para todos.
Por um momento ficamos ali olhando uns para os outros sem saber o que fazer, cheios de curiosidade para saber como era por dentro o velho casarão, até que mesmo tremendo de medo entramos devagar e com os olhos cheios de curiosidade.
La dentro tudo era muito antigo e até meio escuro. Muitas fotos sobre um piano, um armário cheio de louças e bibelôs e muitos quadros pelas paredes alem de moveis escuros e antigos. No meio da outra sala havia uma mesa comprida com as duas aboboras cada uma com uma vela grossa acesa em cima e muitos doces arrumados sobre uma toalha branca.
-Podem comer a vontade e levar o que sobrar...
Daí eu perguntei: a senhora toca piano
-Já toquei minha menina, hoje não toco mais. Já toquei até em teatro...
-Então porque não toca para a gente ouvir;
-Eu! Acho que nem sei mais...
Falou a senhora com olhos tristes.
-Toque para nós vá... Eu gosto de musica e até estou aprendendo violão
-Então está bem, já que estão me pedindo tocarei...
Um tempo depois saímos dali, do velho casarão, felizes e contentes na certeza que aquele foi o melhor halloween que tivemos...


(Os direitos autorais desta história estão registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)



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