segunda-feira, 30 de julho de 2018

Piano, Piano...

                               Piano, Piano...
Acordei cedo e me dei conta da ausência do Otávio.
Talvez pelo silêncio reinante meu sexto sentido deu o alarme de perigo pela frente, aliás os meus sentidos todos estão me alertando aos badalos de uma catedral que o moreno de olhos amarelos está armando mais alguma coisa.
Sem querer entrar em desespero e já entrando, corri para o chuveiro para literalmente esfriar a cabeça. Em seguida, fui para a cozinha preparar um café para acabar de acender os neurônios apagados pelo sono.
Enquanto a cafeteira bufava eu fui dando uma geral na casa, guardando coisas espalhadas pela criatura desorganizada que mora comigo há sete anos.
Naquele momento, me chamou a atenção o enorme número de partituras musicais que apareceram assim do nada; algumas antigas e amarelecidas, que provavelmente foram compradas em sebo literário. Pilhas e pilhas delas, que me fizeram ficar ligada no que deveria estar tramando o desalmado que não conhece nem uma clave de sol e nunca ouviu falar em diapasão.
Encafifada com as possibilidades que poderiam advir desses achados, peguei uma xícara de café, e sentada no sofá, de costas para o sol que atravessava a varanda, comecei a elucubrar enquanto saboreava o pretinho básico indispensável para alinhar os neurônios.
Foi quando me dei conta de verdade, da quantidade de partituras musicais empilhadas em vários lugares da casa. O que será que ele pretendia com aquilo tudo?
Pois foi bem, naquela hora em que pensava distraída e preocupada, a campainha tocou e dei um pulo de susto, quase derrubando a xícara no chão.
Fui atender ligeiro a porta e me deparei com quatro homens fortes como estivadores de porto de navios. Um deles levava numa das mãos algumas notas ficais de várias cores.
Junto deles alguns curiosos, moradores do prédio, que me fizeram logo pensar; - ai vem coisa do Sr. Otávio. -
Respirei fundo e perguntei do que se tratava. O das notas fiscais me respondeu perguntando onde eles deveriam colocar o Piano de Cauda que era para ser entregue naquele endereço?
Só não caí para trás para não perder tempo em resolver o pepino da hora, que no caso, era um piano de cauda.
Respirei fundo, peguei "namãodedeus", e fui:
- Meu caro e distinto senhor, como pode ver daqui da porta, mesmo que eu quisesse muito um piano de cauda eu não teria lugar na minha "humilde residência" de pouco mais de 50m², não teria onde colocar esse "elefante branco" e nem que fosse preto ou listradinho. Imagino que a criatura peluda que o comprou tomou chá de borboleta antes de sair de casa. Então lhe agradeço a gentileza de o levar de volta, peço desculpas pelo contratempo, mas vou declinar desse "mimo" e passe muito bem.
Delicadamente fui fechando a porta devagar enquanto os ouvia discutir a possibilidade de entregá-lo pela varanda com a ajuda de um guindaste.
Voltei para o sofá, tomei um gole de café morno e fiquei aguardando pacientemente a criatura de olhos amarelos chegar para termos uma conversa "pianinho, pianinho"...



3 comentários:

  1. Mas esse Otávio é um doidivanas, um estouvado, um legítimo levado da breca! Abraços, Clotilde.

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  2. Sou fã incondicional ,do Senhor Otávio,maravilhoso escrever sobre ele !viajo nos seus contos. Obrigada. ������������������������������������������✒✒��������

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