Reunião de Condomínio
Há duas noites passadas dessa semana houve reunião de
condomínio e como estava indisposta, resolvi não ir e até passaria uma
procuração para a minha vizinha de andar responder por mim caso assim fosse
necessário, confiando nos deuses por que a velhinha já caminha para o Alzheimer
à passos largos e sei lá o que poderia resolver em meu nome, mas como não me
sentia em condições de ir pensei nela que jamais falta a uma reunião.
Mas quando me conduzia à porta dela, Otávio se interpôs
me dizendo que iria no meu lugar. Dai entrei em conflito, pois não sabia qual
seria o meu pior representante, mas por conta do adiantado da hora da reunião
resolvi dar a vez para o Otávio com a promessa de me relatar cada item da
discussão com suas reações e atitudes dos condôminos.
Otávio saiu para a reunião que em segunda chamada se iniciaria
impreterivelmente as 20h, dez minutos antes e retornou quinze para a meia noite
febril, com os olhos arregalados e mais amarelos que nunca, desgrenhado e
gaguejando, me garantindo que nunca mais faria parte de tal evento.
Depois de um chá forte de erva doce e Capim Cidreira,
enrolado no cobertor de estampas de asas delta e gorro de aviador ele me
relatou o que aconteceu na reunião:
- Olha só, quando cheguei tinha duas ou três pessoas
atentas em olhar o celular que nem me viram entrar e nem responderam o meu boa
noite. Os que presidiriam a sessão ordinária, e a palavra deve ser bem
adequada, arrumavam o projetor de imagem e demais badulaques sobre a mesa de
plástico coberta com toalha de renda, puro mau gosto, diga-se de passagem,
também me ignoraram solenemente. Quando faltavam dois minutos chegou uma
avalanche de "cinco mil pessoas" que foram se colocando nas cadeiras
e fazendo o maior barulhão, já que cadeiras plásticas são para beira de piscina
ou para serem usadas em lugares fechados por pessoas educadas. A turba também
chegou ignorando uns aos outros, nem dando "boa noite cachorro!". Em
seguida foi aberta a sessão com resmungos da maioria, ninguém prestava atenção,
todos falavam juntos e sempre reclamando que nunca eram atendidos em suas reivindicações
e que só sabiam cobrar cada vez mais; essa frase foi repetida por todos e
aplaudida por unanimidade. Duas senhoras muito falantes, com voz de professora
de crianças, falavam três tons acima do necessário aturdindo e estremecendo as
minhas orelhas, outras duas trouxeram tricô para não haver desperdício de tempo,
imagino que vivam desse trabalho.
Lá pelas tantas, os ânimos foram ficando acirrados e um
condômino chamou um outro de ladrão e as mulheres começaram a discutir e até se
atracaram aos gritos rolando pelo chão. A Senhora do Tricô ameaçava furar o
olho da que brigava com a amiga dela, na verdade eram amigas de porta. A
"homarada" não dava conta de soltar as duas e retirar a do tricô de
cima também e a polícia foi chamada. Fomos todos parar na delegacia e a do olho
furado para o hospital. Realmente não entendi para que fazem reunião de
condomínio. Ninguém se conhece e nem querem se conhecer e os que se conhecem
não se toleram. Ninguém chega nunca à um consenso!?
Eu em?...
Fomos dormir que era o melhor a fazer...
Otávio para síndico! Se eu não puder comparecer, mandarei a procuração...
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