quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Ressaca


                                                                       Ressaca
Agora que já entramos no terceiro dia do ano vou contar como foi o Réveillon aqui em casa já que aguardava o desenrolar dos acontecimentos.
Logo pela manhã do dia 31 Otávio saiu cedo carregando uma enorme sacola.
Todo esbaforido me disse que naquele dia trabalharia mais que em todos os outros 364 que haviam se passado em 2017, agora no passado. Acreditei, claro! SQN.
Enquanto eu arrumava as minhas coisas e pregava as últimas lantejoulas do meu vestido branco e do adereço de cabelo, as horas se passaram e ao escurecer me dei conta de que Otávio, o meu companheiro de moradia, não havia voltado até aquela hora e eu até me preocupei por uns instantes, porém como ele era sempre auto-suficiente em absolutamente tudo, e não permitia interferência no que faz ou decide fazer então achei por bem não me preocupar até por absoluta falta de tempo, pois eu havia combinado de me encontrar na praia com algumas pessoas e estava em cima da hora.
Passado um tempo eu já havia me esquecido de tudo mais que não fosse a festa de despedida  de mais um ano, finalmente entrou o Ano Novo com a barulheira de sempre, os fogos explodindo ao som de uma música que mal se ouvia no meio do foguetório, não sei porque a colocam, brindes abraços e promessas que serão esquecidas dez minutos depois, isso sendo generosa e venenosa, vem depois o ritual de molhar os pés no mar e volta para a areia para  que fiquem parecendo à milanesa e que depois só vai sair tudo mesmo debaixo do chuveiro. Essa parte me incomoda um pouco.
Canta-se  a velha música ♫♪'adeus ano velho, feliz ano novo"...♪♪♪♫♫♪ e todos são felizes, pelo menos naqueles momentos...
Quando acordei no primeiro dia do ano o sol já ia alto. Vesti minha roupa de banho e voltei para a praia com toda animação que o dia pedia. Senti falta do Otávio; nem tive oportunidade de abraçá-lo pela passagem do ano, mas tudo bem, ele era bem "velhinho" para se cuidar, e com certeza, encontrou uma namorada gatíssima bem ao gosto dele e ficou por ai.
O primeiro dia terminou com muita gente na praia se despedindo do sol que havia sido bem generoso.
Amanheceu o segundo dia e enquanto me preparava para trabalhar ouvi a chave virar na porta e fui ver; imagine se não era a pessoa?!
Pois é, nem eu acreditava no que via; diante de mim estava uma criatura esgadelhada, com cheiro indecifrável, com restos de confete grudados por toda parte, vestindo uma roupa que já foi branca, totalmente encardida de areia e manchada de várias cores e substâncias que nem era bom investigar, calçando um pé de "havaiana" de marca desconhecida e que com certeza não saiu aqui de casa, barbado, com olheiras abaixo do queixo, que entrou carregando uma mochila velha que com certeza, também não saiu aqui de casa, que se arrastou até o sofá desmaiando literalmente.
- Mas o que significa isso, Otávio dedeus?!
Perguntei aos gritos o que o fez cobrir as orelhas escondendo os ouvidos enquanto me mandava falar baixo.
- Como é que você sai daqui dia 31 e só volta hoje desse jeito? Por onde andou até agora?
Eu não conseguia parar de fazer perguntas diante daquele trapo de pessoa...
Foi ai que com muito sacrifício, sentou-se e começou a falar lentamente com a voz ainda arrastada:
- Eu quis fazer tudo o que ensinam para fazer na virada do ano, para dar sorte, trazer prosperidade, o amor, a saúde, a alegria, enfim, dai que me vesti de camiseta branca com a palavra PAZ em brilhos de ouro para atrair riqueza, bermuda branca,  cueca vermelha, com detalhes amarelo e azul, e chinelo prateado. Até ai tudo bem, mais começou a parte  das coisas de comer: comi um detestável prato de lentilha, 7 sementes de romã, 7 bagos de uvas verdes enquanto dava 7 pulos pra trás para abandonar as energias ruins e depois 7 pra frente para me envolver nas boas, comi carne de porco que fuça para frente, seja lá o que isso queira dizer, com farofa de dendê que me deu uma dor de barriga louca. Comi bacalhau por  que me garantiram ser muito bom para atrair dinheiro, já que é peixe e o "Cem Real" é um peixe, acho que é uma Garoupa, mas isso não importa agora. Também guardei três folhas de louro na carteira que perdi em algum lugar, quando consegui me levantar depois de comer tudo aquilo com champanhe, cidra e guaraná Jesus, para garantir um bom emprego bem remunerado, eu fui pular as sete ondas, foi quando Iemanjá "arrenegou-se" com alguém ou com aquilo tudo e me jogou um daqueles barcos cheios de presentes nas ventas o que me fez cair no mar e quase me afogar. Custei a ser atendido naquele alvoroço, pois achavam que eu estava "recebendo" alguma entidade e eu me batendo entres as marolas e bebendo litros de água, quase me afogando literalmente. Com a cara ensanguentada me levantei dali tonto de tudo e fui para a areia. Algum abençoado que me viu sangrando, me levou ao posto de atendimento e  só acordei agora de manhã...

Feliz Ano Novo!
Foi só o que pude falar enquanto ele se dirigia para o chuveiro...



4 comentários:

  1. Olá, Clotilde! Tinha feito um comentário a respeito deste texto, há alguns dias, mas ele sumiu! O que pode ter acontecido? Abraços e feliz 2018!

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    1. Não faço a mínima idéia Marcelo, não fui eu que apaguei e nem exclui. Fico muito feliz com seus comentários que para mim tem valor inestimável, já lhe falei isso. Espero continuar contando com eles. Abrçs.♥♥

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