Ressaca
Agora que já entramos no terceiro dia do ano vou contar como
foi o Réveillon aqui em casa já que aguardava o desenrolar dos acontecimentos.
Logo pela manhã do dia 31 Otávio saiu cedo carregando uma
enorme sacola.
Todo esbaforido me disse que naquele dia trabalharia mais
que em todos os outros 364 que haviam se passado em 2017, agora no passado.
Acreditei, claro! SQN.
Enquanto eu arrumava as minhas coisas e pregava as últimas
lantejoulas do meu vestido branco e do adereço de cabelo, as horas se passaram
e ao escurecer me dei conta de que Otávio, o meu companheiro de moradia, não
havia voltado até aquela hora e eu até me preocupei por uns instantes, porém
como ele era sempre auto-suficiente em absolutamente tudo, e não permitia
interferência no que faz ou decide fazer então achei por bem não me preocupar até
por absoluta falta de tempo, pois eu havia combinado de me encontrar na praia com
algumas pessoas e estava em cima da hora.
Passado um tempo eu já havia me esquecido de tudo mais que não
fosse a festa de despedida de mais um
ano, finalmente entrou o Ano Novo com a barulheira de sempre, os fogos explodindo ao
som de uma música que mal se ouvia no meio do foguetório, não sei porque a
colocam, brindes abraços e promessas que serão esquecidas dez minutos depois, isso sendo generosa e venenosa, vem depois o ritual de molhar os pés no mar e volta para a
areia para que fiquem parecendo à milanesa
e que depois só vai sair tudo mesmo debaixo do chuveiro. Essa parte me incomoda
um pouco.
Canta-se a velha
música ♥♫♪'adeus ano velho,
feliz ano novo"...♪♪♪♫♫♪ e todos são felizes, pelo menos naqueles
momentos...
Quando acordei no primeiro dia do ano o sol já ia alto.
Vesti minha roupa de banho e voltei para a praia com toda animação que o dia
pedia. Senti falta do Otávio; nem tive oportunidade de abraçá-lo pela passagem
do ano, mas tudo bem, ele era bem "velhinho" para se cuidar, e com
certeza, encontrou uma namorada gatíssima bem ao gosto dele e ficou por ai.
O primeiro dia terminou com muita gente na praia se
despedindo do sol que havia sido bem generoso.
Amanheceu o segundo dia e enquanto me preparava para
trabalhar ouvi a chave virar na porta e fui ver; imagine se não era a pessoa?!
Pois é, nem eu acreditava no que via; diante de mim estava
uma criatura esgadelhada, com cheiro indecifrável, com restos de confete
grudados por toda parte, vestindo uma roupa que já foi branca, totalmente
encardida de areia e manchada de várias cores e substâncias que nem era bom
investigar, calçando um pé de "havaiana" de marca desconhecida e que
com certeza não saiu aqui de casa, barbado, com olheiras abaixo do queixo, que
entrou carregando uma mochila velha que com certeza, também não saiu aqui de casa, que se
arrastou até o sofá desmaiando literalmente.
- Mas o que significa isso, Otávio dedeus?!
Perguntei aos gritos o que o fez cobrir as orelhas
escondendo os ouvidos enquanto me mandava falar baixo.
- Como é que você sai daqui dia 31 e só volta hoje desse
jeito? Por onde andou até agora?
Eu não conseguia parar de fazer perguntas diante daquele
trapo de pessoa...
Foi ai que com muito sacrifício, sentou-se e começou a falar
lentamente com a voz ainda arrastada:
- Eu quis fazer tudo o que ensinam para fazer na virada do
ano, para dar sorte, trazer prosperidade, o amor, a saúde, a alegria, enfim,
dai que me vesti de camiseta branca com a palavra PAZ em brilhos de ouro para
atrair riqueza, bermuda branca, cueca
vermelha, com detalhes amarelo e azul, e chinelo prateado. Até ai tudo bem,
mais começou a parte das coisas de
comer: comi um detestável prato de lentilha, 7 sementes de romã, 7 bagos de
uvas verdes enquanto dava 7 pulos pra trás para abandonar as energias ruins e depois 7 pra frente para me envolver nas boas, comi carne de
porco que fuça para frente, seja lá o que isso queira dizer, com farofa de
dendê que me deu uma dor de barriga louca. Comi bacalhau por que me garantiram ser muito bom para atrair
dinheiro, já que é peixe e o "Cem Real" é um peixe, acho que é uma
Garoupa, mas isso não importa agora. Também guardei três folhas de louro na carteira
que perdi em algum lugar, quando consegui me levantar depois de comer tudo
aquilo com champanhe, cidra e guaraná Jesus, para garantir um bom emprego bem
remunerado, eu fui pular as sete ondas, foi quando Iemanjá "arrenegou-se" com
alguém ou com aquilo tudo e me jogou um daqueles barcos cheios de presentes nas
ventas o que me fez cair no mar e quase me afogar. Custei a ser atendido
naquele alvoroço, pois achavam que eu estava "recebendo" alguma
entidade e eu me batendo entres as marolas e bebendo litros de água, quase me
afogando literalmente. Com a cara ensanguentada me levantei dali tonto de tudo e fui para a
areia. Algum abençoado que me viu sangrando, me levou ao posto de atendimento e
só acordei agora de manhã...
Feliz Ano Novo!
Foi só o que pude falar enquanto ele se dirigia para o
chuveiro...
Olá, Clotilde! Tinha feito um comentário a respeito deste texto, há alguns dias, mas ele sumiu! O que pode ter acontecido? Abraços e feliz 2018!
ResponderExcluirNão faço a mínima idéia Marcelo, não fui eu que apaguei e nem exclui. Fico muito feliz com seus comentários que para mim tem valor inestimável, já lhe falei isso. Espero continuar contando com eles. Abrçs.♥♥
ExcluirAcho que foi o Otávio que sumiu com ele...
ResponderExcluirProvavelmente, ele é ciumento que só... hahaha♥♥
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