Renas para que te quero?
O dia já me pareceu misterioso quando acordei hoje muito
cedo. O ar parecia mais pesado e se o meu 17º sentido não me falhava, senti que
Otávio aprontava alguma arte como de costume.
Ainda deitada, porém acordada, agucei os meus ouvidos e só
sentia o pesado silêncio.
Achei melhor levantar e ver o que estava acontecendo, foi
quando andando pela casa e olhando por todos os lados e cantos não encontrei o
Otávio o que me causou pânico imediato.
-Onde andaria aquele levado logo cedo?-
Ao mesmo tempo sentia um certo alívio pela calma que reinava. Quando ele saia à
passeio e caminhadas, por alguns momentos fico na paz.
Enquanto organizava meu café, sem tapioca com qualquer
recheio, saboreava o perfume de café fresco que invadia a maior parte do apartamento.
Quando me servia da segunda xícara de café ouço a porta se
abrir com quase um estrondo o que me levou a me levantar correndo em
direção à sala. E lá no meio dela estava ele, Otávio, todo esbaforido carregando
uma enorme caixa com a ajuda do zelador, que saiu em seguida.
Já prenunciando encrenca pela frente nem quis olhar, voltei
para a cozinha e continuei tomando o meu café, me preparando para o que haveria
de vir, foi quando ouvi seus gritos vindo da sala;
-vem ver o que eu trouxe! -
Levantei-me respirando fundo e de olhos semi fechados, não
querendo ver nada que viesse das mãos do Otávio, pois era correr risco sempre, parei ao seu lado que observava o interior da caixa que pousava no chão.
Parada diante dos dois, Otávio e a caixa, não acreditava no
que via. Desesperada perguntei o que era aquilo, o que significava aquilo?
- Deixa de ser tola mulher; não estás vendo que é um casal
de renas?
Só não desmaiei por absoluta falta de espaço na sala, desesperada eu lhe perguntei;
- Mas o que significa isso?
- Olha só o que descobri, ou melhor, me dei conta ontem à
noite. Eu descobri um nicho de mercado impensado até hoje...
- imagino...
- Eu vou criar renas para vender no Natal, ano que vem já
teremos algumas para vender, já viu Natal sem Papai Noel? E Papai Noel sem
renas? Impensável; e onde se compra renas para o Natal, assim como se compra o peru,
o Tender, os cabritos e tudo o que o povo gosta de comer ou usar no Natal?
- Ficou louco? Onde vamos criar renas aqui em casa, nesse
apartamento minúsculo?
- Não te estressa, já pensei em tudo.
- Tudo o quê, por exemplo?! Você não se deu conta que elas
são de regiões frias, da Lapônia?
- E daí? Está tudo resolvido, já aluguei um caminhão
frigorífico que vai abrigá-las quando fizer muito calor...
- E o que vão comer, pensou nisso?
- Claro que pensei! Elas comem líquen de pinheiro e já fechei negócio
com uma empresa do Paraná que planta pinheiros e Araucárias e vai me enviar. Elas até terão
opções...
- E Onde vamos colocar as renas? Vamos não, onde o senhor
vai colocá-las?
- Por hoje na varanda, talvez até o dia de Natal, depois eu
vejo, um dia no jardim do condomínio, outro dia levo para pastar lá naquele
pasto no final da rua, sei lá; depois eu vejo, cada dia o seu problema e a sua
solução, não é um animal lindo?
Alguém aí quer um casal de renas?
Esse Otávio fanfarrão faz tudo fácil... de qualquer forma, boa sorte a ele e ao seu espírito empreendedor! Feliz Natal, Clotilde.
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