Deusalina era dessas mulheres românticas ao extremo, talvez
por isso não havia encontrado a sua “tampa do balaio”, a sua “metade da laranja”
ou do limão, ou da jaca ou lá que nome se dê a um relacionamento mágico de
contos de fadas onde um pisca e o outro “sente” os olhos arderem... tipo assim,
entende?
Daí que ao longo dos anos entre sonetos e músicas românticas
ela foi bordando um amor que só existia dentro da cabeça dela. Tão grande que
parecia mais uma auto paixão, já que ela se modelou de uma maneira que se
achava a mais romântica das criaturas e ninguém mais como ela havia no planeta
azul para se igualar, mesmo assim viva em busca de alguém digno de seu amor.
E assim vivia entre
suspiros e lágrimas, totalmente voltada para o objetivo de encontrar o seu
amado amor.
Durante muito tempo procurou na multidão e nos anúncios de
namoros que saiam nas revistas tentou muitos, entrava em contato mas tudo em vão.
Passou
tantos anos nessa função que estava mais para uma mulher “madura” do que para uma inocente
jovem romântica.
Atravessou o país
algumas vezes para conhecer seu “príncipe”, porém era só decepção, eram todos
uma enganação ao vivo e a cores conforme costumava dizer para as amigas. E quando achava que havia encontrado algum depois de algumas horas de avaliação,
Deusalina pegava a sua mala e voltava cabisbaixa para o seu canto e desencanto. Depois passava meses entre lágrimas d e tristeza e desolação até o próximo que encontrava.
Até que um dia, nossa amiga romântica, durante um voo de
visita aos Lençóis Maranhenses
aproveitando um período merecido de férias, conheceu o que ela passou a chamar
de “amordaminhavida”. Quanto mais se conheciam mais crescia aquele amor
perfeito.
El Cid, escrito assim
mesmo, era seu nome de batismo. Homem
discreto, respeitador, cavaleiro, também romântico e perfeito.
Maduro
e bem humorado. Um príncipe. Na verdade, um achado.
Passaram as férias se conhecendo e loucamente se apaixonaram
um pelo outro, afinal eram espelhos e como Narcisos deram-se as mãos e correram
em busca da Felicidade sem mais delongas. Depois de um mês de férias juntos voltaram a
vida real e aos seu trabalhos, mas o jantar era sempre juntos em seu
apartamento ou algum bom restaurante para brindarem mais um dia de Felicidade
juntos.
Os dois totalmente enamorados, diante
de velas e vinho ao som das grandes orquestras famosas em todas as épocas.
Musica de baile. Dançavam e se amavam mergulhados um nos olhos do outro.
Mas é preciso que se diga que desde o primeiro dia, no avião
ainda, El Cid tirou do bolso uma pequena barra de chocolate Diamante Negro e
estendeu a ela que maravilhada ficou com aquele singelo mimo entre os dedos
respirando fundo com os olhos marejados. E a partir dali aquele se tornou
um signo para o amor dos dois. A “barrinha”
de chocolate. Guardava com carinho todas as embalagens dentro de um livro de
poesias.
Ao retirar o papel percebeu que haviam cinco quadros de
chocolate. Ela a partiu então em duas
partes entregando dois quadrinhos para ele e ficando com três quadrinhos.
E pelos dias que se seguiram ele sempre entregava uma “barrinha”
de chocolate depois do jantar que ela partia
em dois, ficava com três quadradinhos entregando a ele os outros dois .
Depois de alguns meses daquele ritual, certo dia jantando
num restaurante elegante, ele estendeu a “barrinha” de chocolate Diamante Negro
sobre a mesa mas não entregou a ela, deixou na lateral entre eles. Jantaram
conversaram e até dançaram e quando voltaram a mesa e tomaram o ultimo gole do
vinho ela estendeu a mão para pegar o chocolate para dividir com ele, como
sempre fazia, mas ele o alcançou antes dela não a permitindo fazer o de sempre.
Calmamente ele retirou a embalagem olhando bem dentro dos
seus olhos e entregou a ela dois quadradinhos do chocolate, colocando na boa os
seus dois ficando com o último na mão.
Quem a olhasse naquele momento viria nitidamente a decepção
dela.
“Então ele não é perfeito como eu pensava, fui enganada, oh
céus que decepção!!!!”
Ele se manteve sério só observando aquela mulher que estava
diante de si com os olhos marejados e que até ali havia vivido um grande e
perfeito amor...
Daí ele tomou da faca e dividiu o quadradinho em dois triângulos
e ofereceu um a ela que raivosa se levantou e foi embora deixando-o ali
perplexo.
Logo depois ela escrevia para a amiga no WZ.
“Querida amiga, por conta dessas feministas desalmadas de hoje em dia não
se encontra mais homens perfeitos. Não abrem mão de nada por nós, agora é só
igualdade, igualdade, igualdade...”
Encontros e desencontros, fantasiosas expectativas e desastrosas realidades... Pensando bem, acho que a culpa é das feministas mesmo, Clotilde! Abraços.
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