Um amor
salvo da sarjeta
A luz da lua
criava sombras na parede da alcova fazendo parecer ainda maior a corcova do
homem que passeava pelo aposento.
Em sua
cabeça de parcos cabelos e muita fantasia pairava um pensamento renitente e
quase estridente beirando revelar o seu segredo tão antigo quanto à velha casa
cinzenta que o abrigava há longos anos.
Era mais que
uma paixão, era um fetiche guardado a sete chaves.
E foi
pensando nele que abriu a duas portas do armário e mais a tampa da caixa de
metal que ficava na parte interna do assoalho do referido móvel e retirou com
cuidado o seu tesouro e o colocou sobre a cama em desalinho afastando para cima
do travesseiro de cor indefinida as cobertas desbotadas e amarfanhadas para
melhor apreciá-lo.
Era
magnífico! Da cor vermelha e salto agulha de nove centímetros...
Era um Louboutain
autêntico.
Passou horas
naquela posição de admiração e lentamente foi se delineando em sua mente
entorpecida de paixão uma doce declaração de amor pelo seu precioso objeto
encontrado por acaso escorrendo pela sarjeta inundada e imunda no ultimo
temporal que caiu na cidade.
Meu amor mais lindo da cor da paixão
e a elegância de um cisne.
Que exerce sobre mim a atração
irresistível de um ímã.
De emoção me quebra em partes e me
faz derreter inteiro.
Salvo da lama, do abandono e da sarjeta.
O que mais me intriga e me faz
perguntar; Onde está seu par?
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