domingo, 8 de junho de 2014

Carta de Amor aos meus Pés.

                                                Carta de amor aos meus pés.
Imitando a Nívea que escreveu uma carta para as axilas, resolvi escrever uma carta para os meus queridos e amados pés. Essa dupla dinâmica que me carrega há quase 70 anos.
Anos estes inesquecíveis desde a mais tenra infância quando me negava a calçar qualquer coisa nos pés a contra gosto do meu pai que não suportava ver mulher descalça (Freud explica).
Eu gostava de sentir o macio da grama, a aspereza do chão batido, os grãos úmidos da areia da praia o frescor das águas e a madeira do assoalho...
Lembro-me bem, voltando da escola nos finais de tarde de verão, quando as chuvas repentinas de tardes quentes inundavam as ruas e os meio-fios viravam cachoeiras marrons. Eu vinha debaixo de chuva, encharcada até os ossos, caminhando vagarosamente pela enxurrada fria e deliciosa no maior deleite, que só quem fez isso na infância sabe o sabor que tinha.
Arranquei muitas tampas dos dedões e dedinhos, pedaços de unhas além dos muitos espinhos e cacos de vidros que foram extirpados com agulhas queimadas e desinfetadas com álcool, além de um inesquecível bicho de pé.
Muitos torções e inchaços nos tornozelos e até algumas leves luxações devem estar registrados na caixa preta da minha vida.
Calcanhares de índio, unhas espedaçadas e joelhos ralados, fizeram parte da infância inquieta de quem pulava muro e subia em árvore como menino, mas isso foi até entrar na escola.
Mas meus pés queriam mais, queriam andar muito, conhecer o mundo, observar por onde pisavam.
Também adquiriram muitos calos em épocas de crescimento quando os pés cresciam mais rápido do que o dinheiro em casa e os dedos eram obrigados a se encolherem até mais não poder enquanto aguardavam a compra de outro par de calçado.
Lembro das inúmeras bolhas ardidas e inesquecíveis cobertas com ban-daid que não grudavam e formavam uma maçaroca que fazia doer mais ainda a ferida sem pele.
Também me lembro de calçar as meias de seda insuportáveis, na minha juventude.
Meus pés felizes relembram que já foram assistir no Teatro, a Bibi Ferreira, Juca de Oliveira, Fernanda Montenegro, Toquinho, além de peças como O Fantasma da Ópera e Cabaré e outros mais que não me lembro. Já se enterneceram ao ouvir musica das boas, como Sinfônicas e Orquestras, além de Cantorias diversas entre amigos. Muito bom, momentos felizes e inesquecíveis que fizeram bem à alma.
Daí continuaram os meus amados pés caminhando pela vida, eles já entraram e saíram felizes de quatro maternidades carregando mais um doce e pequeno fardo enrolado em mantas fofas.
Com o passar dos anos os passos foram ficando mais pesados e os pés foram ficando doloridos quando passaram a acompanhar queridos nos hospitais e aos cemitérios e já são muitos até aqui.
já conheceram a Reflexologia com uma Chinesa de verdade e duas botas de gesso por conta de uma fratura na lateral do pé esquerdo na base do calcanhar e mais uma fratura de canela, seis anos depois, que só não passei por cirurgia por insistência minha em me curar sem precisar. e por enquanto vou indo...
Os meus pés amados adoram viajar para qualquer lugar, ficam felizes ao subir num avião, ônibus,  carro e trem. Viagens de barcos ou navios não os atraem não.
Eles até já caminharam sobre linha imaginária do Equador em Macapá; não é genial fazer isso? Eles acham e eu também achei.
Também já foram à Belém do Pará duas vezes, à Manaus duas vezes, a Recife e Fortaleza. Já São Paulo e interior conheceram muitas cidades e algumas de Minas Gerais e Paraná, como por exemplo, a sua mais famosa; a Foz do Iguaçu.
Já que fomos até ai, também me lembro que meus amados pés já foram mais de vinte vezes ao Paraguai nos áureos tempos. Também já conheceram a Flórida e por lá passearam bastante e viram além de Miami, a Disney maravilhosa em Orlando.
E de passeio em passeio meus pezinhos abençoados quase foram totalmente detonados de tanto andar e ver as maravilhas inesquecíveis de Berlin.
Mas uma emoção inesquecível e que os acenderam para um futuro passeio foi ver a Torre Eiffel de cima, de dentro do avião à noite, quando sobrevoava Paris. Emocionante!!!
Enquanto isso, vou colocar meus pés queridos de molho que ninguém é de ferro, afinal há muito o que trilhar por essa vida ainda.

Este post sofreu uma atualização discreta de datas e outros pequenos detalhes, entre outros, o de  que hoje me recupero de uma fratura da Fíbula esquerda, logo acima do tornozelo me recuperando para próximas excursões e passeios, com certeza.

2 comentários:

  1. Amiga, seus contos.me encantam .logico que com eles ,pego uma carona e faço todo o seu trajeto....so assim saio do Brasil,com exceção a Portugal,nao conheço mais nada . Acompanhei vc nas suas molecagens ,o que é dificio pra minha imaginaçao ,tenho voce,como uma menina,muito quietinha,..Seus pés, com certeza,sao pés felizes ! Bom que eles conheceram a reflexologia,e se possível,dee a eles este prazer .Teria grande prazer em oferta-los ,se perto de voce eu morasse .obrigada,por mais este presente e,se possível,tenha mais sessões.Meu carinhoso abraço a voce minha inesquecível amiga ,aquém gosto muito e respeito.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, um verdadeiro manifesto de amor e gratidão aos pés! Muito bom, Clotilde.

    ResponderExcluir