sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Deu Bode

Deu Bode

Depois do almoço costumo dormir uns “15 minutos”, o chamado sono da beleza, que apesar dos minutos se multiplicarem exponencialmente pelo tédio que o isolamento social nos leva, a beleza até hoje não compareceu. Acho até que fui “enganada” pela bela e elegante vendedora, que fez a demonstração do maravilhoso travesseiro de tecido impermeável, à minha porta.

Sim, já comprei um travesseiro (tenho mania com eles) na minha porta.

Daí que por este momento de incertezas, resolvemos, Otávio e eu, ficarmos em casa e passar o Aniversário de Jesus por aqui mesmo e festejar de modo virtual como a moda pede, e mesmo desanimada decorei a nossa velha árvore, já meio descadeirada e desbotada, que estava guardada no “sótão”.

Distribuí bolas e fitas desfalecidas e arrisquei um pouco de “neve” de algodão hidrófilo, como convém num país tropical abençoado por Deus. Escolhi o canto da sala, perto da janela, para ser vista de fora para dentro como os antigos cartões de Boas Festas ilustravam.

Feito isso, como dizia, fui tirar a soneca da beleza que eu chamo de sono das rugas.

... Então é Natal... ♪♪♫♫

Antes do sono se abater sobre a minha pessoa me dei conta de que eu estava sozinha há horas... Mas o sono foi mais forte que a preocupação, e “Morfeu” ganhou a parada.

Quando acordei uma música cheia de sinos badalando, me fez pensar que já estavam anunciando a Missa do Galo, sem falar no forte cheiro de assados e comida que vinha da cozinha. Mas não podia ser da minha!!!

Pulei do sofá e fui passar um café para acordar para a segunda etapa do dia quando me deparei com algo estranho na sala;

- Otááávioooo!!! O que significa isso?

- Temos um convidado, não está vendo? Fica fria...

- Eu estou gelada e com uma foice na mão!

- Este é o Oswaldo, com “w” ele faz questão.

- Pois ele pode ser Oswaldo com todas as letras do alfabeto, mas ele não é bem vindo aqui nesta casa nem na noite de Natal e nem qualquer outro dia!!!

- Calma mulher; eu o encontrei lá embaixo, triste, sozinho, e o convidei para a ceia.

- Ceia? Que ceia “carapálida”? Vamos comer myojjo com passas e ir para a “manjedoura” cedo, antes que o galo cante à meia noite.

- Mas ele foi abandonado, foi enviado de presente, de muito longe, para fazer parte de alguma ceia, mas desistiram. Durante o isolamento social as pessoas mudaram os hábitos e muitos viraram vegetarianos, veganos etc.

Neste momento ouvimos um barulho vindo da sala e deparamos com o Oswaldo, com “W” comendo a árvore de Natal...

 ♪♪♪♫♫ Então é Natal...♪♪♫♫

Quem quer um bode chamado Oswaldo com “w” aí?

 

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020



                                   Apenas uma Fábula

A floresta acordou assustada com os urros do Leão que há dias não saia da caverna onde morava. Urrava dolorosamente. Ninguém tinha coragem de ir lá dentro ver o que acontecia com medo de ser atacado e até comido.Foi quando o Cachorro do Mato, primo do lobo, resolveu entrar na caverna e ver o que acontecia e deparou-se com o Leão deitado com a pata para cima uivando de dor.

- O que aconteceu para você estar urrando desse jeito?

Perguntou o destemido Cachorro do Mato, sabendo que arriscava a sua vida, enquanto se escondia num vão da pedra de maneira que pudesse escapar se precisasse.

- Estou com um espinho enorme encravado na minha pata e não consigo alcançar para retirar e daí não consigo andar, sair para comer e tomar água, eu vou morrer aqui à míngua...

Falou o Leão entre soluços.

- Bem, talvez eu também não consiga fazer isso sozinho, mas posso chamar alguém para ajudar...

O urro que ele deu como resposta foi tenebroso que o Cachorro do Mato resolveu não arriscar mais e saiu correndo. Se ele não queria ajuda, então que ficasse sozinho; foi o que pensou enquanto corria para longe dali.

E assim mais alguns dias se passaram e os urros continuaram a ressoar pela floresta, até que o Cachorro do Mato resolveu reunir um pessoal para encontrarem uma solução para aquele preocupante problema.

Enquanto falavam e trocavam ideias, perceberam que tudo ficou silencioso. De repente a mata ficou parada. Ninguém se mexia, na expectativa de entender o que aconteceu e o pensamento foi unânime; o Leão deve, finalmente, ter morrido. Agora era saber quem teria a coragem de entrar na caverna para constatar a morte da fera.

Assim, devagar, passo a passo, todos foram entrando, ainda sorrateiros, se escondendo nos vãos da caverna na expectativa de que o Leão estivesse fingindo para poder comer quem resolvesse entrar.

Mas a surpresa foi encontra-lo desacordado, desmaiado de dor, fraqueza e sede parecendo morto. A pata inchada, com o enorme espinho cravado descansava ao lado do corpo.

Todos respiraram aliviados daqueles urros que ressoavam pela floresta dia e noite e foram embora para longe dali, mas o Cachorro do Mato chamou a Garça que também ia saindo e pediu a ela que o ajudasse a retirar o espinho da pata machucada aproveitando que o Leão estava dormindo. 

Então, ela com o seu bico pontiagudo como uma pinça retirou delicadamente o espinho causando alivio imediato, fazendo com que o Leão dormisse ainda mais profundamente aliviado.

Os dois amigos voltaram para a floresta onde encontraram os amigos que os recriminaram por ajudar aquela fera arrogante, no que o Cachorro do Mato respondeu pelos dois que fizeram o que acharam certo fazer, que era aliviar a dor alheia e ajudar no que for preciso.

- Mas ao acordar, o Leão vai urrar mais alto ainda e você será morto por ele na primeira oportunidade.

Falou a Hiena desesperada com a possibilidade de o Leão aparecer...

- Eu fiz o que achei certo fazer, ajudar quem precisava de ajuda, ele vai fazer o que achar que deve. Ele é um leão e agirá como um leão. Assim é a vida. 

Devemos tirar nossas conclusões das situações que a vida nos apresenta e levar para a nossa existência como experiência e aprendizado.

Gratidão, humildade, tolerância, bondade, serenidade, são sentimentos e virtudes que devemos cultivar para nos tornar seres humanos melhores.

 

sábado, 19 de setembro de 2020

A Live

                                                                         A Live

Ao acordar hoje pela manhã, me surpreendi com o café pronto e cheiroso me esperando. Na hora o giroflex foi acionado em cima da minha cabeça me alertando para novidades pela frente, e logo descobri que a criatura peluda de olhos amarelos estava trancada no quarto, tendo pendurado o aviso de “não perturbe”.
Imagine se eu ousaria tal coisa? Provavelmente ao abrir a porta receberia pela frente um tamanco voador tamanho 42.
Não ousaria, nem pensar em tal violação de intimidades; mas a curiosidade é uma característica dos ansiosos e de algumas mulheres, inclusive eu; a dona do Otávio.
Tomei o meu café lentamente, olhando pela janela o dia amanhecer, onde o “encarregado” dos efeitos cenográficos caprichava na paleta de cores e no desenho das nuvens conseguindo dar um espetáculo todos os dias para os madrugadores.
Fui até a cozinha pegar mais café e na volta dei de cara com o meu parceiro de moradia que saia dos seus aposentos e vinha na minha direção. Não pude deixar de perceber a camiseta com os dizeres: “Azar o seu se não gosta de gato preto” e a camada de gel brilhante, que segurava valentemente um topete de fazer inveja ao Elvis, se vivo fosse.
Parei sem saber o que dizer diante do inusitado acontecimento já tão cedo e no meio da semana, quando ele à queima roupa me disse:
- Vou fazer uma Live daqui a pouco e que preciso de privacidade e principalmente de não ser incomodado com qualquer tipo de barulho...
Quase caí das pernas!
- Que mal lhe pergunte, meu antigo jovem, vai falar sobre o que mesmo, e na companhia de quem e para quem?
Respirou fundo visivelmente entediado e respondeu:
- Respondendo ao “questionário” policial, minha antiga jovem, falarei sobre a vida dos gatos, é óbvio! Falarei com o mundo e para o mundo. Terei a companhia de representantes felinos, do Oriente e do Ocidente. Todos nós falaremos das nossas alegrias e de acontecimentos e perrengues por que passamos. Nossas alegrias diante de lascas de Salmão fresco, de Presunto, ou de um pires de Iogurte de leite de Búfala.
- Ah tá... Espero que a internet não caia e fiquem perguntando o tempo todo, “estão me ouvindo?”, “travou novamente?”, “e agora, posso continuar?” “Acho que agora vai”... “foi!”

Só ouvi a porta bater e o prédio estremecer enquanto eu voltava para cozinha para pegar mais café, que por sinal estava delicioso.

Vai um café ai?
 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Dúvidas Cruéis na Pandemia

                            Dúvidas Cruéis na Pandemia
Hoje, para variar, amanheci pensando na vida, nas coisas, e na vida das coisas...
Quanto mais injuriada, mais fico “filosofando”...
Ouvindo um lindo poema na voz do Falabella logo cedo em que falava de veias e de sangue, entre outros assuntos, me “quedei” pensando no meu sangue.
Sim, me dei conta de que ele circula e irá circular até meu último suspiro de vida.
Até ai, nada de novo na casca do ovo.
Então o que “se passa?”. É a pergunta inevitável que se deve fazer logo pela manhã de uma sexta feira qualquer, de um mês de julho qualquer e que não fica em nada a dever à segunda, á terça e as outras feiras;
Então; eu respondo à minha pessoa:
- É que eu queria saber onde está a nascente do meu sangue, onde tudo começa? A gente sabe que o rio Amazonas nasce no sul do Peru, mas o meu sangue me causou curiosidade, não faço a menor ideia, mas estou pensando seriamente neste assunto por demais palpitante.
Durante as 24 horas do dia, todos nós, nos fazemos mil perguntas querendo saber as respostas das nossas indagações; normal! Isso faz parte da evolução humana, senão ficaríamos estagnados na ignorância e não evoluiríamos.
Mas alguém já se perguntou ou quis saber onde é a nascente do nosso sangue? Teve alguma resposta? Tem algum universitário ai?
Pois eu gostaria de saber, neste momento, antes das sete horas da manhã, onde está a nascente deste rio intenso que leva vida literalmente, aos órgãos que nos servem.
Só o que eu sei é que o coração é a bomba que o impulsiona, o faz percorrer para cima e para baixo o tempo todo se contaminando e se descontaminando enquanto vai levando vida...
“Pozagora?” - Responderia o Manesinho aqui da “ilha da magia”, quando não tem resposta. -
Pois aqui pensando com as minhas meias de zebra, eu chutaria que a nascente fica no umbigo; aquele furinho mágico onde trás o nó de finalização da construção do nosso corpo e que centraliza nossa ilustre barriga; esta que em tempo de isolamento e pandemia cresce assustadoramente. Se a coisa permanecer por nove meses nascerá o vírus em pessoa de olho puxado, bigodinho caído no canto da boca e trancinha na nuca chorando em Mandarim. O próprio; que provavelmente terá alguns nomes complicados no RG conforme a região de nascimento.
Quem tiver uma resposta que me diga, pois estou aqui carregando litros de sangue para baixo e para cima sem saber de onde vem e para onde vai este combustível que não tem preço.
Precisamos nos informar de tudo, porque tudo vai dando sentido à vida. Estou aqui me roendo de curiosidade.
Filosofando no isolamento da Pandemia... Aff
É mole?!

Agora falando sério; fui ver onde tudo começa e descobri que é nas partes moles dos ossos; na medula. ;)

sábado, 27 de junho de 2020

Gavetas de Lembranças

                               Gavetas de Lembranças

Quando resolvo abrir as “gavetinhas” do meu ser preciso estar preparada para o que vou me deparar. 
Dependendo do conteúdo fecho correndo e troco de pensamento, dou um tempo e volto a abrir outra gavetinha com outra data.
Ao último badalar do relógio, quando marca as 24 horas do dia do nosso aniversário, a gaveta é fechada e etiquetada à que ano pertence, para ser aberta e iniciada uma nova gaveta no mesmo momento para mais uma volta completa ao redor do sol.
Isso é geral, acontece com todo mundo. Cada um com suas gavetas. E o exemplo "gavetas" nem é ideia nova, desde que inventaram a primeira gaveta já se associou a divisão das nossas memórias em "gavetinhas".
Todo ser humano têm suas “gavetinhas” que são suas lembranças e experiências vividas guardadas na memória.
Eu sei e todos sabem disso, mas hoje, nesse dia de chuva e frio resolvi escrever sobre o assunto, espanar e guardar novamente o meu gaveteiro.
Todas as nossas gavetas mentais têm etiqueta e são subdivididas.
Daí que de vez em quando, quando alguma coisa acontece: uma palavra, um gesto, uma atitude de alguém, um acontecimento, um som, um cheiro aciona a chave de uma das nossas gavetas e imediatamente impulsiona como uma mola as nossas emoções mais bem guardadas e até quase esquecidas.
Algumas lembranças são perigosas para o nosso equilíbrio emocional e até causam medo ao voltarem à lembrança nos causando aflições e reacendem as emoções vividas. São verdadeiras brasas vivas até voltam a nos queimar. Já outras podem ser boas, algumas nem tanto, mesmo inofensivas. São apenas lembranças.
Algumas guardam anjos de asas ou sem elas, dragões em forma de gente, águas-vivas que parecem transparentes e inofensivas, mas nos causam muito mal, muitas dores até hoje quando voltam à lembrança; e até lobos ferozes cobertos de pele de ovelha que povoaram nosso mundo real ou imaginário, porém outras lembranças são doces e trazem perfumes e sabores reais como o de bolo quente, canja de galinha, cheiro de neném, de pão fresco saindo do forno, do mar e de grama molhada de chuva, de alfazemas...
Um afago em especial, um carinho de pai...
Outras guardam sons, sensações e emoções.
É interessante aproveitar para rever as lembranças e reavaliar nossos conceitos, nossas "verdades", perdoar e resignificar nossos valores, Aliviar nossa bagagem para quando sairmos desse "casulo" possamos voar com asas leves e transparentes.

Bom mais um "findi" na Pandemia de 2020

quarta-feira, 24 de junho de 2020

É dia de São João

                             É dia de São João

Eu saia do banho quando o interfone tocou. Era o porteiro avisando que o caminhão de entrega havia chegado e era para eu descer e receber a encomenda.
Antes que eu a encontrasse a “criatura peluda”, ao ouvir a minha conversa com o porteiro desceu na frente, de elevador. Eu corri atrás, de toalha enrolada na cabeça, de roupão de banho e chinelos de unicórnio desci pelas escadas pulando os degraus de dois em dois como uma rã assustada.
Realmente era um caminhão carregado de toras de lenha...
- Otávio!!! O que isso significa?
Gritei a plenos pulmões para ser ouvida na Cochinchina.
É claro que o Condomínio desceu inteiro para ver do que se tratava.
Em poucos minutos um grupo se formou e foi se mobilizando para denunciar a derrubada de árvores para o IBAMA, à Guarda Florestal e umas três ONG’s defensoras da Mata Atlântica e Amazônia.
- Rapaz; antes de devolver essa carga para onde veio, você vai me explicar para que comprou um caminhão de toras de madeira?
- Tudo bem, fica fria que eu explico; primeiro é bom que se diga que essa madeira é de reflorestamento, isso quer dizer que pode ser comercializada sem problema, depois, eu só queria fazer uma festa de São João com tudo o que tem direito; fogueira, quadrilha, milho e batata doce assados na brasa, amendoim, pipoca e tudo mais. Não sei por que tanto estresse!? Afinal estamos no mês de Junho. Eu em?

Pior é que essa criatura peluda e rebelde ainda têm “muita lenha para queimar”.

Vai uma batata doce com melado ai? Ou seria melhor encher a cara de quentão para desestressar?



quarta-feira, 17 de junho de 2020

Uma Boa Ideia; será?


                                 Uma boa ideia; será?
Otávio acordou cedo e veio me chamar para arrumar a sua mochila.
- Onde você pensa que vai agora, logo cedo? – Lhe perguntei sonolenta enquanto fazia um café para acabar de acordar nesse dia molhado e frio depois de uma noite chuvosa e gelada. –
- Preciso resolver um negócio urgente urgentíssimo!
- Só arrumo suas coisas se me disser antes o que pretende fazer...
- Vou fechar a compra de uma plantação de cana de açúcar que está em ponto de colheita.
- Para que alguém vai comprar uma colheita de cana em meio a uma Pandemia com direito a quarentena interminável e isolamento social, vai vender garapa pela internet?
- Que garapa o quê?! Depois que metade da população do mundo virou diabética e a outra metade faz dieta de calóricos, ninguém mais vende garapa, não dá para sobreviver vendendo garapa. Já andei me informando sobre tudo o que se refere à Cana de açúcar e seus derivados.
- Então vai fazer combustível?
- Não mulher, parece que bebe. Não vê que a hora de ganhar dinheiro agora, e é produzindo álcool em gel? O mundo todo está consumindo loucamente álcool em gel, ou “alquingel”, como se fala por ai, e eu não vou perder essa oportunidade...
- Mas você não acha que já tem gente demais produzindo “alquingel”, pararam de fazer até açúcar, acho até que nem tem mais para vender nos mercados, está ganhando do papel higiênico...
- Mas eu não vou fazer um “alquingel” qualquer; já pensei e planejei tudo. Vou fazer em vários perfumes: de Alfazema, Canela, Cravo, Limão, Maçã verde...
Enquanto eu tomava o meu café olhando pela janela e vendo o dia clarear fiquei pensando que até que podia ser uma boa ideia...
- Vou voltar a dormir e daqui a dez minutos eu levanto de novo para começar o meu dia e apagar este momento de delírio, acho que sonhei isso...
Vai alquingel “Cheiros e Sabores” ai?

sábado, 23 de maio de 2020

Sessões Oníricas

                                    Sessões Oníricas
Hoje acordei muito cedo, passava um pouco das cinco e meia da madrugada. Olhei pela janela e vi que nem o galo apareceu para acordar o sol.
Pensei com minhas pantufas de unicórnio, o que eu faria àquela hora tão cedo? O sono se escafedeu entre as nuvens escuras do horizonte e me avisou que não voltaria antes da meia noite.
O jeito foi ir para a cozinha passar um café e pensar na vida, na pandemia e no isolamento social. O bom é que o vírus estava sendo escorraçado com todas as honras e havia mais curados do que finados.
Diante da minha caneca rosa, cheia de café quentinho passado na hora, eu fui me deixando envolver lentamente no acordar do dia e seus sons. Um pássaro madrugador gritava bem-te-vi para outro que respondia o mesmo. Um galo acordou finalmente, mas calou na hora, talvez, tenha levado com uma “havaiana” pela crista para não acordar a vizinhança que dormia.
Ali, sonhando acordada, apreciando a natureza ainda na penumbra do amanhecer, me dei conta que a criatura peluda de olhos amarelos me observava, em silêncio como se uma coruja fosse.
- Bom dia para você também.
Falei para ele que escabelado continuava me observando em silêncio com se estivesse em transe.
- Fale para eu ter certeza que não estou vendo o seu fantasma. O que se passa?
- Tive um sonho horrível, estava mais para pesadelo...
Falava lentamente como se ainda não estivesse totalmente acordado, o que me fez passar a mão e ver se estava com febre.
- Conte o sonho então para que saia desse transe esquisito.
- Então, eu sonhei que um vírus atacou a terra...
- Outro? Mais um ninguém aguenta...
- Calma afobada, foi um sonho, se quiser ouvir fica calada...
Parou pensativo e quando eu ia mandar continuar ele me lançou um raio de olhar quase fulminante que tive de calar na hora e só ficar escutando.
- Pois é, como eu dizia sonhei que um vírus, o Capilar-vírus se abateu na terra e foi um desastre. Todos acordaram carecas, totalmente despelados, até eu me via nu circulando pelas ruas entre muitos iguais. Estabeleceu se então para o bem dos olhos alheios que todos ficassem em casa até que a pandemia se extinguisse e tudo voltasse ao normal...
- E ai?
Ai que após um período o vírus capilar foi extinto com um produto para queda de cabelo, sabe aquela teoria de que veneno de cobra se mata com veneno de cobra? Foi o que os cientistas fizeram e adivinhe? As fabricas não davam conta de fazer o produto, muitos eram falsos e não faziam o efeito esperado e as lojas e farmácias não tinham mais para vender o produto original. A china ofereceu um invento, mas acharam melhor não arriscar, pois poderiam cair mais coisas de ação indesejáveis. Nunca se sabe.
- E como acabou o sonho?
- O desgraçado do galo do vizinho cantou e eu acordei...
Tomamos mais uma caneca de café imaginando todo mundo pelado e de máscara em tempos de pandemia... 

Esse coronavírus faz “côsa”...



domingo, 17 de maio de 2020

Isolamento Social e suas Consequências

              Isolamento Social e Suas Consequências
Em tempos de pandemia não é fácil ocupar o tempo da gente e dos que convivem no mesmo espaço.
Mil coisas são criadas e inventadas e O TEMPO NÃO PASSA!
Todos os dias têm que acordar com mil ideias, mas depois de passar a “novidade” bate um desânimo “do cão”, voltamos a dormir e tentar passar o tempo como os ursos; primeiro come-se até ficar com enjoo e depois se vai dormir para o dia acabar mais rápido.
Logo após os primeiros dias precisamos tomar uma providência urgente: jogar a balança fora, se ainda houver lugar na lixeira do prédio, que até já separou parte do bicicletário para este fim: guardar as balanças até que alguém encontre esse desgraçado vírus de olho puxado e dê uma “camassada” de pau nele e voltemos a comer como gente.
Dois meses passados nesse tédio sem fim, arrumei a minha agenda assim: As segundas quartas e sextas faço a retirada de tudo que está nos armários, jogo sobre a cama e separo tudo por cores frias e cores quentes; nas terças, quintas e sábados, retiro tudo novamente e separo as listras e as bolas por tamanho e cores. Faço rodízio com as gavetas para as peças pequenas, bem pequenas e nem tanto.
A cada vez que faço esse giro na arrumação separo as roupas que não gosto mais, que enjoei e que não me cabem mais; essas são muitas, e deixo de lado para levar e deixar lá no espaço do reciclável, em caixas de papelão etiquetadas por estampas. Isso se encontrar lugar, já que o condomínio inteiro está, ou deve estar fazendo o mesmo. Agora deixo para levar as caixas na madrugada, mas essa ideia muita gente está imitando e até formando fila para o evento. E ainda quando se encontram pelos corredores mostram a língua uns para os outros por baixo das máscaras, é claro.
Este é um costume antigo que voltou à moda; mostrar a língua sob a máscara.
O pior é aquietar a criançada e gerar mil ideias novas por semana. Isso não está sendo nada fácil. Tem pais que já estão se preparando para defenderem teses a respeito dessa questão. Vão sair da quarentena com a tese quase concluída.
Aqui em casa já gastamos o repertório.
O quarto do Otávio tem um aviso bem grande de não perturbe, e não sou eu que vou encarar a fera, “de bode”, e raivosa.
O mau humor faz parte do cardápio do dia dos dois lados.
No começo ele fez, incansavelmente, todas aquelas experiências que se faz nas escolas, de plantar feijão no algodão, espalhar orégano num prato com água e com o dedo molhado de detergente dar um “susto” na erva da pizza, que por conta disso já está em falta nos supermercados só concorrendo com o papel higiênico e o “alquingel”.
Depois foi para coisas mais requintadas como fazer bebidas de alambique, aí fui obrigada a impedir tal coisa, pois não suportaria aquele cheiro de fermentação. Só por isso, pois já joguei a toalha e “sejaoquedeusquiser”...
Bem, meus amigos, vou parar por aqui, pois estou ouvindo um murmúrio estranho vindo do quarto da criatura peluda e isso está me cheirando encrenca.
Voltando...
Gente, alguém aí interessado em ficar com alguns pintinhos que acabaram de eclodir? Tenho centenas para retirada imediata e ainda acompanha um saquinho de orégano.
Ele estava chocando dúzias de ovos dentro do quarto dele sob  lâmpadas e é claro, eu não sabia...
Até quando S E N H O R ???

domingo, 26 de abril de 2020

Sete anos!


            Sete anos!!!
Dia 26 de abril; como não me lembrar daquele dia de triste despedida há sete anos? Como me esquecer que fazia sol? Como me esquecer do badalar dos sinos de alguma igreja próxima que me avisavam que era meio dia?
Desculpe-me se volto ao assunto todos os dias 26 e não poderia passar logo por este, o de abril, sem comentar ou lembrar, mas o luto tão tem prazo de validade. Pode-se esquecer qualquer coisa na vida, mas duas coisas são inesquecíveis: o nascimento e a morte de um filho (quando isso acontece, claro!).
Mas se alguém se incomodar com a minha insistência em lembrar essas coisas, dessa data e dos acontecimentos com certa frequência e insistência fique á vontade para se retirar. Eu até entendo que não gostamos de olhar as feridas dos outros, elas nos fazem recordar das nossas e só os masoquistas têm prazer em sofrer.
Eu não sinto prazer em sofrer, eu SOFRO, é diferente. Todas as mães que um dia tiveram que devolver seus filhos à Deus, sofrem para sempre.
Poderia sim, orar em silêncio, sozinha na minha dor maior e não postar numa rede social, mas faço isso porque sei que teve muitos amigos e conhecidos que se lembrarem dele com um sorriso, uma oração, estarão ajudando-o a viver na luz da saudade.
Sendo assim, e dito posto, ofereço minhas orações, minhas Bênçãos de mãe, meu carinho de irmã da eternidade ao meu filho Beto neste dia 26 de abril de 2013, inesquecível como marca de um Adeus.

Bom domingo de isolamento social...


sábado, 25 de abril de 2020

Um Dia de Cada Vez Postagem 888


                Um dia de cada vez
Para quem me conhece sabe que eu sou “quase” bipolar, se é que este conceito existe.
Tenho dias leves e outros pesadíssimos, mas vou levando ao longo desses 73 anos; muitos deles, a bem da verdade, com suporte médico. Não sei como, mas eu consegui.
Quando preciso enfrentar uma situação que me causa raiva ou dor, ou as duas coisas, a minha alma esperneia feito criança durante um tempo até que eu canse e abra os olhos para a realidade, e eu sinta que estou diante de uma parede de pedras enormes irremovíveis e nada posso fazer diante da situação que se me apresenta.
Dai me sento diante dela e vou encarando a realidade e digerindo cada pedaço amargo da situação que se apresenta insolúvel, até me aquietar e “aceitar”. E isso leva um tempo variável.
Pois bem; Estou há quase dois meses diante dessa parede que foi se erguendo ao longo dos dias e agora está se abrindo uma fresta aos poucos, mas apenas consigo ver diante de mim um nevoeiro espesso, sombrio e úmido. 
Nada de luz, horizonte, céu azul e ou arco íris, nada! 
Mas pelo menos ainda estou respirando o ar gelado que vem de fora.
Então deduzi que os meus passos estão, e terão de continuar sendo, somente dentro dos 50m² em que eu moro, divididos em 5 peças, três janelas, um vitrô, uma porta de entrada, três interiores, uma divisória sanfonada e uma varanda de meio metro.
Resumindo: uma gaiola de ouro. Eu não posso e não devo reclamar, mas será sempre uma gaiola.
O impedimento de sair, passear, andar por ai sem lenço, sem documento e máscara, visitar, ser visitada e tudo mais foram riscados da minha vida para sempre.
Esta é a simples constatação que eu chego. Não há o que espernear, só aceitar sem reclamar.
“Mas sempre poderia ser pior”, me dirão vocês que não estão sozinhos e são jovens, mas também poderia ser diferente, se eu estivesse pelo menos numa casa com mais pessoas... 
Eu respondo de forma “malcriada”. 
Resumindo:
Sem planos de sair daqui, porque sei que será impossível, não me iludo mais. Vou viver o dia e a noite como se apresentarem e sem reclamações, eu prometo; apenas vou viver até que a luz se apague.
Mas tudo bem é o que a vida tem a me oferecer e eu me entrego sem luta.

Bom dia de sábado com saúde para todos.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Pelos Caminhos que Desconhecemos

                    

                        Pelos Caminhos que Desconhecemos

Duas criaturas de Deus, um dia se encontraram numa encruzilhada da Vida.
Uma vinha de muito longe, a outra era dali mesmo, da redondeza.
Aproveitando a sombra de um arbusto deram-se conta uma da presença da outra e a conversa foi inevitável.
Uma era falante, segura de si e foi logo contando que viera de muito longe, que adorava viajar e sair pelo mundo, mas estava muito decepcionada com o que havia visto até ali, e olha que já havia atravessado mais da metade do mundo.
A outra não se contendo indagou o porquê de tanta decepção, e a primeira explicou que pensava que o mundo, o planeta Terra, era bonito, mas não era.
A segunda indignada, e sem se conter, contestou dizendo que o mundo era lindo, que era colorido e que as pessoas eram boas.
Mas a primeira logo rebateu um tanto alterada, e foi dizendo que bem se via que ela só conhecia até onde a sombra alcançava, naquele canto onde elas estavam.
Pois olha só, retrucou do seu jeito calmo de ser; Não acredito que o resto do mundo, além do que vejo, seja feio, não pode ser. Conte-me então como ele é e como você o viu andando por aí.
Então a primeira, com lágrimas de decepção, em voz baixa foi dizendo que o mundo era cheio de lixo apesar do luxo. Que era cheio de seres humanos egoístas e egocêntricos, que só trabalhavam para ganhar mais e mais dinheiro, poder e status. Que cada vez mais se distanciavam uns dos outros e quando se aproximavam iam por interesses escusos. Que suas indústrias geravam tanto lixo que os oceanos, mares e rios estavam morrendo. Que os veículos de locomoção e as fábricas deixavam o céu cinzento de tanta poluição, difícil até de respirar, e que até havia pessoas, já adultas, que nunca haviam visto um céu azul e a luz do sol. O ar cheira mal tantos sãos os poluentes jogados na atmosfera. O barulho é cada vez mais ensurdecedor, tanto que quase nem se ouve mais os passarinhos e as águas dos rios que fogem cobertos de espuma. O mundo está morrendo pouco a pouco.
Por um tempo ambas ficaram em silêncio e pensativos;
Será que havia algo que pudessem fazer para mudar este quadro?
Logo a primeira voltou a falar que não podia entender, como pessoas tão inteligentes, já que a tecnologia provava isso, não percebiam que estavam destruindo o ambiente que haviam escolhido para viver, no que a segunda redarguiu em lágrimas, que estava desencantada com o que acabava de ouvir; achava até que mais valeria não ter saído de casa para ouvir tal coisa, ela que também sonhava em um dia sair por ai...
Ambas choraram de tristeza dividindo suas dores e decepção.
E por ali ficaram até o anoitecer. Dormiram.
Ao acordar a primeira percebeu que havia dormido um bom tempo, pois fazia frio e o inverno já ia alto. Olhou para o lado e percebeu que a segunda ainda dormia profundamente enrolada no que lhe pareceu um cobertor. Sem querer acordá-la saiu tão silenciosa quanto chegou, mas não foi longe ficou ali perto pensando no que fazer para mudar as coisas. Precisava fazer algo, só reclamar, criticar e continuar com o mesmo comportamento não ajudaria em nada. Aguardou um pouco mais, aproveitando um raio de sol pálido que se infiltrava no vão de pedra em que se encontrava, quando teve uma ideia brilhante. Imediatamente entrou em contato telepático com sua família espalhada pelos cantos do mundo e contou seu plano. Iriam se infiltrar nas grandes metrópoles, sufocar sem causar muitos danos, o suficiente para assustar, só para sentirem na pele o que o Planeta Terra está sentindo sufocado. Obrigá-los a se isolarem em seus lares para repensar e resignificar seus valores, e não pode ser por um tempo muito curto.
É preciso incomodar para sentir o mal estar mesmo.
Juntar as famílias e fazê-los conviver mais intimamente obrigando-os a se olharem nos olhos, a aprender seus gostos, observar e conviver com suas idiossincrasias. Precisarão prestar atenção nos velhos, eles é que construíram o que eles agora usufruem e muitos são jogados de lado. Olhar melhor aqueles que os servem e limpam sua sujeira, valorizando o seu trabalho.
Precisam sentir de verdade a presença uns dos outros cobrindo suas necessidades sempre que for preciso trocando favores e gentilezas, aprender a dividir o pão e fazer caridade.
Precisam aprender a servir e não só serem servidos achando que o dinheiro compra tudo. Não compra, é uma doce ilusão.
Vai ser necessário aprender que têm horas que o dinheiro não serve para nada, pois não há o que comprar e a vida não têm preço e nem dinheiro que pague.
Só os avarentos guardarão o dinheiro com prazer.
Os humanos precisam sentir na pele a febre das queimadas e a sede dos mananciais ressecados pelo desiquilíbrio e maus tratos pela natureza.
É preciso acordar para o sentido da vida e ver como a felicidade só existe de verdade quando ela é dividida e espalhada, só assim voltará multiplicada.
É preciso acordar para o sentido da vida. Será um período longo, mas necessário para que o Planeta se recupere dos maus tratos e a Natureza ressuscite.
Não vejo outra saída, infelizmente.
Acabou de enviar a mensagem por via telepática, se desconectou, pegou a mochila que descansava ao lado, calçou a bota de caminhada, surrada e empoeirada pelo uso, colocou o chapéu em forma de coroa e retomou o caminho.

Logo adiante uma borboleta azul lhe desejou boa viagem e sucesso na empreitada.

sábado, 4 de abril de 2020

Por detrás das Máscaras


                          Por detrás das Máscaras
O sábado pré-aleluia amanheceu com sol radiante; mas só por alguns minutos, quando foi encoberto por doces nuvens de algodão rosa-azuladas que em seguida, por sua vez foram dissipadas deixando o cenário granulado em azul e branco.
Conseguir mudar o cenário Celeste todos os dias, o tempo todo é realmente para O forte.
O ar é fresco e quase frio. Outono bombando por essas bandas.
A Pandemia ainda mantém as pessoas engaioladas em suas casas enquanto o vírus coroado, se sentindo um rei, transita livre, leve e solto sob a mira de metralhadoras mentais e “alquingel”.
Nada está bem neste vendaval por detrás dessas máscaras de griffe, importadas ou caseiras.
Não sei se quero paz ou guerra de travesseiros de pena, mas descobri que tem “cabelo de anjo” na minha sopa.
O silêncio ao meu redor agride os meus ouvidos e os barulhos, desconfio, vêm do interior de uma concha.
Não sei de mais nada, mas uma coisa eu sei; dormi e acordei num outro Planeta que não reconheço.
Ao meu redor tudo está quieto demais, parece que todos dormem para não ver o que se passa, ou não passa...  

Melhor mesmo, eu acho...


sexta-feira, 27 de março de 2020

Lã para o Inverno

                  Lã para o Inverno
Amanheceu um belíssimo dia de outono. 
A temperatura perfeita; nem frio e nem calor. 
Nada de suor escorrendo e nem queixo batendo, tudo dentro do equilíbrio.
Era bem cedo ainda, tinha acabado de amanhecer e o sol nascer. Sentei-me diante da minha xícara de café para acabar de acordar quando a criatura peluda parou à minha frente e me perguntou assim à queima-roupa se eu sabia fazer tricô. E essa é uma pergunta que se faça antes das dez da manhã?
Antes de eu tomar meio litro de café não sei nem quem eu sou.
- Ãh?
- Eu vou perguntar de novo: Você algum dia fez tricô nessa longa estrada da vida?
- Bom dia, como vai você; e os parentes estão bem de saúde?
-Já vi que não está dando ainda, vou lá dentro e já volto, espero uma resposta coerente; é muito importante.
O que fazer quando duas criaturas de fuso-horários diferentes coabitam no mesmo espaço exíguo?
Quando ia pegar meu jornal, já saboreando a segunda xícara de café com leite ele apareceu de novo. Parou diante de mim querendo saber se eu fiz tricô na vida. Ele é altamente insistente.
- Bem, eu já fiz tricô e tenho até um certificado que me garante, mas eu não me garanto nada fazendo tricô. O cursinho durou seis meses e enquanto as amigas fizeram dez peças em vários pontos, eu desmanchei o meu trabalho dez vezes, mas finalmente consegui entregar no dia da formatura um casaquinho cor turquesa, que doei na primeira oportunidade para não ficar olhando para ele e me lembrar do período de tortura.
- Tudo bem, não duvido de uma só de suas palavras, imagino a cena e acho melhor trocar de assunto para não chorarmos juntos. O que eu quero mesmo é aprender a fazer tricô.
- Continua querendo mesmo depois desse meu sincero depoimento?
- Claro! Ouvi dizer que tricô e bicicleta nunca mais se esquece.
- Primeiro me diga qual é a novidade do momento.
- É que ouvi dizer que estamos no meio do outono e daqui a menos de dois meses entraremos no inverno e com ele o frio.
- O frio chega antes do inverno... aff,  que novidade...
- Sim, eu também ouvi dizer, daí pensei numa oportunidade de ganhar dinheiro fazendo blusas de lã...
Demorei um pouco, confesso, a entrar no clima.
Como em tempos de Pandemia a gente precisa inventar coisa, achei até uma boa ideia, fazer um cachecol para o inverno. E lá fui eu buscar as lãs e as agulhas, afinal não custava nada e não consigo negar nada à criatura peluda que divide a moradia comigo, sem falar que ando muito emotiva e precisando fazer alguma coisa par me ocupar...
Às cinco horas da tarde ainda estávamos, cada um com um par de agulhas nas mãos e enrolados entre fios de lã, contando: “um tricô, um meia, um tricô, um meia”, quando o interfone tocou e era o porteiro perguntando se podia subir com o casal de Carneiros que estavam entregando...
- Otávio!!!! Venha cá que quero te matar bem devagarinho...

Desde àquela hora ele está mergulhado nos lençóis, dormindo como um anjo e não está para ninguém...
Melhor eu voltar ao cachecol antes que eu faça um macarrão com essa lã e um molho peludo; um tricô, um meia, um tricô, um...

27.03.2020