sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Para quem?

                                       Para quem?
Hoje amanheceu sem chuva e antes que ela volte lá pelo meio da tarde, como deu no jornal, vamos aproveitar que o meu cérebro resolveu se espreguiçar, sacudir o bolor e escrever algumas elucubrações matinais que têm me tomado o espírito, deveras inquieto por natureza.
Acordei as 5.30h e constatei que não estava chovendo e isso por esses tempos, é uma novidade e esperança para que o novo mês que entra, já que novembro termina hoje encharcado de chuvas diárias e persistentes, não seja de tanta chuva.
Deitei mais um pouco, afinal é horário de verão e meu corpo se nega a aceitar isso e entrar na dele, pois para a realidade biológica do meu corpinho são 4.30h!!!!
Como dizia, voltei para os lençóis mais um pouco, porém liguei a televisão onde o primeiro jornal passava notícias requentadas com o sorriso feliz e animadíssimo (?) da Monalisa.
Durmo novamente até às 6h e acordo quando o Jornal local está começando, também com notícias de ontem e algumas de dias atrás. Levantei-me e bati algumas fotos do amanhecer e percebo que nuvens pesadas impedem o sol de aparecer em toda a sua majestade.
Otávio vem me dar bom dia e insiste que já são horas de levantar, afinal com ou sem horário de verão, é preciso. E não é porque envelheci que vou ficar mandriona; palavras dele!
Dai que me levanto e vou para o laboratório doméstico de manipulação de produtos alimentícios, mais conhecido como Cozinha e coloco a cafeteira para funcionar enquanto me deleito com o cheiro que invade o ambiente ponho o leite na caneca que ganhei no último Natal, e gosto muito, e a coloco para esquentar no MW.
Enquanto isso acontece confiro a higiene da areia, o alimento e água do meu companheiro peludo, até porque levo grandes broncas quando deixo para depois. Tudo tem de estar sempre perfeito para o moçoilo.
Daí eu tomo de um pequeno copo de 100 ml coloco um dedo de água, derramo uma tampinha de vinagre de maçã e uma colherinha de bicarbonato. Deixo ferver e tomo de um só gole ainda em jejum. Quando comecei a tomar essa mistura eu li a lista de benefícios e posso afirmar que serve para quase tudo, limpar banheiro, geladeira, talheres e louças especiais, dá brilho nos cabelos e fortalece as unhas, só não serve para passar no sapato porque não é pomada, mas no tênis talvez...
Num outro copo, largo e baixo, coloco a metade de água e uma pastilha de vitamina C efervescente, zero açúcar, para dissolver e tomar depois do café com os outros comprimidos.
Uma fatia de pão de grãos, muitos grãos, que deve se destacar pela castanha, puro Selênio, que até onde sei é indispensável uma unidade diária para o equilíbrio emocional, e isso me interessa. Imagino que seja o que contém uma fatia de pão bem lambuzada de manteiga autêntica e de boa qualidade com sal, porque pão de centenas de grãos ninguém merece mas precisa.
No meu café com leite não vai açúcar e nem adoçante, mas agora vai uma colherinha de óleo de coco que dizem ser tão bom para tantas coisas que pelo consumo atual, os seres humanos da face da terra deveriam ser belíssimos e perfeitamente saudáveis sem que sofram sequer de unha encravada ou torcicolo, e por conta disso, dando sérios prejuízos aos laboratórios mais conceituados, pelo sim pelo não, achei melhor aderir. Também tomo uma vitamina D para garantir o esqueleto, já que o sol, ultimamente, por essas bandas, só em cápsulas e em “vidro” plástico azul noturno, que lembra o luar. Achei um tanto incoerente isso; embalagem e conteúdo... Sempre fico pensando o porquê disso.
O conteúdo de uma cápsula transparente e amarela diária de Ômega 3-6-9 me garante ser puro óleo de peixe, e me remete à infância quando era obrigada, e somente com dois me segurando para não fugir, a tomar uma colher de óleo de fígado de bacalhau autêntico da melhor qualidade, aquele que trazia no rótulo um homem vestido de terno carregando um bacalhau pendurado nas costas como se nada fosse.
E ainda se o que apregoavam sobre os seus poderes milagrosos realmente se realizassem até valeria a pena, mas olho ao meu redor e vejo pessoas da minha geração que eram “obrigadas” também a passar por isso em nome da boa saúde, e vejo que a maioria está tão velha e “feia”, assim como as que nunca tomaram... treta antiga.
Após o café confiro a lista de comprimidos na palma da mão e lá estão: o de pressão alta, o de angina pectoris, o de coração combalido ou para algum entrevero cardíaco, o de controle de glicemia, o de refluxo e mais à noite o de colesterol, além de algum desses. Tomo todos de uma vez com a Vitamina C diluída.
Daí eu chego à simples conclusão que a infeliz pessoa que inventou o termo “melhor idade” é um dono de Laboratório Farmacêutico que está cada vez mais rico.
Melhor idade para quem cara-pálida?

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Será Sereia?


                                 
                                       Será Sereia?
Amanheceu chovendo; como se isso, por essas bandas fosse novidade.
Algumas coisas nesta vida deveras me desestabilizam; a falta do sol, dias de chuva e as surpresas do Otávio.
E por falar nele, me dei conta do seu sumiço e imediatamente liguei o meu sensor que ficou piscando insistentemente em amarelo de alerta.
Logo pensei; alguma arte ele está aprontando, muito silêncio ao nosso redor nos avisa que ai vem “côsa”, fora que faz alguns dias que ele anda sumido. Sai ao amanhecer e só volta à noite, exausto, e nem quer conversa, não está para ninguém, se recolhe aos lençóis em silêncio e dorme até o despertador tocar no outro dia. E por falar no maldito despertador, agora ele colocou o som de uma buzina de navio zarpando para acordá-lo.
Daí ele se levanta, come rapidamente o desjejum sabor salmão e sai sem me dizer o que vai fazer.
Só que hoje, ao final da tarde, enquanto eu lia meu livro calmamente, ele me apareceu  todo ofegante, com os olhos maiores e mais amarelos do que nunca, assustadíssimo, correu para o quarto e se meteu debaixo das cobertas como de costume.
Dei um tempo e aguardei em silêncio me preparando psicologicamente para o que viria até que ressabiado ele voltou do quarto, deu umas voltas pela sala e se acomodou ao meu lado, já bem mais calmo.
Aguardei que me contasse o acontecido do dia, e o que segue é o que ouvi de sua própria boca:
Eu fiz um curso de salva mar, ou guarda-vidas, como queira, para trabalhar na praia, na temporada de verão; e a semana toda tivemos treinamento teórico e prático. Chegamos até a fazer salvamentos de verdade porque as pessoas vão para o mar como vão para a piscina ou para as banheiras de casa, sem cuidado nenhum e o pior é que nem sempre voltam para casa. Bem isso não é mais novidade para ninguém, muitos morrem no verão por imprudência. A novidade é que fomos para uma praia deserta, depois de uma trilha bem difícil, para treinamento de resgate em circunstâncias complicadas. Eu já havia participado de duas simulações ali e resolvi explorar um pouco mais o local me afastando na direção de um conjunto de pedras de vários tamanhos. Quando fui chegando comecei a ouvir sons, alguns melodiosos como cantos e risadas, conversas, coisas assim e fui me aproximando cada vez mais e o som se afastando e eu fui ficando curioso e continuei procurando pelas pessoas que não apareciam nunca. Quando me dei conta estava do outro lado da praia e havia me afastado muito dos colegas do treinamento então resolvi voltar, foi quando me deparei com duas sereias de carne, osso e escamas bem ali na minha frente, rindo e cantando para mim. Na verdade rindo do meu espanto. Desmaiei na hora e só me acordei no helicóptero de resgate a caminho do hospital onde fui diagnosticado como insolação. Ninguém acreditou em mim, sniff, sniff, sniff...
- Sereia... Sei... Hãhã...

Insolação é um perigo.

domingo, 11 de novembro de 2018

Indo e Vindo

                                    Indo e Vindo
Mês passado eu havia me programado para fazer uma viagem de dois dias, na última semana, pela Serra Catarinense; mais precisamente, Rio dos Cedros, Timbó e Pomerode. Comprei o pacote e aguardei pelo passeio até com certa ansiedade.
Na véspera, por conta das intensas chuvas, a Empresa de Turismo cancelou a viagem por medida de segurança, já que as estradas não ofereciam condições de trafego seguro, tanta era a água que caia que derretia literalmente os morros à beira das estradas, enquanto os rios subiam seus níveis cada vez mais rápido.
Pois bem, transferiram o passeio para os dias 9 e 10 de novembro esperando que as chuvas parassem, e quem disse que a chuva parou durante este tempo?
Nananinanão! Acho até que mandaram trazer mais água do Universo, de outro planeta, pois a água do planeta Terra estava (está) caindo toda em cima do Estado de Santa Catarina descia e subia no mesmo circuito. Não temos mais onde encontrar um lugar seco.
Para ter idéia, a guia do passeio nos informou que durante o mês de Outubro não choveu por apenas seis dias, e alternados! Isso não quer dizer que deu sol, aquele maravilhoso que a gente conhece e ama.
Durante todos estes dias sem chuva, não tivemos sol, no máximo algumas horas ou minutos. Muitos ficaram nublados, enfarruscados e sombrios o tempo todo. Affff...
Pois bem, voltemos ao passeio à caminho de Rio dos Cedros;
Embarcamos as 7h e depois de algumas horas viajando vagarosamente por medida de segurança, é claro, pelas estradas do interior e morro acima. Íamos em direção à Rio dos Cedros, num hotel nas montanhas, que fica à beira de um lago/represa.  
Finalmente chegamos; mas ainda para almoçar e já perto de três horas da tarde. Nem a empresa de turismo poderia prever tal coisa, eu acho.  Rio dos Cedros, assim se chama, por conta do caminho percorrido ter muitas árvores dessa qualidade na região e no percurso que ladeia o rio do mesmo nome. A paisagem é maravilhosa mesmo com chuva constante. Por todo o caminho se vê a mata nativa dividindo espaço com os rios sinuosos e cheios de pedras espumando de tanta violência por conta do volume de água.
As construções antigas, características, com seus jardins floridos, os animais  de tração e gado de corte, ovelhas, vão completando as paisagens bucólicas de estilo Europeu; aliais estivemos passeando pelo chamado Vale Europeu, onde a colonização Alemã e Italiana se instalaram mantendo as suas tradições. Carroças, ainda podem ser vistas pelos caminhos das propriedades rurais que ladeiam os rios. A região tem 23 Capelas e Igrejas além da Matriz que visitamos, simples e bonita com vitrais muito lindos.
E assim fomos subindo há mais de 1200 m de altitude, até chegar na região dos Lagos, quase divisa com o Paraná, há poucos quilômetros da cidade de Rio Negrinho-SC que faz divisa, onde nos hospedamos por uma noite num hotel rústico aconchegante e despojado porém elegante e delicadamente decorado com amor e romantismo. O lugar fica um pouco distante da estrada e é isolado do barulho de trafico. Fica entre pinheiros, araucárias e outras árvores grandes.                   Bom para repousar, ler, conversar e se recolher para meditação.      A comida é caseira tradicional e bem feita, com café Colonial a partir das 16h e  jantar as 20h. Tudo bom e agradável. Só não deu para aproveitar os espaços externos com lanchas de passeio, piscina, caminhadas etc.
Dia seguinte, no sábado, após o café, nos despedimos do lugar encantador e fizemos o caminho de volta, adivinhem????!! Embaixo de chuva torrencial sim, senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras.
Retornamos até Timbó, no mesmo passo, devagar quase parando, Visitamos a casa de Lindolf Bell, o Poeta, aprendemos sua história e sua arte e andamos pela casa em que nasceu e viveu muitos anos  com sua família. Dai continuamos percorrendo Timbó com sua característica Alemã e chegamos ao Jardim Botânico onde almoçamos muito bem, num restaurante bem agradável. Entre um aguaceiro e outro conseguimos tirar uma foto do grupo, na ponte que atravessa o lago onde repousam Vitórias-Régias. Elas foram trazidas do Amazonas por um ilustre Botânico da cidade, cujo nome não me lembro agora. Porém elas atrofiaram ao se adaptarem e ficaram bem pequenas, o que não lhes tirou a beleza. Estavam com algumas flores das espécie, cor de rosa e vermelhas.
Dali voltamos à estrada, todos rindo para não chorarmos, pois a chuva só foi intensificando a cada metro percorrido. Passamos pelo centro de Timbó, pela frente do Museu do imigrante, que já conheço de outros passeios, cuja curiosidade na frente do mesmo é um arbusto de nome Timbé, que os índios, nativos daquela região, maceravam e jogavam no rio para os peixes comerem e eles pegarem. A planta tem propriedades narcóticas e deixavam os peixes sem ação facilitando a pesca com as mãos.
Do nome Timbé por ter muito daquelas plantas na região, passaram a chamar a cidade de Timbó. Pouco mais à frente uma ponte estreita, pênsil, estaiada, atravessa o Rio Benedito. Na região acontecem eventos musicais. A cidade faz parte de um circuito ciclístico e é referência pelos amantes do esporte. Há um monumento aos heróis e um Bar muito concorrido. Mais adiante fica a Prefeitura e a Câmara dos vereadores.
Continuamos a viagem de retorno (com chuva) em direção à Pomerode e paramos numa Padaria/Confeitaria de pães maravilhosos, muito boa. Haja comida para consolar os viajantes da água.
Também já passei por Pomerode outras vezes, porém por outro caminho e outra Confeitaria que fica mais ao Centro, também muito boa.
A cidade produz vários eventos durante o ano inclusive a Festa Pomerana onde as famílias desfilam em seus trajes típicos com suas Charretes enfeitadas de flores, carroças, carros de boi, tratores e ferramentas de trabalho rural, tudo enfeitado de muitas flores e vão distribuindo alegremente Chope que transportam em barris pela cidade. Tudo com muita alegria e com suas bandas e musicas típicas. Bonita festa que já apreciei numa outra viagem COM SOL!
Nessas alturas tirar um sorriso de alguém da caravana estava difícil. A viagem estava terminando, quase em casa, e não havia feito uma nesga de sol para animar.
E o pior é que ninguém conseguiu me mostrar um pé de Cedro, uma árvore tão famosa na construção de móveis e casas. As pessoas que a conheciam apontavam para a massa densa verde de mil tons e diziam é "aquela". Alguém me mostrou uma no Google (!!!) de tanto que eu perguntava pela famosa que deu nome ao passeio e voltei sem a conhecer pessoalmente.
Talvez a Praça XV tenha para eu a conhecer e me apresentar ...
Hoje finalmente acordei hoje com uma luz intensa, estranha e esquisita a me iluminar... até fiquei com medo.
Me reportei ao primeiro dia quando sai das cavernas nos primórdios dos tempos, na idade da pedra... ;)
Era o sol esse fujão!
Bom domingo...


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Alto Escalão


                                        Alto Escalão
Acordei bem cedo e fiquei por uns momentos ouvindo enternecida os passarinhos cantarem nas árvores do Condomínio onde moramos.
Fiquei embaixo do edredom cheia de preguiça dando um tempo para me encorajar e começar meu dia. Um pouco mais atenta aos rumores do amanhecer percebi o cantarolar baixinho do Otávio e de água de chuveiro escorrendo. Ele estava feliz, ao mesmo tempo que isso era bom, também podia não ser...
Imediatamente liguei minhas antenas e radares, ajustei a sintonia para o modo "paciência" e me levantei. Cruzamos no corredor, em silêncio trocamos olhares e ele me fez o gesto clássico dos anos sessenta; Paz e Amor com os dois dedos, indicador e médio, entreabertos e para cima.
Enquanto a água escorria pelo meu corpo reforcei as minhas orações e liguei o botão de alerta no modo "piscando" em pulso lento para crescente. Sentia alguma coisa no ar, o famoso sexto sentido, que temos e nem sempre damos atenção.
Mais tarde, enquanto tomava meu café e lia meu jornal a campainha estridente do telefone me assustou e um banho de adrenalina se espalhou pelo meu corpo me fazendo derramar o líquido precioso que me mantém ligada, o meu café. Neste momento o alarme do meu sismógrafo particular me avisou da possibilidade de um terremoto à caminho. Ajustei as orelhas para o modo atenção máxima e fiquei ouvindo a parte de cá da conversa enquanto pensava em quem poderia estar ligando para ele à esta hora, para a criatura peluda que mora comigo, sobrinho do último Xá da Pérsia, mais conhecido como Otávio; Quem poderia ser?
Infelizmente como só ouvia o lado de cá fiquei curiosíssima, pois ele só respondia: "não, claro que não, impossível, sem condições, tenho outros compromissos agendados, concordo que seja para poucos, mas vou declinar, avise que fica para uma próxima... obrigada... veja bem... avise que não adianta insistir... e nem enviar o convite pessoalmente por mensageiro tão digno que não estou interessado. Obrigado, passar bem..."  
Em seguida desligou e me olhou com aqueles olhos amarelos impassíveis e em silêncio por alguns segundos. E sem nada a comentar se dirigiu para o quarto e sem cerimônia se refestelou entre as almofadas preferidas.
É claro que fui saber do que tratava tão misterioso telefonema, e sabe o que me disse com aquele olhar entediado que lhe é peculiar?
Entre um bocejo e outro ele me informou que era um assessor da Presidência o convidando para assumir um Ministério! -Mas nem quis saber qual era, não aceitei. Com certeza haverá muito trabalho pela frente e teria que me mudar imediatamente para Brasília e  só de pensar já fiquei estressado e por demais cansado, e por isso vou até me recolher e não estarei para ninguém, nem mesmo para aquele que disseram que iriam enviar para me convencer... o que nasceu em Maringá, moreno, jovem ainda, aquele que foi escolhido primeiro... O cara do telefone até me disse que ele com certeza me convenceria a fazer parte da Nova Era Brasil, mas fique ligada; eu não estarei para ninguém, nem para o Papa.
Dito isto, se acomodou e dormiu imediatamente, e eu voltei para o meu café e ao jornal molhado...

É mole conviver com essa criatura peluda?