segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Tudo Igual e Tudo Diferente

                                             Tudo Igual e Tudo Diferente.
O mês  de dezembro termina e com ele mais um ano, o de 2014. 
E que venha o novo ano com bons momentos para todos!
Com tudo é impossível não fazer um retrospecto mesmo que superficial do que se ganhou e do que se perdeu, das alegrias e das tristezas.
Para mim até que tive um ano leve, mas cada dia que passa é menos um que compartilho da presença de meu filho Beto, isso não tem jeito, não tem como mudar e fazer de conta que tudo está normal porque não está, mas todo o restante e em se relacionando com a convivência com os outros filhos e seus familiares, meus irmãos e seus familiares, tudo transcorreu em paz e com alegrias.
Em se tratando de metas a minha éra apenas a de terminar meu romance em andamento e consegui, mas não deu certo com o editor por alguns itens que não concordei em que ELE mudasse. Ninguém quer que sua obra seja modificada por terceiros e eu não sou diferente. Poderei rever e modificar mas serão palavras e idéias minhas. Mas tudo bem, isso faz parte do trabalho e sempre é um aprendizado e um treinamento para a humildade de saber que não se sabe de tudo e quem tem o poder nas mãos é que decide.
Viajei algumas vezes e foram ótimas viagens, para lugares diferentes. Fui duas vezes à Campinas, uma a Tupã,uma a São Paulo capital, uma a Uberaba, uma ao Paraná , mas precisamente a Francisco Beltrão com direito a um pulo na Argentina, alem de algumas cidades de SC e finalmente fui à Belo Horizonte. Cada uma me permitiu trazer na mala muitas alegrias.
Agora é projetar para este ano de 2015 novos momentos bons e inesquecíveis, mas nas minhas prioridades continuarão os passeios e viagens curtos ou longos, não importa, o que vai valer é o conhecer ou rever certos lugares e suas peculiaridades.
Estudar, aprender e ler um pouco mais. Conhecer mais pessoas, conviver com os amigos e com as pessoas queridas sempre que houver oportunidade.
Estar a disposição de Jesus sempre. 
Ajudar o próximo incondicionalmente sempre que a oportunidade se apresentar.
Cuidar dos meus gatinhos e do meu Gato, e das minhas flores.
Continuar escrevendo e terminar o romance começado.
Também vou separar uma latinha e toda quinta-feira colocar nela no mínimo R$ 10,00 e só abrir a lata em 31 de dezembro de 2015 e com o dinheiro fazer um passeio, e recomeçar a guardar em 2016, simples assim.
Orar e agradecer muito as Bençãos que Deus derrama sobre nós incondicionalmente.
Feliz 2015!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

do Amor, da Família e das Festas de Natal

                                          Do Amor, da Familia e das Festas de Natal
Felizmente ao ser relembrado o Nascimento de Jesus, sendo representado em sua forma em presépios como é contada a Sua história, nos sensibilizamos com a chamada Sagrada Família e procuramos nesse período sermos mais condescendentes com os nosso familiares.
E essa é a idéia; antes de recomeçarmos um novo ano de alegrias e atribulaçãoes, renovamos nossas energias entre os nossos afins, nos confraternisamos procurando deixar de lado pendengas tolas e sem sentido que nos indispõe muitas vezes pelo resto da vida se tudo não for resolvido horas depois.
Pois é, o que muita gente não sabe ainda é que nascemos juntamente com nossos desafetos de outras existência, pessoas que nos magoaram, que nos feriram fisica e ou moralmente justamente porque precisamos perdoar e sermos por eles perdoados, de procurar entendê-los e permitir que eles nos entendam, dai a necessidade do esquecimento ao renascermos em cada reencarnação. 
Como não amar nossa fofas criaturinhas que vêm ao nosso lar totalmente dependentes de nós para sobreviver? Sim, eles mesmos os nossos amados filhos irmãos e agregados, viemos todos juntos numa familia abençoada por Deus para nos amarmos, para aprender a nos tolerarmos, a nos perdoarmos e a conviver com nossas falhas e defeitos. Estamos todos no mesmo barco do aprendizado para atingir um ponto maior de evolução no final de cada trajetória.
E As festas Natalinas são ótimas para procurarmos nos amar incondicionalmente, pelo menos devemos tentar. 
Podemos conversar sem discutir, sermos mais tolerantes, humildes e exercermos mais a empatia, ficar calados se alguém se alterar, não guardar no coração palavras ou frases ditas no calor da conversa ou banhados em bebidas alcoolicas e assim procurarmos absorver aquele momento de paz que o presépio nos traz; 
Um bebê rosado acomodado entre as palhas, acalentado pelos pais embevecidos, num lugar singelo entre animais pacíficos.
Vamos fazer do nosso lar um lugar pacífico, onde a mensagem maior do aniversariante é o Amor Universal. Vamos procurar exercê-lo com humildade não só durante as Festas de Natal, mas o ano todo.
Vamos comer menos, beber menos e orar mais.
Feliz Natal, cheio de Luz Espiritual.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Dando Tratos à Bola

                                  Dando Tratos à Bola 
Como estou sem inspiração para escrever algo leve e agradável estou postando este novamente.                              
Mente sã em corpo são.
Neste momento não me garanto nem por um e nem por outro.
De frase em frase feita está feito o escrito e passada a mensagem.
Está dada mesmo que a torto e a direito. O mais importante é que sai do fundo do peito e do coração, procurando escrever o certo por linhas tortas,  ao pé da letra, com a modesta intenção de deixar para a história meu humilde trabalho de escrever que considero mais duradouro que o bronze.
Apesar de saber ser difícil a tarefa, acredito muito que água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Sendo assim, constato muito barulho para nada que dos males o menor , mas também procuro não fazer , pois reconheço que a cólera é uma loucura breve.
Assim sendo, considero que o que está feito, esta feito, pois que este pode ser o último,mas não o menor, tem a breve porem profunda função de desejar a todos muitas  felicidades.
Tenho que ter a humildade ao compor esse trabalho, por que sei que louvor em boca é vitupério, além de reconhecer que às vezes tenho asas maiores que o ninho, mas também considero que neste momento a sorte está lançada, ou como queiram os puristas no bom e velho latim: Alea jacta est.
Porém, por uma questão de educação e pejo jamais colocaria a frase de raiz portuguesa, mesmo considerando o preço do peixe; para quem é, bacalhau serve, pois poderiam se sentir ofendidos, porém considerando que somos todos farinha do mesmo saco, convém deixar para lá.
Para encerrar tão “profundas” considerações a respeito de frases feitas e não querendo me alongar, mas já me alongando, entendo do fundo de minha alma que para bom entendedor meia palavra basta, assim como para quem sabe ler, um pingo é letra.

Boa semana...

sábado, 6 de dezembro de 2014

Um Barbante e uma Caixinha

                                        Um Barbante e uma Caixinha.
Seu Agripino resolveu vasculhar as bugigangas guardadas no quartinho de trás.
A casa era antiga cheia de badulaques e se acumulavam por toda parte dos quase cinquenta anos que moravam ali.
Olha daqui, abre caixa dali, remexe no baú de metal que foi trazido da Iugoslávia pelo seu bisavô e por ai vai investigando as quinquilharias...
De repente uma caixinha preta pouco maior que uma caixa de fósforos das grandes, ou um maço de cigarros, lhe chamou a atenção; Era um gravador, um pequeno gravador de fita, ainda com uma fita usada pela metade. Interessadíssimo no artefato passou para dentro de casa e foi até o escritório procurar pilhas e uma possível fita remanescente do aparelho.
Achou as pilhas, mas nenhuma fita daquele tamanho.
Ligou o gravador fazendo aquele barulhinho de aceleração da fita. Um “zip” longo e desafinado.
Virou toda para um lado e depois toda para o outro. Apertou o “Play”, mas não conseguiu ouvir nada, apenas umas vozes que mais pareciam do além resmungando palavras inteligíveis.
Pegou o aparelho e saiu de casa, interessadíssimo em botar para funcionar o “brinquedinho” novo.
Foi até uma loja no Shopping e comprou a fita adequada.  Mais adiante entrou numa lanchonete, escolheu uma mesa num lado mais iluminado e pediu um café. Dai desmontou o aparelhinho sobre a mesa novamente, observando detalhadamente a sua estrutura. Colocou tudo de volta, as pilhas e a fita nova e jogou a outra fita na lixeira. Ligou o gravador e deixou a fita gravar todos os sons do ambiente, sons que ele mesmo selecionava em sua cabeça, uma fala aqui, uma risada ali, um barulho de coisa caindo, uma música de fundo, coisas assim, muito burburinho.
Na verdade ele não queria se imiscuir na vida de ninguém, ele era um senhor de idade, educado e muito discreto, meio solitário que só queria gravar o som da rua, da vida, do que está disponível para ser ouvido, só isso.
Nisso duas mulheres sentaram-se à mesa ao lado conversando animadamente.
-  “... Ele não é tudo aquilo que parece, acho que nem valeu a pena eu ter me arriscado tanto...”
- “O importante é que você tirou a dúvida, agora desencana e parte para outra amiga, “a fila anda...”
Daí ele pediu a conta e saiu para a rua, caminhou até a esquina seguinte onde um homem discutia com uma mulher e ele parou perto, quase ao lado, ligando o gravador discretamente que estava no bolso de cima da camisa, abriu um jornal e fez que estava lendo ali parado.
- “Mas é claro que fiquei esperando, não era quarta feira, o dia combinado de sempre, por que mudou agora? Cansou de mim, em? Fala desgraçado, cachorro, bandido!!!
Nesse ponto ele desligou e saiu de fininho antes que recebesse um sopapo, pois a mulher deu um safanão no homem o empurrando para traz que o fez desequilibrar e quase cair.
Andou em vários lugares com o gravador ligado e depois resolveu voltar para casa.
Entrou no ônibus e logo que sentou acionou novamente o aparelho para ver o que sairia, daí ao chegar em casa foi direto para a poltrona favorita escutar a fita e os sons da rua.
Havia o som de um violino desafinado tocado por um musico de rua. Um vendedor gritava suas mercadorias em alto e bom som. “Relógios à prova d’água com garantia de 400 metros de profundidade”, daí ele riu se lembrando de que o camelô vendia os relógios mergulhados em uma bacia de água.
Duas senhoras numa loja trocavam ideias sobre o que dar de presente para a outra amiga. Mais duas contavam de suas crianças e suas gracinhas e outra mulher  contava num grupo de um encontro com alguém que conheceu na internet.
De dentro do ônibus as conversas se misturaram mais só dando para ouvir palavras soltas e sem sentido, apenas um salmo inteiro saiu da boca da vizinha de banco que lia a sua Bíblia para quem quisesse ou não, ouvir completado com um hino, ficou pensando se ela não havia percebido que ele estava gravando e resolver dar um show.
Assim, seu Agripino passou um dia diferente com o seu gravador de vozes.

Dia seguinte ele voltou ao quarto de quinquilharias para ver o que havia para ele se distrair, coisa que quando se fica velho não se tem muito, ou se tem, quando se resolve viver como as crianças que brincam com um barbante e uma caixinha vazia...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Bom Gosto

                                                 Bom Gosto
Eu gosto muito de palavras ou às vezes uma frase, escritas e faladas  e como sempre digo aqui, de vez em quando alguma se destaca assim como um luminoso piscando, piscando bem na minha frente, dai eu fico repetindo, repetindo, analisando “de perto”, sentindo o que realmente ela quer dizer e nestes últimos dias de observação têm se destacado a dupla BOM GOSTO.
Afinal o que é bom gosto? "Fulana tem muito bom gosto", "a casa dela é de muito bom gosto", "ela se veste com muito bom gosto", ou "a estampa é de muito bom gosto", "o casaco é de muito bom gosto", "aquela loja só tem artigos de bom gosto", e por ai vai...
E isso muito me intriga, pois nem sempre concordo com “todo” esse bom gosto. Gosto é um sentimento muito particular e cada um tem o seu. 
O bom é claro, quando se chega o mais próximo possível de um denominador comum para que haja um maior conforto coletivo. 
Aquilo que “todo mundo gosta”, se é que existe algo que todo mundo goste.  
Tipo assim; se alguém arruma objetos diversos num espaço, roupas, plantas, quadros ou qualquer coisa, e uma grande maioria aprecia com agrado poderemos afirmar que aquele que fez a composição tem bom gosto ou é o nosso gosto que se identificou positivamente com o material apresentado?
Parece uma idiotice o que estou querendo dizer e provavelmente é, mas como disse, ultimamente tenho ouvido com tanta frequência essa dupla de palavras que fiquei dias e dias durante horas conversando com os dois lados do meu cérebro e a confabulação entre ambos me levou a escrever este “artigo” imprescindível e de extremo bom gosto, para não esquecer quantas horas inúteis eu passo pensando em algo tão relevante para a evolução do universo e seus vizinhos.... afff
Esta é só para sacudir um pouco e deixar a segunda feira nublada e insípida e o restante da semana mais interessante. 
Desculpe fazê los chegar até aqui para ler uma historinha requentada e não levarem nada... realmente não foi de bom gosto... hahahah 

sábado, 22 de novembro de 2014

B.O. da Semana

                                                    B.O.  da Semana. 
Romeiro da Guia era um motorista de entregas que trabalhava como um jumento e comia mal prá caramba. Trabalhava tanto que não sobrava tempo para parar e comer, por conta disso vivia com fome, injuriado com a marcação da mulher em cima dele, que o queria com “barriga de tanquinho” para desespero dele que nos finais de semana ainda precisava malhar por horas.
Daí que em casa a comida era toda balanceada, leve, só de grelhados e saladinhas. Como sabia que ao chegar em casa só iria comer salada de folhas de alface quase brancas, duas rodelas de tomate com sal e limão e um bife de frango magro e pálido grelhado, ele passava antes na casa cor de laranja, na rua de trás, onde morava uma amiga de juventude que sempre arrastou uma asa ou o passarinho inteiro para ele, mas ele fazia de conta que não percebia, até porque não era homem de traições era apenas um homem com fome, literalmente.
E lá estava a Lindaflor quase todos os dias, cheia de carinho e amor para dar, que nem era tão linda e nem tão flor e o recebia com comidinhas tentadoras, daquelas que amava, como a Buchada de Bode, Rabada, Mocotó, o Feijão com carnes bem temperado e por ai vai o “delicado” cardápio de quem trabalha no pesado e não gosta de “frescuras” à mesa. Fora ainda as outras comidinhas irresistíveis, como a Lasanha aos quatro queijos ou uma bela Macarronada com Salsicha ou Linguiça Calabresa e ele se fazendo de coitadinho, com cara de cachorro abandonado, vinha quase todas as noites comer ali, na casa de Lindaflor, antes de ir para casa.
- Oi Passei só para saber como você vai...
E ali era convidado a entrar e comer para a sua felicidade comidas deliciosas.
E depois quando chegava em casa, vinha com a mesma desculpa para a mulher, de que demorava porque tinha que deixar o caminhão pronto para o dia seguinte, limpo e abastecido e com isso tardava sempre, chegava quase as 22 horas.
Daí que algum “passarinho” foi contar para a Zelgamara, nome de sua mulher, que ele passava sempre na casa cor-de-laranja  antes de ir para casa. A mulher enlouqueceu de ciúmes e naquela noite mesmo, quando ele ia saindo na porta com um palito na boca, não sem antes dar um beijo no rosto de Lindaflor que se derretia toda e se contentava com tão pouco na sua vidinha solitária, deu de cara com a Zelgamara de mãos na cintura olhando furiosa os dois.
Sem saber o que dizer e já sentindo tudo o que comeu virar uma pedra no estômago gaguejou algumas silabas sem sentido tentando arranjar uma desculpa para estar ali.
Depois de se socarem os três pela calçada e as mulheres quase arrancarem os cabelos uma da outra, foram todos recolhidos ao camburão que foi chamado para resolver o quiproquó.
Agora diante do Delegado as duas mulheres falavam o mesmo tempo enquanto o homem olhava as duas desconsolado, imaginando que no dia seguinte não teria mais as comidinhas que gostava.
- Doutor, peguei este cachorro em flagrante adultério saindo da casa da amante. Ouvi dizer que passa lá todas as noites para jantar e sabe-se lá fazer mais o quê, antes de ir para casa.
- É isso mesmo, ele passa lá em casa porque ela não faz comida para ele Doutor...
- Eu??? Mas que mentira, mulher!!! Ele tem janta todos os dias e quando chega e ainda come! Esse faminto!
- Pois ele diz que você só come alface, tomate e filé de frango grelhado...
- E você, seu cretino! Ainda chegava em casa e comia para eu não desconfiar de nada, por isso que só engorda.
- Não... Você está enganada... Eu explico...
Tentou balbuciar alguma coisa...
 - Então me diga o que fazia na porta dela dando beijinho e tudo, seu vagabundo traidor!? Era a prova que eu precisava da sua traição...
E avançou na direção dele para lhe dar um sopapo, mas foi detida pelo guarda.
- Se contenha, senhora! De posse de minha autoridade posso mandar prendê-la por desacato. Continue!
Falou com firmeza o Delegado.
- Você sabe, Lindaflor, a Linda, é minha amiga de infância e quando hoje eu passei na frente da casa dela, ela me ofereceu uma Lasanha e eu não resisti, trabalho muito doutor e no pesado, faço entregas e geralmente nem tenho tempo para almoçar e a fome quando bate chega a doer o estômago e me dá até tontura o senhor sabe...
- Eu não sei de nada, vamos em frente que ainda vou jantar... Continue...
Dai Lindaflor se antecipou e retrucou:
-Você faz regime (falou olhando para a Zelgamara), deixa-o sem comer e ainda vem bater na minha porta e eu até pareço que deliro vendo duas antas na minha frente brigando por causa de comida a esta hora da noite? É claro que eu não tenho nada com o seu maridinho minha querida, apenas dou de comer para esse cachorro sem dono, coisa que você não faz. Olha como ele está cada vez mais magro! Dá dó de olhar, tá até envelhecido...
- Anta é você, sua alienada! Não é porque me dá uma comidinha aqui outra ali que vai me desmoralizar e me chamar de anta de velho e de cachorro sem dono, assim também não, ora! Assim você me ofende e faz cair por baixo toda a consideração que tenho por você e vai abalar a nossa amizade...
 Falou o Romeiro cheio de auto-piedade...
Foi quando Lindaflor resolveu abrir para o Delegado a situação toda;
-  Amizade sim e bota amizade nisso, nada mais que amizade, aff...
Falou com ironia olhando bem para Romeiro que desviou o olhar e em seguida virou-se novamente para o delegado continuou:
- É o seguinte "seu doutor"; este homem que aqui está, passa fome como um cão de rua mesmo, porque a mulher dele quase não come querendo emagrecer e quer que ele fique bem magro com barriga de “tanquinho”, então resolveu fazer regime e daí só come as folhas brancas de alface com rodelinhas finas de tomate e não faz comida para ele, comida com “sustança”, entende? Comida forte para homem forte que trabalha no pesado, vê se pode doutor!?
Nisso Romeiro a interrompeu indignado.
- "Peraí!" Cão de rua, não! Não esculacha, já falei que você não tem o direito de me ofender em nome da nossa velha amizade...
- Quem dá de comer tem direito sim; não tem doutor?
- Antes de lhe responder retire a "anta" e o “cão de rua”, pois aqui e agora represento a lei e não permito ofensas diante de mim...
Nisso Zelgamara interrompeu e aos gritos falou:
- Pois eu vou lhe processar sua desqualificada! Vou contratar um advogado e abrirei um processo contra você de injúria e difamação... E quer saber mais, pode ficar com ele viu? Homem com barriga não é comigo, homem para mim tem que ter barriga de tanquinho!
E saiu porta fora sem mais dizer...




segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Retrato

Foto meramente ilustrativa retirada da Internet

                                                              O Retrato
O casal de idosos desistiu de sair porque estava chovendo muito, senão já estariam andando por ai como sempre faziam.
Daí que Reinilda, a senhorinha, resolveu arrumar alguma coisa para fazer e foi procurar lá no quartinho dos fundos. Depois de revirar aqui e ali pegou uma caixa de madeira tão antiga que até parecia ter vindo na caravela de Cabral. Gritou para o marido que estava na sala com a televisão desligada, pois eles tinham medo que caísse algum raio por ela estar ligada com aquela chuvarada. Por isso que não sobrava muito que fazer depois que acordavam do cochilo da tarde se não tinham a televisão para assistir. A televisão em casa estava sempre ligada.
- Nicanor, ô Nicanor! Vem aqui me ajudar, a caixa está muito pesada.
- Que caixa “Reizinha”? -(era como a chamava).
- A caixa de fotografias, vamos ver, já faz tempo que não olho as fotos...
Lentamente seu Nicanor se levantou e se dirigiu para os fundos para ajudar na tarefa difícil de carregar a caixa de madeira pesada.
- Pronto, aqui está, vamos olhar as fotos.
- Olha só a Aninha no primeiro dia de aula de uniforme, lembra disso Nicanor? O seu Nilo fotógrafo foi quem bateu quando ela passou lá na frente da loja. Olha aqui a foto do seu afilhado Philomeno, tadinho, morreu tão jovem...
- Ele foi Pracinha da FEB...
-Olha só a foto do casamento da Tia Branda, ela parece mais um fantasma do que uma noiva...
-Também se a gente está velho imagine Tia Branda, já seria bicentenária... nessas fotos antigas todo mundo é feio pra caramba, mas era muito feia mesmo essa sua tia, viu? nem sei como arrumou marido...
- Feios são seus parentes!!!
-Hahahaha...
Dali a pouco os dois riam e se divertiam de olhar as fotos mais antigas do que eles e iam relembrando de casos que eles passaram ou tiveram notícia, de como por exemplo, uma foto de família que eles estavam olhando, que ao contrario dos costumes da época, quando o comum eram todos pousarem bem sérios e arrumados perfilados em tamanho e idade, naquela foto todos estavam assustados e desarrumados nas suas posições. Um verdadeiro “instantâneo” como se dizia. Daí Reizinha se lembrou o que ouve naquele dia em que a foto foi tirada, mas antes precisou contar que a prima Valda, era muito cheia de não me toques e não muito certa da cachola. Volta e meia, se alguém se alterasse um pouco com ela ou fosse contrariada, ela desmaiava, ai era uma correria, iam pegar os sais e daí levava um tempo para ela voltar.
Então assim que contrataram o fotógrafo que veio em casa para tirar algumas poses da família inteira reunida para guardarem uma lembrança. queriam uma foto de família para a posteridade, um lindo momento. Então todos foram avisando insistentemente à tia Valda que a máquina de fotografar era um modelo que o fotógrafo colocava fogo num material e causava uma pequena explosão, mas era assim mesmo, uma coisa simples, nada para ela se assustar.
 Pois cansaram de avisar Tia Valda que “a coisa” em determinado momento iria fazer barulho e fumaça e que ela se mantivesse fazendo a pose; pois não deu outra: quando o negócio estourou ela caiu para trás dura e tesa por aproximadamente uma duas horas e não houve sais que a acordasse.
Riram muito relembrando essa história, até que de repente o Nicanor olhou uma foto de um homem em pose  de artista e dedicatória; “Para Reinilda, com todo o meu afeto”, uma assinatura cheia de volteios que não dava para decifrar.
Pois a festa e as risadas acabaram ali, tal o ciúme do Nicanor em querer saber que admirador era aquele com foto e dedicatória, todo “empombado” ?
-Eu não sei, você foi meu único namorado, eu não sei, eu não sei...
E saiu chorando la para dentro.
Emburradíssimo, e pela primeira vez em 60 anos de casados, Nicanor passou a noite sem dormir, remoendo de ciúmes no sofá  da sala, e ela intrigada sem saber quem era o homem da foto, passou a noite sentada na cama enorme pensando e pensando - “Quem seria aquele homem que ela não  lembrava ?...” –
De manhã, Reinilda se arrumou e saiu logo cedo, foi até a igreja encontrar com a Miranda, a sua amiga de infância, levando a foto para ver se ela sabia quem era aquele homem totalmente estranho para ela...
Nervosíssima entrou e logo viu no lugar de sempre a amiga, mas como a missa estava começando resolveu esperar para depois falar com ela. 
Assim que acabou elas saíram rapidamente e entre as árvores do jardim,  a amiga mostrou a foto da briga que causou a separação de Reinilda e Nicanor.
Miranda olhou, leu revirou ou tentou ler os rabiscos inteligíveis, virou e revirou a foto nas mãos negando com a cabeça conhecer aquele homem. 
tristemente, Reinilda já ia saindo desenxavida quando a Miranda gritou:

- Lembrei! Era um ator de cinema famoso naquela época lembra?  A gente escrevia para a revista Cinelândia e depois recebia a foto com dedicatória e todas as informações sobre o ator que a gente queria uma lembrança. O nome dele eu não me lembro, ai é querer demais né amiga? Hahahaha.

(Essa historinha da fotografia foi inspirada numa história verdadeira que meu pai contava de uma parente dele. Ela dava chilique e desmaiava por tudo.)

domingo, 9 de novembro de 2014

O Homem do outro lado da Rua

                                             O Homem do outro lado da Rua...
Quando Marialva abriu a janela pela manhã, teve que fechar olhos sonolentos tal a intensidade da luz que lhe inundou inteira.
 Lentamente os abriu e de novo e pode ver um vulto parado a frente, há uns 15 metros, mais precisamente do outro lado da rua. Era ele! Era ele novamente ali parado!
Arrepiou-se toda e apavorada fechou novamente a janela e se aprofundou pela casa indo parar na porta dos fundos ofegante.
- O que será que ele quer?
Fazem alguns dias que aquela pessoa esquisita fica parada ali na frente, do outro lado da rua olhando para cá, de chapéu e casaco de lã, que coisa estranha. Marinalva nem saiu mais de casa, não teve coragem, teve até que encomendar algumas coisas pelo telefone para o Seu Manoel da padaria, um transtorno.
E o homem não sai do lugar, a noite nem se atreve a olhar pela janela, até porque o poste de iluminação estava sem luz e precisava ser trocado por conta de uma batida de carro e ainda não havia sido providenciada a troca, não conseguia ver nada, aliais nem quis ver nada...
Ela morava no sobrado antigo, quase na esquina, e elevava uma vida solitária há muitos anos e agora acontecia uma coisa dessas, por conta disso quase não saia do quarto de cima olhando quem passava, só não entendia porque aquele homem ficava ali, parado de casaco de lã e chapéu, era muito esquisito.
De tantos dias andar sumida apareceu uma amiga que veio tomar chá com Marinalva como fazia as vezes e lá ficaram de conversa. A amiga notou que a casa estava toda trancada, janelas e cortinas fechadas  e achou a amiga um tanto estranha, ressabiada, nervosa, e várias vezes perguntou o que estava acontecendo e Marinalva sempre desconversava. La pelas tantas, enquanto recolhiam as xícaras e os biscoitinhos a amiga a pressionou mais uma vez perguntando o que estava acontecendo. Sem segurar as lágrimas tremendo muito ela confidenciou que nesses últimos dias havia um homem sempre parado no outro lado da rua e ela estava apavorada, ela olhava daqui e ele estava lá...
 A amiga aflita então correu até a janela e a escancarou para ver o tal homem, se ainda estava lá. Marinalva nem quis se aproximar da janela, ficou no meio do quarto, toda ressabiada sem sair do lugar.
- Como é esse homem que você vê daqui da janela?- Falou a amiga.-
- Ele usa chapéu e casaco de lã...
- Venha cá, veja se é aquele ali.
Com muito medo e ainda relutante ela se aproximou da janela e olhou para onde a amiga apontava.
- Sim, é ele sim, você acha que devo chamar a polícia?
-Só se for para passar vergonha mulher!  Aquilo é uma propaganda que colocaram ali, daquela Loja de roupas masculinas e deve ser lançamento da moda de inverno. Que vexame Mari, você precisa é de fazer uns óculos novos!



domingo, 2 de novembro de 2014

Quando Ela bate à Porta

                                                Quando ela bate à porta...
Godofredo ouviu um toc toc na porta e foi abrir. Levou um susto, era dona morte vestida à caráter. De susto caiu para trás, literalmente, mas se negou a desmaiar para não perder o controle da situação. O coração queria sair pela boca e a tremura era geral.
- Levanta desse chão "meu filho" e vamos conversar, vamos encarar uma DR na boa e sem xiliques.
- Como assim, DR?
- Sim, vamos discutir a relação vamos ver no que devia e não foi e o que foi e não devia.
- "Num tô intendendo"...
- Como não está entendendo, se estamos juntos desde o primeiro minuto da sua fecundação?
- Como assim?
Todo mundo vive durante a vida toda numa corda bamba, resvalando nos meus braços o tempo todo...
- Como assim?
- Como assim, como assim, só sabe falar isso? Que falta de assunto...
- É que olhar para a senhora aqui, diante de mim, me dá arrepios e o meu cérebro até parou, pânico total.
- Bobagem frescura, já não disse que estou a seu lado o tempo todo? Quando criança e subia nos muros e árvores, depois o skate, depois os quase atropelamentos, os quase afogamentos, os coma alcoólicos na juventude. Cada vez que você entra no seu carro eu me sento ao seu lado de cinto de segurança e tudo, até porque você dirige mal à Bessa. 
Cada final de semana quando você enche a cara e depois curte aquela ressaca infernal eu estou ali, avaliando seu coração à beira de um enfarto. Quando você sai para as baladas eu já preparo as tesouras para cortar seus laços de vida, pois sempre acho que vai ficar por lá mesmo jogado em qualquer canto entupido de bebidas e outras substancias, tanta bobagem e insanidades que você faz, sem falar nos cigarros que você fuma cada vez mais. E seus sentimentos e pensamentos então? Sempre raivoso, cheio de ódio e de pensamentos cheios de vingança, assim não dá, então resolvi ter uma conversa séria com você; ou você muda os hábitos rapidinho ou vai comigo embora agora mesmo e a gente acaba com isso logo; eu tiro férias e você vai virar saudade. O que me diz?

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Bicicletinha

Por conta de um acontecido com a minha filha Lígia Fascioni quando ainda fazia faculdade, escrevi um conto divertido chamado "A Bicicletinha". 

É que durante muito tempo não tinha ônibus direto de Florianópolis-SC para Campinas-SP. Então era uma mão-de-obra daquelas ao chegar no Terminal Rodoviário do Tietê de SP logo ao raiar do dia, cheia de sono carregando malas, sacolas, pacotes etc, subir ao andar de cima, comprar a passagem e descer novamente para a outra plataforma carregando tudo para tomar o ônibus para Campinas-SP e continuar a viajar por quase duas horas ainda. 
Chegava-se exausta e muitos passageiros ficavam muito irritados e mau-humorados, que felizmente não era o caso da Lígia sempre feliz e saltitante. 
Mas por conta de fazer a faculdade até sexta feira o dia todo, ela saia direto da aula carregando o material, mala e tudo e embarcava no ônibus as 18 horas, viajava a noite toda e ainda quando chegava, ia direto ao dentista apertar o aparelho e só ia para casa na hora do almoço, onde descansava e contava as novidades até as 16 horas do domingo quando fazia o sentido inverso para Florianópolis. Todos os meses era assim. Neste período morava em São Paulo-Capital um sobrinho com a mulher e uma filha pequena. Dai é que aconteceu o que me levou a ter a ideia de escrever o conto. Minha irmã telefonou para a Lígia no meio da semana e pediu para ela levar uma encomenda, na verdade um presente para a neta, que ela não se preocupasse que o filho esperaria o ônibus de manhã cedo e pegaria com ela a encomenda sem falta antes que ela fizesse a baldeação. 
Na realidade ele a esperou certinho na plataforma de desembarque sem problemas como o combinado, mas a Lígia levou o maior susto quando estava embarcando ainda, quase na saída do ônibus, quando a minha irmã apareceu com uma bicicletinha daquelas "Toncas", de rodas gordinhas, toda cor-de-rosa, o que fez a minha filha pensar; -"e se ele não chega por algum motivo, o que vou fazer com isso?" Daí em diante, sempre que alguém lhe pede um favor ela logo responde sorrindo: "desde que não seja uma bicicletinha"-... 
Foi ai que um dia eu tive a ideia de escrever este conto que transcreverei em seguida.

                                       ♥ A Bicicletinha♥
-Viva! Viva! Consegui, consegui...
Ele gritava e pulava timidamente com os braços para cima percorrendo a pequena casa onde morava com sua madrinha que o acompanhava logo atrás toda contente, festejando a boa notícia com aquele que para ela, era um filho. Deodorinho não teve como se costuma dizer, muita sorte na vida. Filho de mãe solteira que morreu no parto, foi criado pela avó, já idosa e doente que veio a falecer quando o garoto entrava na adolescência. Desde então se mudou com seus poucos pertences para a casa da única parente que lhe sobrou; a tia e madrinha d. Firmina, senhora idosa, muito religiosa, que lhe completou os estudos com o pouco dinheiro guardado na poupança por sua avó, para o futuro do neto.
D. Firmina, senhora de princípios rígidos, beata assumida, se viu de repente com a incumbência de criar aquele menino, ela, que por sua vez também era solteira como foi até morrer sua irmã, a mãe do Deodorinho.
-Fazer o que? Vontade de Deus! Ele é que manda no nosso destino e não podemos fugir dele.
Dizia ela conformada.
Meio perdido em referências familiares, principalmente masculinas, criado por mulheres de idade avançada, muito religiosas e costumes antigos, o garoto tornou-se um tanto esquisito. 
Muito magro e alto, olhar meio cismado, sem vícios, sem namorada, mas a bem da verdade era muito inteligente e educado, isso não se podia negar. 
Estudioso, introspectivo e muito inseguro diante da vida, sua cabeça era povoada de indagações, sonhos e anseios como todo mundo, mas faltava aquele viço e a firmeza de um homem. 
Tinha as mãos sempre úmidas de suor nervoso. Vestia-se sempre com camisa de manga comprida e colarinho abotoado. Não tinha amigos de sua idade. Frequentava a biblioteca Municipal onde lia de tudo, satisfazendo as suas curiosidades. Foi sempre bom aluno e agora era um homem formado. Até fez alguns cursos e alguma especialização numa empresa pequena de uma cidade vizinha, o que não contribuiu muito para sua segurança. Havia uma aparente incoerência entre ser inseguro e sonhar grande. Mas Deodorinho era assim. Sua cabeça sonhava alto, queria morar numa grande cidade, talvez numa capital, ganhar um bom salário e crescer na vida, ser igual a todo mundo, seja lá o que isso queira dizer. Podia ser até uma cidade bem longe não tinha importância, ele iria assim mesmo. Para tanto foram encomendadas por sua madrinha e o padre da cidade, inúmeras novenas e visitas da imagem da Santa Edwiges, São Judas e Santo Expedito em sua casa com novenas no local para conseguir o intento. E eles não lhe faltaram, logo no semestre seguinte veio a resposta de uma grande empresa da Capital lhe oferecendo emprego e convocando-lhe o comparecimento na próxima segunda-feira, as nove horas da manhã portando todos os documentos para a entrevista. Seria no começo da semana seguinte.
-Viva! Viva! Consegui o emprego! Consegui! Gritava timidamente Deodorinho com o coração acelerado de emoção empunhado o telegrama para o alto, numa das mãos, acompanhado das palmas da madrinha d. Firmina provocando a curiosidade de suas vizinhas mais próximas que vieram ver o que estava acontecendo e entrando sem cerimônia na casa, para fazer parte daquela alegria da qual se sentiam também um pouco autoras, já que suas orações e comparecimento às novenas também tiveram algum peso na decisão dos Santos. Todos batiam palmas e entoavam cantos sacros em louvor a Deus. Até que cansados, pararam ao redor da mesa da cozinha e resolveram tomar um refresco com biscoitinhos caseiros para comemorar.
Agora mais descansados todos comentavam os detalhes da viagem, o que ele deveria levar na mala etc...
-Não esqueça de um bom agasalho!Isso era primordial para uma delas que repetia com ênfase de vez em quando.
-Na capital de São Paulo faz frio!
-Mas estamos em final de novembro...
-Nunca se sabe! Numa capital como São Paulo acontece coisas que até Deus duvida, que dirá, um frio de repente!
Uma delas até contou com muitos detalhes, que tinha um afilhado muito querido que se mudou para lá assim que nasceu e ela sabia que ele estava sempre com bronquite. Agora já estava curado e ia até para a escolinha, um amor.
- Coitadinho, morando lá naquele fim de mundo! Nunca esqueço dele, “judiação”, sempre faço orações por aquele menino, mas a minha comadre sempre escreve contando como ele vai passando. É, escreve sim. E quando a carta demora, eu telefono; nunca se sabe o que pode acontecer por aquelas bandas.
Falava com a maneira peculiar do interior. E assim as velhas senhoras, algumas disfarçando as lágrimas de saudade precoce, no afã de agradar Deodorinho falavam sem parar deixando o rapaz cada vez mais embaraçado e aturdido, com tantos conselhos, palpites e opiniões. 
No fundo mordia-lhes a curiosidade de conhecer outra cidade e transferiam para ele essa emoção enquanto ele contava os minutos e os segundos para sair dali conhecer o mundo lá fora, ver ao vivo as coisas que via na televisão e nos livros que lhe pareciam bem diferentes desse “mundinho” em que ele vivia no interior de Minas entre padres e beatas. 
Ele reconhecia todo o carinho da madrinha e de suas amigas que o rodeavam o tempo todo desde menino, mas queria sair logo dali. Por isso mandou currículo para uma grande empresa na capital de SP e deu sorte, agora foi chamado para entrevista. 
Um frio na barriga se tornou constante daquele momento em diante, mas a vontade de ir era maior. Todos estavam felizes por ele e com ele. Naquele final de semana foi muito agitado, inigualável. Aconteceu de tudo. Era um corre-corre só. Sua madrinha ficou tão nervosa que a pressão subiu, deu uma batedeira no coração e tiveram que leva-la para a Santa Casa o único hospital da cidade. Demoraram por lá umas horas e voltaram para casa com d. Firmina medicada e cheia de recomendações médicas, pouco tempo antes do embarque para São Paulo, tanto que tiveram que transferir a passagem para cima da hora em pleno domingo.
As amigas já tinham lavado e passado toda a roupa de Deodorinho que repousavam esticadas e prontas para a viagem sobre a cama ao lado da imensa e entulhada mala. 
Uma canja quente e saborosa esperava sobre o fogão na cozinha, enquanto o cheiro de café e pão caseiro se espalhava pela casa pouco antes de irem tomar o ônibus.
Agora passada a euforia, um pouco mais calmos, todos conversavam animadamente à mesa naquele dia inesquecível aguardando a hora de embarcar.
Logo após o almoço ele já estava pronto, vestido de colarinho e gravata, para uma viagem de aproximadamente onze horas, ouvindo pela milionésima vez as recomendações educativas de cada uma delas, como se ainda tivesse sete anos de idade e fosse o seu primeiro dia de aula; ele que já completara vinte e seis. Sorria automaticamente como se fosse o príncipe encantado das histórias infantis. Concordava com tudo e nem por um momento demonstrava sua aflição interior. Ninguém que o observasse descobriria seus pensamentos. Deodorinho pensativo e calado num sorriso congelado no rosto observava ao redor, aquele mundinho que ele conhecia tão bem, já sentindo um pouco de saudade desse burburinho de vizinhos, do cheiro do café e pão caseiros, desse carinho espontâneo de cidade pequena onde todos se conhecem. Jamais esqueceria disso tudo. Jamais!
Iria para um período longo de viagem, chegaria ao amanhecer de um novo dia para uma nova vida. A chegada estava prevista para antes das seis horas. Tempo suficiente para lavar o rosto no banheiro da rodoviária, fazer a barba e tomar um café antes de pegar outro ônibus com destino à entrevista para o seu novo emprego. Estava anotado tudo num papel com horários cronometrados, até o endereço de uma pensão que lhe deu seu Laureci, do frete, onde se hospedou quando foi a São Paulo há quinze anos atrás. 
Começaria a partir daí uma nova vida. Não tinha ideia quanto tempo levaria para poder voltar para sua casa, aquele lugar, aquelas pessoas. Talvez não voltasse nunca. Quem sabe? Isso ia depender de muitas coisas. Entre elas o de gostar ou não da nova vida. E do novo emprego.
Um pouco depois enquanto todos esperavam o táxi que o levaria à estação de embarque, ele ficou novamente pensativo isolando seu pensamento das infindáveis recomendações sentindo o seu coração bater no pescoço.
Fechou os olhos por um momento e pensou; 
- Preciso relaxar, preciso me apresentar bem e muito seguro. Afinal em breve estarei dando os primeiros passos na brilhante carreira de executivo. Preciso de muito autocontrole.  
A aparente calma constante não deixava transparecer o turbilhão de pensamentos desencontrados que faziam sua cabeça latejar. Deodorinho tinha o temperamento fechado. O seu sofrimento desde seus primeiros anos de vida, fez com que controlasse suas emoções, para não ser rejeitado como uma criança chata, chorona ou teimosa. Assim nunca dizia não para ninguém, principalmente para a sua madrinha e as amigas dela que o mimavam e o achavam “uma moça” de tão educado. 
Finalmente chegou a hora da despedida, todos choravam copiosamente e Deodorinho sorria amavelmente para todas aquelas velhas e conhecidas senhoras, amigas e vizinhas de sua madrinha. Beijava uma a uma abraçando-as antes de entrar no táxi do seu Laureci do frete. Este também era seu conhecido, tinha um caminhãozinho de frete e um automóvel antigo como táxi. Os fregueses telefonavam e contratavam ou o caminhão ou táxi. Assim ele estava sempre servindo a comunidade. E era ele que levaria Deodorinho até o ônibus com as bênçãos de todas as velhinhas e do padre, que chegou a tempo de lhe fazer o sinal da cruz de longe abanando um adeus junto com elas. Sentado ao lado do motorista foi olhando para traz e também abanando a mão para o pequeno comitê de despedida em frente a casa, enquanto enxugavam as lágrimas de saudade sincera, até sumirem no final da rua.
Quando o táxi virou a curva da esquina da estação de ônibus ele viu uma das amigas da sua madrinha, dona Santinha, correndo com muita dificuldade, esbaforida mesmo. Vinha em sua direção com um enorme embrulho mal arranjado na mão, segurando o que parecia ser um cabo num dos lados.
-Ah! Graças ao São Judas, padroeiro das causas impossíveis, eu consegui chegar a tempo, vim rezando para conseguir e finalmente consegui.
Falava ofegante e sem parar, vermelha como um pimentão.
-Deodorinho meu querido, nunca lhe pedi nenhum favor, mas esse eu vou pedir porque você é da maior confiança, meu filho; Lembrei-me que tinha guardado no porão a bicicletinha de estimação da família, que primeiro foi do meu filho Vesúvio, depois do meu neto Armandinho que já está quase um homem, e eu quero mandá-la agora para o meu afilhadinho que mora lá em São Paulo, o Genivaldo. Não vai lhe dar nenhum trabalho, meu filho. Logo, um pouco mais tarde, que o telefonema é mais barato, eu ligo para a minha comadre e ela manda o marido pegar a bicicletinha na rodoviária bem cedo. Assim que o seu ônibus chegar, ele já vai estar na rodoviária esperando.
O que ela chamava de bicicletinha era um daqueles tradicionais triciclos, também conhecidos por "tico-tico", com assento de madeira, que quase todo mundo que viveu “antigamente” teve um.
Um frio gelado percorreu a espinha de Deodorinho e o sorriso de príncipe encantado congelou na face. Sem saber o que dizer e sem poder se negar ao delicado pedido da veneranda senhora, pegou num dos lados do guidão que aparecia fora do papel mal ajeitado e sem conseguir articular uma sílaba despediu-se da sorridente e suarenta amiga de sua madrinha que vibrava feliz por mandar o “presentinho” para o afilhado. 
Como se tivessem lhe dado uma paulada na cabeça, o rapaz olhava para o pacote disforme em sua mão, para frente e para os lados ainda sem saber o que fazer. Não sabia se levava a bicicletinha para a parte de cima do ônibus e a colocava ao seu lado no banco, ou se a deixava no bagageiro junto de sua mala. Afinal era uma bicicletinha de estimação, de família, tinha passado por gerações, não podia deixar que nada acontecesse com ela. Não dá para comprar outra, só em antiquário, sei lá. E agora?Deodorinho era daquelas pessoas metódicas, meticulosas, perfeccionistas, que não sabem lidar com imprevistos e esse era de bom tamanho. 
A conselho do motorista que assistiu tudo, deixou a bicicletinha devidamente registrada com etiqueta de bagagem no bagageiro inferior, mesmo porque ele havia comprado só uma passagem e não poderia ocupar o banco do lado que deveria ser ocupado por outro passageiro.
Respirou fundo e ainda aturdido entrou no ônibus, conferiu várias vezes o número do lugar com a passagem que levava na mão como se não soubesse mais ler e só então, sentou-se. Olhou pela janela e ainda viu dona Santinha abanando uma mão freneticamente enquanto a outra assoava o nariz com um lenço enorme. 
Retribuiu pateticamente o gesto sentindo os ouvidos zumbirem cada vez mais alto. A viagem seria longa, aproximadamente onze horas ou mais. Olhou diversas vezes o relógio sem conseguir ver as horas. Finalmente o motorista deu partida e ruidosamente o ônibus foi se deslocando para a saída da cidade em direção ao seu destino. Deodorinho ainda ficou olhando para fora, observando por um tempo o céu que anoitecia no horizonte até que viu as últimas luzes da cidade ficarem cada vez mais para trás, e só aí então, fechou os olhos e dormiu. Quanto tempo, não saberia dizer, talvez uma hora, talvez uns minutos, o fato é que de repente Deodorinho pulou no banco assustado, como se o ônibus com muitos passageiros a bordo, tivesse dado um grande solavanco num daqueles imensos buracos de estrada. Parecia que seu cérebro tinha se iluminado fantasticamente com uma lucidez assustadora. Um filme começou a passar pelo seu pensamento e com olhos arregalados de pavor, ele se viu descendo do ônibus no Terminal Rodoviário do Tietê em São Paulo, que ele iria conhecer logo depois do raiar do sol daquela segunda-feira de final de novembro. Pouco antes das sete da manhã, ele estaria num lugar desconhecido e até assustador, pelo que ele tinha ouvido falar e visto pela televisão. Imaginou-se andando pelo meio daquela multidão com uma enorme e pesada mala, entulhada de roupas de frio e tudo mais, em pleno verão, suando e com uma bicicletinha na outra mão. 
Precisava encontrar uma pessoa que nunca viu mais gordo e que também não o conhecia. 
Como eles iriam se conhecer? Quantas pessoas andam pela rodoviária carregando bicicletinhas? 
E se a dona Santinha não conseguiu falar com a mãe do menino? E se o marido da mulher tiver um compromisso logo de manhã e não puder ir ao meu encontro? E se o menino ficou doente durante a noite e eles o levaram ao médico? E se a doença for grave e eles o internaram? E se eles se separaram ou morreram ou a dona Santinha morreu depois que eu saí da cidade e nem deu tempo para ela telefonar? Ela é bem velhinha, então a mãe do afilhadinho Genivaldo não vai saber que estou levando a bicicletinha para o menino dela e não vai falar para o marido que não vai se preocupar em me encontrar, mesmo que seja o seu dia de folga. Por que ele iria deixar de dormir um pouco mais ou pescar para ir de manhã cedo à rodoviária buscar uma bicicletinha que mandaram de Minas? É claro que ele iria pescar e não iria por nada desse mundo buscar uma bicicletinha na rodoviária. E se não for o dia da folga dele então? E se ele trabalha numa grande empresa e não pode sair em horário de serviço para ir pegar uma bicicletinha na rodoviária antes das sete da manhã de uma segunda feira, que a madrinha do menino mandou do interior de Minas? Ou é daqueles bem chatos que não gosta de fazer favor para ninguém nem por uma bicicletinha de estimação que pertenceu aos antepassados da madrinha do filho dele, a d. Santinha? 
"-A madrinha que se lixe! - Ele vai dizer. Eu é que não vou pegar uma bicicletinha às sete da manhã na rodoviária do Tietê para o filho da minha mulher! -" 
E como é que eu faço? Tenho que comparecer na empresa e assumir o meu emprego e não posso chegar lá às nove horas da manhã levando pela mão a bicicletinha de estimação da dona Santinha! Ou quem sabe eu pego a bicicletinha e guardo no guarda volumes?! O seu Alfeu me disse que na rodoviária tem uns armários, que a gente paga para guardar coisas. É, mas eu trouxe pouco dinheiro e não vou gastar pagando estadia para a droga da bicicletinha, sem falar que tenho que voltar na rodoviária depois para pegá-la e vou levar para onde depois? O que eu vou fazer com a bicicletinha de estimação da dona Santinha, meudeus, vou ficar com ela na pensão onde vou morar? Mas se eu ainda não encontrei a pensão que vou morar?! O seu Laureci do frete me deu o endereço e eu nem desconfio se fica na direção do meu trabalho, sem falar que já faz mais de quinze anos que ele se hospedou só por uma semana naquele lugar. Pode ser que nem exista mais, nem a pensão e nem o prédio... Depois como é que eu vou para uma pensão de bicicletinha na mão? Vão me perguntar se é do meu filho e eu vou ter que dizer que não, ora! E que desses assuntos eu nem entendo muito, nem de filhos e nem de fazê-los e se querem saber a verdade; até sou virgem. E depois é uma bicicletinha antiga, eles nem vão acreditar que não é minha mesmo, vão achar que é uma daquelas lembranças que a gente guarda e leva com a gente, para o resto da vida. Como o meu travesseirinho que está na mala, ou um ursinho qualquer. Vão me achar um cara estranho e meio esquisito e aí vão me botar para fora da pensão e eu vou morar aonde? Vou ter que pegar outro táxi e com certeza o motorista vai me levar até outra pensão e vai me perguntar se a bicicletinha é minha e eu vou ter que contar que é da d. Santinha e que o pai do afilhado dela não é pai nem é padrasto talvez vá pescar mas se não for, vai me encontrar as sete horas na rodoviária do Tietê, depois de me deixar na outra pensão, porque na primeira me botaram para fora só porque não quis ter filhos nem bicicletinhas e nem ursinhos na infância. E só porque resolvi arranjar um emprego numa grande empresa de São Paulo, a minha madrinha que me criou, pediu aos Santos e Santas para ir a Santa Casa buscar o táxi do seu Laureci para me levar no guarda volumes da pensão e pegar o afilhadinho de d. Santinha que morreu de tanto telefonar para São Paulo e que ficou lá desde as nove horas...
E assim Deodorinho, ficou remoendo elucubrações enquanto roía o que restava das unhas pelo caminho.
De manhã, em plena segunda feira, naquele caos total de transito, quando o ônibus encostou na plataforma de desembarque do Terminal Rodoviário do Tietê, Deodorinho tinha olheiras profundas, o rosto cinza amarelado que denunciava uma noite insone e desesperada, tentando resolver o problema da bicicletinha. Ao ver que o ônibus atrasou e já eram mais de oito horas, Deodorinho caiu num choro convulsivo e se deu conta que perdera a entrevista de emprego, pois seria impossível chegar lá às nove horas. Antes de desmaiar e dos enfermeiros tira-lo de dentro do ônibus e coloca-lo numa ambulância, ainda pode ver pela janela, que para todos os lados que olhasse, pessoas levavam pela mão uma bicicletinha de todos os tipos e cores. Afinal era época de Natal.

domingo, 19 de outubro de 2014

Reunião de Bichos

Por conta desta seca que está se espalhando pelo Brasil resolvi desengavetar uma historinha infantil que foi Editada em 2005 pela Editora Mundo Maior e que acho atualíssima.

                                              Reunião de Bichos
Todos os bichos, um a um, foram chegando devagar, outros apressadamente, como o Mico-leão-dourado, a Ararinha Azul, a Anta, a Capivara, e muitos outros. Logo atrás, outros animais de pêlo e de couro também foram chegando e se acomodando ao pé daquela imensa pedra que ficava à beira do rio de água escura e mal cheirosa e que trazia boiando garrafas plásticas e objetos de todo o tipo, lixo mesmo. Quase não tinha mais vida em seu leito, seus moradores morriam pouco a pouco.
Todos estão visivelmente tristes e preocupados como o grande e sossegado peixe-boi. O céu triste e sem brilho já não parece tão azul tanta é a poluição, e de onde eles estão podem sentir o cheiro da mata queimando.Todos se olhavam com preocupação silenciosa.
Quando já havia uma grande quantidade de ouvintes apareceu em sua velha árvore a Grande Coruja sábia que voou e pousou na parte mais alta da pedra.
Olhou a todos demoradamente, observando a tristeza e preocupação que havia no ar.
Até os peixes e alguns répteis vieram para a beira do rio ouvir.
- Meus amigos, convoquei esta reunião para explicar a vocês o que está acontecendo. A situação está cada vez mais difícil. Não há mais o que fazer aqui neste mundo. Estive em muitas reuniões em vários lugares do nosso planeta e como represento todo este lado da floresta, fui indicado para reuni-los e explicar-lhes a nossa realidade. É o seguinte: Como já sabem, todas as espécies de vida neste planeta estão correndo sério risco de a qualquer momento se acabar, como muitas se acabaram e na verdade pouco a pouco tudo vai terminar. Muito antes do que se imagina tudo vai virar deserto, sem água, sem plantas e sem animais. Um lugar completamente sem vida. Os responsáveis não querem fazer nada para mudar essa situação e vão pagar com a própria vida. Na realidade, todos são responsáveis, todos temos que contribuir com a nossa parte, mas parece que os que têm o poder nas mãos não pensam assim. Não dão o exemplo.
- E o que nós podemos fazer? - Perguntou o macaco de cima da árvore.
- É possível mudar o que está acontecendo?- Perguntou a Jaguatirica.
- Achamos muito difícil, na realidade não sabemos com certeza. É muito arriscado esperar mais... – Respondeu a Grande Coruja com tristeza.
- Os pássaros também correm risco mesmo sabendo voar? – Perguntou um jovem Papagaio.
- Sim todos morrerão se esta situação continuar, se nada for feito. O ar está cada vez mais poluído, muitos homens têm tentado conscientizar em todo este planeta as pessoas, mas o lixo mal tratado, não reciclado, não armazenado da maneira correta está se acumulando numa velocidade assustadora a céu aberto.
- As queimadas, os rios cheios de lixo de toda natureza, produtos químicos que deságuam no mar vão contaminando e espalhando a morte. O ar está quase irrespirável, a única solução que encontramos foi sair daqui, fugir...
- Fugir como, para onde? – vários animais perguntaram ao mesmo tempo.
- Calma, meus amigos. Vamos para outro lugar, mas para isso, para fugirmos daqui a nossa organização estudou um plano que poderá ser executado com a ajuda de todos os seres, de todos os lugares desse planeta, por isso estou aqui para orientar e convocar todos dessa região e ajudar a concluir o pano e para isso vou precisar da colaboração de todos e se concordarem estarão  todos salvos em uma semana.
- Mas é claro, todos ajudaremos não é pessoal?- Gritou o macaco todo animado, levantando o ânimo da turma.
- Sim, claro, eu posso ajudar!
- Eu também!
- Como é que eu posso ajudar?
Falavam todos bem alto e ao mesmo tempo, fazendo uma barulheira infernal, quando a Gralha deu um grito bem alto e foi seguida pela Arara vermelha e todos se calaram de repente. Daí a coruja pode continuar a explicação do plano;
- Bem, continuando, o plano é o seguinte: Nós todos juntos vamos construir uma nave espacial e vamos mudar de Planeta.
-Ohhhh!
Todos exclamaram juntos e ficaram mais atentos.
A Grande Coruja então tirou de dentro de um canudo de bambu um imenso papel que dois macacos seguraram cada um de um lado para que todos pudessem ver.
E ela continuou a explicação:
- Este é o modelo da nave que vamos fazer, e apontou com a varinha que trazia na ponta da asa. Aqui ficarão acomodados todos os que não podem voar. Os pássaros usarão o seu conhecimento em construir ninhos para trançar a estrutura, todos os animais poderão trazer palhas e gravetos.
-Será que numa só nave vão caber todos os animais?- Perguntou a Anta lá do fundo.
- Provavelmente serão necessárias algumas naves, mas isso não será problema depois de construirmos a primeira...
 A aranha e o Bicho-da-seda ofereceram-se para reforçar esse trabalho com a sua teia e seus fios no que foram muito aplaudidos. O João-de-barro poderia fazer o acabamento externo e assim, com a ajuda de todos, a nave ficaria pronta ainda naquela noite para a primeira viagem.
E a Grande Coruja continuou:
- A primeira nave já chegou lá, decolando lá do outro lado da mata e alguém já voltou para contar o que viu. Ele disse que o lugar é lindo, o Planeta é maravilhoso e que lá tem tudo o que precisamos e que está prontinho para nós, à nossa espera. Disse também que lá tem muita água, montanhas, árvores, plantas, rios e mares.
-E por que este Planeta está vazio?- Perguntou lentamente a Tartaruga.
- É que aquele Planeta há milhares anos era como está hoje; lindo! Assim como já foi o nosso também um dia, há um tempo. Mas lá também os homens o destruíram como agora os homens daqui estão destruindo o nosso, então as águas se esconderam nas profundezas da terra, embaixo das pedras e das montanhas e tudo virou deserto, tudo ficou vazio e sem vida durante milhares de anos, nem se sabe quantos. Até que um dia um lindo raio de Luz Azul, veio do Centro do Universo e atingiu uma pedra enorme, uma verdadeira montanha partindo-a ao meio e libertando a água que ela guardava no seu interior mais profundo. Esta água foi se espalhando e levando consigo uma infinidade de sementes de muitas espécies de plantas e árvores que também estavam guardadas nas profundezas da terra e tudo começou a reviver e a renascer até ficar novamente tudo florido e farto de alimentos de todo o tipo. E assim a vida voltou naquele Planeta.
Depois de ouvirem aquela história, todos os bichos ficaram renovados de esperança e muito animados começaram a construir a nave que os libertaria daquele triste lugar.
E naquela noite tudo ficou pronto para a primeira viagem daquele grupo.
Logo em seguida todos foram entrando e se ajeitando em seus lugares. As aves e pássaros acomodaram-se do lado de fora, pois elas é que conduziriam a nave ao seu destino. Os peixes foram colocados dentro de cocos e de frutos ocos.
E assim foram cheios de esperança em direção à nova vida.
Quando chegaram ao novo planeta ficaram abismados com a beleza do lugar, não se cansavam de elogiar o que viam.
-Que maravilha! Que maravilha! Que paraíso! Tudo é muito lindo!
Até que alguém lembrou de perguntar à Grande Coruja:
- Como é o nome desse planeta tão maravilhoso? Desse lugar tão abençoado que vai nos abrigar?
E a Grande Coruja respondeu emocionada:
Este é o Planeta Terra, criação Divina para todos os seres viventes viverem felizes. E este maravilhoso satélite que vemos muito bem brilhando lá no céu chama-se Lua.
Naquele momento todos os animais ficaram em silêncio e agradeceram a Deus a nova oportunidade.
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E é por isso que os animais não poluem e nem destroem o ambiente em que vivem, eles sabem muito bem o que acontece a quem não respeita a Natureza.
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P.S. É bom lembrar aqui da frase de Jesus; “Na casa de meu Pai, há muitas moradas”.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um dia qualquer...

                                            Um dia qualquer
Estava eu aqui tão só quando a companhia da porta toca e vou atender.
Era um ser vestido de escafandro e ainda respingando água para todo lado. Veio aqui me perguntar se havia água na minha casa, detalhe: moro no vigésimo andar.
Deixei-o entrar um pouco intrigada com a pessoa vestida de mergulhador com escafandro, numa visita inesperada e inusitada no meio de um dia qualquer, mas tudo bem em tempos modernos isso deveria ser “normal”.
Levei-o até a sala e o convidei a sentar enquanto trocávamos ideias se ia chover ou não, sem me preocupar com o rastro de água que deixava pelo caminho. Era maravilhoso lembrar de como era bom ter água em abundância.
Daí ele me falou que havia mergulhado bem longe dali, numa enorme represa de água potável e ao se aprofundar para avaliar melhor a qualidade do líquido precioso foi carregado pelo veio de corrente e em seguida mergulhou mais profundamente e foi carregado novamente pela correnteza do lençol freático por quilômetros, vindo parar na boca de lobo frente ao prédio onde eu moro, e ao perguntar ao porteiro sobre a possibilidade de ter água naquela região ele me disse que só se fosse no seu apartamento, provavelmente por eu morar só e consumir o mínimo de água.
Daí ele subiu ao vigésimo andar e agora queria tirar a dúvida com os próprios olhos que a água haveria de afogar e para isso estava determinado.
Para melhor olhar o convidei a retirar o escafandro, peça que me parecia muito desconfortável e pesada.
Foi daí que me surpreendi mais ainda, ele tinha escamas e barbatanas além de guelras visíveis no pescoço. Levei um susto porem ele me tranquilizou que não era da família dos tubarões e sim dos pacíficos bagres da lama, mas agora ele andava por todo o planeta a procura de algum lugar que houvesse permanecido com suas águas intactas, puras, sem a interferência do homem.
Me disse ainda que havia ouvido por suas andanças que as águas estavam se escondendo nas profundezas da terra por conta do mau uso que o homem estava fazendo do líquido precioso. 
E que  assim, logo após um cataclismo que era muito esperado para um momento próximo, e o homem venha a apanhar uma surra de si mesmo por conta da sua ignorância, as águas voltariam a superfície para dar continuidade a evolução humana. Enquanto isso ele viaja nas profundezas dos lençóis freáticos e dos aquíferos ainda existentes para avaliar a situação real do planeta e fazer alguns contatos e intercâmbio.

Ficamos a conversar por algumas horas, ele aceitou um copo de água com baixo teor de sódio por conta da pressão alta e ainda aceitou um cafezinho antes de sair, me prometendo voltar assim que fosse possível me trazendo notícias atualizadas...

sábado, 4 de outubro de 2014

Conversando com Ele

                                            Conversando com Ele
Abençoai todos nós teus filhos, que ainda não Te compreendemos, mesmo quando enviaste Teu filho Amado para isso.
Como espíritos infantis que somos, pedimos, queremos, e às vezes temos a petulância de exigir aquilo que nem sabemos se é bom para nós. Temos até a ingenuidade de querer barganhar Contigo. Perdoa-nos Senhor.
Perdoe-nos se ainda não conseguimos Perdoar nosso irmão como ainda só Tu e Teu Filho o fazem, apesar de Teu Filho ter nos ter ensinado há mais de dois mil anos que isso era imprescindível para a nossa evolução.
Acenda uma luz no nosso caminho trevoso e áspero que sangram nossos pés descalços dos sentimentos puros e destituídos de misericórdia.
Abre nossos olhos para ver de verdade nosso irmão desvalido e nos incuta ânimo de fazer alguma coisa para mudar.
Abra nossas mãos para alimentar o faminto e nos ensine a curar a dor alheia além de estendê-las para um afago.
Feche nossa boca à maledicência e ao escárnio. Lembre-nos mais uma vez e tantas quantas forem necessário que se julgarmos seremos assim julgados.
Tolha nosso pensamento na hora de apontar nosso dedo sujo para aquele que caiu na própria rede da ignorância. Lembre-nos sempre de que só tem o direito de atirar pedras aquele que nunca pecou.
Abra nossos olhos mais uma vez para valorizar o que de verdade deve ser valorizado e nos lembre sempre que tudo que a terra oferece deve ser parcimoniosamente usado e utilizado, e saber que quando nos anestesiamos na superficialidade nos enredamos cada vez mais e vamos ficando pesados e se quisermos nos elevar teremos que jogar fora a bagagem inútil e nesta bagagem estão inclusas todas as palavras que proferimos à outrem e nossos pensamentos de toda ordem.
Acorde-nos Pai para levar as Tuas Leis mais a sério, procurarmos o sentido da vida e começar a mudar o que está ao nosso redor e deve ser mudado.
Mantenha por favor, dentro da nossa mente a lembrança constante de que colheremos sempre o que plantarmos e nisso estão inclusos palavras, atos e pensamentos.
Mas o que me chama mais a atenção Senhor é que a nossa individualidade está por demais exacerbada e sem domínio, onde cada um vive para si e alguns poucos também só para os seus e os Teus seguidores verdadeiros se perdem no anonimato fazendo parecer que são poucos.
Como poderemos voltar a nos unir como Tuas criaturas Filhos de Um só Pai? Nós que vivemos numa casa azul neste Universo que é o Teu jardim, sob os cuidados de Teu Filho e Teus Anjos porque ainda não conseguimos nos unir para juntos nos ajudarmos e também cuidar do Teu jardim?
Quando chegará esse dia Senhor?