O Homem do outro lado da Rua...
Quando Marialva abriu a janela pela manhã, teve que fechar olhos
sonolentos tal a intensidade da luz que lhe inundou inteira.
Lentamente os abriu e
de novo e pode ver um vulto parado a frente, há uns 15 metros, mais
precisamente do outro lado da rua. Era ele! Era ele novamente ali parado!
Arrepiou-se toda e apavorada fechou novamente a janela e se
aprofundou pela casa indo parar na porta dos fundos ofegante.
- O que será que ele quer?
Fazem alguns dias que aquela pessoa esquisita fica parada
ali na frente, do outro lado da rua olhando para cá, de chapéu e casaco de lã,
que coisa estranha. Marinalva nem saiu mais de casa, não teve coragem, teve até
que encomendar algumas coisas pelo telefone para o Seu Manoel da padaria, um
transtorno.
E o homem não sai do lugar, a noite nem se atreve a olhar
pela janela, até porque o poste de iluminação estava sem luz e precisava ser
trocado por conta de uma batida de carro e ainda não havia sido providenciada a
troca, não conseguia ver nada, aliais nem quis ver nada...
Ela morava no sobrado antigo, quase na esquina, e elevava
uma vida solitária há muitos anos e agora acontecia uma coisa dessas, por conta
disso quase não saia do quarto de cima olhando quem passava, só não entendia
porque aquele homem ficava ali, parado de casaco de lã e chapéu, era muito
esquisito.
De tantos dias andar sumida apareceu uma amiga que veio
tomar chá com Marinalva como fazia as vezes e lá ficaram de conversa. A amiga
notou que a casa estava toda trancada, janelas e cortinas fechadas e achou a amiga um tanto estranha, ressabiada,
nervosa, e várias vezes perguntou o que estava acontecendo e Marinalva sempre
desconversava. La pelas tantas, enquanto recolhiam as xícaras e os biscoitinhos
a amiga a pressionou mais uma vez perguntando o que estava acontecendo. Sem
segurar as lágrimas tremendo muito ela confidenciou que nesses últimos dias
havia um homem sempre parado no outro lado da rua e ela estava apavorada, ela
olhava daqui e ele estava lá...
A amiga aflita então correu
até a janela e a escancarou para ver o tal homem, se ainda estava lá. Marinalva
nem quis se aproximar da janela, ficou no meio do quarto, toda ressabiada sem
sair do lugar.
- Como é esse homem que você vê daqui da janela?- Falou a
amiga.-
- Ele usa chapéu e casaco de lã...
- Venha cá, veja se é aquele ali.
Com muito medo e ainda relutante ela se aproximou da janela
e olhou para onde a amiga apontava.
- Sim, é ele sim, você acha que devo chamar a polícia?
-Só se for para passar vergonha mulher! Aquilo é uma propaganda que colocaram ali,
daquela Loja de roupas masculinas e deve ser lançamento da moda de inverno. Que
vexame Mari, você precisa é de fazer uns óculos novos!
Boa, Clotilde! Seu texto é quase uma fábula sobre os nossos medos infundados. Muito bom, parabéns.
ResponderExcluirGostei muito !! tudo que voce escreve,me faz pensar um pouco mais,na insegurança descabida de tantas coisas - bobas . Obrigada ,amiga .
ResponderExcluirClotilde, esta aconteceu comigo.
ResponderExcluirAno: 1960. A Rádio Nacional apresentava às sextas-feiras, começando às 22horas, um programa tipo novela policial de nome O Sombra, com Saint-Clair Lopes fazendo personagem central..
Eu tinha um rádio Telespark, portátil, novidade na época. Com o uso, o contacto liga/desliga começou a falhar.
Era época de racionamento de energia. Eu estudava à noite, chegando em casa lá pelas dez, dez e meia. Numa sexta, breu completo (escuridão), entrei em casa e da porta de meu quarto joguei um livro na direção da mesa em que estudava. Quase morri de susto, quando uma voz cavernosa falou alto atrás de mim... Por uma fração de segundo, como disse, gelei de susto, mas descobri imediatamente o motivo daquilo: o livro ao ser jogado sobre a mesa, tocara no rádio, refazendo o contacto liga/desliga que estava acionado, mas sem contacto, o que acabou ocorrendo pelo impacto do livro... Tudo bem, se o rádio não estivesse sintonizado justamente na Rádio Nacional, e ainda por cima, no programa do Sombra... .