sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Praga de sogra.

                                                              Praga de sogra
Moreirinha Neto entrou no Bar Bicha e pediu uma pinga arretada que hoje a conversa com a Merivalda prometia.
Ela queria trazer a mãe para passar “uns tempos, quiçá morar” e Moreirinha Neto abominava a ideia e, por conseguinte a sogra encrenqueira, e não queria nem por nada que isso acontecesse. E já estavam brigando há duas semanas e a data prevista estava chegando.
Quando entrou em casa, já era noite e ele estava “carcado das ideias”. A segunda novela já ia pela metade e Merivalda escarrapachada sobre o sofá devorava um prato de miojo carregado no queijo parmesão de pacote.
Ao olhar aquilo, Moreirinha Neto se preparou para o que lhe esperava, respirou fundo e perguntou:
-Tem janta para mim?
-Tem agua sal e miojo. O queijo que tinha eu botei todo no meu macarrão.
Moreirinha Neto seguiu na direção da cozinha pensando em fritar um ovo para comer com pão, quem sabe?
Meia hora depois o casal completamente em silêncio mantinha os olhos grudados na novela seguinte que já havia começado e transcorria embalada nas emoções do capitulo.
Envolvidos na fúria da trama em que a mocinha era enterrada viva no cemitério, roíam as unhas e pigarreavam a todo o instante até que entrou o comercial para uma trégua no ódio da história. Foi quando Moreirinha Neto perguntou:
-E a sua mãe como é que fica?
-Hã, do que você está falando?
-Da sua mãe, já falei, ela pretende mesmo ficar muito tempo aqui?
-Claro que vai! E provavelmente para sempre, a pensão que ela recebe só está dando  para pagar o aluguel...
-E eu com isso?
-Melhor parar, nem vou discutir, já está tudo resolvido e pronto!
Uma semana depois a sogra de Moreirinha Neto aportou a bordo de um taxi, toda saltitante e risonha para desespero dele.
Passados alguns dias de educação forçada e explícita as vozes começaram a se alterar de vez em quando ainda dominadas a freios fortes.
Até a noite da grande discussão, quando já a beira de um ataque de nervos, Moreirinha Neto informou às damas que ele passaria o final de semana pescando.
Quando falava educadamente ouviu um grunhido daqueles clássicos; - Humm, ai tem.-
E não deu outra; ele pegou uma abóbora da fruteira e jogou na direção da sogra que se não desse uma guinada de cabeça estaria desmaiada e coberta de pedaços do fruto alaranjado.
-Seu desalmado! Você não vale a comida que come, vou lhe rogar uma praga para nunca mais me desrespeitar, você vai ver, não me desrespeite!!!
E caiu no sofá, aparentemente desacordada enquanto a filha a abanava freneticamente em desespero.
Quando ele saiu batendo a porta a sogra abriu os olhos e mais que depressa sentou no sofá e disse para a filha: não se preocupe, eu já lancei a praga que eu lancei para o seu pai nunca mais inventar essas pescarias que não passam de reunião da gandaia masculina com mulher, bebida e tudo. Fica sossegada, você vai ver.
Merivalda caiu em prantos, já arrependida de ter trazido a mãe para morar com eles. Ela faria melhor pagando o aluguel para a mãe continuar morando na casa dela.
Enquanto isso Moreirinha Neto, solitário, montava a barraca onde pretendia ficar todo o final de semana. Era pena não estar de férias ou já aposentado para não voltar tão cedo para casa. Já anoitecia e Moreirinha Neto, nervoso ainda por demais, não parava de pensar na mulher e na sogra. Para espairecer foi até o carro e ligou o som bem alto enquanto terminava de montar a barraca na beira do rio.
Bem mais tranquilo um tempo depois, ele tomava café sentado numa pedra, olhando as estrelas e pensando na vida até que o sono tomou conta e ele resolveu ir dormir.
Entrou na barraca e nem dois minutos depois pegou no sono ao som da noite e das águas do rio.
Dormiu aproximadamente quinze minutos quando de repente um berro apavorante ressoou na noite enquanto ele dava um pulo dentro da barraca e se desvencilhava aos gritos da barraca e cobertas. Correu em direção ao rio e mergulhou de roupa e tudo na água gelada, entre os panos e cobertas.
Coitado do Moreirinha Neto, tão nervoso estava quando chegou que montou a barraca sobre um formigueiro de beira de rio. Um horror!
Mas horror mesmo era voltar para casa e aguentar o veneno da sogra, ninguém merece!
Vá rogar praga assim... Lá na beira do rio!

Um comentário:

  1. Nossa, esse aí "se lascou" legal...
    Engraçado e envolvente seu texto, Clotilde. Parabéns pela nova lavra! Um grande abraço.

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