segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Enquanto as violetas caem...

                                                 Enquanto as Violetas caem...
 Zelda, no momento com desesseis anos só pensava em ser escritora.
Naquele dia, acordou com aquela obstinação que os jovens possuem, quando querem alguma coisa. E hoje, essa coisa era ser escritora.
Amanhecia quase sempre com uma personalidade diferente, também uma característica da idade. Cada momento uma vida em toda a sua intensidade.
Naquele dia ela apareceu para tomar o café da manhã vestida de calça jeans, camisa, tênis, óculos (que detestava até ontem), o cabelo amarrado num rabo simples e uma pasta na mão. Tudo bem discreto. Tomou o suco olhando para fora da janela completamente “fora do ar”.
Esse comportamento mutante e criativo preocupava muito seus pais. Mas a psicóloga os tranqüilizava dizendo que a adolescência era uma fase e que um dia estas excentricidades iam passar. Só que desde os doze anos ela entrava e saia de uma fase para a outra, sempre com muita determinação.
Para ter ideia quando estivera apaixonada por futebol, acordava e dormia vestida com as cores do time e usava por baixo do uniforme escolar, um uniforme de jogador.
Outra época dizia que seria uma bailarina famosa e vivia na ponta dos pés o tempo todo até que deu uma torção no tornozelo que a deixou com o pé imobilizado tempo suficiente para desistir do intento e até abandonou as aulas de balé.
Outra vez resolveu que descendia de uma tribo de ciganos, e andava vestida a caráter. Via cartas adivinhatórias e vivia lendo as mãos dos vizinhos do prédio onde moravam para diversão de todos. Ninguém estranhava mais essas “novidades” de Zelda.
Hoje ela acordou querendo ser escritora. Saiu à rua, querendo ser escritora. Foi à escola, querendo ser escritora. Era só nisso que pensava. Tinha mil idéias na cabeça. E durante a aula não tirou os olhos do professor a sua frente.
“... todos os que escrevem, colocam no papel seus sentimentos bons e maus. Suas idéias mais profundas ou superficiais. Mas o mais importante é que o que se passa naquele momento dentro de si é a mais pura verdade...”.
E com essa frase o professor de Literatura terminou a aula, deixando Zelda flutuando encantada e mais do que nunca, desejosa de ser uma escritora famosa.
Suspirou profundamente lembrando-se do seu muito amado professor. Sim, era por isso que Zelda queria ser escritora, para que seu amado falasse dos livros escritos por ela com a mesma paixão que ele falava dos escritores durante as aulas. Tinha tanta paixão por ele que até doía. Bebia suas palavras e até chorava com a sinceridade dos seus dezesseis anos, enquanto as colegas riam do seu amor não correspondido.
Naquele dia foi para casa em silêncio, pensando na aula e no que ele dissera; 
“Todos os que escrevem colocam no papel seus sentimentos...”
Quando chegou em casa não quis comer, foi para o quarto e começou a escrever e escrever sem parar, até que dormiu exausta.
Pela manhã o sol a encontrou estendida, atravessada na cama, rodeada de bolas de papel amassado. O semblante calmo e despreocupado mostrava que tinha se apagado mais uma chama forte e luminosa como o sol pela manhã, que iria fazer parte das experiências e lembranças daqueles que conseguem viver a cada momento uma curta mas sempre intensa,  paixão de adolescente.
Numa folha de papel ao lado dela estava escrito:
                                Enquanto as violetas caem...
 
 Enquanto as violetas caem sobre a relva fresca,
Após o vento arranca-las da cesta que carrego nos braços,
Saí pisando com os pés molhados
Da água do regato que passava ao meu lado.
O sol se põe lá longe...
Como eu gostaria de ir com ele para onde ele vai...
O vento passeia por mim ligeiramente
Com a pressa de quem vai em busca da felicidade...
Os pássaros em algazarra dão o recital do fim de tarde.
E lá vou eu passo a passo
A caminho do horizonte...
O lugar que me cabe como moradia como o estado de ser e de estar.
Lá vou eu... As violetas rolam por algum tempo
Ao meu lado carregadas pelo vento
Que me devolvem o seu perfume.
E eu sigo o meu caminho...

Um comentário:

  1. Prazer em conhecer a volúvel Zelda e suas violetas caídas. Fique com meu abraço e meus parabéns, amiga Clotilde. Até mais.

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