Há muito tempo atrás, tanto que nem conto mais...
Um jovem casal se preparava para casar, na verdade ele estava ansioso para casar ela nem tanto, já que o casório foi arranjado como era comum naqueles tempos.
Cada um imaginava como seria o futuro; muitos filhos, também como era comum antigamente, uma casa própria, algumas viagens, alguns passeios e lá ia ele pensando, imaginando, fazendo planos. Ela não. Ela já se imaginava suando no fogão o dia todo, fazendo comida para um batalhão de pessoas, crianças correndo e gritando pela casa, pilhas de roupas para lavar passar e costurar, ufa! Só de imaginar já estava cansada. O sonho dela era ser secretária bilíngue. Datilografar páginas e páginas, vestir saia justa e sapatos altos, camisas imaculadas e casaquinhos escuros, um luxo! Queria ganhar seu próprio dinheiro e até agora só conseguia algum bordando para fora grandes enxovais das mocinhas ricas. Não havia estudado muito, só o suficiente para o gasto.
O noivo era garçom, o melhor do melhor restaurante da cidade, ganhava polpudas gorjetas que guardava para o casamento, mas teria que dar muito duro para conseguirem a casa própria. Pelo menos isso; pagar aluguel uma vida inteira ninguém merece.
Mas ele tinha um grande sonho ou um sonho grande. Queria viajar de navio. E ele pretendia na lua de mel fazer uma viagem São Paulo-Rio. Ele sonhava e imaginava como seria. Eles no convés, o vento sacudindo seus cabelos e o cheiro de mar... Ele sonhava acordado.
Como eram diferentes aqueles dois.
Enfim após dois anos de namoro e três de noivado, havia sempre algum motivo para mudarem a data. Até que o dia chegou e a festa foi realmente linda em todos os detalhes. O vestido havia sido todo bordado a mão por ela mesma.
Saíram da festa por volta das vinte e uma horas e foram num carro de aluguel para a casa onde iriam morar. Lá chegando, romanticamente ele transpôs o portal com ela nos braços. Tudo lindo. Ao entrarem enquanto a colocava no chão ele falou:
- Tenho uma surpresa para você
- Surpresa?
- Sim, amanhã iremos para Santos tomar um navio que nos levará ao Rio de Janeiro. Guardei todas as gorjetas desde que ficamos noivos para realizar este sonho. Tenho certeza que será uma viagem inesquecível mesmo que a gente consiga viajar todos os anos daqui para a frente.
Ela abriu bem os olhos e perguntou:
- Quanto você conseguiu guardar?
- Mais de três contos de reis.
- Mas esse dinheiro dá para a gente dar entrada numa casinha, depois a gente vai pagando o resto com o nosso trabalho.
Falou com certa irritação acabando a conversa por ali.
E assim foram transcorrendo anos de poupança para um objetivo, ora para outro que levavam cada vez mais longe o sonho de Aristeu, era assim que ele se chamava, de viajar de navio.
Nasceram filhos, cresceram, e por sua vez casaram, e nada do Aristeu convencer a sua mulher, a Custódia, de viajar. Até que iriam fazer Bodas de Ouro! É, o tempo passou, tudo mudou, Aristeu conseguiu formar uma cadeia de restaurantes, tinha carro, casa de praia e não saia daquela rotina.
A família fazia planos de uma grande festa de bodas. Lista de convidados onde até o prefeito havia sido convidado. Preparativos para todo lado e ele alheio a tudo isso, só olhava um a um, seus filhos, noras, alguns netos que corriam pela casa, muita alegria e ele cabisbaixo, resolveu sair da sala e ir para o quarto.
As festividades começariam com uma missa em grande estilo, quase um novo casamento.
Na véspera, à noite, Custódia entrou no quarto onde ele já se encontrava deitado entre as cobertas, olhou para o seu marido como há muito tempo não o olhava. Achou-o envelhecido, um tanto abatido, desanimado...
- Meu querido, gostaria de dar-lhe um presente especial no dia de nossas bodas, o que gostaria de ganhar?
Ele meio sonolento respondeu:
- Eu gostaria de uma lua de mel a bordo de um navio, só que agora já não tenho mais tempo...
Virou para o lado e dormiu deixando Custódia parada no meio do quarto sem saber o que dizer relembrando a conversa que tiveram na primeira noite dos dois.
Aristeu nem se deu ao trabalho de acordar no dia seguinte, 27 de maio. O dia em que completaria 50 anos de casado, mesmo dia em que Custódia matou o seu sonho de viajar de navio.
Um jovem casal se preparava para casar, na verdade ele estava ansioso para casar ela nem tanto, já que o casório foi arranjado como era comum naqueles tempos.
Cada um imaginava como seria o futuro; muitos filhos, também como era comum antigamente, uma casa própria, algumas viagens, alguns passeios e lá ia ele pensando, imaginando, fazendo planos. Ela não. Ela já se imaginava suando no fogão o dia todo, fazendo comida para um batalhão de pessoas, crianças correndo e gritando pela casa, pilhas de roupas para lavar passar e costurar, ufa! Só de imaginar já estava cansada. O sonho dela era ser secretária bilíngue. Datilografar páginas e páginas, vestir saia justa e sapatos altos, camisas imaculadas e casaquinhos escuros, um luxo! Queria ganhar seu próprio dinheiro e até agora só conseguia algum bordando para fora grandes enxovais das mocinhas ricas. Não havia estudado muito, só o suficiente para o gasto.
O noivo era garçom, o melhor do melhor restaurante da cidade, ganhava polpudas gorjetas que guardava para o casamento, mas teria que dar muito duro para conseguirem a casa própria. Pelo menos isso; pagar aluguel uma vida inteira ninguém merece.
Mas ele tinha um grande sonho ou um sonho grande. Queria viajar de navio. E ele pretendia na lua de mel fazer uma viagem São Paulo-Rio. Ele sonhava e imaginava como seria. Eles no convés, o vento sacudindo seus cabelos e o cheiro de mar... Ele sonhava acordado.
Como eram diferentes aqueles dois.
Enfim após dois anos de namoro e três de noivado, havia sempre algum motivo para mudarem a data. Até que o dia chegou e a festa foi realmente linda em todos os detalhes. O vestido havia sido todo bordado a mão por ela mesma.
Saíram da festa por volta das vinte e uma horas e foram num carro de aluguel para a casa onde iriam morar. Lá chegando, romanticamente ele transpôs o portal com ela nos braços. Tudo lindo. Ao entrarem enquanto a colocava no chão ele falou:
- Tenho uma surpresa para você
- Surpresa?
- Sim, amanhã iremos para Santos tomar um navio que nos levará ao Rio de Janeiro. Guardei todas as gorjetas desde que ficamos noivos para realizar este sonho. Tenho certeza que será uma viagem inesquecível mesmo que a gente consiga viajar todos os anos daqui para a frente.
Ela abriu bem os olhos e perguntou:
- Quanto você conseguiu guardar?
- Mais de três contos de reis.
- Mas esse dinheiro dá para a gente dar entrada numa casinha, depois a gente vai pagando o resto com o nosso trabalho.
- Mas a nossa viagem de navio em lua de mel também é um sonho
que só pode acontecer agora que acabamos de casar. Temos todo o tempo pela
frente para trabalhar, ganhar dinheiro e termos tudo o que quisermos.
- Temos tempo digo eu! Temos a vida inteira para viajar, e
agora não vamos gastar esse dinheiro nessa viagem! Eu também tenho umas
economias e vamos comprar a casa, ta decidido!Falou com certa irritação acabando a conversa por ali.
E assim foram transcorrendo anos de poupança para um objetivo, ora para outro que levavam cada vez mais longe o sonho de Aristeu, era assim que ele se chamava, de viajar de navio.
Nasceram filhos, cresceram, e por sua vez casaram, e nada do Aristeu convencer a sua mulher, a Custódia, de viajar. Até que iriam fazer Bodas de Ouro! É, o tempo passou, tudo mudou, Aristeu conseguiu formar uma cadeia de restaurantes, tinha carro, casa de praia e não saia daquela rotina.
A família fazia planos de uma grande festa de bodas. Lista de convidados onde até o prefeito havia sido convidado. Preparativos para todo lado e ele alheio a tudo isso, só olhava um a um, seus filhos, noras, alguns netos que corriam pela casa, muita alegria e ele cabisbaixo, resolveu sair da sala e ir para o quarto.
As festividades começariam com uma missa em grande estilo, quase um novo casamento.
Na véspera, à noite, Custódia entrou no quarto onde ele já se encontrava deitado entre as cobertas, olhou para o seu marido como há muito tempo não o olhava. Achou-o envelhecido, um tanto abatido, desanimado...
- Meu querido, gostaria de dar-lhe um presente especial no dia de nossas bodas, o que gostaria de ganhar?
Ele meio sonolento respondeu:
- Eu gostaria de uma lua de mel a bordo de um navio, só que agora já não tenho mais tempo...
Virou para o lado e dormiu deixando Custódia parada no meio do quarto sem saber o que dizer relembrando a conversa que tiveram na primeira noite dos dois.
Aristeu nem se deu ao trabalho de acordar no dia seguinte, 27 de maio. O dia em que completaria 50 anos de casado, mesmo dia em que Custódia matou o seu sonho de viajar de navio.
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