terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A Sombra

Imagem da internet
                                                                                           A sombra
Amanheceu um lindo dia de sol e resolvi animadamente sair para caminhar, “olha que delicia de dia maravilhoso para caminhar” pensei eu com os meus cadarços do tênis enquanto os amarrava.
Vesti a camiseta amarela com escritos convidando a se agitar para manter a saúde, meu shortinho de corrida, amarrei meu rabo de cavalo e dei a primeira corridinha pelo corredor até a cozinha onde rapidamente amassei uma banana cobri de açúcar e canela e espalhei por cima uma generosa camada de aveia. Sempre marchando no lugar para me aquecer comi a banana mastigando 23 vezes cada garfada para melhor digestão e sai dali sempre em passo ligeiro.
Sai para a rua e qual foi minha surpresa ao dar alguns passos embaixo do sol? A minha sombra, onde estaria a minha sombra?
A malvada se recusou a sair, como já havia feito algumas vezes e tive que voltar correndo para ver o que houve e dei de cara com a sem vergonha dormindo placidamente entre os meus alvos lençóis de lindo de 400 fios.
- Eita, mas que sombra preguiçosa! Onde já se viu, não é para ficar nessa preguiça dormindo que serve a sombra, é para acompanhar o dono sempre, isso sim! Mesmo em lugares como Shopping, cinema, teatro e que tais ela tem que estar ali, mesmo que invisível.
- Mas eu não gosto de caminhar e muito menos de correr, fico esfalfada...
- Deixe de reclamar sua malandra, você não gosta de caminhar e eu que levo a fama de sedentária, como posso ir sem a sua presença num lindo dia de sol como está o dia de hoje? Deixe de ser preguiçosa, se meta embaixo do chuveiro para acordar que hoje eu levantei com vontade de correr alguns quilômetros.
Com toda a lerdeza de que era capaz a sombra desvencilhou-se dos lençóis e foi até a janela, fechando os olhos para a luminosidade intensa do dia.
- Como é que você tem coragem de querer correr com esse sol todo? Porque não espera dar um dia nublado?
- Claro! Assim você permanece dormindo e ninguém vai notar a sua ausência e ainda fica ai dormindo feito uma morta. Saia já desse quarto e corra para o chuveiro senão vai começar a apanhar!
- Ui cruz credo! Será que tem alguma lei que proteja as sombras desvalidas? A lei das Sombras?
- Pare de conversa fiada que já me cansou!
- Pois eu lhe digo que é bem melhor voltar para a cama, ligar a televisão, ver a moça do papagaio, ouvir os conselhos dos médicos e depois ir ao Encontro, quando você der pela coisa estará na hora do almoço que é quando o sol está a pino eu não preciso aparecer, pois ficarei quietinha sob seus pés, daí você almoça e corre de volta para cá e seremos felizes para sempre.
- Ufffa! Você me convenceu, vou esperar dar um dia nublado hahaha...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sonhos e Fantasias

                                            Imagem da internet, meramente ilustrativa

                                                                  Sonhos e Fantasias
Na penumbra do pequeno e despojado quartinho ela examinou pela milésima vez a fantasia estendida sobre a cama simples e mal arrumada.
A beleza artística da confecção, os brilhos e plumas justificavam o alto preço que lhe custou muitas horas de trabalho extra, muitos almoços trocados por coxinha e muita água para espantar a fome, mas valeu, e como valeu, era a realização de um sonho.
Sobre uma cadeira encostada à parede, uma cabeça de manequim equilibra um arranjo maravilhoso, também com muita pluma e brilho.
Braceletes largos, um par de brincos enormes além d e um colar imenso também altamente cintilante, descansam sobre o pequeno gaveteiro com a pintura desgastada, deixando entrever nas ranhuras, várias demãos de tinta de várias cores.
As sandálias de tiras douradas, de plataforma alta, descansavam largadas de qualquer maneira no pé da cama. Um de pé e outro caído de lado.
Finalmente uma máscara de meio rosto, muito bem elaborada em lantejoulas, completava o traje para a noite de gala.
Já imaginava os holofotes todos voltados para ela em sua maior exuberância. Tudo era muito, era exageradamente exagerado, um escândalo de beleza. Seria destaque este ano.
Tomou um banho bem tomado sob uma duchinha fraca e fria, lavou muito os cabelos de lindos cachos soltos, examinou as unhas bem feitas em vermelho vivo cujo cantinho também trazia um minúsculo strass, assim como a unha do dedo maior dos pés. Isso tudo sempre cantando o samba-enredo da Escola querida.
Saiu do chuveiro e depois de se enxugar muito bem na toalha que de tão desgastada já deveria ter sido descartada há muito tempo, passou a espalhar um creme levemente perfumado de boa qualidade.
Lentamente prosseguiu no ritual de se arrumar quando olhou pela fresta do barraco e viu que já havia escurecido, olhou o relógio do celular e viu que já passava das oito horas, das vinte, melhor dizendo. Resolveu acelerar e foi quando ouviu a voz do amigo que entrava pela porta batendo os tacões de suas altas botas brancas, fantasiado de Valete de baralho.
-Você ainda não está pronta amada? Vamos chegar atrasadas!
- Não vamos não! Como lhe falei, marquei com o Sr. Wendel do taxi para vir me buscar as 20.30 hs e você vai junto comigo! Me ajude aqui!
E os dois aflitos começaram a vestir peça por peça e o calor aumentando até parecendo que nem tomaram banho tal eram as bagas de suor pelo rosto e corpo. Um pedacinho de toalha velha foi usado para irem se enxugando do suor enquanto tentavam uma maquiagem que teimava em derreter. Por fim ela lavou o rosto e só colocou o batom vermelho novinho, que havia comprado para aquela ocasião. Afinal a máscara iria cobrir parte do rosto.
Mais um pouco e uma criatura não definida na fauna surgiu linda e maravilhosa, cintilante, esfuziante e cheia de plumas em contraste com aquele mundo tão desprovido de tudo, menos de sonhos.
A buzina lá embaixo tocou duas vezes chamando o cliente e os dois entre degraus improvisados e ladeiras de barro e pedras, contornando corredores intermináveis e estreitos, foram agilmente descendo quase deslizando, até chegar onde, para um carro, era ponto final. Dali para frente não havia mais condições de subir sobre quatro rodas.
Ambos muito atrapalhados e com muito cuidado com suas fantasias carregavam nas mãos o adereço de cabeça que mal cabia no colo e no apertado veiculo. O motorista mergulhado em plumas mal conseguia enxergar o caminho, mas era impossível se negar nessas horas a fazer a corrida, pois ele também era um folião de carteirinha além de ter muitos amigos nas Escolas. Precisava prestigiar como podia.
Horas depois, respirando fundo e com os olhos brilhando de alegria e emoção ela entra linda e poderosa na passarela da escola do coração representando com garra e muito orgulho as cores do pavilhão que neste momento rodopiava entre os passistas ao compasso da bateria e ao do Samba-enredo...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hora Bolas

                                                                                Hora bolas
Desde a meia noite do dia 19 de outubro de 2013, mais precisamente à zero hora do dia 20 de outubro de 2013 que nos “levaram” literalmente uma hora do nosso dia. 
Parece que foi uma hora só para ser devolvida depois de 119 dias, ou seja: no próximo domingo dia 16 de fevereiro de 2014 à zero hora, mas não; a cada dia levaram uma hora.  Sendo assim, exijo que me devolvam 119 horas para que eu possa me refazer.
Só não sei o que farei ainda com as 119 horas devolvidas,talvez um cruzeiro de navio pelo Caribe ou Ilhas Gregas, mas já vi que não daria, pois fui fazer as contas e 119 horas divididos por 24(horas) vai dar pouco mais de quatro dias, mais precisamente, 4.9583333 dias/horas.
Tenho que reconhecer que durante o período pude fazer as coisas mais às claras, aproveitando a claridade do dia literalmente falando, mas agora fico matutando o que fazer com tantas horas devolvidas?
Acho que vou aproveitar e dormir mais cinco minutos para descontar as horas que tive que acordar cedo. Almoçarei no horário do sol a pino, já que almoçar às 11 horas não é do meu agrado, pois não tenho fome nesse horário. Vou ao shopping, ao cinema, também ao teatro, tudo aproveitando a devolução.
Poderei também fazer visitas, consultas médicas, dentistas e outras amenidades, tudo com as horas devolvidas.
Enfim, voltarei a utilizar as minhas horas como bem quiser.
E você, fará o que das horas devolvidas? Hahahah...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

50 Tons de Rato

                                                                      50 tons de rato.
Quando chegou a minha vez no caixa e abri a minha enorme bolsa para pagar o que havia comprado no supermercado, dei um berro estrondoso e joguei tudo para o alto literalmente, ou seja; a minha bolsa e tudo mais que havia dentro. Ela caiu aberta e cheia de coisas que se espalharam pelo mercado a fora. Coisas que nem penso em não carregar para onde eu vou, são imprescindíveis, daquelas que ficam anos na bolsa sem precisar, mas quando a gente tira de dentro dela ai é que precisa. Sempre assim...
Entre outros objetos havia a carteira gorda que acomoda dinheiro (pouco), cartões e moedas alem de uma foto importante. Uma bolsinha comprida que acomoda escova, fio dental e dentifrício (essa é nova). Outra bolsinha um pouco maior, guarda alguns papeis e papeizinhos, também algumas notas fiscais inúteis, alguns cartões de visita e dois batons. Uma caixinha plástica redonda guarda brincos para o caso de esquecer-me de sair de casa de brincos. Uma bolsinha de nylon preta guarda remédios de emergência para digestão e dores de toda ordem, odeio sentir dor, mas quem gosta? Sim, os masoquistas, mas desses não conheço nenhum. Assim por alguns momentos, exerço a medicina ilegal distribuindo analgésicos e antiácidos a quem precisar. Um pente, lixas de unhas, várias canetas, os dois celulares e os três molhos de chaves; de casa, do carro e da casa de praia. Vai que eu resolva dar uma passadinha na casa de praia para ver como está?  Ai chave já está na bolsa...
Duas sacolas de tecido sintético (ecobag) para economizar as sacolinhas de mercado também não saem da bolsa muitas vezes nem no mercado. Mais uma caderneta com alguns endereços e mais papeis de todos os tipos, para fazer anotações quando me vêm uma idéia como essa e outras imperdíveis, porque se não anotar nunca mais me lembrarei da “brilhante” idéia para um escrito.
Como dizia, esse mar de coisas subiu desceu e se espalhou por todo o espaço da caixa e adjacências enquanto eu gritava:
- Ratos! Ratos! Eu vi ratos na minha bolsa... Vários ratos bem pequeninhos em pé me olhando uuuiiii...
E na mesmo instante eu a menina da caixa e mais duas mulheres subimos no balcão dos caixas enquanto os homens correram porta a fora deixando para trás as compras que estavam fazendo.
- Como assim, ratos? A senhora anda com ratos na bolsa?
Um olhar gelado emitido por mim quase petrificou o gerente que por algum milagre andava por perto e viu tudo.
- O Senhor está maluco? Eu lá sou mulher de andar carregando ratos na bolsa?
- E como eram esses ratos, minha senhora?
Quando ia realmente atirar uma lata de leite condensado na cabeça dele, bem naquele instante, me veio à memória a minha visão apavorante e me dei conta de que não eram ratos, mas seres muito pequenos com uma roupa semelhante a pêlo de rato, cinza em vários tons, peludos, cada um de um tom (está na moda 50 tons de cinza), mas as cabeças, hah as cabeças eram de ET’s sim, eram pessoinhas de outro planeta, agora me lembro bem. Aqueles olhos pretos enormes...
Desci desolada de cima do balcão e continuando a explicar para o gerente, fui juntando meus pertences e colocando na bolsa. Uma senhora ainda me estendeu a bolsinha da higiene bucal e um molho de chaves, enquanto todas as pessoas se acercaram para ouvir a minha história. Pelo sim, pelo não o gerente achou melhor baixar as portas do estabelecimento comercial e um retrato falado foi solicitado pelo policial que se apresentou para saber do tumulto. Por acaso ele estava passando na frente, durante a sua ronda.
Foi trazido lápis e papel sulfite e foi chamado o repositor Saldanha que tinha fama de bom desenhista. Ele se acomodou na cadeira da menina do caixa e diante da plateia curiosa começou a desenhar a criatura estranha que assim como ratos havia aos montes. Aos montes era exagero, mas vi na bolsa uns três ou quatro, sei lá.
Descreve daqui, desenha dali, ficou um monstro de gibi, mas deu para todos exclamarem um OHHH!!! de pavor ao imaginar aqueles monstrinhos andando por ai, sabe se lá querendo o que de nós pobres mortais, esquecendo que os que foram vistos não passavam de 5 cm.
Ato contínuo foi pedido a todos que não fossem funcionários, que se retirassem menos eu e o policial para ajudar na procura juntamente com todos os funcionários daquele horário. Tivemos que vasculhar todo o estabelecimento na tentativa de encontrar as criaturinhas.
Após três horas de tentativas infrutíferas, fomos convidados a sair, pois iriam reabrir o supermercado, pois o prejuízo já ia grande.
Sai de lá desolada em direção ao estacionamento, cheguei no lado do carro peguei a bolsa abri  e fui vasculhando a procura das chaves,  de repente, umas carinhas de ET com pêlo de rato, esticaram o que deveria ser as mãozinhas deles e abanaram para mim.
Quando acordei estava numa maca de hospital tomando soro e um médico que era o clone do Dr. Freud do meu lado me perguntava algo sobre se eu tinha muito medo de ratos...
- Sei lá, não sei porque me perguntou isso... Acho que ele é maluco...
 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Posto de troca de problemas

                                                    Posto de Trocas de Problemas
- “A partir desse momento, diante das autoridades do mais alto escalão aqui presentes e demais pessoas do povo e com a ajuda da D. Delurdes que vai cortar a faixa, dou por inaugurada a nossa banca de troca de problemas particulares. Por favor; a Banda da Corporação, neste momento aqui nos prestigiando, vai tocar o imortal sucesso de Chico Buarque, “A Banda”, logo após poderão adentrar às nossas instalações e pegar sobre o balcão as folhas e canetas e começar a preencher seus dados e a dissertação do seu problema a ser trocado. Só lembrando ainda, que não pode haver troca de marido e mulher e sogras, como já foi explicado, pois em outra oportunidade, noutra cidade, deu confusão por demais, mas agora não vem ao caso, mas de resto tudo é negociável. Se houver mais de um problema a ser trocado, deverão ser preenchidas folhas separadas.”

Se houvesse um posto de troca de problemas você trocaria os seus?