sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

50 Tons de Rato

                                                                      50 tons de rato.
Quando chegou a minha vez no caixa e abri a minha enorme bolsa para pagar o que havia comprado no supermercado, dei um berro estrondoso e joguei tudo para o alto literalmente, ou seja; a minha bolsa e tudo mais que havia dentro. Ela caiu aberta e cheia de coisas que se espalharam pelo mercado a fora. Coisas que nem penso em não carregar para onde eu vou, são imprescindíveis, daquelas que ficam anos na bolsa sem precisar, mas quando a gente tira de dentro dela ai é que precisa. Sempre assim...
Entre outros objetos havia a carteira gorda que acomoda dinheiro (pouco), cartões e moedas alem de uma foto importante. Uma bolsinha comprida que acomoda escova, fio dental e dentifrício (essa é nova). Outra bolsinha um pouco maior, guarda alguns papeis e papeizinhos, também algumas notas fiscais inúteis, alguns cartões de visita e dois batons. Uma caixinha plástica redonda guarda brincos para o caso de esquecer-me de sair de casa de brincos. Uma bolsinha de nylon preta guarda remédios de emergência para digestão e dores de toda ordem, odeio sentir dor, mas quem gosta? Sim, os masoquistas, mas desses não conheço nenhum. Assim por alguns momentos, exerço a medicina ilegal distribuindo analgésicos e antiácidos a quem precisar. Um pente, lixas de unhas, várias canetas, os dois celulares e os três molhos de chaves; de casa, do carro e da casa de praia. Vai que eu resolva dar uma passadinha na casa de praia para ver como está?  Ai chave já está na bolsa...
Duas sacolas de tecido sintético (ecobag) para economizar as sacolinhas de mercado também não saem da bolsa muitas vezes nem no mercado. Mais uma caderneta com alguns endereços e mais papeis de todos os tipos, para fazer anotações quando me vêm uma idéia como essa e outras imperdíveis, porque se não anotar nunca mais me lembrarei da “brilhante” idéia para um escrito.
Como dizia, esse mar de coisas subiu desceu e se espalhou por todo o espaço da caixa e adjacências enquanto eu gritava:
- Ratos! Ratos! Eu vi ratos na minha bolsa... Vários ratos bem pequeninhos em pé me olhando uuuiiii...
E na mesmo instante eu a menina da caixa e mais duas mulheres subimos no balcão dos caixas enquanto os homens correram porta a fora deixando para trás as compras que estavam fazendo.
- Como assim, ratos? A senhora anda com ratos na bolsa?
Um olhar gelado emitido por mim quase petrificou o gerente que por algum milagre andava por perto e viu tudo.
- O Senhor está maluco? Eu lá sou mulher de andar carregando ratos na bolsa?
- E como eram esses ratos, minha senhora?
Quando ia realmente atirar uma lata de leite condensado na cabeça dele, bem naquele instante, me veio à memória a minha visão apavorante e me dei conta de que não eram ratos, mas seres muito pequenos com uma roupa semelhante a pêlo de rato, cinza em vários tons, peludos, cada um de um tom (está na moda 50 tons de cinza), mas as cabeças, hah as cabeças eram de ET’s sim, eram pessoinhas de outro planeta, agora me lembro bem. Aqueles olhos pretos enormes...
Desci desolada de cima do balcão e continuando a explicar para o gerente, fui juntando meus pertences e colocando na bolsa. Uma senhora ainda me estendeu a bolsinha da higiene bucal e um molho de chaves, enquanto todas as pessoas se acercaram para ouvir a minha história. Pelo sim, pelo não o gerente achou melhor baixar as portas do estabelecimento comercial e um retrato falado foi solicitado pelo policial que se apresentou para saber do tumulto. Por acaso ele estava passando na frente, durante a sua ronda.
Foi trazido lápis e papel sulfite e foi chamado o repositor Saldanha que tinha fama de bom desenhista. Ele se acomodou na cadeira da menina do caixa e diante da plateia curiosa começou a desenhar a criatura estranha que assim como ratos havia aos montes. Aos montes era exagero, mas vi na bolsa uns três ou quatro, sei lá.
Descreve daqui, desenha dali, ficou um monstro de gibi, mas deu para todos exclamarem um OHHH!!! de pavor ao imaginar aqueles monstrinhos andando por ai, sabe se lá querendo o que de nós pobres mortais, esquecendo que os que foram vistos não passavam de 5 cm.
Ato contínuo foi pedido a todos que não fossem funcionários, que se retirassem menos eu e o policial para ajudar na procura juntamente com todos os funcionários daquele horário. Tivemos que vasculhar todo o estabelecimento na tentativa de encontrar as criaturinhas.
Após três horas de tentativas infrutíferas, fomos convidados a sair, pois iriam reabrir o supermercado, pois o prejuízo já ia grande.
Sai de lá desolada em direção ao estacionamento, cheguei no lado do carro peguei a bolsa abri  e fui vasculhando a procura das chaves,  de repente, umas carinhas de ET com pêlo de rato, esticaram o que deveria ser as mãozinhas deles e abanaram para mim.
Quando acordei estava numa maca de hospital tomando soro e um médico que era o clone do Dr. Freud do meu lado me perguntava algo sobre se eu tinha muito medo de ratos...
- Sei lá, não sei porque me perguntou isso... Acho que ele é maluco...
 

2 comentários:

  1. Divertidíssimo o seu conto, Clotilde. Só espero não seja - nem de longe - autobiográfico. Abraços e boa semana!

    ResponderExcluir
  2. Aahahahah.... pensei que fosse um chaveiro :)

    ResponderExcluir