Imagem da internet, meramente ilustrativa
A beleza artística da confecção, os brilhos e plumas justificavam o alto preço que lhe custou muitas horas de trabalho extra, muitos almoços trocados por coxinha e muita água para espantar a fome, mas valeu, e como valeu, era a realização de um sonho.
Sobre uma cadeira encostada à parede, uma cabeça de manequim equilibra um arranjo maravilhoso, também com muita pluma e brilho.
Braceletes largos, um par de brincos enormes além d e um colar imenso também altamente cintilante, descansam sobre o pequeno gaveteiro com a pintura desgastada, deixando entrever nas ranhuras, várias demãos de tinta de várias cores.
As sandálias de tiras douradas, de plataforma alta, descansavam largadas de qualquer maneira no pé da cama. Um de pé e outro caído de lado.
Finalmente uma máscara de meio rosto, muito bem elaborada em lantejoulas, completava o traje para a noite de gala.
Já imaginava os holofotes todos voltados para ela em sua maior exuberância. Tudo era muito, era exageradamente exagerado, um escândalo de beleza. Seria destaque este ano.
Tomou um banho bem tomado sob uma duchinha fraca e fria, lavou muito os cabelos de lindos cachos soltos, examinou as unhas bem feitas em vermelho vivo cujo cantinho também trazia um minúsculo strass, assim como a unha do dedo maior dos pés. Isso tudo sempre cantando o samba-enredo da Escola querida.
Saiu do chuveiro e depois de se enxugar muito bem na toalha que de tão desgastada já deveria ter sido descartada há muito tempo, passou a espalhar um creme levemente perfumado de boa qualidade.
Lentamente prosseguiu no ritual de se arrumar quando olhou pela fresta do barraco e viu que já havia escurecido, olhou o relógio do celular e viu que já passava das oito horas, das vinte, melhor dizendo. Resolveu acelerar e foi quando ouviu a voz do amigo que entrava pela porta batendo os tacões de suas altas botas brancas, fantasiado de Valete de baralho.
-Você ainda não está pronta amada? Vamos chegar atrasadas!
- Não vamos não! Como lhe falei, marquei com o Sr. Wendel do taxi para vir me buscar as 20.30 hs e você vai junto comigo! Me ajude aqui!
E os dois aflitos começaram a vestir peça por peça e o calor aumentando até parecendo que nem tomaram banho tal eram as bagas de suor pelo rosto e corpo. Um pedacinho de toalha velha foi usado para irem se enxugando do suor enquanto tentavam uma maquiagem que teimava em derreter. Por fim ela lavou o rosto e só colocou o batom vermelho novinho, que havia comprado para aquela ocasião. Afinal a máscara iria cobrir parte do rosto.
Mais um pouco e uma criatura não definida na fauna surgiu linda e maravilhosa, cintilante, esfuziante e cheia de plumas em contraste com aquele mundo tão desprovido de tudo, menos de sonhos.
A buzina lá embaixo tocou duas vezes chamando o cliente e os dois entre degraus improvisados e ladeiras de barro e pedras, contornando corredores intermináveis e estreitos, foram agilmente descendo quase deslizando, até chegar onde, para um carro, era ponto final. Dali para frente não havia mais condições de subir sobre quatro rodas.
Ambos muito atrapalhados e com muito cuidado com suas fantasias carregavam nas mãos o adereço de cabeça que mal cabia no colo e no apertado veiculo. O motorista mergulhado em plumas mal conseguia enxergar o caminho, mas era impossível se negar nessas horas a fazer a corrida, pois ele também era um folião de carteirinha além de ter muitos amigos nas Escolas. Precisava prestigiar como podia.
Horas depois, respirando fundo e com os olhos brilhando de alegria e emoção ela entra linda e poderosa na passarela da escola do coração representando com garra e muito orgulho as cores do pavilhão que neste momento rodopiava entre os passistas ao compasso da bateria e ao do Samba-enredo...
Sonhos e Fantasias
Na penumbra do pequeno e despojado quartinho ela examinou
pela milésima vez a fantasia estendida sobre a cama simples e mal arrumada. A beleza artística da confecção, os brilhos e plumas justificavam o alto preço que lhe custou muitas horas de trabalho extra, muitos almoços trocados por coxinha e muita água para espantar a fome, mas valeu, e como valeu, era a realização de um sonho.
Sobre uma cadeira encostada à parede, uma cabeça de manequim equilibra um arranjo maravilhoso, também com muita pluma e brilho.
Braceletes largos, um par de brincos enormes além d e um colar imenso também altamente cintilante, descansam sobre o pequeno gaveteiro com a pintura desgastada, deixando entrever nas ranhuras, várias demãos de tinta de várias cores.
As sandálias de tiras douradas, de plataforma alta, descansavam largadas de qualquer maneira no pé da cama. Um de pé e outro caído de lado.
Finalmente uma máscara de meio rosto, muito bem elaborada em lantejoulas, completava o traje para a noite de gala.
Já imaginava os holofotes todos voltados para ela em sua maior exuberância. Tudo era muito, era exageradamente exagerado, um escândalo de beleza. Seria destaque este ano.
Tomou um banho bem tomado sob uma duchinha fraca e fria, lavou muito os cabelos de lindos cachos soltos, examinou as unhas bem feitas em vermelho vivo cujo cantinho também trazia um minúsculo strass, assim como a unha do dedo maior dos pés. Isso tudo sempre cantando o samba-enredo da Escola querida.
Saiu do chuveiro e depois de se enxugar muito bem na toalha que de tão desgastada já deveria ter sido descartada há muito tempo, passou a espalhar um creme levemente perfumado de boa qualidade.
Lentamente prosseguiu no ritual de se arrumar quando olhou pela fresta do barraco e viu que já havia escurecido, olhou o relógio do celular e viu que já passava das oito horas, das vinte, melhor dizendo. Resolveu acelerar e foi quando ouviu a voz do amigo que entrava pela porta batendo os tacões de suas altas botas brancas, fantasiado de Valete de baralho.
-Você ainda não está pronta amada? Vamos chegar atrasadas!
- Não vamos não! Como lhe falei, marquei com o Sr. Wendel do taxi para vir me buscar as 20.30 hs e você vai junto comigo! Me ajude aqui!
E os dois aflitos começaram a vestir peça por peça e o calor aumentando até parecendo que nem tomaram banho tal eram as bagas de suor pelo rosto e corpo. Um pedacinho de toalha velha foi usado para irem se enxugando do suor enquanto tentavam uma maquiagem que teimava em derreter. Por fim ela lavou o rosto e só colocou o batom vermelho novinho, que havia comprado para aquela ocasião. Afinal a máscara iria cobrir parte do rosto.
Mais um pouco e uma criatura não definida na fauna surgiu linda e maravilhosa, cintilante, esfuziante e cheia de plumas em contraste com aquele mundo tão desprovido de tudo, menos de sonhos.
A buzina lá embaixo tocou duas vezes chamando o cliente e os dois entre degraus improvisados e ladeiras de barro e pedras, contornando corredores intermináveis e estreitos, foram agilmente descendo quase deslizando, até chegar onde, para um carro, era ponto final. Dali para frente não havia mais condições de subir sobre quatro rodas.
Ambos muito atrapalhados e com muito cuidado com suas fantasias carregavam nas mãos o adereço de cabeça que mal cabia no colo e no apertado veiculo. O motorista mergulhado em plumas mal conseguia enxergar o caminho, mas era impossível se negar nessas horas a fazer a corrida, pois ele também era um folião de carteirinha além de ter muitos amigos nas Escolas. Precisava prestigiar como podia.
Horas depois, respirando fundo e com os olhos brilhando de alegria e emoção ela entra linda e poderosa na passarela da escola do coração representando com garra e muito orgulho as cores do pavilhão que neste momento rodopiava entre os passistas ao compasso da bateria e ao do Samba-enredo...
Olha a Clotilde aí, gente! Em grande estilo e com muito samba no pé. Parabéns pelo texto e feliz Carnaval, amiga.
ResponderExcluirDá para imaginar a maravilhosa :)
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