Com o intuito de prestigiar o que é nosso, o nosso folclore, quando os meus netos eram pequenos escrevi esta história para eles. Hoje também é o dia do Saci.
A troca
Na estrada que leva ao Sitio do Sol, no meio de um bambuzal que ficava no lado da ponte morava um Saci.
Muito esperto e levado, como todo Saci, ele ficava espiando as crianças brincando para correr atrás delas e assustá-las, pedindo balas.
Certo dia, Pedro, um garoto muito levado, junto dos seus primos Léo e Thiago resolveram enfrentar o Saci. Foram até a ponte perto do bambuzal e começaram a gritar:
-Ei saci! Aparece Saci, vem aqui me pegar, eu não tenho medo de você...
De repente eles viram o bambuzal se mexer e uma ponta de gorrinho vermelho parecer. Logo em seguida dois olhinhos muito vivos espiaram por detrás das folhas antes de aparecer a boca sorridente.
-Uai!!!! Minha nossa!
Gritaram todos juntos e saíram em desabalada carreira gritando de medo. Suas primas, Bruna, Laura, Renata, e Andressa vieram ver o que estava acontecendo e viram os meninos correndo assustados que nem conseguiam falar de tanto que o coração batia de medo.
-A gente viu o Saci, a gente viu o Saci, ele correu atrás de nós...
Falavam os meninos engasgados de medo.
-Eu duvido!
Falou a Bruna.
-Eu também duvido!
Falou a Laura
-É mentira de vocês...
Falou Andressa.
-Também acho!
Falou a Renata, a maior delas.
As meninas riam sem parar dos meninos, mas lá no fundo também tinham medo, pois dava para ver que os meninos estavam assustados de verdade.
-Se não acreditam vão vocês até lá, eu é que não vou mais lá.
Falou Pedro
-Nem eu!
Falou o Léo
Thiago ficou quieto mas não demonstrava muita coragem. Então Andressa falou:
-Vamos todos juntos tirar essa prova. Se vocês estiverem mentindo, vão apanhar para aprender a não botar medo em ninguém.
E lá foram todos, uns empurrando os outros para irem na frente, ficando eles, os meninos, para trás.
Assim que chegaram ao bambuzal as meninas começaram a chamar aos gritos:
-Saci, aparece Saci, saia daí e venha até aqui!
De repente, sem saber de onde, ele aparece e pula na frente deles, fazendo-os tremer dos pés a cabeça, o próprio, em pessoa pulando e rindo e dando voltas sobre si mesmo. Negro, magrinho, com uma perna só e de gorro vermelho na cabeça e com voz estridente falou:
-Dá uma bala, me da um docinho, quem vai me dar em amiguinhos.
Todos eles ficaram mudos e de olhos arregalados sem acreditar no que viam.
-Ai minha mãe!!! Que medo!
Gritaram algumas crianças, outros nem conseguiram abrir a boca.
Então o Saci falou:
-Não tenham medo, não faço mal a ninguém. Só gosto de assustar e pedir balas e doces, não sei porque as crianças correm quando me vêem, mas eu me divirto mesmo assim.
Deu mais algumas voltas sobre si e continuou:
-Sabem o que eu quero mesmo de verdade. Uma perna... Você me dá a sua perna
Apontou o saci para a perna do Pedro.
-Eu não, ai eu é que vou virar saci!
-E você, me da uma perna, eu te dou meu gorro mágico que faz desaparecer assim
E rodou para os meninos verem que desaparecia mesmo, e até que o Léo achou a idéia interessante brincar de desaparecer, mas o que diria para a mãe quando chegasse em casa com uma perna só, a mamãe iria lhe dar um castigo daqueles.
Nisso o Saci falou apressado:
-Já vou embora, vem chegando alguém.
Colocou o gorro, rodopiou formando um redemoinho de poeira e sumiu como um bom Saci.
La vinha chegando o avo dos meninos, que ouviu maravilhado a historia dos garotos com olhos brilhantes. Sempre que os netos iam passear no Sitio, ele os levava até o bambuzal ao lado da ponte para chamarem o Saci. Ele era o mais animado com a brincadeira, talvez relembrando a própria infância.
Passou um tempo depois daquele dia, mas o saci nunca mais apareceu. As vezes ficavam chamando, chamando mas ele não aparecia, então desistiam e iam brincar de outra coisa.
Certo dia estavam brincando e lembraram do saci. Correram então para o bambuzal e ficaram chamando aos gritos:
- Ei saci, aparece saci!
Todos gritavam fazendo a maior algazarra. Jogaram punhados de balas no bambuzal e nada do saci aparecer, então desistiram e resolveram voltar. Quando iam se afastando desanimados ouviram o bambuzal se mexer e um bambu estalar, logo apareceu a ponta do gorro vermelho e logo depois o saci com a boca cheia de balas. Veio pulando e se sentou perto de onde as crianças haviam se sentado, pois não tinham mais medo do saci. Sentou-se e puxou a perna do Pedro, o fazendo gritar de medo.
-Me dá a sua perna, eu troco pelo meu gorro que é mágico, você coloca na cabeça, gira numa perna só e desaparece, fica invisível.
-Onde você estava, a gente sempre vem aqui lhe chamar e você não aparece!
Perguntou Andressa.
-É, a gente sempre trás balas
Falou a Laura, sendo confirmada pelas outras meninas.
-É mesmo, calma que eu explico: Como vocês sabem eu sempre quis ter duas pernas como todo mundo, então um dia passou pelo caminho um menino e eu perguntei: -Me dá uma perna, eu dou o meu gorrinho vermelho que é mágico. Você coloca na cabeça, gira numa perna e desaparece, fica invisível. Você troca sua perna comigo. – Gente!!! E não é que o menino trocou.
-Trocou!
-Pois é, trocou!!! Foi pulando numa perna só para casa dele com o meu gorrinho vermelho na cabeça todo feliz. Eu também fiquei feliz com a troca, afinal eu tinha duas pernas! A perna dele era branquinha, branquinha e um pouquinho mais curta que a minha, e verdade, mas não fazia mal. Eu capengava mas tinha duas pernas. Só que logo depois eu percebi que ninguém ligava para mim, eu andava na rua como todo mundo e não acontecia nada, eu era igual a todo mundo, quer dizer, quase igual. Eu tinha uma perna preta e uma perna branca, uma era mais curta, mas e daí, era tudo igual. Não tinha mais o meu gorrinho vermelho e mágico que me fazia desaparecer até porque ele só é mágico na minha cabeça, noutra cabeça ele é só um gorro, não acontece nada. Ai de repente acabou a novidade. Achei tudo muito chato e voltei para cá, sentei na beira da estrada e fiquei lá não sei quanto tempo, desanimado e triste e muito arrependido. Estava La pensando... quando ouvi um barulho assim: poc, poc, poc, olhei e vi o menino que trocou a perna comigo. Vinha pulando numa perna só com o gorrinho vermelho e mágico na cabeça, triste, desconsolado quando me viu ali sentado na beira da estrada, ficou feliz da vida.
- Vamos destrocar, não quero mais o seu gorro, que com ele não fico invisível, além do mais minha mãe me botou de castigo por ter trocado a perna sem perguntar para ela, e estou muito chateado por que tudo deu errado.
-Falava sem parar com medo de eu não querer concordar, então contei para ele que eu também queria destrocar. Ai destrocamos e ficamos amigos. Hoje eu voltei para visitar vocês e ganhar umas balinhas...
De noite, durante o jantar, as crianças contaram para o vovô e para a vovó a historia do saci e eles ouviram maravilhados dando boas gargalhadas.
(Os direitos autorais desta historia estão registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)
A troca
Na estrada que leva ao Sitio do Sol, no meio de um bambuzal que ficava no lado da ponte morava um Saci.
Muito esperto e levado, como todo Saci, ele ficava espiando as crianças brincando para correr atrás delas e assustá-las, pedindo balas.
Certo dia, Pedro, um garoto muito levado, junto dos seus primos Léo e Thiago resolveram enfrentar o Saci. Foram até a ponte perto do bambuzal e começaram a gritar:
-Ei saci! Aparece Saci, vem aqui me pegar, eu não tenho medo de você...
De repente eles viram o bambuzal se mexer e uma ponta de gorrinho vermelho parecer. Logo em seguida dois olhinhos muito vivos espiaram por detrás das folhas antes de aparecer a boca sorridente.
-Uai!!!! Minha nossa!
Gritaram todos juntos e saíram em desabalada carreira gritando de medo. Suas primas, Bruna, Laura, Renata, e Andressa vieram ver o que estava acontecendo e viram os meninos correndo assustados que nem conseguiam falar de tanto que o coração batia de medo.
-A gente viu o Saci, a gente viu o Saci, ele correu atrás de nós...
Falavam os meninos engasgados de medo.
-Eu duvido!
Falou a Bruna.
-Eu também duvido!
Falou a Laura
-É mentira de vocês...
Falou Andressa.
-Também acho!
Falou a Renata, a maior delas.
As meninas riam sem parar dos meninos, mas lá no fundo também tinham medo, pois dava para ver que os meninos estavam assustados de verdade.
-Se não acreditam vão vocês até lá, eu é que não vou mais lá.
Falou Pedro
-Nem eu!
Falou o Léo
Thiago ficou quieto mas não demonstrava muita coragem. Então Andressa falou:
-Vamos todos juntos tirar essa prova. Se vocês estiverem mentindo, vão apanhar para aprender a não botar medo em ninguém.
E lá foram todos, uns empurrando os outros para irem na frente, ficando eles, os meninos, para trás.
Assim que chegaram ao bambuzal as meninas começaram a chamar aos gritos:
-Saci, aparece Saci, saia daí e venha até aqui!
De repente, sem saber de onde, ele aparece e pula na frente deles, fazendo-os tremer dos pés a cabeça, o próprio, em pessoa pulando e rindo e dando voltas sobre si mesmo. Negro, magrinho, com uma perna só e de gorro vermelho na cabeça e com voz estridente falou:
-Dá uma bala, me da um docinho, quem vai me dar em amiguinhos.
Todos eles ficaram mudos e de olhos arregalados sem acreditar no que viam.
-Ai minha mãe!!! Que medo!
Gritaram algumas crianças, outros nem conseguiram abrir a boca.
Então o Saci falou:
-Não tenham medo, não faço mal a ninguém. Só gosto de assustar e pedir balas e doces, não sei porque as crianças correm quando me vêem, mas eu me divirto mesmo assim.
Deu mais algumas voltas sobre si e continuou:
-Sabem o que eu quero mesmo de verdade. Uma perna... Você me dá a sua perna
Apontou o saci para a perna do Pedro.
-Eu não, ai eu é que vou virar saci!
-E você, me da uma perna, eu te dou meu gorro mágico que faz desaparecer assim
E rodou para os meninos verem que desaparecia mesmo, e até que o Léo achou a idéia interessante brincar de desaparecer, mas o que diria para a mãe quando chegasse em casa com uma perna só, a mamãe iria lhe dar um castigo daqueles.
Nisso o Saci falou apressado:
-Já vou embora, vem chegando alguém.
Colocou o gorro, rodopiou formando um redemoinho de poeira e sumiu como um bom Saci.
La vinha chegando o avo dos meninos, que ouviu maravilhado a historia dos garotos com olhos brilhantes. Sempre que os netos iam passear no Sitio, ele os levava até o bambuzal ao lado da ponte para chamarem o Saci. Ele era o mais animado com a brincadeira, talvez relembrando a própria infância.
Passou um tempo depois daquele dia, mas o saci nunca mais apareceu. As vezes ficavam chamando, chamando mas ele não aparecia, então desistiam e iam brincar de outra coisa.
Certo dia estavam brincando e lembraram do saci. Correram então para o bambuzal e ficaram chamando aos gritos:
- Ei saci, aparece saci!
Todos gritavam fazendo a maior algazarra. Jogaram punhados de balas no bambuzal e nada do saci aparecer, então desistiram e resolveram voltar. Quando iam se afastando desanimados ouviram o bambuzal se mexer e um bambu estalar, logo apareceu a ponta do gorro vermelho e logo depois o saci com a boca cheia de balas. Veio pulando e se sentou perto de onde as crianças haviam se sentado, pois não tinham mais medo do saci. Sentou-se e puxou a perna do Pedro, o fazendo gritar de medo.
-Me dá a sua perna, eu troco pelo meu gorro que é mágico, você coloca na cabeça, gira numa perna só e desaparece, fica invisível.
-Onde você estava, a gente sempre vem aqui lhe chamar e você não aparece!
Perguntou Andressa.
-É, a gente sempre trás balas
Falou a Laura, sendo confirmada pelas outras meninas.
-É mesmo, calma que eu explico: Como vocês sabem eu sempre quis ter duas pernas como todo mundo, então um dia passou pelo caminho um menino e eu perguntei: -Me dá uma perna, eu dou o meu gorrinho vermelho que é mágico. Você coloca na cabeça, gira numa perna e desaparece, fica invisível. Você troca sua perna comigo. – Gente!!! E não é que o menino trocou.
-Trocou!
-Pois é, trocou!!! Foi pulando numa perna só para casa dele com o meu gorrinho vermelho na cabeça todo feliz. Eu também fiquei feliz com a troca, afinal eu tinha duas pernas! A perna dele era branquinha, branquinha e um pouquinho mais curta que a minha, e verdade, mas não fazia mal. Eu capengava mas tinha duas pernas. Só que logo depois eu percebi que ninguém ligava para mim, eu andava na rua como todo mundo e não acontecia nada, eu era igual a todo mundo, quer dizer, quase igual. Eu tinha uma perna preta e uma perna branca, uma era mais curta, mas e daí, era tudo igual. Não tinha mais o meu gorrinho vermelho e mágico que me fazia desaparecer até porque ele só é mágico na minha cabeça, noutra cabeça ele é só um gorro, não acontece nada. Ai de repente acabou a novidade. Achei tudo muito chato e voltei para cá, sentei na beira da estrada e fiquei lá não sei quanto tempo, desanimado e triste e muito arrependido. Estava La pensando... quando ouvi um barulho assim: poc, poc, poc, olhei e vi o menino que trocou a perna comigo. Vinha pulando numa perna só com o gorrinho vermelho e mágico na cabeça, triste, desconsolado quando me viu ali sentado na beira da estrada, ficou feliz da vida.
- Vamos destrocar, não quero mais o seu gorro, que com ele não fico invisível, além do mais minha mãe me botou de castigo por ter trocado a perna sem perguntar para ela, e estou muito chateado por que tudo deu errado.
-Falava sem parar com medo de eu não querer concordar, então contei para ele que eu também queria destrocar. Ai destrocamos e ficamos amigos. Hoje eu voltei para visitar vocês e ganhar umas balinhas...
De noite, durante o jantar, as crianças contaram para o vovô e para a vovó a historia do saci e eles ouviram maravilhados dando boas gargalhadas.
(Os direitos autorais desta historia estão registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)
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