sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Deu Bode

Deu Bode

Depois do almoço costumo dormir uns “15 minutos”, o chamado sono da beleza, que apesar dos minutos se multiplicarem exponencialmente pelo tédio que o isolamento social nos leva, a beleza até hoje não compareceu. Acho até que fui “enganada” pela bela e elegante vendedora, que fez a demonstração do maravilhoso travesseiro de tecido impermeável, à minha porta.

Sim, já comprei um travesseiro (tenho mania com eles) na minha porta.

Daí que por este momento de incertezas, resolvemos, Otávio e eu, ficarmos em casa e passar o Aniversário de Jesus por aqui mesmo e festejar de modo virtual como a moda pede, e mesmo desanimada decorei a nossa velha árvore, já meio descadeirada e desbotada, que estava guardada no “sótão”.

Distribuí bolas e fitas desfalecidas e arrisquei um pouco de “neve” de algodão hidrófilo, como convém num país tropical abençoado por Deus. Escolhi o canto da sala, perto da janela, para ser vista de fora para dentro como os antigos cartões de Boas Festas ilustravam.

Feito isso, como dizia, fui tirar a soneca da beleza que eu chamo de sono das rugas.

... Então é Natal... ♪♪♫♫

Antes do sono se abater sobre a minha pessoa me dei conta de que eu estava sozinha há horas... Mas o sono foi mais forte que a preocupação, e “Morfeu” ganhou a parada.

Quando acordei uma música cheia de sinos badalando, me fez pensar que já estavam anunciando a Missa do Galo, sem falar no forte cheiro de assados e comida que vinha da cozinha. Mas não podia ser da minha!!!

Pulei do sofá e fui passar um café para acordar para a segunda etapa do dia quando me deparei com algo estranho na sala;

- Otááávioooo!!! O que significa isso?

- Temos um convidado, não está vendo? Fica fria...

- Eu estou gelada e com uma foice na mão!

- Este é o Oswaldo, com “w” ele faz questão.

- Pois ele pode ser Oswaldo com todas as letras do alfabeto, mas ele não é bem vindo aqui nesta casa nem na noite de Natal e nem qualquer outro dia!!!

- Calma mulher; eu o encontrei lá embaixo, triste, sozinho, e o convidei para a ceia.

- Ceia? Que ceia “carapálida”? Vamos comer myojjo com passas e ir para a “manjedoura” cedo, antes que o galo cante à meia noite.

- Mas ele foi abandonado, foi enviado de presente, de muito longe, para fazer parte de alguma ceia, mas desistiram. Durante o isolamento social as pessoas mudaram os hábitos e muitos viraram vegetarianos, veganos etc.

Neste momento ouvimos um barulho vindo da sala e deparamos com o Oswaldo, com “W” comendo a árvore de Natal...

 ♪♪♪♫♫ Então é Natal...♪♪♫♫

Quem quer um bode chamado Oswaldo com “w” aí?

 

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020



                                   Apenas uma Fábula

A floresta acordou assustada com os urros do Leão que há dias não saia da caverna onde morava. Urrava dolorosamente. Ninguém tinha coragem de ir lá dentro ver o que acontecia com medo de ser atacado e até comido.Foi quando o Cachorro do Mato, primo do lobo, resolveu entrar na caverna e ver o que acontecia e deparou-se com o Leão deitado com a pata para cima uivando de dor.

- O que aconteceu para você estar urrando desse jeito?

Perguntou o destemido Cachorro do Mato, sabendo que arriscava a sua vida, enquanto se escondia num vão da pedra de maneira que pudesse escapar se precisasse.

- Estou com um espinho enorme encravado na minha pata e não consigo alcançar para retirar e daí não consigo andar, sair para comer e tomar água, eu vou morrer aqui à míngua...

Falou o Leão entre soluços.

- Bem, talvez eu também não consiga fazer isso sozinho, mas posso chamar alguém para ajudar...

O urro que ele deu como resposta foi tenebroso que o Cachorro do Mato resolveu não arriscar mais e saiu correndo. Se ele não queria ajuda, então que ficasse sozinho; foi o que pensou enquanto corria para longe dali.

E assim mais alguns dias se passaram e os urros continuaram a ressoar pela floresta, até que o Cachorro do Mato resolveu reunir um pessoal para encontrarem uma solução para aquele preocupante problema.

Enquanto falavam e trocavam ideias, perceberam que tudo ficou silencioso. De repente a mata ficou parada. Ninguém se mexia, na expectativa de entender o que aconteceu e o pensamento foi unânime; o Leão deve, finalmente, ter morrido. Agora era saber quem teria a coragem de entrar na caverna para constatar a morte da fera.

Assim, devagar, passo a passo, todos foram entrando, ainda sorrateiros, se escondendo nos vãos da caverna na expectativa de que o Leão estivesse fingindo para poder comer quem resolvesse entrar.

Mas a surpresa foi encontra-lo desacordado, desmaiado de dor, fraqueza e sede parecendo morto. A pata inchada, com o enorme espinho cravado descansava ao lado do corpo.

Todos respiraram aliviados daqueles urros que ressoavam pela floresta dia e noite e foram embora para longe dali, mas o Cachorro do Mato chamou a Garça que também ia saindo e pediu a ela que o ajudasse a retirar o espinho da pata machucada aproveitando que o Leão estava dormindo. 

Então, ela com o seu bico pontiagudo como uma pinça retirou delicadamente o espinho causando alivio imediato, fazendo com que o Leão dormisse ainda mais profundamente aliviado.

Os dois amigos voltaram para a floresta onde encontraram os amigos que os recriminaram por ajudar aquela fera arrogante, no que o Cachorro do Mato respondeu pelos dois que fizeram o que acharam certo fazer, que era aliviar a dor alheia e ajudar no que for preciso.

- Mas ao acordar, o Leão vai urrar mais alto ainda e você será morto por ele na primeira oportunidade.

Falou a Hiena desesperada com a possibilidade de o Leão aparecer...

- Eu fiz o que achei certo fazer, ajudar quem precisava de ajuda, ele vai fazer o que achar que deve. Ele é um leão e agirá como um leão. Assim é a vida. 

Devemos tirar nossas conclusões das situações que a vida nos apresenta e levar para a nossa existência como experiência e aprendizado.

Gratidão, humildade, tolerância, bondade, serenidade, são sentimentos e virtudes que devemos cultivar para nos tornar seres humanos melhores.