segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Ventos de Primavera


                               Ventos de Primavera
Hoje tem inicio, nesse hemisfério, a Primavera deste ano de 2019.
É setembro e já ansiamos lavar e guardar as roupas de inverno que ficarão literalmente adormecidas, hibernando, até 2020 e começar a usar as de verão. Eu pelo menos estou ansiosa.
Estava aqui pensando na vida e confabulando com minhas pantufas de Unicórnio, quando a campainha tocou avisando para receber uma encomenda lá embaixo.
- Como assim,  se não fiz nenhuma compra e nenhuma encomenda?!
Foi quando saiu do quarto, de entre os lençóis, a criatura peluda de olhos amarelos que responde pelo nome de Otávio gritando:
- Deixa comigo!
É claro que a lâmpada vermelha do giroflex, no meu cérebro começou a piscar e só faltou acender a sirene de incêndio.
Ele desceu correndo até a portaria e voltou carregando um pacote tão grande que até precisou de ajuda para trazer até o apartamento.
Lá vem coisa!!! Gritou a minha intuição do fundo das profundezas do meu ser enquanto eu respirava e contava até dez em vários idiomas para me acalmar. Só que não fez efeito e quando ele adentrou à sala eu gritei:
- De que se trata este pacote, qual é a do dia?
- Não esquenta a cabeça que a caspa vira “mandiopã”!
(Essa é do século passado, da mesma época em que vendiam pela televisão as meias Vivarina e as 12 facas Jiatsu.)
Nervosamente ele desmanchou e desembrulhou todo o enorme pacote causando um caos na nossa pequena sala.
Pouco a pouco foram aparecendo as partes de tecido sintético e as hastes e conexões metálicas que não acabavam mais.
- Mas o que é isso Otávio?!
Perguntei no último fôlego das minhas forças.
- Não é nada demais, comprei uma barraca de acampar com todos os acessórios, tipo panelas, fogão etc
- E precisava uma de três quartos, “avancê”, sala de Tevê e banheiro com ducha? Ela é maior que o nosso apartamento de 50 m²!!
- Por isso mesmo; estou cansado desse aperto, assim vou me mudar para a praia definitivamente e viver ao ar livre, sentindo o cheiro do mar, o vento, ouvindo as gaivotas e lá não estarei para mais ninguém...
Na hora levei um susto, nunca imaginei que meu companheiro de espaço e moradia fosse me abandonar assim, de uma hora para outra, sem mais nem menos.
E lá foi ele todo feliz com a sua enorme barraca e apetrechos, em cima de um caminhão de mudanças.
Confesso que deprimi, chorei e nem preguei os olhos a noite toda ouvindo o vento lá fora. Até tive que retirar os cílios postiços.
Mal o sol raiou levantei e fui fazer um café para botar os neurônios para caminhar.
Quando sentei para ler as notícias do dia, a porta se abriu e a criatura peluda entrou atropeladamente e se jogou no sofá enquanto me dizia:
- Perdi tudo!! Tudo! Acho que não reforcei as amarras direito, sei lá, e a ventania carregou tudo para longe, não deixou nada...
Parou um pouco e continuou enquanto se levantava do sofá e se arrastava na direção do quarto;
-Vou para a minha cama, para os meus lençóis, e não estarei para ninguém por duas semanas ou até a porcaria da ventania passar...

Alguém aí viu uma barraca sendo arrastada pelo vento?

Um comentário:

  1. Pelo jeito, Otávio chegou à adolescência... Abraços e muito mandiopã - que, aliás, está de volta ao mercado!

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