Água; líquido incolor e inodoro.
De repente me dou conta que estou rodeada de água, dentro de
um caiaque, remando desesperadamente em pleno oceano, não sei qual dos três,
Atlântico, Indico ou Pacífico.
Me senti por alguns minutos o próprio Amir Klink, remava de
um lado ora do outro, fazia manobras como numa corredeira de rio de repente as ondas furiosas começaram a me
levantar e logo me desciam numa aflição
de montanha -russa.
Um desespero começou a tomar conta do meu ser indefeso e
comecei a chorar, mas logo engoli o choro me lembrando de que choro é líquido,
é água, e o que eu mais queria naquele
momento era fugir de qualquer líquido incolor e inodoro.
Comecei a tremer ao imaginar as barbatanas triangulares dos
tubarões fazendo uma ciranda ao redor de mim e impulsionei mais ainda os remos
para longe.
- Como longe? Eu já estava muito longe e nem sei quanto.
Olhava para o horizonte e só via água, água, até que comecei
a ouvir um som de motores...
-O que seria? Um navio, um helicóptero, um avião, um
super-homem?
Não, não era nada disso, era a vizinha de apartamento, a
Mulher-maravilha, que ligou o aspirador de pó às sete da manhã e me acordou. Até
que foi bom, eu estava dormindo e tendo um pesadelo.
Tanta água por estas bandas que já estou tendo sonhos
desesperadores.
Abro a janela e olho para fora e vejo que continua chovendo,
já chove há quase quarenta dias, é o dilúvio e nem comprei a minha passagem na
Arca do Noé que ouvi dizer que o “modelito” novo dela agora vem com periscópio...