sábado, 30 de maio de 2015

Imãs de Geladeira

                                                       Imãs de Geladeira.
Assim que a porta se abriu junto com o sorriso da nova vizinha, não pude deixar de reparar ao fundo a quantidade de Imãs de geladeira que havia naquela cozinha. Mal dava para dizer de que cor a principal peça daquele ambiente havia sido pintada um dia, tal a quantidade de informações coloridas que ela carregava na frente e dos lados.
Como na minha só tem o serviço de ambulância e urgência, o de entrega 24hs da Farmácia, do PetShop que dá banho no gato, um da Pizzaria e mais uma lembrancinha bem pequena, fiquei pensando que aquilo tudo diante de mim queria dizer alguma coisa. Sim por que num desses cursinhos que a gente faz direcionado ao autoconhecimento alguém me ensinou que tudo, absolutamente tudo, tem um significado na nossa vida e que precisamos desvendá-lo sob pena de ficarmos desnorteados, seja lá o que isso queira dizer. Então tá.
Fiquei olhando deslumbrada para tudo aquilo até que pedi licença e fui até bem perto para apreciar melhor. Na verdade eu estava literalmente hipnotizada no meio da cozinha com o prato de bolo nas mãos, tanto que respondi automaticamente ao convite de tomar um chá de maçã, canela e uma lasca de gengibre, logo depois que ela me confidenciou que ainda acrescentava um pouquinho de conhaque antes de servir. Tudo isso consegui ouvir enquanto os olhos passeavam acelerados por aquele mar de informações.
Mas me recobrando rapidamente, entreguei o Pão-de-ló na calda de laranja que ainda estava morno e fiz de “Boas Vindas” à nova vizinha nas mãos da própria que o levou para a sala e o colocou sobre a mesa. Depois de cumprimentos e sorrisos de aceitação imediata parecíamos amigas de infância.
Me sentia a mais feliz das pessoas ao conhecer aquela pessoa gentil e sorridente que possuía a maior quantidade de imãs de geladeira na  geladeira que eu jamais havia visto na vida.
Alguns minutos depois, o tempo de ferver a água e arrumar tudo já estávamos sorridentes e sentadas à mesa da sala na qual foi colocada uma toalha bordada pelas próprias mãos em ponto cruz e tomávamos chá numa louça maravilhosa de porcelana fina de flores delicadas e arabescos dourados, de mais de cem anos. Peças de família.
Cá entre nós o bolo que levei estava uma delícia e combinou perfeitamente com todo aquele requinte e com o chá especialíssimo.
Mas antes de sair encantada com a nova vizinha e tudo mais, lhe prometi trazer na próxima um Bolo maravilhoso de Nozes que faço de olhos fechados desde que ela me permitisse examinar todos os seus imãs de geladeira e me contar a história de cada um, sim porque nada vem parar nas nossas mãos por acaso, tudo tem um significado.
Sai dali pisando nas nuvens. Cada um com seu cada um e o meu são os imãs de geladeira... ;)

(imagem da internet)


terça-feira, 26 de maio de 2015

Papo de Fila...

                                                         Papo de Fila...
- Seu nome?
-Dheyze das Neves.
-Trabalha?
-Sou atriz e modelo...
-Por que está na fila?
- Por que não deveria estar se todas essas pessoas estão?
-Mas você pelo menos sabe o que a espera quando chegar a sua vez?
- O que espera a todos os que estão neste fila, não acha?
- Sim, imagino, mas está me parecendo que você está aqui por acaso...
-É claro que não! Ninguém entra numa fila por acaso e penso que nem você está aqui por acaso, até porque eu penso que o “acaso” não existe.
-Mas eu como pode ver estou trabalhando, entrevistando as pessoas desta fila.
- E veio entrevistar justamente eu, por que será?
-Sim, você é muito observadora...
-Este é um dos meus defeitos, ou seria uma qualidade ser observadora?
- Este é um dado interessante, você já pensou em trabalhar num observatório? Hahahah. Não resisti hahahah. O que pretende fazer quando chegar a sua vez de ser atendida?
- Atendida, quem falou que chegarei a ser atendida?
- Bom eu imagino que quando alguém entra numa fila enorme como essa, ou  por maior que seja, queira ser atendida, não?
-Nem sempre, às vezes está fazendo nada e quer ocupar seu tempo esperando ser entrevistada por algum jornalista. Neste meio em que eu vivo a exposição é o maior objetivo.
- Sei.... e qual é o seu?
-O meu o quê?
- Objetivo, não é do que estamos falando?
- Não, estamos falando de filas, grandes enormes ou pequenas e atendimento.
-E o que pretende quando sair daqui?
-Ser convidada para jantar com um jornalista muito simpático que conheci na fila desta manhã de segunda-feira.
-Passo para lhe pegar a que horas?
-Pode ser as 20.30h no saguão do meu hotel...
-Você mora num hotel?

- Não, moro noutra cidade, estou só de passagem...

(Essas ilustrações de fila são de autoria da Ligia Fascioni)

sábado, 9 de maio de 2015

Dia das Mães ou dos Filhos?


                                         Dia das Mães ou dos Filhos?
Quem me conhece sabe que não gosto de ser homenageada no dia das mães, apesar de achar uma data muito emocionante, pois voltam as lembranças do tempo em que éramos só filhos, em relação a mim me sinto constrangida.
Me sinto assim, por sentir que tudo o que fazemos para nossos filhos é espontâneo, não pensamos e nem treinamos para demonstrar esse sentimento.  
A partir do momento em que nos tornamos mãe tudo muda e tudo se torna diferente, nossos valores e nossos objetivos sempre priorizarão os nossos  filhos até o fim de nossa vida.  Este sentimento é único e inexplicável. E justamente por este motivo que não me sinto à vontade para ser homenageada por agir da forma mais sincera e natural, mais honesta e mais completa diante de um ser que saiu das minhas entranhas.
Por que me agradecer por amá-lo se este sentimento é o que há de mais verdadeiro em mim, tão natural e espontâneo? Não tenho que me esforçar e nem fazer de conta, ele é sempre o mais puro que há em mim? O amor que tenho pelos meus filhos é a única coisa que realmente vale a vida, porque vale viver, sem este sentimento nem sei quem sou de verdade. Ele é quase eu inteira.
 Para alguém que não é ou nunca foi Mãe, não quer dizer que não venha a conhecer este sentimento. Há muitas formas de amor e de amar.
Apenas não vejo o porquê da homenagem, do agradecimento à minha pessoa.
É como pedir a uma flor que não exale seu perfume, se ele faz parte dela!? 
Alguém pode alegar que existem mães e mães, mas eu não estou falando das exceções, estou falando daquelas que são homenageadas porque tiveram filhos e alguém escolheu um dia para isso.
Assim, quero fazer diferente hoje. Quero homenagear os meus amados filhos. Todos os quatro que tive. Bebes lindos e fofos, crianças espertas e saudáveis e pessoas maravilhosas, adultos exemplares e excelentes filhos.
Todos só me deram alegrias e hoje venho agradecer cada segundo que estiveram e estão presentes, longe ou perto em minha vida.
Tenho certeza que me torno a cada dia uma pessoa melhor por conta de tê-los tido.  Cometi muitos enganos com vocês, mas foi por conta da inexperiência e imaturidade.
Além de uma mãe muito jovem vocês não vieram com manual e instruções. Assim, tive que ir agindo, fazendo acertando e errando mais na intuição e na raça. Tive que aprender a cuidar de uma casa, cozinhar, costurar e mais mil coisas enquanto vocês nasciam e cresciam ao meu redor.
Tive que dizer muitos nãos com o coração partido porque naquele momento era o que eu pensava ser o melhor, mas também permiti algumas outras na certeza que vocês já sabiam como se comportar e agir e me orgulhei muito disso.
Acompanhei cada acerto e cada vitória de vocês com o peito inflado de orgulho, os olhos transbordando em lágrimas querendo gritar para todo mundo; “eu sou a mãe!”
Mas a vida também pegou pesado algumas vezes e por último me levou um de vocês para Deus. Isto eu posso garantir que nunca estive preparada e jamais imaginei que teria que passar. Mas estou aqui, pois os outros três também me ajudam a ir vivendo, mesmo sem querer. Ainda me fazem sorrir e me orgulhar e me emocionar. Dão-me muito carinho e me fazem sorrir.

Alguns me deram netos que também são meu orgulho e assim vou vivendo de lembranças e de acontecimentos diários que ainda fazem a vida valer muito à pena.

Para encerrar só posso pedir a bênção à minha Mãe Bercides que me deu os exemplos de maternidade onde estiver.