Insônia, eu?
As vinte e duas horas e trinta minutos eu já estava
caindo de sono e resolvi ir para a cama.
Levantei do sofá de olhos fechados e fui tateando
pelo corredor e me arrastando até o quarto que me pareceu mais longe do que eu
tinha lembrança.
Não sei como dobrei a colcha e empilhei as
almofadas, foi no automático, mas sei da maravilhosa sensação de poder me
deitar sobre os lençóis macios que cobriam a minha grande cama. Dai me estiquei
inteira com a certeza de haver chegado ao Paraíso, pelo menos imagino como é
adentrar ao Jardim do Éden, deve ser algo parecido. Um jardim botânico
maravilhoso com banquinhos nas sombras, regatos estreitos e rasos de água
fresca, passarinhos e borboletas voando, pontes curvadas e no ar o cheiro doce
de flores de laranjeira e de jasmins.
Pois bem, aspiro o ar profundamente e aguardo o sono
me tomar inteira e me levar para bem longe num voo de asa delta sobre um
litoral azul e verde entrecortado de pedras enormes e vegetação intensa.
Que nada. O sono sumiu como por encanto, mas
continuei tentando. Viro para o outro lado e me imagino num prado verde e enorme
onde pastam preguiçosamente cavalos, mas eles me viram e saíram num trote
imponente para bem longe. Troquei para vaquinhas, daquelas dos Alpes suíços que
pastam o dia todo só para nos dar chocolate, não deu certo, elas se recolheram
ao estábulo, pois já era hora de dormir. Como assim elas foram dormir?! E eu não
durmo? Cadê o sono que sumiu? Já virei bife fritando dos dois lados e o sono
nada, sumiu na noite escura. Levantei, tomei água, comi uma banana, escovei os
dentes outra vez e voltei para a cama, não sem antes conferir no relógio que
marcava duas horas e quarenta e três!
Deito-me e faço outra oração, geralmente durmo na
metade, e nada. Respirei profundamente, outra vez, prestando a atenção por onde
percorria o oxigênio e... Nada.
Revirei-me trocentas vezes, deitei para os pés da
cama, depois subi um pouco até esticar os pés na parede para oxigenar o cérebro
e relaxar e... Nada, procurei então uma posição que me deixasse cansada, subi
as pernas e andei de bicicleta no ar.
Hahaha ria a noite e as paredes de mim pobre insone...
Olhei o relógio, haviam se passado mais de trinta minutos nessa função de querer dormir e eu já estava pronta e estralada para levantar e
fazer faxina, arrumar gavetas, ler, descobrir palavras novas no dicionário e...
Nada, não conseguia ler porque estava muito agitada
para me concentrar. Nada relaxava. Tudo em vão.
Daí me veio a ideia tão antiga de contar
carneirinhos, todos bem fofos que pulavam a cerquinha. Levadinhos esses
carneirinhos, mas tudo bem, contemos;
Depois de contar 3.518 carneirinhos eu me dei conta
de que todos haviam ficado pelo meu quarto, em cima da cama dentro do guarda
roupa, vários empilhados por tamanho outros por gênero e acabei desistindo,
pois o barulho deles gritando béééé, béééé, não me deixava dormir.
Arreneguei-me e levantei. Fui para a cozinha fazer
café e começar o meu dia que já havia amanhecido e o sol estava pleno de luz e
calor.
Depois de tomar café, voltei ao quarto e comecei a
limpar o que ficou do pula-pula de ovinos, daquela noite infernal, uma bagunça
só.
Pior foi aquele monte de carneiros e ovelhas que
foram se espalhando pela casa... afff