Melhor idade.
Já começa pelo símbolo, ridículo e decadente.
Não há coisa pior para um velho assumido, e eu me incluo
nessa, do que dizer que estamos na melhor idade.
Além de chamar a gente de vovozinha, qualquer um ilustre desconhecido de qualquer idade, ainda tratam a gente com nhenhenhém como se fôssemos pessoas que perderam a capacidade de pensar.
Só pode dizer isso ou pensar assim quem ainda não chegou lá .Imagine uma pessoa com cérebro de vinte anos e um corpo de setenta, ele, o cérebro manda ir e o resto não vai, não acompanha, não obedece.
Imagine subir num ônibus ou descer carregando nos tornozelos uma pulseira de chumbo dessas que os atletas usam?! Pois é meio por ai a nossa locomoção. Os dedos das mãos parecem estar de luvas para pegar papeis e guardar o dinheiro dentro da bolsinha que fica dentro da bolsa maior, que precisa fechar o zíper com aquele carrinho minúsculo enquanto afasta as alças teimosas que vão juntas para um lado e depois para o outro enquanto somos observados com ar de piedade ou ódio explícitos.
Ao subir uma escada num esforço supremo de convencer os joelhos de que é preciso fazer algum exercício ele vai resmungando a ponto de ser ouvido. Sim porque ouvido de velho é assim, ou é muito bom ou audição dele tem aquela tarja vermelha de inoperante.
E para subir ou descer de um carro então? Quanto mais moderno menor e mais apertado, daí que entra segurando no alto da porta e alguém mais gentil e apressado vai lá e fecha a maldita degolando os quatro dedos do velho. Ui! Até me deu um arrepio, já passei por isso, mas foi a porta que fechou sozinha nos meus dedinhos queridos.
Alá, o semáforo acendeu verde! Corre, corre que senão não vai dar para atravessar a tempo e a corridinha pode desarmazenar os líquidos, e quem não usa fralda ta ferrado, pois nunca dá tempo, nem pelo semáforo e nem pelos liquidos.
Velhos quando se encontram em alguma fila, mesmo sem se conhecerem logo vão sorrindo numa cumplicidade generalizada. Trocam primeiro, impressões sobre o tempo, a meteorologia que está maluca e “antigamente não era assim”, “o mundo está muito mudado, não conheço mais ninguém”. Logo depois um deles fala que acabou de fazer uma consulta médica de rotina e sorrindo diz que a pressão está “de menino” 12X8.
Daí você passa duas horas depois eles já saíram da fila, mas ficaram conversando no mesmo lugar trocando bulas e informações sobre médicos e tratamentos. Também tem os e as atletas que desde as quatro da manhã já estão correndo pelos calçadões, fazem maratonas e esnobam seus “feitiços” musculares (?!). Desses, eu não conheço nenhum, só vejo pela televisão. E aqueles então, que “não se trocam” pelos jovens de hoje? Uma triste figura.
O fato é que vamos diminuindo a marcha, vamos ficando quase em câmera lenta e na maioria das vezes o cérebro fica na dele, mandou e desmandou a vida toda, agora não manda mais nada, mas como se poupou sempre, agora “não se troca por três de vinte e um de dez” enquanto o corpo desesperado jaz quase parando sem forças. Só se mantém a custa de uma caixa de sorvete cheia de comprimidos que toma em parcelas horárias.
Na grande maioria os velhos continuam raciocinando como sempre raciocinaram e agiram, com poucas variações.
É isso que chamam de melhor idade? Vovozinha é a mãe!
Bom, resta desejar que a chamada melhor idade seja menos pior pra gente... Abraços, Clotilde.
ResponderExcluirCom certeza Marcelo. Abrçs e boa semana. Obrigada pela visita. ♥
ExcluirMe fez rir,mais é mesmo assim! olhares ja sao diferente,a tudo fica a desejar...Tenho muito observado,pessoas , como a minha idade e mais um pouco,e meu pensamento é unico:Será que este ou esta cidadã,nunca envelhecerá ? Esta tal melhor idade,é rotulo,que a mim, nada diz(?)acho nada de melhor....se eu nao me tornar gigante,perante os inumerosos , obstáculos...tornarei amarga,por que os beneficios da tal "melhor idade",contribuem pouco ou quase nada !...meu carinhoso abraço a voce,minha amiga,e parabens por sua escrita,tao gostosa de ler !obrigada por nos presentear .bj.sua amiga,sempre amiga.
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